domingo, 30 de setembro de 2012

Improviso para desautorizar todos os estudos de género...

Poderás comer do fruto
de todas as árvores do jardim
disse o Senhor
mas ai que comas da árvore
da ciência do bem e do mal
porque
no dia em que comeres
morrerás
era o sétimo dia da criação
e
depois de produzido o macho
à sua imagem e semelhança
o Senhor contemplou extasiado a sua obra
faltava apenas um retoque
uma nota quase de rodapé
e da costela do macho adormecido
para que eternamente o servisse
o Senhor fez a fêmea
em estado já de embriaguez
garantem as escrituras.

Ademar
07.12.2009


Improvisación para desautorizar todos los estudios de género...

Podrás comer del fruto
de todos los árboles del jardín
dijo el Señor
mas ay si comes del árbol
de la ciencia del bien y del mal
porque
el dia en que comas
morirás
era el séptimo día de la creación
y
una vez producido el macho
a su imagem y semejanza
el Señor contempló extasiado su obra
faltaba nada más un retoque
una nota casi a pie de página
y de la costilla del macho dormido
para que eternamente le sirviera
el Señor hizo la hembra
en estado ya de embriaguez
aseguran las escrituras.

Improviso quase arquitectónico...

Tenho um lugar no pensamento
onde só recebo quem eu procuro
um lugar a que ninguém mais acede
senão exactamente quem eu procuro
não tem portas nem janelas
nem reconhece os dialectos do tempo
ou da circunstância
um lugar de espelhos
onde primeiro os olhares se encontram
antes de toda a descoberta
segue pelo corredor deste poema
lá me encontrarás à tua espera.

Ademar
06.12.2009


Improvisación casi arquitectónica...

Tengo un lugar en el pensamiento
donde sólo recibo a quien busco
un lugar al que no accede nadie más
sino exactamente quien busco
no tiene puertas ni ventanas
ni reconoce los dialectos del tiempo
o de la circunstancia
un lugar de espejos
donde primero las miradas se encuentran
antes de todo descubrimiento
avanza por el pasillo de este poema
allí me encontrarás esperándote.

sábado, 29 de setembro de 2012

Improviso sem misericórdia dentro...

Poupa-nos a banalidades
se não consegues ir além
do que leste ou ouviste
não escrevas
que o teu maior talento seja apenas
a consciência do lugar-comum.

Ademar
05.12.2009


Improvisación sin misericordia dentro...


Dispénsanos de banalidades
si no consigues ir más allá
de lo que has leído u oído
no escribas
que tu mayor talento sea simplemente
la conciencia del lugar común.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Improviso na forma de crónica parlamentar...

Não me faça perguntas
a que eu não queira ou não possa
responder
e se fizer
não espere que eu responda
disse o primeiro-ministro ao deputado
que apenas lhe fazia uma pergunta
há deputados que fingem não perceber à primeira
nem à segunda nem à terceira
que há perguntas a que um primeiro-ministro
não quer ou não pode responder
tem a palavra
para uma interpelação à mesa
o povo.

Ademar
04.12.2009


Improvisación en forma de crónica parlamentaria...

No me haga preguntas
a las que yo no quiera o no pueda
responder
y si me las hace
no espere que yo le responda
le dijo el primer-ministro al diputado
que simplemente le hacía una pregunta
hay diputados que fingen que no entienden a la primera
ni a la segunda ni a la tercera
que hay preguntas a las que un primero-ministro
no quiere o no puede responder
tiene la palabra
para una interpelación a la mesa
el pueblo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Improviso para dizer que voltarei amanhã...

Hoje não saí de casa
não passei pelo bar
de todas as noites
onde nos costumamos encontrar
brindei simplesmente à tua ausência
tropeçando na memória
de um olhar que parece sempre chamar-me
quis escrever com todas as letras o teu nome
e não fui capaz
hei-de tirar as impressões digitais
da mesa a que te sentas
quando esperas por mim
e eu passo ao largo do desejo
sem te ver.

Ademar
03.12.2009

Improvisación para decir que volveré mañana...

Hoy no he salido de casa
no he pasado por el bar
de todas las noches
donde solemos encontrarnos
he brindado simplemente a tu ausencia
tropezando en la memoria
de una mirada que parece llamarme siempre
he querido escribir con todas las letras tu nombre
y no he sido capaz
quitaré las huellas digitales
de la mesa a la que te sientas
cuando me esperas
y yo paso de largo por el deseo
sin verte.

Improviso para tecer a ausência...

Entres pela porta
ou por alguma janela
haverá sempre um lugar
para ti
a esta mesa
um prato
ou um livro
ou uma folha de papel
em branco
para que nela possas escrever
tudo o que nunca te disseste
e ninguém ouviu
e saias pela porta
ou por alguma janela
regressarás sempre a ti
no fio que te tece.

Ademar
02.12.2009


Improvisación para tejer la ausencia...

Entres por la puerta
o por alguna ventana
habrá siempre un lugar
para ti
a esta mesa
un plato
o un libro
o una hoja de papel
en blanco
para que en ella puedas escribir
todo lo que nunca te has dicho
y nadie ha oído
y salgas por la puerta
o por alguna ventana
regresarás siempre a ti
en el hilo que te teje.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Improviso para desrealizar...

A realidade não é
excessivamente importante
e de resto adormece também
como a humanidade
no berço da fadiga
de todas as noites
a realidade que tem
todos os pensamentos dentro
e porém
nenhum mais verdadeiro
do que o berço em que adormece.

Ademar
01.12.2009


Improvisación para desrealizar...

La realidad no es
excesivamente importante
y por lo demás se duerme también
como la humanidad
en la cuna de la fatiga
de todas las noches
la realidad que tiene
todos los pensamientos dentro
y sin embargo
ninguno más verdadero
que la cuna en la que se duerme.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Improviso para taxar a morte...

Há quem não caiba sequer
na cova
em Portugal
de vez em quando
até os coveiros falham
a exacta equação da morte
poderia ser apenas uma metáfora
mas não é
nem todas as medidas de cadáver
entre nós
respeitam a norma
digo
as directivas comunitárias
sobra sempre um pé
ou
o sonho que não chegou
a despertar.

Ademar
30.11.2009


Improvisación para tasar la muerte...

Hay quien no cabe siquiera
en la sepultura
en Portugal
de vez en cuando
hasta los sepultureros yerran
la exacta ecuación de la muerte
podría ser simplemente una metáfora
pero no lo es
ni siquiera todas las medidas de cadáver
entre nosotros
respetan la norma
digo
las directivas comunitarias
sobra siempre un pie
o
el ensueño que no ha llegado
a despertarse.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Improviso escrito num guardanapo de papel...

Já houve um tempo
em que eu te quis
e tu não me quiseste
já houve um tempo
em que tu me quiseste
e eu não te quis
quisemo-nos
e desquisemo-nos
à vez
antes um passado assim
que o futuro todo.

Ademar
28.11.2009


Improvisación escrita en una servilleta de papel...

Hubo un tiempo
en que yo te quise
y tú no me quisiste
hubo un tiempo
en que tú me quisiste
y yo no te quise
nos quisimos
y nos desquisimos
a la vez
mejor un passado así
que todo el futuro.

Improviso para adormecer carochinhas...

Quando eu nasci
não havia ainda televisão em Portugal
nem Sócrates
quando eu nasci
não havia ainda computadores em Portugal
nem Sócrates
quando eu nasci
não havia ainda em Portugal telemóveis
nem Sócrates
hoje
cinquenta e muitos anos depois
há televisão computadores e telemóveis em Portugal
e Sócrates
não há como a tecnologia para perceber
como evoluímos.

Ademar
27.11.2009


Improvisación para dormir a las mariquitas...

Cuando yo nací
no había aún televisión en Portugal
ni Sócrates
cuando yo nací
no había aún ordenadores en Portugal
ni Sócrates
cuando yo nací
no había aún en Portugal móviles
ni Sócrates
hoy
cincuenta y muchos años después
hay televisión ordenadores y móviles en Portugal
y Sócrates
no hay como la tecnología para comprender
cómo evolucionamos.

domingo, 16 de setembro de 2012

Improviso para descoroar...

Hoje
ao folhear os jornais
tive a intuição
muito pouco poética
de que acabarás numa cela
e não no conselho de administração
da Caixa Geral de Depósitos
como sempre ambicionaste
há destinos assim
aparentemente insondáveis
que só os astros reportam.

Ademar
26.11.2009


Improvisación para descoronar...

Hoy
al hojear los diarios
he tenido la intuición
muy poco poética
de que acabarás en una celda
y no en el consejo de administración
de la Caixa Geral de Depósitos
como siempre has ambicionado
hay destinos así
aparentemente insondables
que sólo los astros refrenan.

sábado, 15 de setembro de 2012

Improviso para dizer adeus a Granada...

Não importa donde tenhas vindo
do outro lado do mar ou do centro da terra
nem para onde sigas
com a noite assim a tiracolo
o universo hoje tem a forma
desta mesa que talvez já tenha sido
canoa ou jangada
e nas margens desta mesa
como nas margens de um rio suspenso
só os nossos olhos iluminarão
a lenta antiguidade que nos trouxe aqui.

Ademar
25.11.2009


Improvisación para decirle adiós a Granada...

Es igual de dónde hayas venido
del otro lado del mar o del centro de la tierra
ni hacia dónde vayas
con la noche así al cuello
el universo hoy tiene la forma
de esta mesa que tal vez antes haya sido
canoa o balsa
y en las orillas de esta mesa
como en las orillas de un río suspendido
sólo nuestros ojos iluminarán
la lenta antigüedad que nos ha traído aquí.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Improviso para começar a reescrever o Génesis...

Hoje arrematei o universo
mas sem nada lá dentro
paguei a crédito
e ofereci deus como fiador
não importa qual
expediente milenar
criacionista
agora poderei dispor do universo
como quiser
infinitamente
digo
dar-lhe finalmente uma utilidade.

Ademar
23.11.2009


Improvisación para empezar a reescribir el Génesis...

Hoy he terminado el universo
pero sin nada dentro
he pagado a crédito
y he ofrecido a dios como fiador
no importa cuál
expediente milenario
creacionista
ahora podré disponer del universo
como quiera
infinitamente
digo
darle por fin una utilidad.

Improviso para telenovelizar...

Frases banais
podes dizer-me
frases banais
hoje não me apetece
literatura
nem filosofia
sim
somos o que acreditamos ser
e mais do que isto
esta noite
já seria poesia.

Ademar
22.11.2009


Improvisación para telenovelizar...

Frases banales
me puedes decir
frases banales
hoy no me apetece
literatura
ni filosofia

somos lo que creemos que somos
y más que esto
esta noche
ya sería poesía.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Improviso em forma de agenda...

Ao canto da sala um aquário
com todos os espelhos dentro
e macacos em vez de peixes
amanhã Ademar
não poderás esquecer-te
de mudar a água do aquário
antes que turve
e de caminho já agora
aproveita para dar banho
aos macacos.

Ademar
21.11.2009


Improvisación en forma de agenda...

En el rincón de la sala un acuario
con todos os espejos dentro
y monos en vez de peces
mañana Ademar
no podrás olvidarte
de cambiarle el agua al acuario
antes que se turbe
y ya de paso
aprovecha para bañar
a los monos.

Improviso em forma de crença...

Se me disseres que é a primeira vez
eu acredito
também acreditarei
se me disseres
que nunca fizeste outra coisa
acreditar
é um exercício da vontade
e a minha vontade
não vacila
digas o que disseres
acreditarei.

Ademar
20.11.2009


Improvisación en forma de creencia...

Si me dices que es la primera vez
me lo creo
también me lo creeré
si me dices
que nunca has hecho otra cosa
creer
es un ejercicio de voluntad
y mi voluntad
no vacila
digas o que digas
me lo creeré.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Improviso para dizer o cosmos...

Não cobres à perfeição
a eternidade
pedras
árvores
rios
mares
todos os lugares
já foram outros
e só te conforte a certeza
do cansaço natural
essa ilha que já foi
um iceberg
e antes uma nuvem
ou ainda menos
sim
o talvez inscrito no fogo
de todas as metamorfoses.

Ademar
19.11.2009


Improvisación para decir el cosmos...

No le cobres a la perfección
la eternidad
piedras
árboles
ríos
mares
todos los lugares
han sido antes otros
y que sólo te consuele la certidumbre
del cansancio natural
esa isla que antes ha sido
un iceberg
y antes una nube
o todavía menos

el quizás inscrito en el fuego
de todas las metamorfosis.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Improvisación ortopédica...

A gravidade
inclina-nos ao centro da terra
e nenhuma viagem
depois do futuro
tem regresso.

Ademar
18.11.2009


Improvisación ortopédica...

La gravedad
nos inclina al centro de la tierra
y ningún viaje
después del futuro
tiene regreso.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Improviso heliocêntrico...

Chovem almofadas
sobre o silêncio em que te adormeço
nunca chegas a horas
de abrir as janelas da noite
antes do filme
e nunca despertas
a tempo de contar as luzes
que despedem a madrugada
há vidas assim
que nunca acertam o relógio
do destino.

Ademar
17.11.2009


Improvisación heliocéntrica...

Llueven almohadas
sobre el silencio en el que te duermo
nunca llegas puntual
para abrir las ventanas de la noche
antes de la película
y nunca te despiertas
a tiempo de contar las luces
que despiden la madrugada
hay vidas así
que nunca ponen en hora el reloj
del destino.

Improviso felino...

As vozes que na ausência
afinam ainda a harmonia
na luz sempre breve
que a tela recolhe
a intimidade tem tantas janelas
que nem o vento a distrai.

Ademar
16.11.2009


Improvisación felina...

Las voces que en la ausencia
afinan aún la armonía
en la luz siempre breve
que el lienzo recoge
la intimidad tiene tantas ventanas
que ni el viento la distrae.

domingo, 2 de setembro de 2012

Improviso fisiológico...

Um joelho sem legendas
pode inspirar o universo
mas abaixo da cintura
todos os argumentos
falam a língua de Babel.

Ademar
15.11.2009


Improvisación fisiológica...

Una rodilla sin subtítulos
puede inspirar al universo
por debajo de la cintura
todos los argumentos
hablan la lengua de Babel.

Improviso para suster o vómito...

Ouço
o que imagino
vejo
o que ouço
um pântano
do tamanho do país.

Ademar
14.11.2009


Improvisación para aguantar los vómitos...

Oigo
lo que me imagino
veo
lo que oigo
una ciénaga
del tamaño del país.

sábado, 1 de setembro de 2012

Improviso sintético...

Quando te faltar o chão
dorme sobre a mesa
quando te faltar a mesa
já só o silêncio te servirá.

Ademar
11.11.2009


Improvisación sintética...

Cuando te falte el suelo
duerme sobre la mesa
cuando te falte la mesa
ya sólo el silencio te servirá.