quarta-feira, 30 de junho de 2010

Improviso antes de dizer que não sei nadar...

Não tenho
carta de marinheiro
até três milhas do porto de abrigo
mais próximo
navego sempre nas águas interiores
do esquecimento
e nunca me reconheço na memória dos dias
nem na sua opulência
de embarcações e potências instaladas
nada sei
e o mar é apenas o sufixo
em que viajo
antes de todos os naufrágios.

Ademar
10.05.2010


Improvisación para no decir que no sé nadar...

No tengo
licencia de marinero
hasta tres millas del puerto de abrigo
más cercano
navego siempre en las aguas interiores
del olvido
y nunca me reconozco en la memoria de los días
ni en su opulencia
de embarcaciones y potencias instaladas
nada sé
y el mar es apenas el sufijo
en que viajo
antes de todos los naufrágios.

Improviso para amanhecer contigo...

Se visse menos
ver-te-ia melhor
a luz ambiciosa
transpira-me do olhar
e cega-me para a tua verdade
que a tens tão próxima do chão
ou das nuvens
ou do sol
se visse menos
ver-te-ia maior
muito maior do que o silêncio
com que te dizes
nesse dialecto tão antigo.

Ademar
09.05.2010


Improvisación para amanecer contigo...

Si viese menos
te vería mejor
la luz ambiciosa
me transpira de la mirada
y me ciega para tu verdad
que la tienes tan cercana al suelo
o a las nubes
o al sol
si viese menos
te vería mayor
mucho mayor que el silencio
con que te dices
en ese dialecto tan antiguo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Improviso para distrair o lirismo...

Abro e fecho agora janelas
para que o pensamento respire
e transpire
todas as casas são universos contidos
e em nenhuma sombra doméstica
perscruto a confidência de uma luz
que nos conjugue na distância
o equilíbrio de todas as memórias é tão precário
que até as palavras tropeçam na tela
quando apenas o silêncio as conduz
se amanhã não chover
subirei os estores
e voarei por aí.

Ademar
08.05.2010


Improvisación para distraer el lirismo...

Abro y cierro ahora ventanas
para que el pensamiento respire
y transpire
todas las casas son universos contenidos
y en ninguna sombra doméstica
escruto la confidencia de una luz
que nos conjugue en la distancia
el equilibrio de todos los recuerdos es tan precario
que hasta las palabras tropiezaen el lienzo
cuando sólo el silencio las guía
si mañana no llueve
subiré las persianas
y volaré por ahí.

Improviso para explicar a luz...

Imaginai a largueza dos olhos
quando os olhos adormeciam apenas
nas palavras
e todos os horizontes tinham
a narrativa dentro
e todas as imagens
eram tão falsas ou verdadeiras
como as rugas das mãos domesticadoras
imaginai a largueza dos olhos
quando tudo o que se podia saber
cabia na perfeição do pensamento
e nenhum futuro era mais urgente
do que a memória.

Ademar
07.05.2010


Improvisación para explicar la luz...

Imaginad la largueza de los ojos
cuando los ojos se adormecían sólo
en las palabras
y todos los horizontes tenían
la narrativa dentro
y todas las imágenes
eran tan falsas o verdaderas
como las arrugas de las manos domesticadoras
imaginad la largueza de los ojos
cuando todo lo que se podía saber
cabía en la perfección del pensamiento
y ningún futuro era más urgente
que la memoria.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Improviso masculino e muito democrático para maiores de trinta e seis anos...

Farfalha a nação
que tão cabrestamente representas
farfalha-me
se tiveres ainda tesão para tanto
furta-me tudo
menos os testículos
preciso deles
para te foder.

Ademar
06.05.2010


Improvisación masculina e muy democrática para mayores de treinta y seis años...


Parlotea la nación
que tan cabestramente representas
parlotéame
si es que aún se te pone así tan tiesa
prívame de todo
salvo de los testículos
los necesito
para joderte.

Improviso antes do ponto (final)...

Não acrescento véus
ao teu rosto
nem luzes
em que ardesses devagar
no abismo dos meus olhos
todas as imagens são falsas
nada te pertence
nem mesmo as palavras
com que te vestes
sobre a nudez do silêncio
digo
esse tão antigo pudor do Génesis
quando todas as mulheres morriam
no pecado original da imperfeição das serpentes.

Ademar
05.05.2010


Improvisación antes del punto (final)...

No añado velos
a tu rostro
ni luces
en que pudieses arder despacio
en el abismo de mis ojos
todas las imágenes son falsas
nada te pega
ni siquiera las palabras
con que te vistes
sobre la desnudez del silencio
digo
ese tan antiguo pudor del Génesis
cuando todas las mujeres se morían
en el pecado original de la imperfección de las serpientes.

Improviso para harpa e umbigo...

Não conheço gajas boas
boas boas boas
só conheço mesmo
as mulheres
que eu conheço
não sei ainda
se é das barbas
ou das mãos
ou da voz
mas todas as mulheres
que eu conheço
se bem que viajassem primeiro
com George Clooney
(opção hormonal)
à falta de melhor
depois
viajariam comigo.

Ademar
04.05.2010


Improvisación para arpa y ombligo...

No conozco tías buenas
buenas buenas buenas
sólo conozco de verdad
a las mulheres
que conozco
no sé sin embargo
si es por las barbas
o por las manos
o por la voz
pero todas las mujeres
que conozco
aunque viajasen primero
con George Clooney
(opción hormonal)
a falta de algo mejor
después
viajarían conmigo.

Improviso para acrescer melodia ao silêncio...

Poderia semear de adjectivos
o chão que pisas
se tivesse a exacta medida
dos teus pés
e neles ainda reconhecesse
o caminho incerto da consagração
mas já gastei todos os adjectivos
neste nirvana de ouvir apenas
ciclicamente
o rumor dos teus.

Ademar
03.05.2010


Improvisación para añadir melodía al silencio...

Podría sembrar de adjetivos
el suelo que pisas
si tuviese la exacta medida
de tus pies
y en ellos aún reconociese
el camino incierto de la consagración
pero ya me gastado todos los adjetivos
en este nirvana de oír sólo
cíclicamente
el rumor de los tuyos.

domingo, 27 de junho de 2010

Improviso para não sentenciar o vento...

Por vezes pedem-me uma opinião
uma crítica
eu respondo sempre
que não comento poesia
não sou professor de literatura
nem aspirante a porteiro da fama
basto-me como as crianças
com gostar ou não gostar
da substância e do cheiro das palavras
e mais não digo
a poesia
respeita-se simplesmente assim
como as mãos sempre únicas
de quem a esculpe
e os seus gemidos.

Ademar
02.05.2010


Improvisación para no sentenciar al viento...

A veces me piden una opinión
una crítica
yo respondo siempre
que no comento poesía
no soy profesor de literatura
ni aspirante a portero de la fama
me basta como a los niños
con que me guste o no me guste
la substancia y el olor de las palabras
y no digo más
la poesía
se respeta simplemente así
como las manos siempre únicas
de quien la esculpe
y sus gemidos.

Improviso para cheirar-te...

Alinho olfactos
em nenhuma parte do teu corpo
a tamanha distância impercorrível
e espero simplesmente que se calem
todos os perfumes
todas as fragrâncias
todos os aromas
dos dias lentamente sobrepostos
na aragem do tempo
para
no fim da vadiagem
escutar apenas a essência
da tua mais íntima e líquida e carismática
metamorfose.

Ademar
01.05.2010


Improvisación para olerte...

Alineo olfatos
en ninguna parte de tu cuerpo
a tanta distancia irrecorrible
y espero simplemente que se callen
todos los perfumes
todas las fragancias
todos los aromas
de los días lentamente sobrepuestos
en la brisa del tiempo
para
al terminar el vagabundeo
escuchar sólo la esencia
de tu más íntima y líquida y carismática
metamorfosis.

30.04.2010

Improviso para pedir esmola...

A despir-me nas palavras
descurei o guarda-roupa
e a nudez visitou-me
entre rasgões e remendos
não
não me sirvas mais
à mesa do desejo
o vinho
nem a antologia
veste-me apenas
como um sem-abrigo
e diz-me depois
antes não
que me queres assim.

Ademar
30.04.2010


Improvisación para pedir limosna...

Desvistiéndome en las palabras
he descuidado el guardarropa
y la desnudez me ha visitado
entre desgarrones y remiendos
no
no me sirvas más
en la mesa del deseo
el vino
ni la antología
vísteme simplemente
como a un sintecho
y dime después
antes no
que me quieres así.

29.04.2010

Improviso para dizer a inutilidade da poesia...

Nenhum portal
me conduz ao lugar
a que pertences
nenhum destino ou chamada
no bairro que frequentamos
que parece maior do que o universo
todos os desencontros
têm hora marcada
todas as esquinas se perdem
na intemporalidade da matéria
que nos conjuga.

Ademar
29.04.2010


Improvisación para expresar la inutilidad de la poesía...

Ningún portal
me conduce al lugar
al que perteneces
ningún destino o llamada
en el barrio que frecuentamos
que parece mayor que el universo
todos los desencuentros
tienen hora concertada
todas las esquinas se pierden
en la intemporalidad de la materia
que nos conjuga.

28.04.2010

Improviso para prontuário...

Felicidade
é uma palavra com sílabas a mais
e que rima com
idade
e com
saudade
e com
eternidade
nenhuma palavra a rimar assim
tem muito futuro dentro.

Ademar
28.04.2010


Improvisación para prontuario...

Felicidad
es una palabra con sílabas de más
y que rima con
edad
y con
añorad
y con
eternidad
ninguna palabra que rime así
tiene mucho futuro dentro.

sábado, 26 de junho de 2010

27.04.2010

Improviso para chatear um filho da puta que passa muito nas televisões...

És uma pessoa importante
eu sei
todos os dias as televisões me dizem
que és uma pessoa importante
presumo obviamente sobre tu
perdão
sobre ti
coisas óbvias
por exemplo
que caminhas sobre três pernas
que comes com duas bocas
e lambes com todas as línguas
que vês por muitos olhos
e que nos enrabas
pela frente e por trás
desculpa a linguagem
tão pouco consentânea
com a importância que te atribuem.

Ademar
27.04.2010


Improviso para chinchar a un hijo de puta que sale mucho en las televisiones...

Eres una persona importante
ya lo sé
todos los días las televisiones me dicen
que eres una persona importante
presupongo obviamente sobre tú
perdón
sobre ti
cosas obvias
por ejemplo
que caminas sobre tres piernas
que comes con dos bocas
y lames con todas las lenguas
que ves por muchos ojos
y que nos la metes
por delante y por detrás
disculpa el vocabulario
tan poco acorde
con la importancia que te atribuyen.

26.04.2010

Improviso para estereotipar...

Sim
os homens e as mulheres
as mulheres e os homens
digo
os machos e as fêmeas
as fêmeas e os machos
não importa por que ordem
(mas eu
denunciado no género
serei nesta desordem
certamente suspeito
reformulo então)
as mulheres e os homens
os homens e as mulheres
digo
as fêmeas e os machos
os machos e as fêmeas
não importa por que ordem
mas
(nenhum poema sobrevive
a um tamanho conflito de nebulosas).

Ademar
26.04.2010


Improvisación para estereotipar...


los hombres y las mujeres
las mujeres y los hombres
digo
los machos y las hembras
las hembras y los machos
no importa por qué orden
(pero yo
denunciado en el género
seré en este desorden
seguramente sospechoso
reformulo entonces)
las mujeres y los hombres
los hombres y las mujeres
digo
las hembras y los machos
los machos y las hembras
no importa por qué orden
pero
(ningún poema sobrevive
a tal conflicto de nebulosas).

25.04.2010

Improviso para dizer a cumplicidade...
Se tu espreitares
no mais íntimo
dos meus olhos
ver-te-ás
e nenhum silêncio
será mais
a cerca do nosso refúgio
se eu espreitar
no mais íntimo
dos teus olhos
ver-me-ei
e nenhum silêncio
será mais
a cerca do nosso refúgio
à volta da mesa
que nos destinaram
uma única cadeira
chegará para os três
e ainda sobraremos.

Ademar
25.04.2010


Improvisación para expresar la complicidad...

Si escudriñas
en lo más íntimo
de mis ojos
te verás
y ningún silencio
será ya
la cerca de nuestro refugio
si escudriño yo
en lo más íntimo
de tus ojos
me veré
y ningún silencio
será ya
la cerca de nuestro refugio
alrededor de la mesa
que nos han destinado
una única silla
bastará para los tres
y aún sobraremos.

24.04.2010

Improviso para liricar...

O teu silêncio cheira bem
mais intensamente do que a primavera
destas noites
que já prometem todos os vagares
o teu silêncio tem
muitas reservas dentro
o pudor e o poder
das origens da sedução
e o treino da sabedoria
que não arde entre os ponteiros
de nenhum medidor do tempo
o teu silêncio
é uma voz de longe
e tão próxima
como o mar
que intimamente nos embarca.

Ademar
24.04.2010


Improvisación para liricar...

Tu silencio huele bien
más intensamente que la primavera
de estas noches
que ya prometen toda la calma
tu silencio tiene
muchas reservas dentro
el pudor y el poder
de los orígenes de la seducción
y el adestramiento de la sabiduría
que no arde entre las agujas
de ningún medidor del tiempo
tu silencio
es una voz de lejos
y tan próxima
como el mar
que íntimamente nos embarca.

23.04.2010

Improviso para consagrar mais um milagre da natureza, à portuguesa...

Um escaravelho da família dos
rola-bosta ou
(à portuguesa)
vira-merda
chegou a
professor catedrático da
faculdade de direito da
universidade de lisboa
nem kafka antecipou
uma tão extraordinária e medonha
metamorfose
garantem as agências noticiosas
que nunca um escaravelho
oferecera à ciência jurídica
tantas pernas traseiras
e tanto excremento
para definitiva consagração da escola
dita superior
só falta mesmo que o rola-bosta
ou (à portuguesa) vira-merda
junte as apetências biológicas
à ratazana de turno.

Ademar
23.04.2010


Improvisación para consagrar otro milagro de la naturaleza, a la portuguesa...

Un escarabajo de la familia de los
peloteros o
(a la portuguesa)
gira-mierda
ha llegado a
professor catedrático de la
faculdad de derecho de la
universidad de lisboa
ni kafka previó
una tan extraordinaria y espantosa
metamorfosis
aseguran las agencias noticiosas
que nunca un escarabajo
había ofrecido a la ciencia jurídica
tantas piernas traseras
y tanto excremento
para la definitiva consagración de la escuela
llamada superior
únicamente falta que el pelotero
o (a la portuguesa) gira-mierda
una las apetencias biológicas
a la rata de turno.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

22.04.2010

Improviso para te dizer ainda Barcelona...

Tens razão
a poesia é a arte superior
da imobilidade
subo e desço as Ramblas
todas as noites
e raramente te encontro
senão nos gestos suspensos
da estátua que todos fotografam
e levam para casa
és tu
e nenhum outro silêncio
tem a eloquência do teu olhar
e uma tão perfeita inexistência.

Ademar
22.04.2010


Improvisación para decirte todavía Barcelona...

Tienes razón
la poesia es el arte superior
de la inmovilidad
subo y bajo las Ramblas
todas las noches
y raramente te encuentro
sino en los gestos suspendidos
de la estatua que todos fotografían
y se llevan a casa
eres tú
y ningún otro silencio
tiene la elocuencia de tu mirada
y una tan perfecta inexistencia.

21.04.2010

Improviso para sonata...

Para te colar à memória
de mais uma noite
hesito
entre dois temas
de Johann Sebastian Bach
as mãos e os pés
ou
como se te dissesse
a lua e o sol
há um lugar entre nós
que não nos pertence
essa fronteira
tão apressada na invisibilidade
que só o mistério desenha
na distância e no desejo
das palavras.

Ademar
21.04.2010


Improvisación para sonata...

Para pegarte al recuerdo
de una noche más
dudo
entre dos temas
de Johann Sebastian Bach
las manos y los pies
ou
como si te dijese
la luna y el sol
hay un lugar entre nosotros
que no nos pertenece
esa fronteira
tan apresurada en la invisibilidad
que sólo el misterio dibuja
en la distancia y en el deseo
de las palabras.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

20.04.2010

Improviso para distrair o olhar do silêncio...

Tomo o teu mundo de empréstimo
mas não me perco nos espelhos
falsamente servidos à interrogação
dos olhares enfeitiçados
nenhuma imagem diz
a incerteza das palavras
com que cativas a mudança
e nela sempre tropeças
confio-te apenas à claridade
das sombras que nos conduzem.

Ademar
20.04.2010


Improvisación para distraer la mirada del silencio...

Me cojo tu mundo prestado
pero no me pierdo en los espejos
falsamente servidos a la interrogación
de las miradas hechizadas
ninguna imagen dice
la incertidumbre de las palabras
con la que cautivas el cambio
y en ella siempre te tropiezas
te confío sólo a la claridad
de las sombras que nos conducen.

19.04.2010

Improviso para despertar...

Os meus santuários
desde a infância
abriram sempre para fora
e todos os cálices que ergui
tinham apenas a forma
de um útero de mãos vazias
com todas as palavras dentro
nos arredores da ausência
falas-me agora de colares
e de aguaceiros azúis
como se a gramática de tantas noites
ainda consentisse entre nós
corrigenda.

Ademar
19.04.2010


Improvisación para despertar...

Mis santuarios
desde la infancia
se han abierto siempre hacia afuera
y todos los cálices que he levantado
tenían sólo la forma
de un útero de manos vacías
con todas las palabras dentro
en los alrededores de la ausencia
me hablas ahora de collares
y de aguaceros azules
como si la gramática de tantas noches
aún consintiese entre nosotros
corrigenda.

18.04.2010

Improviso para parêntesis andaluz...

Tenho menos mãos
do que as necessárias
para cruzar as cordas
no andante nocturno
do quarteto nº2 de Borodin
e ainda que te procurasse
em todas as praças e esplanadas
de Sevilha
não te encontraria
que a noite mediterrânica
tão longe dos braços do Guadalquivir
perde-se sempre ou ganha-se
na impaciência das palavras
com que me (a)guardas.

Ademar
18.04.2010

Improvisación para paréntesis andaluz...

Tengo menos manos
que las necesarias
para cruzar las cuerdas
en el andante nocturno
del quarteto nº2 de Borodin
y aunque te buscase
en todas las plazas y terrazas
de Sevilla
no te encontraría
que la noche mediterránea
tan lejos de los brazos del Guadalquivir
se pierde siempre o se gana
en la impaciencia de las palabras
con que me (a)guardas.

17.04.2010

Improviso para dedilhar a última harpa...

Viajar sempre num labirinto de cordas
as mãos suspensas
e intimamente desvendar a fonte
o segredo
da harmonia de todas as vozes
em nenhuma casa
fomos mais felizes do que nessa
e em tempo algum.

Ademar
17.04.2010


Improvisación para puntear la última arpa...

Viajar siempre en un laberinto de cuerdas
las manos suspendidas
e íntimamente desvendar la fuente
el secreto
de la armonía de todas las voces
en ninguna casa
hemos sido más felices que en ésa
ni en ningún otro tiempo.

16.04.2010

Improviso para escala num cais qualquer...

Suspende uma palavra
uma palavra apenas
de todos e de cada um
dos fios do teu cabelo
e sai à vida assim
para que todos te leiam
no sentido das nuvens
ou do céu enfim azul
e que nenhuma rosa
da cor da casa tão longínqua
diga mais sobre o tempo
que te habita
do que o poema
que um dia escreverás
para quem não sabias.

Ademar
16.04.2010


Improvisación para escala en un muelle cualquiera...

Cuelga una palabra
una palabra sólo
de todos y de cada uno
de los hilos de tu pelo
y sal a la vida así
para que todos te lean
en el sentido de las nubes
o del cielo por fin azul
y que ninguna rosa
del color de la casa tan lejana
diga más sobre el tiempo
que te habita
que el poema
que un día escribirás
para quien no sabías.

15.04.2010

Improviso para epítome de um poema universal (sobre um tema de Eleni Karaindrou)...

Não guardo na mochila
todas as memórias
com que poderia viajar
há um peso limite
para além do qual
já não me pertenço
quero-me leve
nos teus olhos acolhedores
que o nosso segredo
assim dito
nunca nos pese de mais.

Ademar
15.04.2010


Improvisación para epítome de un poema universal (sobre un tema de Eleni Karaindrou)...

No guardo en la mochila
todos los recuerdos
con que podría viajar
hay un peso límite
más allá del cual
ya no me siento a gusto
me quiero leve
en tus ojos acogedores
que nuestro secreto
así dicho
nunca nos pese de más.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

14.04.2010

Improviso tardio para Mumuki...

Se não morrermos esta noite
digo-te
morreremos amanhã
ou talvez depois
sobre a eternidade em Veneza
a Veneza de todos os regressos adiados
não sei de nenhuma certeza
tão exigente como esta
e tão sábia.

Ademar
14.04.2010


Improvisación tardía para Mumuki...

Si no nos morimos esta noche
te digo
nos moriremos mañana
o tal vez después
sobre la eternidad en Venecia
la Venecia de todos los regresos aplazados
no sé de ninguna certidumbre
tan exigente como ésta
y tan sabia.

13.04.2010

Improviso para Sheherazade...

Concordância e saudades
dizes
e vias de extinção
não peças a nenhum deus
o livro de reclamações
nem o mapa íntimo
de todas as distâncias
escreve antes virtudes e rumores
no lugar da ausência
canções de amor talvez
cânticos celestiais
outros sonharão o vento
certamente
mas será ainda na perfeição
que nos guardaremos
como segredo.

Ademar
13.04.2010


Improvisación para Sheherazade...

Concordancia y nostalgia
dices
y vías de extinción
no le pidas a ningún dios
el libro de reclamaciones
ni el mapa íntimo
de todas las distancias
mejor escribe virtudes y rumores
en lugar de la ausencia
canción de amor tal vez
cánticos celestiales
otros soñarán el viento
seguro
pero será sin embargo en la perfección
donde nos guardaremos
como secreto.

12.04.2010

Improviso para paciência e atrevimento


















Improvisación para paciencia y atrevimiento...

Siento añoranza
de cuando me tratabas
respetuosamente
me sentía aún más mayor
de lo que me veías
el poema podría morir aquí
y sería perfecto.

11.04.2010

Improviso sobre um tema de Louis Armstrong...

Se vivesses
um pouco mais perto
do mundo
dirias talvez
que a felicidade não tem dias
mas átomos apenas
e que não há
na vertigem dos sonhos
costas mais largas
do que as costas
da eternidade
se vivesses
um pouco mais perto
do mundo
talvez soubesses
que o mundo começa e acaba
no olhar com que o abraças.

Ademar
11.04.2010


Improvisación sobre un tema de Louis Armstrong...

Si vivieses
un poco más cerca
del mundo
dirías tal vez
que la felicidad no tiene días
sino átomos unicamente
y que no hay
en el vértigo de los sueños
espalda más ancha
que la espalda
de la eternidad
si vivieses
un poco más cerca
del mundo
tal vez supieses
que el mundo empieza y se acaba
en la mirada con que lo abrazas.

10.04.2010

Improviso para mapa imaginário...

Tão longe das palavras
não sei
por que ainda me lês
nenhum deserto
prolonga as sombras no cais
todas as viagens recomeçam
na esquina mais próxima
da saudade.

Ademar
10.04.2010


Improvisación para mapa imaginario...

Tan lejos de las palabras
no sé
por qué todavía me lees
ningún desierto
prolonga las sombras en el muelle
todos los viajes vuelven a empezar
en la esquina más cercana
a la nostalgia.

terça-feira, 22 de junho de 2010

09.04.2010

Improviso para decantar a dignidade...

Sim
prometi-te não escrever
sobre Zurique
o caminho que acreditavas ainda
reconduzir-te ao paraíso
essa mesa farta de tantas saudades
estarei talvez
a trocar e a confundir
as notas de viagem
mas escrevo de memória
na mesma pele do cão
que te serviu
o fim da linha
o conforto da paz
as portadas da casa grande
agora fechadas para sempre
sobre a infância inviável
e o regresso de Zurique
perdidos todos os comboios.

Ademar
09.04.2010


Improvisación para decantar la dignidad...


te prometí que no escribiría
sobre Zúrich
el camino que creías todavía
te reconducía al paraíso
esa mesa abundante de tantas nostalgias
estaré tal vez
trastocando y confundiendo
las notas de viaje
pero escribo de memória
en la misma piel del perro
que te sirvió
el fin del trayecto
el consuelo de la paz
los portalones de la casa grande
agora cerrados para siempre
sobre la infancia inviable
y el regreso de Zúrich
perdidos todos los trenes.

08.04.2010

Improviso imagórico...

Era mulher e
só fotografava vaginas
as vaginas dizia
são os buracos negros
da humanidade
confesso que nunca entendi
nunca entendo aliás
as metáforas do corpo
de resto
eu sei que todas as vaginas
são iguais
mas só durante ou depois
nunca antes.

Ademar
08.04.2010


Improvisación imagórica...

Era mujer y
sólo fotografiaba vaginas
las vaginas decía
son los agujeros negros
de la humanidad
confieso que nunca lo entendí
nunca entiendo aparte
las metáforas del cuerpo
por lo demás
sé que todas las vaginas
son iguales
pero sólo durante o después
nunca antes.

07.04.2010

Improviso para recriar a invisibilidade...

Falhou-me sempre a voz
quando te quis dizer
que morrerias depois de mim
muito depois
e que por isso
já não tínhamos tempo
para esperar pela última cena do filme
aquela em que os amantes
entre lágrimas
se costumam beijar
antes do genérico final
seria uma evidência da luz
um milagre quase
se a luz ainda soprasse
as mãos ou os olhos
com que nos amássemos.

Ademar
07.04.2010


Improvisación para recrear la invisibilidad...

Me ha fallado al final la voz
cuando te he querido decir
que morirías después que yo
mucho después
y que por eso
ya no teníamos tiempo
para esperar por la última escena de la película
aquella en la que los amantes
entre lágrimas
acostumbran a besarse
antes de los títulos de crédito
sería una evidencia de la luz
um milagro casi
si la luz aún inspirase
las manos o los ojos
con los que nos amásemos.

06.04.2010

Improviso para recitar o entulho...

Tens os deuses à tua espera
na sala de caracterização
todos os deuses
dizes
e já nenhum tem olhos
com que se veja ao espelho
dizes
nem mãos
com que acaricie a humanidade
dizes
faz-nos esse grande favor
digo
abre a porta aos rebanhos
deixa-os entrar a todos
para o ajuste de contas final
digo
e depois
tranca a porta por fora.

Ademar
06.04.2010


Improvisación para recitar el escombro...

Tienes a los dioses esperándote
en la sala de caracterización
a todos los dioses
dices
y ya ninguno tiene ojos
con los que verse al espejo
dices
ni manos
con las que acariciar a la humanidad
dices
haznos ese gran favor
digo
abre la puerta a los rebaños
déjalos entrar a todos
para el ajuste de cuentas final
digo
y después
tranca la puerta por fuera.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

05.04.2010

Improviso sobre Brubeck...

As viagens são sempre breves
entre o pensamento da partida
e do regresso
e estão tão gastas as teclas
que já nem o tempo parece caber
em piano algum
nem o mar.

Ademar
05.04.2010


Improvisación sobre Brubeck...

Los viajes son siempre breves
entre el pensamiento de la partida
y del regreso
y están tan gastadas las teclas
que ya ni el tiempo parece caber
en piano alguno
ni el mar.

04.04.2010

Improviso para dizer por outras palavras "coisa lindíssima"...

Por vezes as mãos dançam
mais lestas e leves do que as palavras
e não há poema musical
que o estranho
digo
o estrangeiro na cidade
não entenda
as ruas não têm
livro de reclamações
e nenhum violino ou violoncelo
ofende a verdade do pôr do sol
quando entardece
no silêncio dos ouvidos distraídos.

Ademar
04.04.2010


Improvisación para decir con otras palabras "cosa bonitísima"...

A veces las manos bailan
más espabiladas y leves que las palabras
y no hay poema musical
que el extraño
digo
el extranjero en la ciudad
no entienda
las calles no tienen
libro de reclamaciones
y ningún violín o violonchelo
ofende la verdad del ocaso
cuando atardece
en el silencio de los oídos distraidos.

03.04.2010

Improviso para explicar por que não emagreço as palavras...

Nunca escreveria uma balada
que não tivesses voz para cantar
e que
de dois em dois versos
ou de três em três
não rimasse preguiçosamente
antes da vírgula ou do ponto final
o esquecimento não pede
a sofreguidão
da genialidade
apenas a chama que incendeia
tão ligeira como a luz
o soluço de uma qualquer eternidade.

Ademar
03.04.2010


Improvisación para explicar por qué no adelgazo las palabras...

Nunca escribiría una balada
que no tuvieses voz para cantar
y que
de dos en dos versos
o de tres en tres
no rimase perezosamente
antes de la coma o del punto final
el olvido no pide
el ansia
de la genialidad
solamente la llama que incendia
tan ligera como la luz
el sollozo de una eternidad cualquiera.

02.04.2010

Improviso para adiar a amizade que tão generosamente me ofereces...

Sim eu já percebi
só falta mesmo que eu adira
para que finalmente
nos tornemos amigos
ou seja
possamos comunicar
partilhar fotografias
organizar grupos e eventos
e muito mais
sim isso eu já percebi
só não percebi ainda
desconhecendo-nos tão flagrantemente
por que haveríamos nós
de fazer parte
do mesmo curral.

Ademar
02.04.2010


Improvisación para postergar la amistad que tan generosamente me ofreces...

Sí ya he entendido
lo único, único, que falta es que me apunte
para que finalmente
nos hagamos amigos
o sea
podamos comunicarnos
compartir fotografias
organizar grupos y actos
y mucho más
sí eso ya lo he entendido
lo que no he entendido todavía
desconociéndonos tan flagrantemente
es por qué vamos a tener
que formar parte
del mismo corral.

01.04.2010

Improviso para encaixilhar a última ceia...

Só as crenças
que comem
à mesma mesa farta
todos os dias
engordam
e as mais perenes
são as que se alimentam
do maior dos milagres
e das mentiras
a ilusão do poder
sobre a morte.

Ademar
01.04.2010


Improvisación para enmarcar la última cena...

Sólo las creencias
que comen
en la misma mesa copiosa
todos los dias
engordan
y las más perennes
son las que se alimentan
del mayor de los milagros
y de las mentiras
el engaño del poder
sobre la muerte.

domingo, 20 de junho de 2010

31.03.2010

Improviso para desdizer do novo mundo...

Sós
entre telas
entre teclas
e o universo talvez lá fora
ainda praticável
na esteira da lua
de todas as noites
e cada vez mais distante
como a ausência
são tantos os espelhos
a que nos vemos
amiga
que já não nos reconhecemos
em nenhum.

Ademar
31.03.2010


Improvisación para desdecir del nuevo mundo...

Solos
entre pantallas
entre teclas
y el universo tal vez ahí afuera
aún practicable
en la estela de la luna
de todas las noches
y cada vez más distante
como la ausencia
son tantos los espejos
en que nos vemos
amiga
que ya no nos reconecemos
en ninguno.

30.03.2010

Improviso para retroverter o desconforto...

Se eu soubesse
traduzir do japonês
dir-te-ia talvez
que nenhuma janela
abre tanto para o silêncio
como costumam abrir
os teus gestos
esse silêncio que precisa sempre
de tantas palavras
para se dizer
mesmo quando agradece
simplesmente
o eco de todas as rotinas.

Ademar
30.03.2010


Improvisación para revertir el desconsuelo...


Si yo supiese
traducir del japonés
te diría tal vez
que ninguna ventana
abre tanto para el silencio
como acostumbran a abrir
tus gestos
ese silencio que necesita siempre
tantas palabras
para decirse
incluso cuando agradece
simplemente
el eco de todas las rutinas.

29.03.2010

Improviso para agradecer, publicamente, um galanteio...

Hoje disseram-me
que ofereço tesouros
e Nat King Cole
voltou a cantar para mim
na memória peregrina
de todas as saudades
que ainda não morreram.

Ademar
29.03.2010


Improvisación para agradecer, públicamente, un piropo...

Hoy me han dicho
que regalo tesoros
y Nat King Cole
ha vuelto a cantar para mí
en la memoria peregrina
de todas las nostalgias
que aún non habían muerto.

28.03.2010

Improviso para te dizer dos meus desvios...

A hóstia na boca
e a língua a entretê-la
enquanto a garganta
se demora
na expectativa da deglutição
e tu de joelhos
gregorianamente
oferecendo-te à consagração
nenhum altar reclama
intimidade maior
vem em paz
e que o Senhor
obviamente
seja contigo.

Ademar
28.03.2010


Improvisación para hablarte de mis desviaciones...

La hostia en la boca
y la lengua entreteniéndola
mientras la garganta
se demora
en la expectativa de la deglución
y tú de rodillas
gregorianamente
ofreciéndote a la consagración
ningún altar reclama
intimidad maior
ven en paz
y que el Señor
obviamente
sea contigo.

sábado, 19 de junho de 2010

27.03.2010

Improviso quase contabilístico...

Se me devolvesses
uma a uma
todas as horas
que me roubaste
quantos dias
eu poderia ainda
depois do último
acrescer à eternidade?
a morte não cabe
no tempo que a vida
nos nega.

Ademar
27.03.2010


Improvisación casi contabilística...

Si me devolvieses
una a una
todas las horas
que me has robado
cuantos días
podría yo aún
después del último
añadir a la eternidad?
la muerte no cabe
en el tiempo que la vida
nos niega.

26.03.2010

Improviso sobre "From virtue springs each gen'rous deed" (de George Frideric Handel)...

Nenhuma mulher se esgota
no tempo de se abrir
e de se fechar
mas com três sílabas apenas
escrevo no teu corpo
uma partitura de desejos.

Ademar
26.03.2010


Improvisación sobre "From virtue springs each gen'rous deed" (de George Frideric Handel)...

Ninguna mujer se agota
en el tempo de abrirse
y de cerrarse
pero com tres sílabas sólo
escribo en tu cuerpo
una partitura de deseos.

25.03.2010

Improviso para glosar o dilúvio das existências...

Todas as datas
e todos os lugares
são falsos
nenhum poema
nasce fora
ou depois do tempo
da intimidade
que o engravidou
as palavras
disputam sempre o futuro
mesmo quando fingem
enredar-se nos pretéritos.

Ademar
25.03.2010


Improvisación para glosar el diluvio de las existencias...

Todas las fechas
y todos los lugares
son falsos
ningún poema
nace fuera
o después del tiempo
de la intimidad
que lo ha preñado
las palabras
disputan siempre el futuro
incluso cuando fingen
que se enredan en los pretéritos.

24.03.2010

Improviso para documentário...

Sou ainda originário
do tempo das actualidades
trago comigo
cinematograficamente
uma antiguidade a preto e branco
que me arqueologiza
passei por lá
e nada aprendi
os futuros
nunca estiveram inscritos
na memória das imagens.

Ademar
24.03.2010


Improvisación para documental...

Soy todavía originario
del tiempo de las actualidades
traigo conmigo
cinematográficamente
una antigüedad en blanco y negro
que me arqueologiza
he pasado por ahí
y nada he aprendido
los futuros
nunca han estado inscritos
en la memoria de las imágenes.

23.03.2010

Improviso para o Guilherme...

Se abrisses as feições
fatia a fatia
como num piano sem teclas
que servisses simplesmente
à mesa de todas as saudades
encontrarias talvez o reflexo
dos olhos que adormeceste
entre o que foste
e o que deixaste de ser
ele há tanta grandeza
no que nunca fizemos
e tanta dentro de nós.

Ademar
23.03.2010


Improvisación para Guilherme...

Si abrieses las facciones
loncha a loncha
como en un piano sin teclas
que sirvieses simplemente
en la mesa de todas las nostalgias
encontrarías tal vez el reflejo
de los ojos que adormeciste
entre lo que has sido
y lo que has dejado de ser
hay tanta grandeza
en lo que nunca hemos hecho
y tanta dentro de nosotros.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

22.03.2010

Improviso à porta da primavera...

As rotinas da combustão do vento
e o fogo que apaga um a um
todos os vestígios do tempo
no círculo da casa
finalmente iluminada
os braços que a cingem
têm a sintonia da fraqueza
e não há já olhar que ateie
no rosto
os fulgores da infância apenas sorrida
a casa treme
na memória de outras mãos
de outros gestos
e é uma violência de chamas
que nenhuma retina fixará
pelo menos
até que o vento adormeça.

Ademar
22.03.2010


Improvisación a la puerta de la primavera...

Las rutinas de la combustión del viento
y el fuego que apaga uno a uno
todos los vestigios del tiempo
en el círculo de la casa
finalmente iluminada
los brazos que la ciñen
tienen la sintonía de la flaqueza
y no hay ya mirada que te avive
en el rostro
los fulgores de la infancia apenas sonreída
la casa tiembla
en la memoria de otras manos
de otros gestos
e es una violencia de llamas
que ninguna retina fijará
por lo menos
hasta que el viento se adormezca.

20.03.2010

Improviso para curta-metragem...

Despoluir as palavras
do poder que as impele
e da maldade
e regressar pelo fogo
à elementaridade
das fontes originais da rebeldia
já não há rebanhos que impludam
os palcos da subserviência
hoje
todos os ecrãs servem
a brevidade da exibição
e nenhuma tribo aspira a mais
do que à superioridade das palmas
sempre efémeras.

Ademar
20.03.2010


Improvisación para cortometraje...


Descontaminar las palabras
del poder que las impele
y de la maldad
y regresar por el fuego
a la elementalidad
de las fuentes originales de la rebeldía
ya no hay rebaños que revienten
los escenarios del servilismo
hoy
todas las pantallas sirven
a la brevedad de la exhibición
y ninguna tribu aspira a más
que a la superioridad de los aplausos
siempre efímeros.

19.03.2010

Improviso cínico sobre um incidente parlamentar...

Não troques a fórmula
Trocado da Mata
muito menos em miúdos
se queres palavrar
aos representantes da nação
não importa o género
nem do sexo a orientação
levanta o traseiro douto
do assento governamental
e diz a fórmula
senhor presidente
senhores deputados
dois pontos
etc e tal
na casa da democracia
não vale tudo
apenas Portugal.

Ademar
19.03.2010


Improvisación cínica sobre un incidente parlamentario...

Non trueques la fórmula
Trocado da Mata
mucho menos en calderilla
si te quieres dirigir
a los representantes de la nación
no importa el género
ni del sexo la orientación
levanta el trasero docto
del escaño gubernamental
y recita la fórmula
señor presidente
señores diputados
dos puntos
etc y tal
en la casa de la democracia
no vale tudo
solamente Portugal.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

18.03.2010

Improviso para lembrar o cais...

Engrandeço-te
eu sei
o conforto da esperança
de vez em quando
tu sabes
não resisto
à tentação de misturar as palavras
na paleta das paixões
há viagens que nunca descansam
ou terminam
nem na tela em que adormeces
voltas sempre à nascente
de todos os teus destinos.

Ademar

18.03.2010


Improvisación para recordar el muelle...

Te engrandezco
ya lo sé
el consuelo de la esperanza
de vez en cuando
ya sabes
no me resisto
a la tentación de mezclar las palabras
en la paleta de las pasiones
hay viajes que nunca descansan
o terminan
ni en el lienzo en que adormeces
vuelves sempre a la fuente
de todos tus destinos.

17.03.2010

Improviso de género...

Com pedaços de memória
teceria ainda um pensamento
de mulheres perfeitas
sintético na contradição
de todas as circunstâncias
entre a luz e a penumbra
a raiva e o silêncio
a subtileza e a ousadia
o outono e a primavera
nenhuma memória me transporta inteiro
à pluralidade do que fui
nesse espelho em que me perdi.

Ademar
17.03.2010


Improvisación de género...

Con pedazos de memoria
tejería aún un pensamiento
de mujeres perfectas
sintético en la contradicción
de todas las circunstancias
entre la luz y la penumbra
la rabia y el silencio
la sutileza y la osadía
el otoño y la primavera
ningún recuerdo me transporta entero
a la pluralidad de lo que he sido
en ese espejo en que me perdí.

16.03.2010

Improviso para rever David Lynch...

Sim tens razão
sou muito estável
e previsível
nunca saio de mim
nem para pescar
Hollywood tem cenários
cada vez mais imprestáveis
e tudo o que eu poderia projectar
numa tela
já não resiste à fragmentação da luz
por isso
agora espero apenas
que me visites na prisão
e de caminho
me tragas o pão
e os jornais
de todos os dias
e a nicotina
as palavras possíveis
a cela não tem número
mas encontrar-me-ás
seguramente
no corredor da morte.

Ademar
16.03.2010


Improvisación para ver de nuevo a David Lynch...

Sí tienes razón
soy muy estable
y previsible
nunca salgo de mí
ni para pescar
Hollywood tiene escenarios
cada vez menos aprovechables
y todo lo que yo podría proyectar
en una pantalla
ya no resiste a la fragmentación de la luz
por eso
ahora espero unicamente
que me visites en la prisión
y ya que vienes
me traigas el pan
y los periódicos
de todos los días
y la nicotina
las palabras posibles
la celda no tiene número
pero me encontrarás
seguramente
en el corredor de la muerte.

15.03.2010

Improviso para enganar o índice...

As tuas saudades
doem-me
porque não tenho corpo
para elas
só fitas a marcar
as páginas em que me leste
e nenhuma era
o livro inteiro.

Ademar
15.03.2010


Improvisación para engañar al índice...

Que me añores
me duele
porque no tengo cuerpo
para ello
sólo cintas que marcan
las páginas en las que me has leído
y ninguna era
el libro entero.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

14.03.2010

Improvisación para Jean Ferrat













Improvisación para Jean Ferrat


Te interrumpieron la infancia
en el tiempo de los trenes
sin regreso
y por eso jamás has crecido
la infancia es una enfermedad buena
cuando nos morimos de ella.

13.03.2010

Improviso sobre Pietà...













Há dias em que sinto
que morres na cruz
dos meus braços
sem chegares a descer porém
da ausência
em que adoeces
o mármore arrefece
no cansaço de todos os gestos
e nem no ventre da noite
adormeces.

Ademar
13.03.2010


Improvisación sobre Pietà...


Hay días en que siento
que te mueres en la cruz
de mis brazos
sin llegar a bajar no obstante
de la ausencia
en que enfermas
el marmol se enfría
en el cansancio de todos los gestos
y ni en el vientre de la noche
adormeces.

12.03.2010

Improviso para José Gil...

Deve haver uma razão
para que os sábios
se comportem frequentemente
como idiotas
tenho uma tese
a sabedoria não cabe
em nenhum umbigo.

Ademar
12.03.2010


Improvisación para José Gil...

Debe de haber una razón
para que los sabios
se comporten frecuentemente
como idiotas
tengo una tesis
la sabiduría no cabe
en ningún ombligo.

11.03.2010

Improviso (quase) fora de horas...

Escrevo directamente na areia
o que nem ao mar ditaria
palavras tão leves
e tão breves
que até o vento
num sorriso
dispersaria
escrevo directamente na areia
para que ninguém acredite
nem tu própria
que no termo das mãos
é para ti ainda
que eu escrevo.

Ademar
11.03.2010


Improvisación (casi) fuera de plazo...

Escribo directamente en la arena
lo que ni al mar dictaría
palabras tan leves
y tan breves
que hasta el viento
en una sonrisa
dispersaría
escribo directamente en la arena
para que nadie crea
ni tú misma
que al término de las manos
es para ti todavía
para quien escribo.

10.03.2010

Improviso sobre uma ária de Monteverdi...

A duas cores ou dimensões
nenhuma voz mergulha
na tela analógica
do silêncio
nenhuma luz
com tão poucas palavras
diz-se o berço da vida
e nada mais
e se as mãos que te tocassem
fossem cordas
nem a morte te encontraria
no lugar de todos os incêndios
do corpo.

Ademar
10.03.2010


Improvisación sobre un aria de Monteverdi...

A dos colores o dimensiones
ninguna voz se sumerge
en el lienzo analógico
del silencio
ninguna luz
con tan pocas palabras
se considera la cuna de la vida
y nada más
y si las manos que te tocasen
fuesen cuerdas
ni la muerte te encontraría
en el lugar de todos los incendios
del cuerpo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

09.03.2010

Improviso escrito sobre a memória de uma metáfora...

Montada
sobre um cavalo
de espuma
dizias
a minha inexistência
dava um filme
deu.

Ademar
09.03.2010


Improvisación escrita sobre el recuerdo de una metáfora...

Montada
sobre un caballo
de espuma
decías
mi inexistencia
daría para una película
ha dado.

08.03.2010

Improviso para F ...

Os outros
parecem-te sempre de mais
ou porque arrefeças
nos corredores sombrios
em que te esperam
ou porque ignorem ainda
a medida mais próxima
dos teus medos imaturos
não têm braços nem mãos
e falam dialectos ilegendáveis
os outros
o teu desespero
com toda a esperança dentro.

Ademar
08.03.2010


Improvisación para F ...


Los otros
siempre te parecen de más
o porque te enfrías
en los pasillos sombríos
en que te esperan
o porque ignoran aún
la medida más próxima
de tus miedos inmaduros
no tienen brazos ni manos
y hablan dialectos insubtitulables
los otros
tu desesperación
con toda la esperanza dentro.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

07.03.2010

Improviso em forma de missal...

Ergue-se um altar
no lugar da ausência
as toalhas
recuperadas do baú antigo
que ainda cheiram à mãe
morta devagar
os lençóis
as mantas
os círios
as flores que parecem sempre
artesanais
como a memória da infância
e a respiração do tempo
adormecido
nada
nesta ordem austera
tem a substância do corpo
esse altar erguido
repito
no lugar da ausência.

Ademar
07.03.2010


Improvisación em forma de misal...

Se levanta un altar
en el lugar de la ausencia
los manteles
recuperados de baúl antiguo
que aún huelen a mi madre
que se murió despacio
las sábanas
las mantas
los cirios
las flores que parecen siempre
artesanales
como la memoria de la infancia
y la respiración del tiempo
adormecido
nada
en este orden austero
tiene la substancia del cuerpo
ese altar levantado
repito
en el lugar de la ausencia.

06.03.2010

Improviso quase evangélico...

Evitai se puderdes
o trilho dos rebanhos
escolhei lugares mais seguros
e mais íntimos
digo-vos
a crueldade tem os nomes somados
dos membros de todas as tribos
e não há ferocidade maior
maior brutalidade
do que essa
o movimento uníssono
das matilhas.

Ademar
06.03.2010


Improvisación casi evangélica...

Evitad si podéis
el sendero de los rebaños
escoged lugares más seguros
y más íntimos
os digo
la crueldad tiene los nombres sumados
de los miembros de todas las tribus
y no hay ferocidad mayor
mayor brutalidad
que esa
el movimiento unísono
de las jaurías.

05.03.2010

Improviso para descer a poesia do palco...

Ergo o olhar e leio Borges na parede
enquanto espero que as palavras me visitem
traduzo
“a fama é uma incomodidade
não aconselho ninguém a ser famoso
o melhor é ser secreto”
recordo
hoje escrevi no quadro
M-I-S-A-N-T-R-O-P-I-A
e dei um exemplo que a memória me impôs
Herberto Helder
o Daniel perguntou
se era mais um pseudónimo
(queria dizer heterónimo)
de Fernando Pessoa
reconheço
a ignorância tem uma sabedoria dentro
que frequentemente me desconcerta
já não sei exactamente o que respondi
mas confesso que tive vontade
de dizer ao Daniel
Herberto Helder nunca existiu
inventei-o agora.

Ademar
05.03.2010


Improvisación para bajar a la poesía del escenario...

Levanto la vista y leo a Borges en la pared
mientras espero a que las palabras me visiten
traduzco
“la fama es una incomodidad
no le aconsejo a nadie ser famoso
lo mejor es ser secreto”
recuerdo
hoy escribí en la pizarra
M-I-S-A-N-T-R-O-P-Í-A
y di un ejemplo que la memoria me impuso
Herberto Helder
Daniel preguntó
si era otro pseudónimo
(quería decir heterónimo)
de Fernando Pessoa
reconozco
la ignorancia tiene una sabiduría dentro
que frecuentemente me desconcierta
ya no sé exactamente qué respondí
pero confieso que me dieron ganas
de decirle a Daniel
Herberto Helder nunca ha existido
me lo he inventado ahora.

04.03.2010

Improviso para Picasso...

Três minutos com a realidade
não preciso de mais
o tempo somente de entrares
e saíres do espelho
a que nunca pertenceste
uma curta-metragem
com Piazzolla em fundo
e a tua imagem
simulando a tela
onde adormeço os olhos
e as palavras
a realidade
tem muitas demências dentro
e o inverno é sempre depois
de termos nascido.

Ademar
04.03.2010


Improvisación para Picasso...

Tres minutos con la realidad
no necesito más
el tiempo solamente de entrar
y salir tú del espejo
al que nunca has pertenecido
un cortometraje
con Piazzolla de fondo
y tu imagen
simulando el lienzo
donde adormezco los ojos
y las palabras
la realidad
tiene muchas demencias dentro
y el invierno es siempre después
de que hayamos nacido.

03.03.2010

Improviso para artefacto...

Tantos objectos
despidos de uma utilidade que me sirva
tantos fios
a cruzá-los
e tanto esquecimento
no meu corpo
cada vez mais perdido dos andaimes
já não tenho alvará
para o restauro dos gestos
que me antecipam
sobra-me confiar na mecânica dos dias
ou fosse a tua esperança
o último óleo da engrenagem
da minha vida.

Ademar
03.03.2010


Improvisación para artefacto...

Tantos objetos
despojados de una utilidad que me sirva
tantos hilos
cruzándolos
y tanto olvido
en mi cuerpo
cada vez más perdido de los andamios
ya no tengo albarán
para la restauración de los gestos
que me anticipan
me queda confiar en la mecánica de los días
u ojalá fuese tu esperanza
el último aceite del engrenaje
de mi vida.

domingo, 13 de junho de 2010

02.03.2010

Improviso para dizer a outra metade...

Depura-te nas palavras
não queiras parecer tão impenetrável
a vida
saberás um dia
dói menos
quando a simplificamos
e não me visites em Berlim
no colapso de todas as guerras
que não fiz
a matemática
como a literatura
não explica paisagens
o deslumbramento
é uma biografia interior.

Ademar
02.03.2010


Improvisación para decir la otra mitad...

Depúrate en las palabras
no quieras parecer tan impenetrable
la vida
sabrás un día
duele menos
cuando la simplificamos
y no me visites en Berlín
en el colapso de todas las guerras
que no he hecho
la matemática
como la literatura
no explica paisajes
el deslumbramiento
es una biografía interior.

01.03.2010

Improviso para antecipar a primavera...

Até as palavras por vezes
saem do leito
inundando todas as margens
que ainda respiram
não há forma de conter
a vadiagem da escrita
no corpo que pede apenas
uma medida de redenção
uma viagem feliz
o encantamento sem lágrimas.

Ademar
01.03.2010


Improvisación para anticipar la primavera...
Hasta las palabras a vezes
salen del lecho
inundando todas las orillas
que aún respiran
no hay forma de contener
el vagabundeo de la escritura
en el cuerpo que pide sólo
una medida de redención
un viaje feliz
el encantamiento sin lágrimas.

28.02.2010

Improviso no degrau do desencantamento...

Os perímetros do teu silêncio
têm esquinas
que me convidam ainda à escuta
outras
não
as áreas perfeitas
não cabem
em nenhuma orientação
e a montante do vento
todas os rios
aspiram à foz.

Ademar
28.02.2010


Improvisación en el escalón del desencanto...
Los perímetros de tu silencio
tienen esquinas
que me invitan todavía a escuchar
otras
no
las áreas perfectas
no cabem
en ninguna orientación
y a contracorriente del viento
todas los ríos
aspiran a la desembocadura.

27.02.2010

Improviso para cota e violoncelo...
Guarda-me por uma vez na estante
dos teus segredos
que eu seja somente
uma dedicatória
ou nem isso
um livro mais
entre tantos
oferecido
ao tempo furioso das tuas mãos
e tão breve
e lê-me apenas
quando tiveres saudades
dos olhos com que me adormeces
encaderna-me se quiseres
para que eu dure ainda mais
e abre-me devagar
folheia-me lentamente
página a página
na íntima desordem
dos teus pensamentos.

Ademar
27.02.2010


Improvisación para apunte y violonchelo...

Guárdame por una vez en el estante
de tus secretos
que yo sea solamente
una dedicatoria
o ni eso
un libro más
entre tantos
regalado
al tiempo furioso de tus manos
y tan breve
y léeme sólo
cuando tengas nostalgia
de los ojos con que me adormeces
encuadérname si quieres
para que yo dure aún más
y ábreme despacio
hojéame lentamente
página a página
en el íntimo desorden
de tus pensamientos.

sábado, 12 de junho de 2010

26.02.2010

Improviso para explicar Eros às demais divindades...

De vozes e de formas
não guardarei saudades
nem de sorrisos
antes de cheiros
e de húmidos sabores
e ao culto das essências
digo
das especiarias do corpo
prestarei sempre tributo
atento venerador e obrigado
não tenho sentidos
para te desejar
de outro modo.

Ademar

26.02.2010


Improvisación para explicarles Eros a las demás divinidades...

De voces y de formas
no tendré añoranza
ni de sonrisas
sino de olores
y de húmedos sabores
y al culto de las esencias
digo
de las especias del cuerpo
prestaré siempre tributo
atento venerador y agradecido
no tengo sentidos
para desearte
de otro modo.

25.02.2010

Improviso sobre a embriaguez da instantaneidade...

Já não és do tempo
em que a poesia era secreta
e fermentava nos baús do amadurecimento
e os poetas só nasciam
para a evidência do culto
na postumidade
a discrição perdeu-se
agora todos aspiram
à celebridade
no milagre efémero da varinha mágica
das palmas
e a autoria só pede um palco
e um espelho
a urgência da consagração
apodrece a levedagem do génio
amanhã amiga
se não te negares nos altares
do umbigo
já ninguém te lerá.

Ademar
25.02.2010


Improvisación sobre la embriaguez de la instantaneidad...

Ya no eres del tiempo
en el que la poesía era secreta
y fermentaba en los baúles de la maduración
y los poetas sólo nacían
para la evidencia del culto
en la postumidad
la discreción se ha perdido
ahora todos aspiran
a la celebridad
en el milagro efímero de la varita mágica
de las palmas
y la autoría sólo pide un palco
y un espejo
la urgencia de la consagración
pudre la fermentación del genio
mañana amiga
si no te niegas en los altares
del ombligo
ya nadie te lerá.

24.02.2010

Improviso para afrontar as cosmogomias do medo...

Digo-me
desse tempo antiquíssimo
em que as musas
conspiravam ainda com as liras
e não sobravam cordas
para casamentos que não fossem
contranatura
os castrados vieram depois
e ergueram altares
na sarjeta do medo
entre as ratazanas.

Ademar
24.02.2010


Improvisación para enfrentarse a las cosmogomías del miedo...

Me digo
de ese tiempo antiquísimo
en el que las musas
conspiraban aún con las liras
y no quedaban cuerdas
para uniones que no fuesen
contranatura
los castrados vinieron después
y levantaron altares
en la alcantarilla del miedo
entre las ratas.

23.02.2010

Improviso sobre um desenho de Stuart Carvalhais...


















Ilustração Portugueza, 08.04.1922


Fosse o olhar somente
uma inexpugnável memória de frescos
Giotto di Bondone
Capela dos Scrovegni
Pádua
lembras-te?
todas as mulheres
tinham o teu perfil
e eram ainda mais secretas
no olhar que negavam
aos mistérios da efemeridade
setecentos anos
passam depressa
mas todos os pintores são eternos
quando o formol da luz
os conserva
todas as mulheres
tinham o teu perfil
e eram ainda mais secretas
nos túneis e nas grutas
em que esperavam as manhãs.

Ademar
23.02.2010


Improvisación sobre un dibujo de Stuart Carvalhais...

Si fuese la mirada solamente
una inexpugnable memoria de frescos
Giotto di Bondone
Capela dos Scrovegni
Padua
¿te acuerdas?
todas las mujeres
tenían tu perfil
y eran todavía más secretas
en la mirada que negaban
a los misterios de lo efímero
setecientos años
pasan rápido
pero todos los pintores son eternos
cuando el formol de la luz
los conserva
todas las mujeres
tenían tu perfil
y eran todavía más secretas
en los túneles y en las grutas
en los que esperaban las mañanas.

22.02.2010

Improviso quase elegíaco...

No índice
de todos os tempos
da música
sobrará ainda a melodia
como quando sorris
nas palavras
e nas palavras
interrompes o inverno
e todas as tempestades
a melodia artesanal
que me trazes
nesse conforto de nuvens
que nem no vento tropeça
nem no silêncio.

Ademar
22.02.2010


Improvisación casi elegíaca...

En el índice
de todos los tiempos
de la música
quedará aún la melodía
como cuando sonríes
en las palabras
y en las palabras
interrumpes el invierno
y todas las tempestades
la melodía artesanal
que me traes
en ese bienestar de nubes
que ni en el viento tropieza
ni en el silencio.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

20.02.2010

Improviso para Sheherazade...

Já não distingo entre
segredos de estado
(estrado)
e segredos de estada
(estrada)
subjuntivamente
já não sei a que segredos
me convidas
nem a que menstruações
suspendo-te do substantivo
diafaneidade
a transparência com que me acolhes
não tem tempo dentro
apenas a luz inteira.

Ademar
20.02.2010


Improvisación para Sheherazade...

Ya no distingo entre
secretos de estado
(estrado)
y secretos de estada
(estrada)
subjuntivamente
ya no sé a qué secretos
me invitas
ni a qué menstruaciones
te cuelgo del substantivo
diafaneidad
la transparencia con que me acoges
no tiene tiempo dentro
sólo la luz entera.

19.02.2010

Improviso para dizer nada...

Se a noite
perguntar por mim
diz-lhe por favor
que hoje fui mais cedo.

Ademar
19.02.2010


Improvisación para decir nada...

Si la noche
perguntase por mí
dile por favor
que hoy me he acostado antes.

18.02.2010

Improviso para leiloar num mercado de virtudes...

A única certeza em que caibo
mais do que as tuas palavras
são as batidas deste coração
que nunca ouviste
esse esforço sobre-humano
de tantos anos
que só o orgasmo recompensa
extraordinária invenção essa
da física e da mecânica animal
digo-te
todos os poemas pesam muito mais
do que os vinte e um gramas
da tua incerteza.

Ademar
18.02.2010


Improvisación para subastar en un mercado de virtudes...

La única certeza en que quepo
más que tus palabras
son los latidos de este corazón
que nunca has oído
ese esfuerzo sobrehumano
de tantos años
que sólo el orgasmo recompensa
extraordinaria invención esa
de la física y de la mecánica animal
te digo
todos los poemas pesan mucho más
que los veinte y un gramos
de tu incertidumbre.

17.02.2010

Improviso (mais um) para pedra tumular...

Experimentei
todas as modas de viver
e não acertei a vida
com nenhuma
esgotado o catálogo
reconheço-me agora
finalmente
no desacerto que fui.

Ademar
17.02.2010


Improvisación (otra) para piedra tumular...

Me probé
todas las modas de vivir
y no logré combinar la vida
con ninguna
agotado el catálogo
me reconozco ahora
finalmente
en el desacierto que fui.

16.02.2010

Improviso sobre uma tela de Helena Berardo...













Uma teia de sombras
na cave estreita
que só uma luz antiquíssima
suspende
a memória inventa caixilhos
no lugar da ausência
e nenhum gesto proclama
a metamorfose das janelas imaginárias
nem palavras
o olhar que humedece
e emudece
o repouso enfim no centro da tela
e o orgasmo das cores
tanto tempo adiado.

Ademar

16.02.2010


Improvisación sobre un lienzo de Helena Berardo...

Un lienzo de sombras
en la bodega estrecha
que sólo una luz antiquísima
suspende
la memoria inventa marcos
en el sitio de la ausencia
y ningún gesto proclama
la metamorfosis de las ventanas imaginarias
ni palabras
la mirada que humedece
y enmudece
el reposo en fin en el centro del lienzo
y el orgasmo de los colores
tanto tiempo aplazado.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

15.02.2010

Improviso carnavalesco ao contrário...

A máscara do avesso
a frágil tirania da pele
mas é ainda do corpo
que sobram as evidências
de todos os sinais que te desenham
morres ou renasces nas palavras
e entre a nascente e a foz
nada mais acontece
a montante o silêncio
a jusante o esquecimento.

Ademar
15.02.2010


Improvisación carnavalesca al contrario...

La máscara del revés
la frágil tiranía de la piel
pero es del cuerpo aún
de lo que quedan las evidencias
de todas las señales que te dibujan
mueres o renaces en las palabras
y entre la cabecera y la desembocadura
nada más sucede
río arriba el silencio
río abajo el olvido.

14.02.2010

Improviso para dizer antes do fim...

Na parte de fora dos olhos
a parte em que nenhuma cegueira
adormece
ou quando os lábios acordam ainda
na consagração da tela
o tempo da memória e do desejo
a luz que voa na bissectriz do espaço
entre a nascente e a foz
de todas as viagens interiores
e saber que serei sempre o caminho
o caminho de tantos outros olhos
de não ter regresso ao princípio de mim.

Ademar
14.02.2010

Improvisación para recitar antes del fin...

En la parte de fuera de los ojos
la parte en que ninguna ceguera
adormece
o cuando los labios se despiertan aún
en la consagración del lienzo
el tiempo de la memoria y del deseo
la luz que vuela en la bisectriz del espacio
entre la cabecera y la desembocadura
de todos los viajes interiores
y saber que seré siempre el camino
el camino de tantos otros ojos
de no tener regreso al principio de mí.

13.02.2010

Improviso ainda mais do que mínimo...

Um dia de cada vez
um dia apenas
sem futuros dentro
um dia de cada vez
não queiras mais
nem queiras menos
um dia inteiro
sob a inconstância da luz
um dia de cada vez.

Ademar
13.02.2010


Improvisación aún más que mínima...


Un día de cada vez
un día sólo
sin futuros dentro
un día de cada vez
no quieras más
ni quieras menos
un día entero
bajo la inconstancia de la luz
un día de cada vez.

12.02.2010

Improviso tropeçado nas mãos...


















E manuscrevo-me
para que só tu adivinhes
o sulco destas palavras
e o tempo todo
a perfeição
que ainda a névoa reconheceria
na desafinação do poema
e a distância inteira
tão exacta
como a unidade de medida
do esquecimento.

Ademar
12.02.2010


Improvisación tropezada en las manos...

Y me manuscribo
para que sólo tú adivines
el surco de estas palabras
y el tiempo todo
la perfección
que hasta la niebla reconocería
en la desafinación del poema
y la distancia entera
tan exacta
como unidad de medida
del olvido.

11.02.2010

Improviso clandestino...

A voz como que sussura
na pele que anoitece
e nenhuma distância a triunfa
ou distingue
senão no tear das ondas
que desancoram todas as proas
esse grito quase selvagem
que treme no olhar da clandestinidade
digo
o teu sotaque.

Ademar
11.02.2010


Improvisación clandestina...

La voz como que susurra
en la piel que anochece
y ninguna distancia triunfa sobre ella
o la distingue
sino en el telar de las olas
que desanclan todas las proas
ese grito casi salvaje
que tiembla en la mirada de la clandestinidad
digo
tu acento.

10.02.2010

Improviso ainda mais íntimo sobre Debussy...

Já ensaiei muitas vezes
a dança da saudade
os pés deslumbram o horizonte
de outros olhos
tenho ainda mãos para todas as cordas
e não há altar em que desperte
dos rumores que o mar me traz
na antiguidade de tantas partituras
a intimidade que expira a sede
nos vapores que te antecipam.

Ademar
10.02.2010


Improvisación aún más íntima sobre Debussy...

Ya he ensayado muchas veces
el baile de la añoranza
los pies deslumbram el horizonte
de otros ojos
tengo aún manos para todas las cuerdas
y no hay altar en el que despierte
de los rumores que el mar me trae
en la antigüedad de tantas partituras
la intimidad que expira la sed
en los vapores que te anticipan.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

09.02.2010

Improviso para Selma...



















Diz-me com que vogais
escreverei o teu nome
e com que imagens
do álbum do que foste
viajarei para a ilha dos teus gestos
que ainda dizes rascunhos
ou península
diz-me dos altares
a que sobes para dançar
quando a voz te quebra
e com que braços
e com que mãos
teces as ondas que mergulhas
antes do pôr do mar
ou do sol.

Ademar
09.02.2010


Improvisación para Selma...

Dime con qué vocales
escribiré tu nombe
y con qué imágenes
del álbum de lo que fuiste
viajaré a la isla de tus gestos
que todavía llamas esbozos
o península
dime de los altares
a los que subes para bailar
cuando la voz se te quiebra
y con qué brazos
y con qué manos
tejes las olas que buceas
antes de que se ponga el mar
o el sol.

08.02.2010

Improviso para plátano e mundo...

A primavera tem sempre o relógio atrasado
na memória do tempo
floriremos sim
quando a vida retomar o seu antiquíssimo enredo
e renascermos de novo
então os pássaros emigrarão
nos nossos braços
e serão tantos
que nem sobrarão palavras
para dizer o vento.

Ademar
08.02.2010


Improvisación para plátano y mundo...

La primavera tiene siempre el reloj atrasado
en la memória del tiempo
floreceremos sí
cuando la vida retome su antiquíssimo enredo
y renazcamos de nuevo
entonces los pájaros emigrarán
en nuestros brazos
y serán tantos
que ni quedarán palabras
para recitar el viento.

07.02.2010

Improviso para dizer ainda Aveleda...

A casa
essa casa precisa e exacta
sarcófago de gestos incinerados
no forno de pedra há muito arrefecido
a água de todas as minas
que a atravessam ainda
o plátano que conduz o olhar
em direcção à chuva
e todos os sacrários abandonados
nos altares da memória
que ainda tropeça no tempo
a casa
essa espécie de emanência do corpo
em todas as escadas íntimas
que a sobem e a descem
e tantas chaves
para portas que já não abrem
e tantas janelas
fechadas por fora
como um pensamento engradeado
a casa
essa casa precisa e exacta
labirinto de muros que escorrem lágrimas
mas não como se chorassem.

Ademar
07.02.2010


Improvisación para decir aún Aveleda...


La casa
esa casa precisa y exacta
sarcófago de gestos incinerados
en el horno de piedra desde hace mucho enfriado
el agua de todas las minas
que la atraviesan aún
el plátano que guía la mirada
en dirección a la lluvia
y todos los sagrarios abandonados
en los altares de la memoria
que todavía tropieza en el tiempo
la casa
esa especie de emanación del cuerpo
en todas las escaleras íntimas
que la suben y la bajan
y tantas llaves
para puertas que ya no abren
y tantas ventanas
cerradas por fuera
como un pensamiento enrejado
la casa
esa casa precisa y exacta
laberinto de muros que escurren lágrimas
pero no como si llorasen.

06.02.2010

Improviso para Sylvia Beirute...

Se quisesse fazer-te uma confidência
em forma ainda de ensaio
dir-te-ia que já só saio à rua
digo de mim
com as palavras pela trela
falta-me inspiração para correr
atrás das palavras velozes
já reparaste por certo
que quase não uso maquilhagem
sirvo-me no osso
e assim me adio na putrefacção
todos os poetas que morrem
apodrecem mais depressa
nas tatuagens da literatura.

Ademar
06.02.2010


Improvisación para Sylvia Beirute...

Si te quisiese hacer una confidencia
en forma eso sí de ensayo
te diría que ya sólo salgo a la calle
digo de mí
con las palabras de la correa
me falta inspiración para correr
tras las palabras velozes
ya habrás notado por cierto
que casi no uso maquillaje
me sirvo en los huesos
y así me aplazo la putrefacción
todos los poetas que mueren
se pudren antes
en los tatuajes de la literatura.

terça-feira, 8 de junho de 2010

05.02.2010

Improviso em dez passos ou sequências...

TAKE ONE
o regedor não recebe
lições de democracia de ninguém
nem de um amigo de infância
que já foi negreiro
TAKE TWO
o regedor tem
sobre todas as outras
uma paixão arrebatadora e ex-citante
a arquitectura
TAKE THREE
o regedor não tem mulher
nem homem
oferece o corpo inteiro
à mãezinha desvalida
que já trabalhou para fora
TAKE FOUR
o regedor fuma apenas às escondidas
como ademais em tudo o mais
TAKE FIVE
o regedor sabe de cor
quatro versos melancólicos de Cesário Verde
e dois de Vinicius
indiciariamente eróticos
com que costuma surpreender as viúvas
e os lolitos
TAKE SIX
o regedor não engraxa na baixa
porque sua dos pés
e da alma
TAKE SEVEN
o regedor tem um pacto secreto
com o colesterol
e os paparazzi
TAKE EIGHT
o regedor não dobra a língua
em nenhuma que seja de usar
TAKE NINE
o regedor adora a posição de joelhos
e não apenas para encrespar
TAKE TEN
o regedor sofre de azias
quando a próstata não lhe aperta
no carácter.

Ademar
05.02.2010


Improvisación en diez pasos o secuencias...
TAKE ONE
el regidor no recibe
lecciones de democracia de nadie
ni de un amigo de infancia
que en otro tiempo fue negrero
TAKE TWO
el regidor tiene
sobre todas las demás
una pasión arrebatadora y ex-citante
la arquitectura
TAKE THREE
el regidor no tiene mujer
ni marido
le ofrece el cuerpo entero
a su madrecita desvalida
que en otro tiempo trabajó para fuera
TAKE FOUR
el regidor fuma sólo a escondidas
como además todo lo demás
TAKE FIVE
el regidor sabe de memoria
cuatro versos melancólicos de Cesário Verde
y dos de Vinicius
indiciariamente eróticos
con los que acostumbra sorprender a las viudas
y a los lolitos
TAKE SIX
el regidor no va al limpiabotas en el centro
porque le sudan los pies
y el alma
TAKE SEVEN
el regidor tiene un pacto secreto
con el colesterol
y los paparazzi
TAKE EIGHT
el regidor no dobla la lengua
en ninguna que sea de usar
TAKE NINE
al regidor le encanta la postura de rodillas
y no sólo para chulear
TAKE TEN
el regidor sufre de acidez
cuando la próstata no le aprieta
el carácter.

04.02.2010

Improviso para heterobiografia...

Se houvesse um lugar possível
onde as palavras ainda se amassem sem protecção
seria aí que eu te esperaria
talvez entre ruínas
ou entre pântanos de metáforas
para que os pés não firmassem
promessas de eternidades
magras as biografias
que apenas as palavras suportam.

Ademar
04.02.2010

Improvisación para heterobiografía...

Si hubiese un lugar posible
donde las palabras aún se amasen sin protección
sería ahí donde te esperaría
tal vez entre ruinas
o entre pantanos de metáforas
para que los pies no asentasen
promesas de eternidades
flacas las biografías
que apenas las palabras soportan.

03.02.2010

Improviso para explicar por que, muitas vezes, sinto que as escolas têm professores a mais...

Mais do que tudo
é a maldade que me dói
entendo a humanidade
na ignorância
na estupidez
na ambição
na hipocrisia
entendo a humanidade
na loucura
em todas as suas formas
entendo até
a cobardia
a fraqueza
a inveja
e a vaidade
mas mais do que tudo
é a maldade que me dói
essa vontade selvagem
de matar os outros pelas costas
impunemente.

Ademar
03.02.2010


Improvisación para explicar por qué, muchas veces, siento que las escuelas tienen professores de más...

Más que nada
es la maldad lo que me duele
entiendo a la humanidad
en la ignorancia
en la estupidez
en la ambición
en la hipocresía
entiendo a la humanidad
en la locura
en todas sus formas
entiendo hasta
la covardía
la flaqueza
la envidia
y la vanidad
pero más que nada
es la maldad lo que me duele
esa voluntad salvaje
de matar a los otros por la espalda
impunemente.

02.02.2010

Improviso em forma de tango...

Movimentam-se na tela
como num palco maravilhoso
que só as nuvens adivinhassem
caminham dançam esvoaçam
entram e saem da tela
como de uma imagem em que nunca coubessem
e escrevem em todas as línguas
no regresso de todas as viagens
as mulheres a que me abandono
têm uma tela dentro delas
e são ainda mais perfeitas
do que o mistério que as conduz.

Ademar
02.02.2010


Improvisación en forma de tango...

Se mueven por el lienzo
como en un palco maravilloso
que sólo las nubes hubiesen adivinado
caminan bailan revolotean
entran y salen del lienzo
como de una imagen en la que nunca hubiesen cabido
y escriben en todas las lenguas
al regreso de todos los viajes
las mujeres a las que me abandono
tienen un lienzo dentro de ellas
y son aún más perfectas
que el misterio que las guía.

01.02.2010

Improviso para folgar as costas a Fernando Pessoa e a Cesário Verde...

Este poema não tem
primeira pedra para inaugurar
senhor primeiro-ministro
é uma imaterialidade monumental
não tem orçamento
nem plano de estabilidade e crescimento
e mais-valias não cobra
nem para distrair o défice
este poema digamos assim
é da oposição
mas diga-o se quiser
senhor primeiro-ministro
numa próxima inauguração.

Ademar
01.02.2010

Improvisación para aliviar la espalda a Fernando Pessoa y a Cesário Verde...

Este poema no tiene
primera piedra que inaugurar
señor primer ministro
es una inmaterialidad monumental
no tiene presupuesto
ni plan de estabilidad y crecimiento
y plusvalías no cobra
ni para despistar el déficit
este poema digámoslo así
es de la oposiçión
pero recítelo si quiere
señor primer ministro
en una próxima inauguración.

31.01.2010

Improviso para traduzir, em linguagem que todos entendam, Tantum Ergo...

Dizes que falo sozinho
não é verdade
falo comigo
quando tu não estás
dizes que canto no banho
gregorianamente
não é verdade
nunca cantei
dizes que penso mil e uma mulheres
quando me distraio da eternidade
não é verdade
penso uma de cada vez
dizes que vivo
no conforto de um pacto com o diabo
não é verdade
o diabo sou eu.

Ademar
31.01.2010


Improvisación para traducir, a lenguaje que todos entiendan, Tantum Ergo...

Dices que hablo solo
no es verdad
hablo conmigo
cuando tú no estás
dices que canto en el baño
gregorianamente
no es verdad
nunca he cantado
dices que pienso mil y una mujeres
cuando me distraigo de la eternidad
no es verdad
pienso una de cada vez
dices que vivo
al abrigo de un pacto con el diablo
no es verdad
el diablo soy yo.