quinta-feira, 30 de junho de 2011

Improviso para trenga e orquestra...

Palavras espalhadas pelo chãojá não sei onde coloque os pés
para não me calcar
sei apenas que a desarrumação da casa
começa nos braços e nas mãos
que já não se oferecem como dantes
à eterna ilusão da novidade.

Ademar
11.03.2008


Improvisación para desastre y orquesta...

Palabras esparcidas por el suelo
ya no sé dónde colocar los pies
para no pisarme
sé sólo que el desorden de la casa
empieza en los brazos y las piernas
que ya no se ofrecen como antes
a la eterna ilusión de la novedad.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Improviso mais do que secreto...

Talvez invente ainda uma fórmula
para te dizer
o que as palavras nunca disseram
um poema irresolúvel
como quase todos os que já escrevi
equação a nenhuma incógnita
e a todas
exceptuando nós.

Ademar
10.03.2008


Improvisación más que secreta...

Tal vez invente aún una fórmula
para decirte
lo que las palabras nunca han dicho
un poema irresoluble
como casi todos los que he escrito
ecuación de ninguna incógnita
y de todas
salvo nosotros.

Improviso para grelha de avaliação...

O modo de andar
e de dizer
bom dia ou boa tarde
o sorriso
o abraço
o jeito de pedir por favor
a segurança dos gestos
e das palavras
e dos silêncios
a voz
o olhar acolhedor
o respeito
a delicadeza
a tranquilidade
o mérito da confiança
e a inteligência
a tua verdade
de todas as horas
como te avaliarei?

Ademar
09.03.2008


Improvisación para parrilla de evaluación...

El modo de andar
y de decir
buenos días o buenas tardes
la sonrisa
el abrazo
el modo de pedir por favor
la seguridad en los gestos
y en las palabras
y en los silencios
la voz
la mirada acogedora
el respeto
la delicadeza
la tranquilidad
el mérito de la confianza
y la inteligencia
tu verdad
de todas las horas
¿cómo te evaluaré?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Improviso em forma de circunstância...

Hoje retirei do céu
não sei quantas nuvens
e passeei com elas na cidade
fingindo-me de trela
ninguém estranhou ou entendeu
senão uma maré distraída
e uma ministra sem dorso.


Ademar
08.03.2008


Improvisación en forma de circunstancia...

Hoy he retirado del cielo
no sé cuántas nubes
y he paseado con ellas por la ciudad
haciendo de correa
a nadie le ha extrañado ni ha entendido
sino una marea distraida
y una ministra sin dorso.

Improviso para dizer sempre a primeira vez...

Nenhuma noite é tão antiga nas palavras
que dispense a memória
ou a perfeição da voz
como se ainda voltasse a dizer
como no poema primeiro
vem soleníssima e triste
e colhe todas as folhas de mim
que ainda não tenham murchado.

Ademar
07.03.2008


Improvisación para decir siempre la primera vez...

Ninguna noche es tan antigua en las palabras
que dispense la memoria
o la perfección de la voz
como si todavía volviera a decir
como en el poema primero
ven solemnísima y triste
y coge todas las hojas de mí
que aún no se hayan marchitado.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Improviso para distrair momentos...

Não há imagens
que me reconciliem com a esperança
de descobrir a novidade
os dias nascem e morrem assim
na mesma certeza do movimento intemporal
das peças no tabuleiro
repito as palavras e os sons
que me reconduzem ao que fui
antes de todos os berços
e deixo-me embalar
numa espécie de pré-história de mim
quando ainda não confundia as marés
e os sentimentos pareciam eternos.

Ademar
06.03.2008


Improvisación para distraer momentos...

 No hay imágenes
que me reconcilien con la esperanza
de descubrir la novedad
los días nacen y mueren así
en la misma certeza del movimiento intemporal
de las piezas en el tablero
repito las palabras y los sonidos
que me reconducen a lo que fui
antes de todas las cunas
y me dejo mecer
en una especie de prehistoria de mí
cuando aún no confundía las mareas
y los sentimientos parecían eternos.

Improviso sobre a aragem dos dias que sopram...

Escrevo na água
para que não fique rasto das palavras
que me fogem
pressinto a ameaça dos abutres
sobrevoando discretamente sobre o rumor
dos pântanos
mas nada é igual ao que sempre foi
as vozes que se erguem agora
parecem ainda mais antigas e audíveis
e há uma estranha teimosia no ar
uma irreverência que quase apela
à insubordinação
já não havia mais chão
nem mais silêncio
para tanto joelho dobrado.

Ademar
05.03.2008


Improvisación sobre la brisa de los días que soplan...

Escribo en el agua
para que no quede rastro de las palabras
que se me escapan
presiento la amenaza de los buitres
sobrevolando discretamente sobre el rumor
de los pantanos
pero nada es igual a lo que siempre ha sido
las voces que se elevan ahora
parecen todavía más antiguas y audibles
y hay una extraña tenacidad en el aire
una irreverencia que casi apela
a la insubordinación
ya no había más suelo
ni más silencio
para tanta rodilla doblada.

domingo, 26 de junho de 2011

Improviso para viola e resiliência...

Dizes-me em privado que
sessenta mil euros
são trocos
trocos públicos naturalmente
sim
já trocámos todas as condições
e todos os lutos
ministros e ministras
sempre tão ocasionais e efémeros
como as reformas que pariram
já federámos e confederámos
fomos pais e professores
professores e pais
e emburrecemos na escola
e no destino
já trocámos de papéis
lembras-te?
quando te conheci
eras uma furiosa sindicalista
hoje
bates nos sindicatos
a vida é uma ironia
nesta pasmaceira tão previsível
à portuguesa
o nosso impudor
já não cabe
em nenhum espelho
conta os euros rapaz
conta os euros que faltam na conta
e mete a viola ao saco
antes que as cordas te falhem
e te enforques nelas.

Ademar
04.03.2008


Improvisación para guitarra y resiliencia...

Me dices en privado que
sesenta mil euros
es calderilla
calderilla pública naturalmente

ya hemos cambiado todas las condiciones
y todos los lutos
ministros y ministras
siempre tan ocasionales y efímeros
como las reformas que parieron
ya hemos federado y confederado
hemos sido padres y profesores
profesores y padres
y nos emburrecimos en la escuela
y en el destino
ya hemos cambiado de papeles
¿te acuerdas?
cuando te conocí
eras una furiosa sindicalista
hoy
golpeas a los sindicatos
la vida es una ironía
en esta abulia tan previsible
a la portuguesa
nuestro impudor
ya no cabe
en ningún espejo
cuenta los euros chaval
cuenta los euros que faltan en la cuenta
y mete la guitarra en la funda
antes de que las cuerdas te fallen
y te ahorques en ellas.

sábado, 25 de junho de 2011

Improviso para servir de lembrança ...

Garanto-vos que o mar
não escreve poesia
nem avalia o curso dos rios
há humanidades que
o mar desconhece
digo
subjectividades
boémias da alma
mistérios inemolduráveis
o mar não dita sumários
nem desafina ondas ou marés
padece silenciosamente de metáforas
e só desce às ruas
quando transborda de si
e enlutece pela terra desembarcada.

Ademar
03.03.2008


Improvisación para servir de recuerdo...

Os garantizo que el mar
no escribe poesía
ni evalúa el curso de los ríos
hay humanidades que
el mar desconoce
digo
subjetividades
bohemias del alma
misterios inencasillables
el mar no dicta resúmenes
ni desafina olas ni mareas
padece silenciosamente de metáforas
y solo baja a las calles
cuando desborda de sí
y se enluta por la tierra desembarcada.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Improviso em forma de haiku para iluminar as trevas...

Não há altares prometidos à eternidade
senão os que dispensam
a paixão célere dos rebanhos.

Ademar
02.03.2008


Improvisación en forma de haikú para iluminar las tinieblas...

No hay altares prometidos a la eternidad
sino los que dispensan
la pasión célere de los rebaños.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Improviso para recordar Bocage...

A casa suja o chão
a alma esgotada
aspiro a uma segunda edição
muito mais do que actualizada
talvez me falhe o coração
numa noite assim entediada
há rimas que não dão tesão
mas são melhor do que nada.

Ademar
01.03.2008


Improvisación para recordar a Bocage...

La casa sucia el salón
el alma agotada
aspiro a una segunda edición
mucho más que actualizada
tal vez me falle el corazón
en una noche así hastiada
hay rimas que no dan erección
mas son mejor que nada.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Improviso em forma quase de elegia...

Conheço homens
que já foram puros
quero dizer
que não vendiam destinos de empréstimo
nem usavam calculadora
na hora de conjugarem o verbo
pensar
tão pouco voláteis e conformes
que arriscavam sempre na ousadia
muito mais do que o futuro
agora só reconheço rebanhos crispados
e pastores e cães de fila
cabem todos na tela da monotonia
digo na trela
e já nenhum na moldura inteira de si próprio.

Ademar
29.02.2008


Improvisación en forma casi de elegía...

Conozco hombres
que fueron puros
quiero decir
que no vendían destinos de préstamo
ni usaban calculadora
a la hora de conjugar el verbo
pensar
tan poco volátiles y conformes
que arriesgaban siempre en la osadía
mucho más que el futuro
ahora solo reconozco rebaños crispados
y pastores y perros de presa
caben todos en el lienzo de la monotonía
digo en la correa
y ya ninguno en la moldura entera de sí mismo.

Improviso para Luchino Visconti...













Morre-se em Veneza
como noutra cidade qualquer
as agências de viagens só vendem
ilusões de eternidade
e nem sempre a preços convidativos
evite-se o Lido e os enjoos póstumos do vaporetto
fica sempre mais barato morrer em Mestre
a montante do que já foi a ponte da liberdade.

Ademar
28.02.2008


Improvisación para Luchino Visconti...

Se muere en Venecia
como en otra ciudad cualquiera
las agencias de viajes solo venden
ilusiones de eternidad
y no siempre a precios apetecibles
evítese el Lido y los mareos póstumos del vaporetto
sale siempre más barato morirse en Mestre
río arriba de lo que ya fue el puente de la libertad.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Improviso na forma de eterna réplica...

Se a alma me sobrasse
como sobram os dias
viveria talvez ainda mais leve
e não teria que pensar
como dizes sempre
que está tudo errado
ainda que já o tenhas dito
milhões de vezes
em todas as vidas anteriores a esta
e em todas as vidas
que já não chegarás a viver.

Ademar
27.02.2008


Improvisación en forma de eterna réplica...

Si el alma me sobrase
como sobran los días
viviría tal vez aún más leve
y no tendría que pensar
como dices siempre
que está todo mal
aunque ya lo hayas dicho
millones de veces
en todas las vidas anteriores a esta
y en todas las vidas
que ya no llegarás a vivir.

Improviso para servir de sacrário...

No lugar da porta ou do altar
poderiam ficar apenas as impressões digitais
ou a lenta caligrafia dos gemidos das mãos
um ano não chega
para apagar os vestígios de uma vida inteira
entre grades e algemas.

Ademar
25.02.2008


Improvisación para servir de sagrario...

En lugar de la puerta o del altar
podrían quedar solo las huellas digitales
o la lenta caligrafía de los gemidos de las manos
un año no llega
para borrar los vestigios de una vida entera
entre rejas y esposas.

domingo, 19 de junho de 2011

Improviso para o Eduardo, aluno-palhaço...













Nenhuma verdade é mais urgente
do que as lágrimas com que te despes ao riso
e poucos sabem por que choras
quando desces ao palco de ti próprio
e perguntas por ela.

Ademar
25.02.2008

Improvisación para Eduardo, alumno-payaso...

Ninguna verdad es más urgente
que las lágrimas con las que te desnudas a la risa
y pocos saben por qué lloras
cuando bajas al escenario de ti mismo
y preguntas por ella.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Improviso para fechar a noite...

Hoje sinto-me adoecer de braços e mãos
e dedos
estou sentado diante das palavras
e desconheço ou não quero saber
o que mais adoece em mim
o universo pesa-me nos olhos
e cego
se me levanto
talvez levite ou morra
diz quem já viajou
que não há diferença alguma.

Ademar
24.02.2008


Improvisación para cerrar la noche...

Hoy me siento enfermar de brazos y manos
y dedos
estoy sentado ante las palabras
y desconzco o no quiero saber
lo que más enferma en mí
el universo me pesa en los ojos
y me quedo ciego
si me levanto
tal vez levite o me muera
dice quien ya ha viajado
que no hay diferencia alguna.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Improviso desconcertante...

Todas as noites
digo-me em segredo que poderá ser a última
ou a primeira
todos os poemas
todas as palavras
que ainda não escrevi.

Ademar
24.02.2008


Improvisación desconcertante...

Todas las noches
me digo en secreto que podrá ser la última
o la primera
todos los poemas
todas las palabras
que aún no he escrito.

Improviso quase marítimo...

Não tenho o mar
entre os meus confidentes
adormeço sempre na lentidão
de todos os horizontes
e nunca sei desancorar na distância
os mastros do destino
quando me perco nos ponteiros da bússola
não tenho a lua
nem madrugadas ou manhãs
apenas um pacto breve com a noite
nesta antiquíssima servidão de palavras.

Ademar
23.02.2008


Improvisación casi marítima...

No tengo el mar
entre mis confidentes
me duermo siempre en la lentitud
de todos los horizontes
y nunca sé desanclar a lo lejos
los mástiles del destino
cuando me pierdo en las agujas de la brújula
no tengo la luna
ni madrugadas o mañanas
solo un pacto breve con la noche
en esta antiquísima servidumbre de palabras.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Improviso para toalha e talheres...

Hoje comi não ao jantar
o não serve-se frio
de preferência fulminante
e sem notas de rodapé
digo
entradas ou sobremesas
o vinho pode ser
de nenhuma colheita
e o pão ázimo
como numa ceia de profetas
ou amantes distraídos
hoje comi não ao jantar
e fingi que a mesa era eu.

Ademar
22.02.2008


Improvisación para mantel y cubiertos...

Hoy he comido no de cena
el no se sirve frío
de preferencia fulminante
y sin notas al pie
digo
entradas ni postres
el vino puede ser
de ninguna cosecha
y el pan ácimo
como en una cena de profetas
o amantes distraídos
hoy he comido no de cena
y he fingido que la mesa era yo.

Improviso em forma de chama...

Nenhuma luz
cura a água das sombras
acende-se uma vela
e o barco flutua na superfície da alma
uma espécie de barco à vela
do tamanho da memória
de todas as infâncias
e tão leve como a brisa que o detém
nestas palavras.

Ademar
21.02.2008


Improvisación en forma de llama...

Ninguna luz
cura el agua de las sombras
se enciende una vela
y el barco flota en la superfície del alma
una especie de barco de vela
del tamaño de la memoria
de todas las infancias
y tan leve como la brisa que lo detiene
en estas palabras.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Improviso para dizer ainda boa noite...

Procurei no dicionário o verbo
acabar
e só encontrei o verbo
morrer
envelheço apenas nas palavras
quando o silêncio me reconduz a elas
fosse tudo tão simples e exacto
como o esquecimento.

Ademar
19.02.2008


Improvisación para decir todavía buenas noches...

He buscado en el diccionario el verbo
acabar
y solo he encontrado el verbo
morir
envejezco nada más en las palabras
cuando el silencio me reconduce a ellas
si fuera todo tan simple y exacto
como el olvido.

Improviso em dó...

Nunca me deste de beber
tenho ainda o copo vazio
ou a boca
e agora o bar fechou
nem o cigarro que me acendam
nem a cantora ou o piano
deixamo-nos apenas tocar pelo
contrabaixo
enquanto chove
e a noite não desperta
pagas tu ou pago eu?

Ademar
19.02.2008


Improvisación en dó...

Nunca me has dado de beber
tengo todavía el vaso vacío
o la boca
y ahora el bar ha cerrado
ni el pitillo que me enciendan
ni la cantante o el piano
nos dejamos tocar nada más por el
contrabajo
mientras llueve
y la noche no se despierta
¿pagas tú o pago yo?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Improviso para distrair ainda Fevereiro...

Encurto os poemas no inverno
para não engravidar do silêncio
o sofrimento inútil das palavras enregela-me
e os pássaros só começam a cantar
quando acasalam
há que poupar a voz para as cerejas.

Ademar
18.02.2008


Improvisación para distraer aún febrero...

Acorto los poemas en invierno
para no preñarme del silencio
el sufrimiento inútil de las palabras me congela
y los pájaros solo empiezan a cantar
cuando se aparean
hay que reservar la voz para las cerezas.

Improviso sobre a eterna idade...

Só os regressos impossíveis
forçam o pé ao destino
tomara eu que a eternidade
fosse apenas uma palavra
que livremente pudesse decompor
eterna idade
e sempre terna.

Ademar
17.02.2008


Improvisación sobre la eterna edad...

Solo los regresos imposibles
le fuerzan el pie al destino
ya me gustaría que la eternidad
fuese nada más una palabra
que libremente pudiera descomponer
eterna edad
y siempre tierna.

domingo, 12 de junho de 2011

Improviso para arranhar as cordas de um violino...

Desconheço o timbre da perfeição
nenhuma voz ecoa tão eloquentemente
na minha memória dos sons
como o silêncio de todas as vozes
quando calas.

Ademar
16.02.2008


Improvisación para arañar las cuerdas de un violín...

Desconozco el timbre de la perfección
ninguna voz resuena tan elocuentemente
en mi memoria de los sonidos
como el silencio de todas las voces
cuando callas.

sábado, 11 de junho de 2011

Improviso para servir de mural às vítimas de Carlos, o rei da piolheira...

A António Papança fez conde de Monsaraz
a Tristão Queiroz fez marquês da Foz
a Estevão Tormenta fez conde da Serra da Tourega
a Cândido Calado fez conde de Monsanto
a Carlos da Mota fez conde de Juncal
a Joaquim Palha fez conde de Ribandar
a Henrique Lowndes fez conde de Leopoldina
a António do Rego Botelho fez conde do Rego Botelho
a Gaspar Melo fez conde do Vale da Rica
a James Mason fez conde de Pomarão
a João Valente fez conde da Tabueira
a Alexandre Lancastre fez conde de Cuba
a Amâncio da Câmara fez conde dos Fenais
a António Lacerda fez visconde de Granja do Tedo
a Venâncio Cordeiro fez visconde de Velber
a Luís Pires fez visconde do Passadiço
a João de Deus fez visconde de São Gião
a Valentim Lopes fez visconde de São Valentim
a António Rego fez visconde de Sousa Rego
a Joseph Gay fez visconde de Gay
a Manuel Furtado fez visconde de Vale da Costa
a João Júnior, antes barão do Socorro, fez visconde do Socorro
a José Azevedo fez visconde de Barrosa
a Joaquim de Utra fez visconde da Vinha Brava
a James Bellamy fez visconde de Reynella
a Inácio de Carvalho fez visconde de Bardez
a António de Almeida fez visconde de São João Nepomuceno
a Ezequiel de Sousa Prego fez visconde de Sousa Prego
a Cipriano Palhinha fez visconde de Amoreira da Torre
a José de Sá fez visconde de Merceana
a Júlio Carneiro fez visconde de Cabrela
a António de Sousa fez visconde de Carnaxide
a Joaquim Cunha, antes barão de Rio Torto, fez visconde de Rio Torto
a Cristovão Barata fez visconde de Olivã
a Eduardo Cohen, antes barão de Matalha, fez visconde de Matalha
a Faustino Moreira fez visconde da Rebordosa
a António Guerra fez visconde da Barreira
a António Rebelo fez visconde de Marzovelos
a António Melo fez visconde de Montedor
a Mariana Quintas fez viscondessa do Bom Sucesso
a Carlos Vieira fez visconde de São Carlos
a Manuel Penetra fez visconde de Cantim
a Carlos Gayo fez visconde de Fervenças
a Tomás Metelo e Nápoles fez visconde de Nápoles e Lemos
a Gaspar Sottomaior fez visconde do Mato
a João Dias fez visconde de Reboleira
a Aparício dos Santos fez visconde de Povoença
a Albino Azevedo fez visconde de Santo Albino
a Júlio Basto fez barão de Basto
a Karl Merk fez barão de Berk
a Vicente Falé fez barão das Silveiras
a José Gouveia fez barão de Gáfete
a Jacques René O’Fard de la Grange fez barão de O’Fard de la Grange
a Alfredo de Pinho fez barão de Burgal
a Manuel Mendes fez barão do Candal
a José de Pina Calado fez barão de Teixoso
a Frederico Telles de Menezes fez barão da Nora
a Geminiano Maia fez barão de Camocim
a Manuel Amorim fez barão de A-Ver-o-Mar
a Tristão da Câmara fez barão de Jardim do Mar
a Joana Crespo fez baronesa de Vale da Mata
a Ambrosina Loureiro fez baronesa de Fragosela
a Ricardo Franz fez barão de Frantzenstein
a José Joaquim da Silva Guimarães
meu bisavô paterno
fez visconde de Guilhofrei
Manuel dos Reis da Silva Buiça
desfez tudo
no dia um de fevereiro de mil
novecentos
e
oito.

Ademar
15.02.2008


Improvisación para servir de mural a las víctimas de Carlos, el rei de la pocilga...

A António Papança le hizo conde de Monsaraz
a Tristão Queiroz le hizo marqués da Foz
a Estevão Tormenta le hizo conde da Serra da Tourega
a Cândido Calado le hizo conde de Monsanto
a Carlos da Mota le hizo conde de Juncal
a Joaquim Palha le hizo conde de Ribandar
a Henrique Lowndes le hizo conde de Leopoldina
a António do Rego Botelho le hizo conde do Rego Botelho
a Gaspar Melo le hizo conde do Vale da Rica
a James Mason le hizo conde de Pomarão
a João Valente le hizo conde da Tabueira
a Alexandre Lancastre le hizo conde de Cuba
a Amâncio da Câmara le hizo conde dos Fenais
a António Lacerda le hizo vizconde de Granja do Tedo
a Venâncio Cordeiro le hizo vizconde de Velber
a Luís Pires le hizo vizconde do Passadiço
a João de Deus le hizo vizconde de São Gião
a Valentim Lopes le hizo vizconde de São Valentim
a António Rego le hizo vizconde de Sousa Rego
a Joseph Gay le hizo vizconde de Gay
a Manuel Furtado le hizo vizconde de Vale da Costa
a João Júnior, antes barón do Socorro, le hizo vizconde do Socorro
a José Azevedo le hizo vizconde de Barrosa
a Joaquim de Utra le hizo vizconde da Vinha Brava
a James Bellamy le hizo vizconde de Reynella
a Inácio de Carvalho le hizo vizconde de Bardez
a António de Almeida le hizo vizconde de São João Nepomuceno
a Ezequiel de Sousa Prego le hizo vizconde de Sousa Prego
a Cipriano Palhinha le hizo vizconde de Amoreira da Torre
a José de Sá le hizo vizconde de Merceana
a Júlio Carneiro le hizo vizconde de Cabrela
a António de Sousa le hizo vizconde de Carnaxide
a Joaquim Cunha, antes barón de Rio Torto, le hizo vizconde de Rio Torto
a Cristovão Barata le hizo vizconde de Olivã
a Eduardo Cohen, antes barón de Matalha, le hizo vizconde de Matalha
a Faustino Moreira le hizo vizconde da Rebordosa
a António Guerra le hizo vizconde da Barreira
a António Rebelo le hizo vizconde de Marzovelos
a António Melo le hizo vizconde de Montedor
a Mariana Quintas la hizo vizcondesa do Bom Sucesso
a Carlos Vieira le hizo vizconde de São Carlos
a Manuel Penetra le hizo vizconde de Cantim
a Carlos Gayo le hizo vizconde de Fervenças
a Tomás Metelo e Nápoles le hizo vizconde de Nápoles e Lemos
a Gaspar Sottomaior le hizo vizconde do Mato
a João Dias le hizo vizconde de Reboleira
a Aparício dos Santos le hizo vizconde de Povoença
a Albino Azevedo le hizo vizconde de Santo Albino
a Júlio Basto le hizo barón de Basto
a Karl Merk le hizo barón de Berk
a Vicente Falé le hizo barón das Silveiras
a José Gouveia le hizo barón de Gáfete
a Jacques René O’Fard de la Grange le hizo barón de O’Fard de la Grange
a Alfredo de Pinho le hizo barón de Burgal
a Manuel Mendes le hizo barón do Candal
a José de Pina Calado le hizo barón de Teixoso
a Frederico Telles de Menezes le hizo barón da Nora
a Geminiano Maia le hizo barón de Camocim
a Manuel Amorim le hizo barón de A-Ver-o-Mar
a Tristão da Câmara le hizo barón de Jardim do Mar
a Joana Crespo la hizo baronesa de Vale da Mata
a Ambrosina Loureiro la hizo baronesa de Fragosela
a Ricardo Franz le hizo barón de Frantzenstein
a José Joaquim da Silva Guimarães
mi bisabuelo paterno
le hizo visconde de Guilhofrei
Manuel dos Reis da Silva Buiça
lo deshizo todo
el día uno de febrero de mil
novecientos
ocho.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Improviso sobre uma tela de Vermeer...

Uma carta uma folha de papel
respigando de uma tela
não sei se é a tua letra
nunca fui capaz de imaginar
caligrafias
talvez na luz dessa janela
ainda sejas tu
essas mãos que ardem sem palavras
fogo irrespirável.

Ademar
15.02.2008


Improvisación sobre un lienzo de Vermeer...

Una carta una hoja de papel
espigándose de un lienzo
no sé si es tu letra
nunca he sido capaz de imaginar
caligrafías
tal vez a la luz de esa ventana
aún seas tú
esas manos que arden sin palabras
fuego irrespirable.

Improviso para contrariar o calendário...

Talvez numa página em branco
eu escrevesse o teu nome
se o teu nome pudesse ser escrito
numa página em branco
já não tenho páginas em branco
para escrever o teu nome.

Ademar
14.02.2008


Improvisación para contrariar el calendario...

Tal vez en una página en blanco
habría yo escrito tu nombre
si tu nombre pudiera ser escrito
en una página en blanco
ya no tengo páginas en blanco
para escribir tu nombre.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Improviso a conta-gotas...

Há realidades que não cabem num poema
luzes brilhos ângulos rectos
realidades furiosas
há novidades sem pessoas dentro delas
palavras sonâmbulas
despertando nenhures
hoje a poesia exige uma espécie de
cósmica imaterialidade
ondulante imperfeita labiríntica
mais próxima de nenhuma cor do que do azul
nada que se entenda como um titulo de jornal
ou um remendo na alma.

Ademar
13.02.2008


Improvisación a cuentagotas...

Hay realidades que no caben en un poema
luces brillos ángulos rectos
realidades furiosas
hay novedades sin personas dentro de ellas
palabras sonámbulas
despertando ningún sitio
hoy la poesía exige una especie de
cósmica inmaterialidad
ondulante imperfecta laberíntica
más próxima a ningún color que al azul
nada que se entienda como un titular de periódico
o un remiendo en el alma.

Improviso empresarial...

Um dia
quando me faltarem as palavras e as metáforas
fecharei a fábrica da poesia
e abrirei falência
há quem morra apenas com dois tiros
e um válido apenas
para efeitos estatísticos
eu tenho a pretensão prosaica de falir
mas com estrondo
nenhuma vida merece menos
nenhuma morte.

Ademar
12.02.2008


Improvisación empresarial...

Un día
cuando me falten las palabras y las metáforas
cerraré la fábrica de la poesía
y abriré la quiebra
hay quien muere sólo con dos tiros
y uno válido nada más
a efectos estadísticos
yo tengo la pretensión prosaica de quebrar
pero con estruendo
ninguna vida merece menos
ninguna muerte.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Improviso imaterial...

Mapeei as manchas do teu corpo
e vi o mais remoto dos continentes
e o mais íntimo
nunca na fronteira dos olhos
te exigiram o bilhete de identidade
ou o passaporte
passaste sempre por indocumentada
e até o silêncio negavas ao check-in
há quem viaje assim
num permanente desconcerto de vínculos
como se a única origem que lhe coubesse
fosse a incerteza de todos os laços e berços
mapeei as manchas do teu corpo
e sobrevoei uma memória de feitiços
entre caixas de pandora.

Ademar
11.02.2008


Improvisación inmaterial...

He cartografiado las manchas de tu cuerpo
y he visto el más remoto de los continentes
y el más íntimo
nunca en la frontera de los ojos
te habían exigido el carné de identidad
ni el pasaporte
has pasado siempre por indocumentada
y hasta el silencio le negabas al check-in
hay quien viaja así
en un permanente desconcierto de vínculos
como si el único origen que le correspondiese
fuese la incertidumbre de todos los lazos y cunas
he cartografiado las manchas de tu cuerpo
y he sobrevolado un recuerdo de hechizos
entre cajas de pandora.

Improviso cenográfico...

Palmas talvez apenas no fim
quando o silêncio repousar
das aventuras no palco
num estrado ainda mais incerto
do que o fio nocturno da saudade
palmas lentas e tristes
como valsas que perderam o par
ou violoncelos
o arco das mãos.

Ademar
10.02.2008


Improvisación escenográfica...

Aplausos tal vez solo al final
cuando el silencio repose
de las aventuras del escenario
en un tablado aún más incierto
que el hilo nocturno de la nostalgia
aplausos lentos y tristes
como valses que hayan perdido la pareja
o violonchelos
el arco de las manos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Improviso antes de todos os domingos...

Os sinos
lembram-me sempre que nasci aqui
mesmo quando troco as imagens
eu sei que nasci aqui
não muito longe deste lugar
onde tudo parece exactamente a sombra
do que foi
há domingos em que os sinos
ainda tocam assim
como se chamassem alguém
e só tocassem em mim.

Ademar
09.02.2008


Improvisación antes de todos los domingos...

Las campanas
me recuerdan siempre que nací aquí
incluso cuando confundo las imágenes
sé que nací aquí
no muy lejos de este lugar
donde todo parece exactamente la sombra
de lo que fue
hay domingos en los que las campanas
todavía tocan así
como si llamaran a alguien
y solo me tocaran a mí.

Improviso para lembrar Sevilha...

Sim
estou sempre do outro lado da janela
quando me espreitas
disponível nas palavras
e nos olhos que te vêem
só te posso reservar uma vida
ou o que sobra dela
duas mãos apenas
e um coração que ainda treme
não sei se voltaremos a dançar o flamenco
a mais de quarenta graus à sombra
ou se terei mesmo de morrer
numa quase indiferença de braços
leio uma espécie de sina
nas crostas do silêncio
e tudo me parece ainda luminoso
como castanholas.

Ademar
08.02.2008


Improvisación para recordar Sevilla...


estoy siempre del otro lado de la ventana
cuando me espías
disponible en las palabras
y en los ojos que te ven
sólo te puedo reservar una vida
o lo que resta de ella
dos manos nada más
y un corazón que todavía tiembla
no sé si volveremos a bailar flamenco
a más de cuarenta grados a la sombra
o si tendré al final que morirme
en una casi indiferencia de brazos
leo una especie de destino
en las costras del silencio
y todo me parece aún luminoso
como castañuelas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Improviso para completar uma fala...

Claro que tenho um pacto com o diabo
todas as palavras que me enfeitiçam
digo
que brincam comigo
um pacto antigo
arqueológico da infância
quase tão antigo como o medo de cegar
na luz do sol ou da lua
como quando era menino
é esse o diabo que reencontras
nas palavras que te enfeitiçam
digo
que brincam contigo
connosco.

Ademar
07.02.2008


Improvisación para completar una charla...

Claro que tengo un pacto con el diablo
todas las palabras que me hechizan
digo
que juguetean conmigo
un pacto antiguo
arqueológico de la infancia
casi tan antiguo como el miedo a quedarse ciego
a la luz del sol o de la luna
como cuando era pequeño
es ese el diablo que reencuentras
en las palabras que te hechizan
digo
que juguetean contigo
con nosotros.

Improviso antes do próximo...

Estou sempre à procura de uma última verdade
antes da seguinte
um gesto ainda mais surpreendente
gritos que não pareçam lágrimas
lágrimas que não pareçam gritos
não há mãos como as primeiras
não há nuvens
não há olhos
todas as tardes agora são diferentes
só as palavras coincidem no silêncio que as recolhe.

Ademar
06.02.2008


Improvisación antes de la próxima...

Ando siempre en busca de una última verdad
antes de la siguiente
un gesto todavía más sorprendente
gritos que no parezcan lágrimas
lágrimas que no parezcan gritos
no hay manos como las primeras
no hay nubes
no hay ojos
todas las tardes ahora son diferentes
solo las palabras coinciden en el silencio que las recoge.

domingo, 5 de junho de 2011

Improviso depois do dilúvio...

Uma gota distrai o silêncio
na noite
nenhuma sombra sobre a tela
nenhuma voz
apenas a certeza de uma gota
uma ínfima certeza
um barro prematuro
na inconstância do oleiro
e na angústia
sobro-me em palavras
e segredos
procuro a chave e a porta
e fecho-me por dentro.

Ademar
05.02.2008


Improvisación después del diluvio...

Una gota distrae el silencio
en la noche
ninguna sombra sobre el lienzo
ninguna voz
sólo la certeza de una gota
una ínfima certeza
un barro prematuro
en la inconstancia del alfarero
y en la angustia
reboso de palabras
y secretos
procuro la llave y la puerta
y me cierro por dentro.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Improviso para antecipar Veneza...

Se chovesse
a água teria hoje um sabor especial
muito diferente do sabor
de todas as gravuras
e poemas
talvez a chocolate ou a cerejas
ou a queijo da serra
só falta escolher a máscara
e beber o carnaval.

Ademar
04.02.2008


Improvisación para anticipar Venecia...

Si lloviera
el agua tendría hoy un sabor especial
muy diferente del sabor
de todos los grabados
y poemas
tal vez a chocolate o a cerezas
o a queso da serra
solo falta escoger la máscara
y beberse el carnaval.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Improviso em forma de haiku para distrair o vento...

Os barcos não frequentam esquinas
todos os cais navegam horizontes
na distância do alto-mar.

Ademar
03.02.2008


Improvisación en forma de haikú para distraer al viento...

Los barcos no frecuentan esquinas
todos los muelles navegan horizontes
en la distancia de alta mar.

Improviso no cais...

Um pássaro pousou delicadamente
no ombro que ofereço todas as noites à saudade
nunca sei se os pássaros que me visitam
vêm de longe ou de perto
ou mesmo de dentro de mim
e se voltarão
outras vezes confundo pássaros com estrelas
e perco-me para além das nuvens
num silêncio que não pertence à ordem
desta galáxia
não tenho outra forma de dizer
que escrevo apenas para me lembrar que existes.

Ademar
02.02.2008


Improvisación en el muelle...

Un pájaro se ha posado delicadamente
en el hombro que ofrezco todas las noches a la añoranza
nunca sé si los pájaros que me visitan
vienen de lejos o de cerca
o incluso de dentro de mí
y si volverán
otras veces confundo pájaros con estrellas
y me pierdo más allá de las nubes
en un silencio que no pertenece al orden
de esta galaxia
no tengo otra forma de decir
que solo escribo para recordarme que existes.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Improviso para povoar o vazio...

Faço perguntas inesperadas irrespondíveis
e ainda assim espero sempre respostas
confio talvez de mais no optimismo das palavras
na íntima cegueira das noites e dos dias
que já poucas luzes distraem
a tudo porém respondo
já não tenho vidas nem mortes para segredar
apenas labirintos interiores
que nenhum mapa ilumina
como se tudo fosse indecisão.

Ademar
01.02.2008


Improvisación para poblar el vacío...

Hago preguntas inesperadas irrespondibles
y aún así espero siempre respuestas
confío tal vez demasiado en el optimismo de las palabras
en la íntima ceguera de las noches y de los días
que ya pocas luces distraen
a todo no obstante respondo
ya no tengo vidas ni muertes para cuchichear
solo laberintos interiores
que ningún mapa ilumina
como si todo fuese indecisión.