terça-feira, 31 de agosto de 2010

16.07.2006

Antologia poética (412)...

Improviso em forma de domingo...

Há quem tenha
a exigência da imperfeição
se algum dia tiver de ser escuteiro
sê-lo-ei apenas por ti.

Ademar
16.07.2006


Antología poética (412)...

Improvisación en forma de domingo...

Hay quien tiene
la exigencia de la imperfección
si algún día tengo que ser boy-scout
lo seré solamente por ti.

18.11.2006

Improviso para beber de ti...

O mel dizes
escorre dos olhos
mas a tua boca sangra
mesmo quando sorris
a tua solidez liquefaz-se
és mais líquida do que pareces
muito mais
bebo-te gota a gota
quando desces do palco
doce e suave.

Ademar
18.11.2006


Improvisación para beber de ti...

La miel dices
mana de los ojos
pero tu boca sangra
incluso cuando sonríes
tu solidez se licúa
eres más líquida de lo que pareces
mucho más
te bebo gota a gota
cuando bajas del escenario
dulce y suave.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

18.11.2006

Improviso para distrair jibóias...

As tuas mãos
arriscam um novelo de jibóias
quase antecipam
o falhanço do chicote
confundes-te na névoa que me impões
olha que eu vejo muito mais nítido através da névoa
o espelho jamais contará como fraquejas.

Ademar
18.11.2006


Improvisación para distraer boas...

Tus manos
arriesgan un ovillo de boas
casi anticipan
el golpe en falso del látigo
te confundes en la niebla que me impones
mira que yo veo mucho más nítido a través de la niebla
el espejo jamás contará como flaqueas.

17.07.2006

Antologia poética (411)...

Improviso para negar as escrituras... *

Para que o Pai não duvidasse
do sucesso da sua missão
Judas visitou Cristo na cruz
e
temendo que o Messias
pudesse sofrer mais do que estava predestinado
martelou ainda mais os pregos
para apressar a morte e a história
foi então que o sangue do Redentor golfou
sobre os olhos do traidor
e Judas
(que não frequentava urgências hospitalares)
desmaiou
à visão do amigo desfalecido
Cristou não resistiu à tentação misericordiosa
e desceu da cruz para o reanimar
consta que já se tinha arrependido
dos caprichos sádicos do Pai
e só esperava um bom pretexto para negar as escrituras
e gozar a vida
foram ambos dali para os copos
rindo da ingenuidade dos Apóstolos e das Apóstolas
ainda hoje não se sabe
quem ficou na cruz no seu lugar.

Ademar
17.07.2006

* Agradeço à Ana Saraiva a involuntária inspiração.


Antología poética (411)...

Improvisación para negar las escrituras... *

Para que el Padre no dudase
del éxito de su misión
Judas visitó a Cristo en la cruz
y
temiendo que el Mesías
pudiese sufrir más de lo que le estaba predestinado
martilló todavía más los clavos
para acelerar la muerte y la historia
fue entonces cuando la sangre del Redentor saltó
sobre los ojos del traidor
y Judas
(que no frecuentaba urgencias hospitalarias)
se desmayó
ante la visión del amigo desfallecido
Cristo no resistió a la tentación misericordiosa
y se bajó de la cruz para reanimarlo
consta que ya se había arrepentido
de los caprichos sádicos de su Padre
y sólo esperaba un buen pretexto para negar las escrituras
y disfrutar de la vida
después se fueron ambos de chatos
riéndose de la ingenuidad de los Apóstoles y de las Apóstolas
todavía hoy no se sabe
quién se quedó en la cruz en su lugar.

* Agradezco a Ana Saraiva la involuntaria inspiración.

domingo, 29 de agosto de 2010

17.11.2006

Improviso para desinfetichar...

O teu corpo é o meu fetiche
digo-te deste modo
para que não me confundas
com um vulgar adorador de estátuas
principias muito antes de te percorrer
e nunca terminas no meu desejo
sobras sempre para depois
sobras sempre assim.

Ademar
17.11.2006


Improvisación para desinfetichar...

Tu cuerpo es mi fetiche
te lo digo de este modo
para que no me confundas
con un vulgar adorador de estatuas
comienzas mucho antes de recorrerte
y nunca terminas en mi deseo
sobras siempre para después
sobras siempre así.

18.07.2006

Antologia poética (410)...

Improviso para dizer da guerra...

Saio indefeso do abrigo
e dou a mão às palavras
seguindo um trilho de pegadas de silêncio
que talvez me conduzam a ti
sejas tu quem fores
estou em guerra
com o que deixei para trás
e recuo apenas
vertigem suicida
há-de haver ainda um campo
em que te encontre
uma sepultura sem lápide
na minha memória
aí ficarei a deslumbrar saudades.

Ademar
18.07.2006


Antología poética (410)...

Improvisación para decir de la guerra...

Salgo indefenso del refugio
y les doy la mano a las palabras
siguiendo un sendero de huellas de silencio
que tal vez me conduzcan a ti
seas tú quien seas
estoy en guerra
con lo que he dejado atrás
y retrocedo a duras penas
vértigo suicida
habrá todavía un campo
en el que te encuentre
una sepultura sin lápida
en mi memoria
ahí me quedaré a deslumbrar nostalgias.

sábado, 28 de agosto de 2010

20.07.2006

Antologia poética (409)...

Improviso em forma de haiku para voar...

Se eu soubesse que entrarias por uma janela
aperfeiçoaria as asas
para voar no sentido contrário.

Ademar
20.07.2006


Antología poética (409)...

Improvisación en forma de haikú para volar...

Si supiese que ibas a entrar por una ventana
habría perfeccionado las alas
para volar en sentido contrario.

16.11.2006

Improviso sobre uma liquidez de luzes...

Onde começam as tuas pernas brancas
que mergulham na água?
por que as abres assim
escorrendo folhas (ou serão líquenes)?
estou mais próximo da margem
não sei se acoste
se mergulhe contigo
a tua liquidez de luzes
convida-me à submissão dos lábios
e do olhar
sinto que me afogas o desejo
no fundo de tudo o que me escondes.

Ademar
16.11.2006


Improvisación sobre una liquidez de luces...

¿Dónde empiezan tus piernas blancas
que se sumergen en el agua?
¿por qué las abres así
escurriendo hojas (o serán líquenes)?
estoy más cerca de la orilla
no sé si arrimarme
si sumergirme contigo
tu liquidez de luces
me convida a la sumisión de los labios
y de la mirada
siento que me ahogas el deseo
en el fondo de todo lo que me escondes.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

15.11.2006

Improviso a preto e branco...

Desces com a água
e fundes-te com a terra
quando as botas
já não levitam
digo
solidificas
quase enregelas
e nenhum movimento
te pertence
reinventas-te a preto e branco
sob um palco passadiço
passerelle
és apenas a abstracção das formas
que te insinuam
viajas no sentido contrário
de te encontrares.

Ademar
15.11.2006


Improvisación en blanco y negro...

Bajas con el agua
y te fundes con la tierra
cuando las botas
ya no levitan
digo
te solidificas
casi te congelas
y ningún movimiento
te corresponde
te reinventas en blanco y negro
bajo un escenario corredizo
passerelle
eres sólo la abstracción de las formas
que te insinúan
viajas en el sentido contrario
al de encontrarte.

21.07.2006

Antologia poética (408)...

Improviso para lembrar o movimento de uma gazela...

Quando te penso
assim indefesa
para servir de todos os alvos
só me ocorre um clichet
alma selvagem
talvez um dia recuperes o corpo
na clareira onde o perdeste.

Ademar
21.07.2006


Antología poética (408)...

Improvisación para recordar el movimiento de una gacela...

Cuando te pienso
así indefensa
para servir de todos los blancos
sólo se me ocurre un cliché
alma salvaje
tal vez un día recuperes el cuerpo
en el claro donde lo perdiste.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

13.11.2006

Improviso para S.Martinho...

Hoje
atrasadamente
magustei
digo
magostei
não sei
se em português
se em castelhano
as castanhas
quando se deixam assar
iberizam-me.

Ademar
13.11.2006


Improvisación para San Martín...

Hoy
retrasadamente
magusté
digo
magosté
no sé
si en portugués
si en castellano
las castañas
cuando se dejan asar
me iberizan.

(N. de la T.: El magusto es una pequeña fiesta que se celebra por San Martín, 11 de noviembre, alrededor de una hoguera en la que se asan castañas.)

23.07.2006

Antologia poética (407)...

Improviso para dizer a circunstância do lugar...

Sei que esta noite não serei bombardeado
nem amanhã
nem depois
nem depois
nem depois
faça Condoleezza Rice o que fizer
viaje para onde viajar
diga o que disser
sei que não serei bombardeado
é uma sabedoria que não faz parte de mim
mas do lugar a que pertenço
e da sua história
uma espécie quase de imunidade
(humanidade).

Ademar
23.07.2006


Antología poética (407)...

Improvisación para expresar la circunstancia del lugar...

Sé que esta noche no seré bombardeado
ni mañana
ni pasado
ni al otro
ni al otro
haga Condoleezza Rice lo que haga
viaje adonde viaje
diga lo que diga
sé que no seré bombardeado
es una sabiduría que no forma parte de mí
sino del lugar al que pertenezco
y de su historia
una especie casi de inmunidad
(humanidad).

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

24.07.2006

Antologia poética (406)...

Improviso para explicar porque tardo...

Já só tenho tempo
para as palavras que não me exigem a eternidade
sinto agora a alma colada ao corpo
a noção de transcendência
transporto-a nos sapatos
sempre que dou um passo
coxeio na metafísica.

Ademar
24.07.2006


Antología poética (406)...

Improvisación para explicar por qué tardo...

Ya sólo tengo tiempo
para las palabras que no me exigen la eternidad
siento ahora el alma pegada al cuerpo
la noción de trascendencia
la transporto en los zapatos
siempre que doy un paso
cojeo en la metafísica.

25.07.2006

Antologia poética (405)...

Improviso para entardecer...

É sempre tarde para alguma coisa
para te lembrar o horário
do comboio ou do avião que perdeste
para dizer-te que Rameau
teria escrito aquele bailado para ti
ou que nascemos nos antípodas do tempo
ou das divindades
é sempre tarde
para anunciar que te espero
por mais cedo que possa parecer-te
os ponteiros dos nossos relógios
não acertam o sentido nem o movimento
da chamada
somos asteróides vagabundos
num cosmos que nenhuma lei habita
verbos que desconhecem as pessoas
em que devíamos ser conjugados
é sempre tarde para alguma coisa
para te dizer simplesmente
que tardamos.

Ademar
25.07.2006


Antología poética (405)...

Improvisación para atardecer...

Es siempre tarde para algo
para recordarte el horario
del tren o del avión que has perdido
para decirte que Rameau
habría escrito aquella danza para ti
o que nacimos en las antípodas del tiempo
o de las divinidades
es siempre tarde
para anunciar que te espero
por muy pronto que pueda parecerte
las agujas de nuestros relojes
no se ajustan al sentido ni al movimiento
del toque
somos asteroides vagabundos
en un cosmos que ninguna ley habita
verbos que desconocen las personas
en que deberíamos ser conjugados
es siempre tarde para algo
para decirte simplemente
que tardamos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

26.07.2006

Antologia poética (404)...

Improviso para dizer nada ou quase tudo...

Se o teu corpo me apetecesse tanto
como as tuas palavras
talvez tivesse de inventar
outro corpo
ou outras palavras
para renascer.

Ademar
26.07.2006


Antología poética (404)...

Improvisación para decir nada o casi todo...

Si tu cuerpo me apeteciese tanto
como tus palabras
tal vez tendría que inventar
otro cuerpo
u otras palabras
para renacer.

27.07.2006

Antologia poética (403)...

Improviso para critério de contabilização dos mortos...

Em qualquer guerra
há os mortos bons
e os mortos maus
os bons
morrem de farda
(ainda que invisível)
os maus
não
por isso
para ministro da guerra
eu escolheria
um costureiro
ou
uma costureira
como dizia o outro
o problema está sempre
em vesti-los.

Ademar
27.07.2006

Antología poética (403)...

Improvisación para criterio de recuento de los muertos...

En cualquier guerra
están los muertos buenos
y los muertos malos
los buenos
mueren de uniforme
(aunque invisible)
los malos
no
por eso
para ministro de guerra
yo escogería
un costurero
o
una costurera
como decía el otro
el problema está siempre
en vestirles.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

10.11.2006

Improviso para cegueira e viola de arco...

Falho-me muitas vezes no silêncio
os olhos sussurram apenas
e tu finges que não ouves
finges que não vês
e eu distraio-me
a dizer redundâncias
aquele cego que há tantos anos
repete o mesmo pedido de sempre
exactamente nos mesmos termos de sempre
exactamente naquele mesmo lugar
e deixa as esmolas no chão
quando se levanta e regressa
à intimidade dos olhos
que nunca deixaram de ver.

Ademar
10.11.2006


Improvisación para ceguera y viola...

Me fallo muchas veces en el silencio
los ojos susurran sólo
y tú finges que no oyes
finges que no ves
y yo me distraigo
diciendo redundancias
aquel ciego que desde hace tantos anos
repite la misma súplica de siempre
exactamente en los mismos términos de siempre
exactamente en aquel mismo lugar
y deja las limosnas en el suelo
cuando se levanta y regresa
a la intimidad de los ojos
que nunca han dejado de ver.

07.11.2006

Improviso para nos contarmos na muralha da china...













Talvez entre nós
suba e desça uma muralha assim
encontramo-nos no horizonte dos olhares
um pouco depois ou antes do desejo
que nos distrai
já guerreámos
agora desenferrujamos apenas as armas
para que no museu de nós mesmos
ainda nos vejam limpos
ainda nos vejamos
viajamos por dentro da objectiva
digo
somos parte do objecto
a parte que só nós próprios alcançamos
um dia descobriremos
que não tínhamos fim
nem mesmo entre as duas faces da muralha.

Ademar
07.11.2006


Improvisación para contárnosla en la muralla china...

Tal vez entre nosostros
suba y baje una muralla así
nos encontramos en el horizonte de las miradas
un poco después o antes del deseo
que nos distrae
ya hemos guerreado
ahora ya sólo desherrumbramos las armas
para que en el museo de nosotros mismos
todavía nos vean limpios
todavía nos veamos
viajamos por dentro del objetivo
digo
somos parte del objeto
la parte que nada más nosotros alcanzamos
un día descubriremos
que no teníamos fin
ni siquera entre las dos caras de la muralla.

domingo, 22 de agosto de 2010

27.07.2006

Antologia poética (402)...

Improviso para agradecer a Adélia Prado...

Hoje cheirei-me intimamente os interiores
soube-me a estranho
prefiro que me vejam de fora
ou pelo menos que me espreitem
os espelhos divergem-me
sou outro
quando entras por mim.

Ademar
27.07.2006


Antología poética (402)...

Improvisación para agradecer a Adélia Prado...

Hoy me he olido íntimamente los interiores
me he sabido a extraño
prefiero que me vean desde fuera
o por lo menos que me observen
los espejos me divergen
soy otro
cuando entras en mí.

28.07.2006

Antologia poética (401)...

Improviso para degredo e mosca...

Espreito o mundo
pela janela ao canto da sala
escondo-me para não ver
neste degredo
só faltam seres vivos
há matemática e poesia a menos
nas emoções que se baralham
sofro de uma espécie de esperança
que morre um pouco todos os dias
o mundo espreita-me
pela janela ao canto da sala
e procuro em vão esconderijos
não há abrigos
para este desconforto acumulado
não há palavras
adoeço de silêncios
e de medos que já não falam
sobra clandestinamente uma mosca
regresso às metamorfoses de Kafka
entendo-me com ela
desentendo-me de tudo o mais
este circo chora-me
viajo em direcção à infância
como se procurasse a fonte primeira
do esquecimento de tudo
não caem lá fora
o míssil que deflagra
fui eu.

Ademar
28.07.2006


Antología poética (401)...

Improvisación para destierro y mosca...


Espío al mundo
por la ventana de la esquina del salón
me escondo para no ver
en este destierro
sólo faltan seres vivos
hay matemática y poesía de menos
en las emociones que se entremezclan
sufro de una especie de esperanza
que muere un poco todos los días
el mundo me espía
por la ventana de la esquina del salón
y busco en vano escondrijos
no hay abrigos
para este desconsuelo acumulado
no hay palabras
adolezco de silencios
y de miedos que ya no hablan
queda clandestinamente una mosca
regreso a las metamorfosis de Kafka
me entiendo con ella
me desentiendo de todo lo demás
este circo me llora
viajo en dirección a la infancia
como si buscase la fuente primera
del olvido de todo
no caen ahí fuera
el misil que deflagra
he sido yo.

sábado, 21 de agosto de 2010

01.06.2006

Antologia poética (399)...

Improviso doméstico...

Uma borboleta inesperada
pousou-me no ombro doméstico
não sei se a mate
se a escravize
receio que sejas tu.

Ademar
01.06.2006


Antología poética (399)...

Improvisación doméstica...

Una mariposa inesperada
se me ha posado en el hombro doméstico
no sé si matarla
si esclavizarla
desconfío que seas tú.

01.06.2006

Antologia poética (398)...

Improviso para chover no molhado...

Há uma palavra
que deves eliminar do teu vocabulário
uma palavra agnóstica
outrora demoníaca
descaradamente subversiva
uma palavra masculina e espúria
que a psicologia e a moral
interditam às mulheres
e às meninas
uma palavra
que deves pronunciar nunca
e menos ainda pensar
ou escrever
prazer.

Ademar
01.06.2006


Antología poética (398)...

Improvisación para llover sobre mojado...

Hay una palabra
que debes eliminar de tu vocabulario
una palabra agnóstica
antaño demoníaca
descaradamente subversiva
una palabra masculina y espuria
que la psicología y la moral
prohiben a las mujeres
y a las niñas
una palabra
que debes pronunciar nunca
y menos aún pensar
o escribir
placer.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

01.06.2006

Antologia poética (397)...

Improviso mail.telepac.pt...

Mesmo depois de expirar
espero
que me deixeis fazer novamente
o login.

Ademar

01.06.2006


Antología poética (397)...

Improvisación mail.telepac.pt...

Incluso después de expirar
espero
que me dejéis hacer de nuevo
el login.

01.06.2006

Antologia poética (396)...

Improviso sobre uma confissão de fiasco...

Talvez o teu fiasco
tenha uma alma virgem lá dentro
um corpo desengravidante
quero dizer
mãos trémulas e nervosas
a pedirem uma pena das antigas
com aparo para molhar a ansiedade
esse sorriso crispado
que diz sim a tudo
antes do não definitivo
como se vivesses ao contrário
numa desordem ainda feminina de entrada em cena
labiríntica ou circular.

Ademar

01.06.2006


Antología poética (396)...

Improvisación sobre una confesión de fiasco...

Tal vez tu fiasco
tenga un alma virgen dentro
un cuerpo desembarazante
quiero decir
manos trémulas y nerviosas
que piden un cálamo de los antiguos
con plumilla para mojar la ansiedad
esa sonrisa crispada
que dice sí a todo
antes del no definitivo
como si vivieses al revés
en un desorden todavía femenino de entrada en escena
laberíntica o circular.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

02.06.2006

Antologia poética (395)...

Improviso para emagrecer...

De vez em quando
o ego reclama
uma dieta de emagrecimento
a submissão absoluta
à omnipotência do universo.

Ademar
02.06.2006


Antología poética (395)...

Improvisación para adelgazar...

De vez en cuando
el ego reclama
una dieta de adelgazamiento
la sumisión absoluta
a la omnipotencia del universo.

05.06.2006

Antologia poética (394)...

Improviso para Bolonha e cinismo...

Confesso fui deficiente
num tempo em que ainda não havia nas escolas alunos com
"necessidades educativas especiais"
(os aterros sanitários serviam então para alguma coisa)
no estudo dos verbos
nunca passei da primeira pessoa do singular
ainda assim
arrematei uma licenciatura e
emoldurei o canudo
Coimbra era muito fácil
muito mais do que agora.

Ademar
05.06.2006


Antología poética (394)...

Improvisación para Boloña y cinismo...

Confieso que fui deficiente
en un tiempo en el que aún no había en las escuelas alumnos con
"necesidades educativas especiales"
(los rellenos sanitarios servían entonces para algo)
en el estudio de los verbos
nunca pasé de la primera persona del singular
aun así
terminé una licenciatura y
enmarqué el título
Coímbra era muy fácil
mucho más que ahora.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

05.06.2006

Antologia poética (393)...

Improviso quase evangélico...

Desaprendi o feitiço da perfeição
banalizei-me
a grandeza amesquinha-me
sofro apenas com os sofredores
presidiei-me
impus-me grades no olhar
e no pensamento
receio só ter aprendido com cristo
o movimento na direcção contrária.

Ademar
05.06.2006


Antología poética (393)...

Improvisación casi evangélica...

He desaprendido el hechizo de la perfección
me he banalizado
la grandeza me vuelve mezquino
sufro unicamente con los sufridores
me he protegido
me he impuesto rejas en la mirada
y en el pensamiento
temo sólo haber aprendido con cristo
el movimiento en dirección contraria.

06.06.2006

Antologia poética (392)...

Improviso para saudar-me...

Há dias em que só aspiro a dormir criança
dias em que não me apetece deitar-me contigo
sejas tu quem fores
escrava ou dominadora
dias em que só estou preparado para mim
nesse território que divido com a morte
entre almofadas
antes de me atirar da varanda mais alta
de uma torre qualquer
para o mais fundo do meu esquecimento.

Ademar
06.06.2006


Antología poética (392)...

Improvisación para saludarme...

Hay días en los que sólo aspiro a dormirme niño
días en los que no me apetece acostarme contigo
seas tú quien seas
esclava o dominadora
días en los que sólo estoy preparado para mí
en ese territorio que comparto con la muerte
entre almohadas
antes de lanzarme de la terraza más alta
de una torre cualquiera
hacia lo más profundo de mi olvido.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

07.06.2006

Antologia poética (391)...

Improviso para Neptuno...

O meu pensamento é uma casa
que ainda não inventei
salas voláteis
quartos vazios de tudo e de nada
despensas armários
muitas estantes de livros ausentes
portas que nunca fecham
janelas que nunca abrem
camas em que ainda ninguém morreu
não tenho ideias
para fingir de arquitecto
o telefone fixo deixou de tocar
a campainha
agora
arranha apenas o silêncio
há mais refúgio nesta clausura
do que na saudade do próprio exílio.

Ademar
07.06.2006


Antología poética (391)...

Improvisación para Neptuno...

Mi pensamiento es una casa
que aún no he inventado
salas volátiles
habitaciones vacías de todo y de nada
despensas armarios
muchas estanterías de libros ausentes
puertas que nunca se cierran
ventanas que nunca se abrem
camas en las que aún nadie ha muerto
no tengo ideas
para fingirme arquitecto
el teléfono fijo ha dejado de tocar
el timbre
ahora
sólo araña el silencio
hay más refugio en esta clausura
que en la nostalgia del propio exilio.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

04.11.2006

Improviso para anoitecer...

Obscureço
inesperadamente obscureço
sobro-me pelo filamento de uma vela
e o horizonte muito próximo
de um cigarro que arde ainda entre dedos
faróis que riscam a noite ausente
um silêncio que quase ensurdece
já só posso ver-me a um único espelho
estas palavras que me tremem nos olhos
que importa que me leias
se não acrescentas luz
à escuridão em que me vagueias?

Ademar
04.11.2006


Improvisación para anochecer...

Oscurezco
inesperadamente oscurezco
me quedo en el filamento de una vela
y el horizonte muy cercano
de un cigarrillo que arde todavía entre dedos
faros que rasgan la noche ausente
un silencio que casi ensordece
ya sólo me puedo ver en un único espejo
estas palabras que me tiemblan en los ojos
¿qué importa que me leas
si no añades luz
a la escuridad en que me dejas?

07.06.2006

Antologia poética (390)...

Improviso para telemóvel e silêncio...

Hei-de gritar-te sempre aos ouvidos
hei-de gritar-me sempre
só para me fazer ouvir
ouve
todos os homens são egoístas
ou surdos.

Ademar
07.06.2006


Antología poética (390)...

Improvisación para teléfono móvil y silencio...

Te gritaré siempre a los oídos
me gritaré siempre
sólo para hacerme oír
oye
todos los hombres son egoístas
o sordos.

08.06.2006

Antologia poética (389)...

Improviso sobre a impossibilidade de me ligar ao universo...

Perdi a ligação ao outro lado de mim
e as palavras perdem-me
não sei ainda se regresso ao que fui
antes da viagem que me trouxe aqui
ouço talvez as tuas lágrimas
emparedadas no silêncio
nada é perfeito na memória
quando passamos o filme atrás
nada do que previmos aconteceu
a vida é este cálculo de desenganos
cada um vai pelo seu caminho
e um dia desencontramo-nos
todos os destinos são paralelos
não há sonhos que comunguem as madrugadas.

Ademar
08.06.2006


Antología poética (389)...

Improvisación sobre la imposibilidad de conectarme al universo...

He perdido la conexión al otro lado de mí
y las palabras me pierden
no sé aún si regreso a lo que fui
antes del viaje que me trajo aquí
oigo tal vez tus lágrimas
emparedadas en el silencio
nada es perfecto en la memoria
cuando ponemos la película después
nada de lo que habíamos previsto ha sucedido
la vida es este cálculo de desengaños
cada uno va por su camino
y un día nos desencontramos
todos los destinos son paralelos
no hay sueños que comulguen las madrugadas.

domingo, 15 de agosto de 2010

12.06.2006

Antologia poética (388)...

Improviso evangélico...

Nem todos os apóstolos
dançaram com Maria Madalena
depois da última ceia
alguns só tiveram mesmo vontade
de vomitar
a traição da lucidez
origina-se sempre no estômago.

Ademar
12.06.2006


Antología poética (388)...

Improvisación evangélica...

Y no todos los apóstoles
bailaron con María Magdalena
después de la última cena
algunos sólo tuvieron de verdad ganas
de vomitar
la traición de la lucidez
se origina siempre en el estómago.

14.06.2006

Antologia poética (387)...

Improviso para um demente que não sabe que o é...

De deus e de louco
todos temos um pouco
menos tu
és demência apenas
e jamais o saberás.

Ademar
14.06.2006


Antología poética (387)...

Improvisación para um demente que no sabe que lo es...

De dios y de loco
todos tenemos un pouco
menos tú
eres demencia sólo
y jamás lo sabrás.

sábado, 14 de agosto de 2010

02.11.2006

Improviso mais breve do que o pensamento...

Nenhuma nudez será castigada
senão à chegada.

Ademar
02.11.2006


Improvisación más breve que el pensamiento...

Ninguna desnudez será castigada
sino a la llegada.

15.06.2006

Antologia poética (386)...

Improviso diurno para dizer improbabilidades...

Um último café
um último cigarro
um último gole de whisky
e uma vez mais
Salve Regina
Haydn para amantes silenciosos
e improváveis
como foram sempre todos os amantes
que nunca chegaram a ser
não voltarei a dizer-te os poemas
que nem tu sabias
que tinham sido escritos para ti
não voltarei a acampar nos teus desertos
a fugir das palavras com que me acenavas
da outra margem dos dias envergonhados
morri precisamente na hora em que nasceste.

Ademar
15.06.2006


Antología poética (386)...

Improvisación diurna para recitar improbabilidades...

Un último café
un último pitillo
un último trago de whisky
y una vez más
Salve Regina
Haydn para amantes silenciosos
e improbables
como han sido siempre todos los amantes
que nunca han llegado a ser
no volveré a recitarte los poemas
que ni tú sabías
que habían sido escritos para ti
no volveré a acampar en tus desiertos
a huir de las palabras con que me hacías señas
desde la otra orilla de los días tímidos
me he muerto precisamente a la hora en que has nacido.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

15.06.2006

Antologia poética (385)...

Improviso para continuar a descansar do futuro...

A mão estendida que não vi
nem o olhar
nem o silêncio dos lábios sussurrantes
e a eternidade morta
naquele instante distraído
em que falharam as luzes
digo
a história possível
que jamais escreveremos.

Ademar
15.06.2006


Antología poética (385)...

Improvisación para seguir descansando del futuro...

La mano extendida que no vi
ni la mirada
ni el silencio de los labios susurrantes
y la eternidad muerta
en aquel instante distraído
en que fallaron las luces
digo
la historia posible
que jamás escribiremos.

16.06.2006

Antologia poética (384)...

Improviso para despir profetas...

O labirinto
sem portas nem janelas
sem paredes digo território
o labirinto
essa absoluta ausência de sentidos
construção interior descontruída
de todos os sentidos
seita que desafia
a própria noção de divindade
para consagrar apenas um novo profeta
os rebanhos peregrinam labirintos.

Ademar

16.06.2006


Antología poética (384)...

Improvisación para desnudar profetas...

El laberinto
sin puertas ni ventanas
sin paredes digo territorio
el laberinto
esa absoluta ausencia de sentidos
construcción interior descontruida
de todos los sentidos
secta que desafía
la propia noción de divinidad
para consagrar solamente un nuevo profeta
los rebaños peregrinan laberintos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

18.06.2006

Antologia poética (383)...

Improviso sobre uma condição feminina...

Arrastas por vezes o corpo
como se ele te pesasse
e dia a dia
pesas sempre um pouco menos
do que antes
já não é o corpo que te pesa
nem a alma
mas a imponderabilidade do género
nasceste do lado errado
do espelho da humanidade
ou talvez
numa espécie de fronteira interior
entre seres macho ou fêmea
falta-te apenas um sexo
para fundires o desejo em ti própria.

Ademar
18.06.2006


Antología poética (383)...

Improvisación sobre una condición femenina...

Arrastras a vezes el cuerpo
como si te pesara
y día a día
pesas realmente un poco menos
que antes
ya no es el cuerpo lo que te pesa
ni el alma
sino la imponderabilidad del género
naciste del lado equivocado
del espejo de la humanidad
o tal vez
en una especie de frontera interior
entre ser macho o hembra
te falta unicamente un sexo
para fundir el deseo en ti misma.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

19.06.2006

Antologia poética (382)...

Improviso para te elementar...

Faltam vozes ao teu coro
faltam dedos ao teu corpo
sobra-te apenas na prisão
a condição desejante
fêmea tardia
oferecida assim à vocação
de todas as mulheres que nunca o serão.

Ademar
19.06.2006


Antología poética (382)...

Improvisación para elementarte...

Le faltan voces a tu coro
le faltan dedos a tu cuerpo
te queda sólo en la prisión
la condición deseante
hembra tardía
ofrecida así a la vocación
de todas las mujeres que nunca lo serán.

20.06.2006

Antologia poética (381)...

Improviso em sete andamentos para dizer o princípio da criação...

Primeiro andamento
adagio
a tua voz
segundo andamento
allegro
o teu sorriso
terceiro andamento
andante
o teu pudor
quarto andamento
vivace
o teu desejo
quinto andamento
largo ma non troppo
o teu medo
sexto andamento
presto
a tua dúvida
sétimo andamento
moderato
o teu silêncio.

Ademar
20.06.2006


Antología poética (381)...

Improvisación en siete movimientos para expresar el principio de la creación...

Primer movimiento
adagio
tu voz
segundo movimiento
allegro
tu sonrisa
tercer movimiento
andante
tu pudor
cuarto movimiento
vivace
tu deseo
quinto movimiento
largo ma non troppo
tu miedo
sexto movimiento
presto
tu duda
séptimo movimiento
moderato
tu silencio.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

22.06.2006

Antologia poética (380)...

Improviso para quem me disse que outros tinham medo...

O medo veste-se
como roupa íntima
ninguêm vê
senão os amantes
que nos despem.

Ademar
22.06.2006


Antología poética (380)...

Improvisación para quien me dijo que otros tenían miedo...

El miedo se viste
como ropa íntima
nadie la ve
sino los amantes
que nos desnudan.

26.06.2006

Antologia poética (379)...

Improviso quase para Dylan...

Disseste-me tantas vezes
que não querias mudar o mundo
só o nome
não tinhas força de braços músculo
o mundo era coisa pesada para se mudar
só não querias que as portas se fechassem
atrás das tuas sombras
e que as mulheres sim as mulheres
não te desencantassem do silêncio
esplanaste a vida entre dois whiskies
que não chegaste a beber
e
papel rastejante
deixaste-te morrer depois.

Ademar
26.06.2006


Antología poética (379)...

Improvisación casi para Dylan...
Me dijiste tantas veces
que no querías cambiar el mundo
sólo el nombre
no tenías fuerza en los brazos músculo
el mundo era cosa pesada para cambiarlo
lo que no querías era que las puertas se cerrasen
tras tus sombras
y que las mujeres sí las mujeres
no te desencantasen del silencio
allanaste la vida entre dos whiskies
que no llegaste a beber
y
papel rastrero
te dejaste morir después.

26.06.2006

Antologia poética (378)...

Improviso na forma de haiku...

Se o meu pensamento
não tivesse grades
como voaria?

Ademar
26.06.2006


Antología poética (378)...

Improvisación en forma de haikú...

Si mi pensamiento
no tuviese rejas
¿cómo volaría?

27.06.2006

Antologia poética (377)...

Improviso a contracorrente...

Sofro de cuidados paliativos
tarda o diagnóstico
e não quero mais adiar-me assim.

Ademar
27.06.2006


Antología poética (377)...

Improvisación a contracorriente...

Sufro de cuidados paliativos
tarda el diagnóstico
y no quiero seguir postergándome así.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

28.06.2006

Antologia poética (376)...

Improviso em forma de epitáfio para não dizer saudades...

Não tenho saudades do que fui
nem do que foi em mim
tenho apenas saudades da humanidade inteira
que nunca chegarei a ser.

Ademar
28.06.2006


Antología poética (376)...

Improvisación en forma de epitafio para no decir añoranza...

No añoro lo que he sido
ni lo que ha sido en mí
añoro solamente a la humanidad entera
que nunca llegaré a ser.

29.06.2006

Antologia poética (375)...

Improviso sobre a submissão...

Antes de colocardes flores
interrogai sempre os altares
não há um único sacerdote
que não convide ao medo
e que espere de vós
um pouco menos do que a renúncia
a linguagem de todos os deuses profanos
será sempre a linguagem da morte.

Ademar
29.06.2006


Antología poética (375)...

Improvisación sobre la sumisión...

Antes de colocar flores
interrogad siempre a los altares
no hay un único sacerdote
que no invite al miedo
y que espere de vosotros
poco menos que la renuncia
el lenguaje de todos los dioses profanos
será siempre el lenguaje de la muerte.

domingo, 8 de agosto de 2010

30.06.2006

Antologia poética (374)...

Improviso por Scheherazade...













Não me obrigues
todas as noites
a recontar a mesma estória
corta-me a cabeça
ou finalmente
deixa-me repousá-la em paz
no teu colo.

Ademar
30.06.2006


Antología poética (374)...

Improvisación por Scheherazade...

No me obligues
todas las noches
a narrar el mismo cuento
córtame la cabeza
o déjame
por fin que la repose en paz
en tu regazo.

30.06.2006

Antologia poética (373)...

Improviso para náufragos...

Se os teus olhos adivinhassem os meus olhos
quando me lês
se o teu desejo fosse mais do que uma ínfima parte do meu desejo
se as nossas mãos se cruzassem
e eu pudesse ainda tocar-te
se não voltasses a dizer-me
que já morreste
ou que nunca chegaste a nascer
se o medo não fosse a única palavra do teu breviário
e finalmente sorrisses para dentro
os nossos dias não teriam o cheiro ácido deste silêncio
que nos naufraga.

Ademar
30.06.2006

Antología poética (373)...

Improvisación para náufragos...

Si tus ojos adivinasen mis ojos
cuando me lees
si tu deseo fuese más que una ínfima parte de mi deseo
si nuestras manos se cruzasen
y yo pudiera todavía tocarte
si no volvieras a decirme
que ya te has muerto
o que nunca has llegado a nacer
si el miedo no fuera la única palabra de tu breviario
y por fin sonrieses hacia adentro
nuestros días no tendrían el olor ácido de este silencio
que nos naufraga.

sábado, 7 de agosto de 2010

02.05.2006

Antologia poética (372)...

Improviso sobre uma circunstância...

O silêncio reclama
o recolhimento inodoro dos corpos
mãos que cheiram
distraem.

Ademar
02.05.2006


Antología poética (372)...

Improvisación sobre una circunstancia...

El silencio reclama
el recogimiento inodoro de los cuerpos
manos que huelen
distraen.

04.05.2006

Antologia poética (371)...

Improviso sobre a tentação...

Há qualquer coisa no imprevisível
que me dói
preferia morrer por catálogo
ao balcão talvez do google
deus
debruçado sobre o universo.

Ademar

04.05.2006


Antología poética (371)...

Improvisación sobre la tentación...

Hay algo en lo imprevisible
que me duele
preferiría morirme por catálogo
en el balcón tal vez del google
dios
asomado sobre el universo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

06.05.2006

Antologia poética (370)...

Improviso retrospectivo...

Não há memória que o fogo não queime
já fui o teu senhor e o teu escravo
numa gramática com normas
que só nós próprios conhecíamos
e já fui muito mais do que isso
um pedaço mesmo da eternidade
quando velozmente te vinhas.

Ademar
06.05.2006


Antología poética (370)...

Improvisación retrospectiva...

No hay memoria que el fuego no queme
ya he sido tu señor y tu esclavo
en una gramática con normas
que sólo nosotros mismos conocíamos
y ya he sido mucho más que eso
un pedazo real de la eternidad
cuando velozmente te corrías.

07.05.2006

Antologia poética (369)...

Improviso sobre a semente da imortalidade...

Não espera por nenhuma primavera
uma dissonância atrai-a
faz-se então ao corpo
semeia-se e deixa-se crescer
um dia
imortalizamo-nos com ela.

Ademar
07.05.2006


Antología poética (369)...

Improvisación sobre la semilla de la inmortalidad...

No espera a ninguna primavera
una disonancia la atrae
se hace entonces al cuerpo
se siembra y se deja crecer
un día
nos inmortalizamos con ella.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

09.05.2006

Antologia poética (368)...

Improviso com lágrimas ao fundo...

Não há suicídios perfeitos
não há palavras imortais
sobreviveste
quando falhaste
talvez tenhas querido chegar
cedo de mais
ao princípio de tudo
essa nebulosa de ausências
a que faltava simplesmente
a assinatura desejante de uma mãe
digo-te
a morte retroactiva
suspensa dos violinos e dos violoncelos que te tocam
em baixo contínuo
é o mais pesado dos teus fardos.

Ademar
09.05.2006


Antología poética (368)...

Improvisación con lagrimas de fondo...

No hay suicidios perfectos
no hay palabras inmortales
has sobrevivido
cuando has fallado
tal vez hayas querido llegar
demasiado pronto
al principio de todo
esa nebulosa de ausencias
a la que faltaba simplemente
la firma deseante de una madre
te digo
la muerte retroactiva
suspendida de los violines y de los violonchelos que te tocan
en bajo continuo
es el más pesado de tus fardos.

09.05.2006

Antologia poética (367)...

Improviso sobre um Allegro de Bach...

Há uma música no fim de tudo
que nos dança
talvez em dois violinos
um violoncelo
e órgão ou baixo contínuo
uma sonata (claro) de Johann Sebastian Bach
digo
um allegro
eroticamente perfeito
orgástico quase.

Ademar
09.05.2006


Antología poética (367)...

Improvisación sobre un Allegro de Bach...

Hay una música en el fin de todo
que nos baila
tal vez en dos violines
un violonchelo
y órgano o bajo continuo
una sonata (claro) de Johann Sebastian Bach
digo
un allegro
eróticamente perfecto
orgástico casi.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

11.05.2006

Antologia poética (366)...

Improviso para distrair o rebanho...

Podias falar por tantas vozes
(e ele há tantas vozes que te falam!)
e falas apenas por uma
que não te pertence
falta oxigénio à tua voz
para que pareça mais
do que um balido.

Ademar
11.05.2006


Antología poética (366)...

Improvisación para distraer al rebaño...

Podrías hablar por tantas voces
(¡son tantas las voces que te hablan!)
y hablas sólo por una
que no te pertenece
le falta oxígeno a tu voz
para que parezca más
que un balido.

12.05.2006

Antologia poética (365)...

Improviso sobre as palavras que matam...

Hoje não saí à rua com o cão
que não tenho
levei pela trela algumas palavras que
(julgava eu)
precisavam de me respirar
fiz a experiência
discretamente
distraí-me delas
entre o lixo
e não olhei para trás
regressei a casa
por volta de 1980
são as palavras desoxigenadas
que nos envelhecem.

Ademar
12.05.2006


Antología poética (365)...

Improvisación sobre las palabras que matan...
Hoy no he salido a la calle con el perro
que no tengo
me he llevado de la correa algunas palabras que
(creía yo)
necesitaban respirarme
he hecho la prueba
discretamente
me he despistado de ellas
entre la basura
y no he mirado atrás
he regresado a casa
hacia 1980
son las palabras desoxigenadas
lo que nos envejece.

12.05.2006

Antologia poética (364)...

Improviso para chave e orquestra de câmara...

Se a noite se deixasse aprisionar
far-te-ia refém
o desejo
é um cárcere privado
em que me fechaste por dentro.

Ademar
12.05.2006


Antología poética (364)...

Improvisación para clave y orquesta de cámara...

Si la noche se dejase aprisionar
te haría rehén
el deseo
es una cárcel privada
en la que me has encerrado por dentro.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

15.05.2006

Antologia poética (363)...

Improviso para Cassandra...

Naquelas tardes irrespiráveis
cigarro sobre cigarro
ele esperava ainda por ela
como na primeira sequência do filme
que cada um teria escrito
antes da invenção do cinema
ela nunca dizia que sim ou que não
mas faltava sempre
silenciosamente
deixava-o fumar o ciúme
abrindo o desejo a outras mãos.

Ademar
15.05.2006


Antología poética (363)...

Improvisación para Casandra...

En aquellas tardes irrespirables
pitillo sobre pitillo
él la esperaba todavía
como en la primera secuencia de la película
que cada uno habría escrito
antes de la invención del cine
ella nunca decía que sí ni que no
pero nunca iba
silenciosamente
le dejaba fumarse los celos
abriendo el deseo a otras manos.

15.05.2006

Antologia poética (362)...

Improviso sobre a rotina...

Somos sempre para alguém
insubstituíveis
até ao dia simplesmente
em que deixamos de o ser
a morte transpira cansaço
e rotina.

Ademar
15.05.2006


Antologia poética (362)...

Improvisación sobre la rutina...

Somos siempre para alguien
insustituibles
hasta el día simplemente
en que dejamos de serlo
la muerte transpira cansancio
y rutina.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

16.05.2006

Antologia poética (361)...

Improviso sobre o esquecimento...

O esquecimento ressuscita-me
não há desilusão
não há cancro
não há dívida ou dúvida
de que o esquecimento não me proteja
a mãe que aconchegava os lençóis
quando a noite em fúria
prometia pesadelos.

Ademar
16.05.2006


Antología poética (361)...

Improvisación sobre el olvido...

El olvido me resucita
no hay desilusión
no hay cáncer
no hay deuda o duda
da las que el olvido no me proteja
mi madre que arrebujaba las sábanas
cuando la noche en furia
prometía pesadillas.

16.05.2006

Antologia poética (360)...

Improviso renascentista...

No princípio
é sempre o fim de alguma coisa
a nossa história tem muitas páginas
e estão todas numeradas
a morte renasce-nos sempre
até não haver mais princípio.

Ademar
16.05.2006


Antologia poética (360)...

Improvisación renacentista...

En el principio
está siempre el fin de algo
nuestra historia tiene muchas páginas
y están todas numeradas
la muerte nos renace siempre
hasta que no haya más principio.

domingo, 1 de agosto de 2010

18.05.2006

Antologia poética (359)...

Improviso para desprezar o silêncio...

Se eu tivesse lágrimas
para chorar contigo
talvez
não me improvisasse assim
tanto por dentro das palavras
e sempre tão fora de mim.

Ademar

18.05.2006


Antología poética (359)...
Improvisación para despreciar el silencio...

Si yo tuviese lágrimas
para llorar contigo
tal vez
no me improvisase así
tanto por dentro de las palabras
y siempre tan fuera de mí.

19.05.2006

Antologia poética (358)...

Improviso sobre uma fotografia de Carmel Skutelsky...










Já fui o tronco
que te arrancou ao silêncio da terra
já imobilizei os teus braços
e lentamente desenhei nas minhas mãos
as raízes do teu corpo
morres agora de excesso
por todo o tempo que te fizeram perder
e eu volto a ser o monstro ou a fera
que te espreita e protege
à direita da tela
entre os olhos perfurantes da noite
talvez o leão que ainda não conseguiste desvendar
dentro de ti.

Ademar
19.05.2006


Antología poética (358)...

Improvisación sobre una fotografía de Carmel Skutelsky...
Ya fui el tronco
que te arrancó del silencio de la tierra
ya inmobilicé tus brazos
y lentamente dibujé en mis manos
las raíces de tu curpo
te mueres ahora de exceso
por todo el tiempo que te han hecho perder
y yo vuelvo a ser el monstruo o la fiera
que te acecha y protege
a la derecha del lienzo
entre los ojos penetrantes de la noche
tal vez el león que aún no has conseguido desvendar
dentro de ti.

21.05.2006

Antologia poética (357)...

Improviso para libelo acusatório...

Que a culpa sobre toda
para quem talvez
tenha descido na estação errada
da história ou da vida
tu ou eu
digo
tu e eu
em nós
a humanidade inteira
a culpa toda.

Ademar
21.05.2006


Antología poética (357)...

Improvisación para libelo acusatorio...

Que la culpa sea toda
para quien tal vez
se haya apeado en la estación que no era
de la historia o de la vida
tú o yo
digo
tú y yo
en nosotros
la humanidad entera
toda la culpa.

21.05.2006

Antologia poética (356)...

Improviso para cadáver e trompa...

Se olhares bem para dentro de mim
verás
sou um cemitério de corpos
um daqueles castelos abandonados
da bretanha
que já só os fantasmas habitam
entre retratos sem moldura
assinaturas quase ilegíveis
um cheiro intenso a mortalidade
que a memória distraída vai desfolhando
talvez ainda me pertenças
neste rasto de imprecisões
perdi-te algures
morri nos teus braços.

Ademar
21.05.2006


Antología poética (356)...

Improvisación para cadáver y trompa...

Si miras bien hacia dentro de mí
verás
soy un cementerio de cuerpos
uno de aquellos castillos abandonados
de la bretaña
que ya sólo los fantasmas habitan
entre retratos sin moldura
firmas casi ilegibles
un olor intenso a mortalidad
que la memoria distraída va deshojando
tal vez aún me pertenezcas
en este rastro de imprecisiones
te he perdido en alguna parte
me he muerto en tus brazos.