terça-feira, 31 de maio de 2011

Improviso quase religioso ...

Discordarei do mar
enquanto a terra me for tão próxima
tenho saudades de ondas
que façam parte de nós
e nos prolonguem
já nos vimos tão perto
de todos os cais
já tivemos um pé
em todos os barcos
já fomos livres
de nos prendermos
talvez nos falte apenas a sabedoria
do amanhecer ou do pôr-do-sol
uma espécie de livro sagrado
antes da sagração de todos os deuses.

Ademar
31.01.2008


Improvisación casi religiosa...

Discordaré del mar
mientras la tierra me sea tan próxima
tengo nostalgia de olas
que formen parte de nosotros
y nos prolonguen
ya nos hemos visto tan cerca
de todos los muelles
ya hemos tenido un pie
en todos los barcos
ya hemos sido libres
para amarrarnos
tal vez nos falte solo la sabiduría
del amanecer o la puesta de sol
una especie de libro sagrado
antes de la consagración de todos los dioses.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Improviso intervalar...

Deixei apenas de ouvir os silêncios
ou os gritos
agora nada adivinho
nada presumo
posso imaginar tudo
a incerteza dos passos
as mãos que se atrapalham
no ângulo da defesa
até os olhos que se deixam vendar
nas palavras sempre hesitantes
todas as verdades são tão imateriais
como esta.

Ademar
30.01.2008


Improvisación a modo de intermedio...

He dejado solo de oír los silencios
o los gritos
ahora nada adivino
nada presupongo
puedo imaginarlo todo
la incertidumbre de los pasos
las manos que se enredan
en el ángulo de la defensa
hasta los ojos que se dejan vendar
en las palabras siempre vacilantes
todas las verdades son tan inmateriales
como esta.

Improviso por conta da prosa em dívida...

Hoje pensei um romance
só não encontrei ainda as palavras
com que poderia escrevê-lo
há mais de vinte anos pelo menos
que penso o mesmo romance
e baralho as palavras
como quem tropeça e atrapalha a vida
por vezes acredito que nasci apenas
para escrever esse romance
e foi assim que engravidei
talvez me sobrem palavras
ou me faltem
ou simplesmente tempo
para amadurecer nelas.

Ademar
29.01.2008


Improvisación a cuenta de la prosa en deuda...

Hoy he ideado una novela
sólo que no he encontrado aún las palabras
con las que podría escribirla
llevo más de veinte años por lo menos
ideando la misma novela
y confundo las palabras
como quien tropieza y enmaraña la vida
a veces creo que nací nada más
para escribir esa novela
y fue así como me quedé embarazado
tal vez me sobren palabras
o me falten
o simplemente tiempo
para madurarme en ellas.

domingo, 29 de maio de 2011

Improviso recorrente...

Ejecta-te do elmo ou
ergue pelo menos a viseira
pousa o escudo
distende a armadura
e tenta dar mais um passo
nenhum destino merece tanto rigor
digo
tanta rigidez de mãos e de braços
uma prisão interior
em todos os gestos mais sóbrios
um pudor irrespirável
relaxo as algemas que os pulsos confundem
nas próprias veias
podes finalmente reaver a paz
dos cemitérios da alma
nem todos se deixam morrer assim.

Ademar
28.01.2008


Improvisación recurrente...

Eyéctate del yelmo o
levanta por lo menos la visera
apoya el escudo
distiende la armadura
e intenta dar un paso más
ningún destino merece tanto rigor
digo
tanta rigidez de manos y de brazos
una prisión interior
en todos los gestos más sobrios
un pudor irrespirable
relajo las esposas que las muñecas confunden
en las propias venas
puedes por fin recuperar la paz
de los cementerios del alma
no todos se dejan morir así.

Improviso para dizer origami..










No princípio claro não era o papel
mas o verbo
e nenhuma imagem nenhum som
reportava ainda ao deslumbramento das formas
como nas tuas mãos
depois as palavras cederam à alquimia do fogo
e o brinquedo infância desfez-se papel.

Ademar
27.01.2008


Improvisación para decir origami...

En un principio claro no era el papel
sino el verbo
y ninguna imagen ningún sonido
evocaba aún el deslumbramiento de las formas
como en tus manos
después las palabras cedieron a la alquimia del fuego
y el juguete infancia se deshizo papel.

sábado, 28 de maio de 2011

Improviso para tela e caixilho...

O quarto vazio
e não cabe mais ninguém
o quarto a casa a vida
o pensamento tem folhas soltas
cortinas que iludem a frágil nudez
de todos os medos e pudores
outrora corrias janelas
e todos os olhos te despiam
agora confundes as mãos com as grades
e até as palavras parecem pesar-te
muito mais do que armaduras.

Ademar
26.01.2008


Improvisación para lienzo y marco...

La habitación vacía
y no cabe nadie más
la habitación la casa la vida
el pensamiento tiene hojas sueltas
cortinas que engañan la frágil desnudez
de todos los miedos y pudores
antes corrías ventanas
y todos los ojos te desvestían
ahora confundes las manos con las rejas
y hasta las palabras parecen pesarte
mucho más que armaduras.

Improviso para enganar o pôr-do-sol...

Não tens o sorriso pendurado das nuvens
nem do cume de nenhuma montanha
tudo na tua vida tudo
é esforço e inclinação
e medo
uma espécie de torpor
silêncio primitivo primordial
caminhas vagarosamente sobre uma teia de fragmentos
de muitos espelhos quebrados
a tua história lembra uma árvore perdida
entre raízes que pertencem a nenhuma.

Ademar
25.01.2008


Improvisación para engañar la puesta de sol...

No tienes la sonrisa colgada de las nubes
ni de la cima de ninguna montaña
todo en tu vida todo
es esfuerzo e inclinación
y miedo
una especie de torpor
silencio primitivo primordial
caminas despacio sobre uma tela de fragmentos
de muchos espejos rotos
tu historia recuerda un arbol perdido
entre raíces que pertenecen a ninguno.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Improviso sobre uma imagem...













Se me pudesse dependurar da vida
dependurar-me-ia assim
como uma toalha de banho
e nenhum corpo dentro
nem olhos nem mãos
apenas tatuagens de dentes gritos fúrias
sobre a água hesitante
e a espera da evidência de uma razão superior
para descer do cabide.

Ademar
24.01.2008


Improvisación sobre una imagem...

Si me pudiera colgar de la vida
me colgaría así
como una toalla de baño
y ningún cuerpo dentro
ni ojos ni manos
sólo tatuajes de dientes gritos furias
sobre el agua vacilante
y la espera de la evidencia de una razón superior
para bajar de la percha.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Improviso para acompanhar um solo de oboé...

Já comecei vezes de mais a mesma frase
esgotei o berço das palavras
como se já tivesse desaprendido de nascer
agora batalho apenas com os pontos finais
discuto o meu lugar no fim da frase
no fim da vida.

Ademar
23.01.2008


Improvisación para acompañar un solo de oboe...

Ya he empezado demasiadas veces la misma frase
he agotado la cuna de las palabras
como si ya hubiera desaprendido de nacer
ahora batallo solo con los puntos finales
discuto mi lugar en el fin de la frase
en el fin de la vida.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Improviso com todas as vozes dentro...

Ouço vozes sempre incompletas
como se tivesse deixado de ouvir
ou já me ouvisse apenas a mim próprio
nenhuma voz me convida à perfeição auditiva
sofro de silêncios que a surdez amplifica
e tresleio todas as partituras.

Ademar
22.01.2008


Improvisación con todas las voces dentro...

Oigo voces siempre incompletas
como si hubiera dejado de oír
o ya solo me oyera a mí mismo
ninguna voz me convida a la perfección auditiva
sufro de silencios que la sordera amplifica
y tergiverso todas las partituras.

Improviso despido de metáforas...

Aprendi contigo humildemente
a desconsiderar as palavras
nada é menos verdadeiro
de que um poema
um cavalo desleixado
um cão vadio
uma rocha um cogumelo
uma castanha apodrecida no chão
que recolhes e acaricias
nenhuma palavra
revive a magia do teu silêncio
a soberana exactidão de todos os gestos
nenhum poema.

Ademar
21.01.2008


Improvisación despojada de metáforas...

Aprendí contigo humildemente
a desconsiderar las palabras
nada es menos verdadero
que un poema
un caballo descuidado
un perro vagabundo
una roca una seta
una castaña podrida en el suelo
que recoges y acaricias
ninguna palabra
revive la magia de tu silencio
la soberana exactitud de todos los gestos
ningún poema.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Improviso breve para servir de salvo-conduto...

Não tenho chaves
que sirvam nas tuas algemas
nem algemas
que sirvam nos teus pulsos
apenas um anel de memórias
e duas mãos sempre prisioneiras.

Ademar
20.01.2008


Improvisación breve para servir de salvoconducto...

No tengo llaves
que sirvan en tus esposas
ni esposas
que sirvan en tus muñecas
sólo un anillo de recuerdos
y dos manos siempre prisioneras.

Improviso entre parêntesis...

Seria invencível
se não tivesse perdido todas as guerras
mesmo em palavras
faltou-me sempre o definitivo poder das lágrimas
que derrotam o silêncio.

Ademar
20.01.2008


Improvisación entre paréntesis...

Sería invencible
si no hubiese perdido todas las guerras
hasta en palabras
me ha faltado siempre el definitivo poder de las lágrimas
que derrotan al silencio.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Improviso quase ao jeito de monossílabo...

Não conservei a factura
ainda me poderei trocar?

Ademar
20.01.2008


Improvisación casi a modo de monosílabo...

No he conservado la factura
¿aun así me podré cambiar?

Improviso para repousar da mais longa viagem...

Não recordo nenhum hotel em particular
todas as cidades no passado
parecem exactamente iguais a esta
cujo nome agora me foge
já estivemos lá? já dormimos lá?
que mais fizemos entre a noite e o dia
para além de estar?
não atendas o telemóvel
deixa que as vozes te pertençam
nessa montanha que parece sempre tão próxima
e tão longínqua
como se fosse apenas a tua inconformidade
já fui bom já fui mau
tive todas as virtudes e todos os defeitos
menos o feitiço de ser mais ou menos
do que eu
regresso à recepção do hotel
e digo os nomes
a reserva tem sempre a data do dia seguinte
ou do anterior.

Ademar
19.01.2008


Improvisación para descansar del más largo viaje...

No recuerdo ningún hotel en particular
todas las ciudades en el pasado
parecen exactamente iguales a esta
cuyo nombre ahora se me escapa
¿ya hemos estado ahí? ¿ya hemos dormido ahí?
¿qué más hicimos entre la noche y el día
además de estar?
no cojas el móvil
deja que las voces te pertenezcan
en esa montaña que parece al final tan próxima
y tan lejana
como si fuese solo tu inconformidad
ya he sido bueno ya he sido malo
he tenido todas las virtudes y todos los defectos
menos el encanto de ser más o menos
que yo
regreso a la recepción del hotel
y digo los nombres
la reserva tiene siempre la fecha del día siguiente
o del anterior.

Improviso desconcertante...

Uma réstia de luz
e a janela sempre aberta
ou nenhuma ponte de promessas
talvez a fome do tempo
servida à mesa da espera.

Ademar
18.01.2008


Improvisación desconcertante...

Un haz de luz
y la ventana siempre abierta
o ningún puente de promesas
tal vez el hambre del tiempo
servido a la mesa de la espera.

sábado, 21 de maio de 2011

Improviso para descansar das mágoas...

Quando me perguntam
como estou
respondo que amanhã direi
tenho sempre pressa
de me ouvir depois.

Ademar
17.01.2008


Improvisación para descansar de las penas...

Cuando me perguntan
cómo estoy
respondo que mañana lo diré
tengo siempre prisa
de oírme después.

Improviso para cantar Leonard Cohen...

Não tenho inimigos nem balas para te oferecer
e se as mãos me obedecessem
pintar-te-ia de outras cores
numa tela em que nunca escurecesses
devolvo-te a impaciência com juros
no modo de uma tranquilidade
que sempre terás desconhecido
não tenho mapas para te ensinar
como se guerreia
desfraldei a bandeira da paz
quando vieste ao meu encontro
e me rendi.

Ademar
16.01.2008


Improvisación para cantar a Leonard Cohen...

No tengo enemigos ni balas para regalarte
y si las manos me obedecieran
te pintaría de otros colores
en un lienzo en el que nunca oscurecieras
te devuelvo la impaciencia con intereses
en la modalidad de un sosiego
que al cabo habrás desconocido
no tengo mapas para enseñarte
cómo se guerrea
desplegué la bandera de la paz
cuando viniste a mi encuentro
y me rendí.

Improviso em forma quase de contrato de adesão...

Parece que foi eu que escrevi
“somos todos caçadores antropologicamente desempregados”
e
“a poesia é a arte de dizer o que ninguém mais entende”
talvez a brincar com as palavras
(por exemplo, foi eu)
eu seja competente
no mais ainda tropeço
tenho mesmo dias em que sinto
que falhei completamente a agenda
falta-me uma secretária
digo
uma gestora de eventos domésticos
sempre renováveis.

Ademar
15.01.2008


Improvisación en forma casi de contrato de adesión...

Parece que fue yo el que escribí
“somos todos cazadores antropológicamente desempleados”
y
“la poesía es el arte de decir lo que nadie más entiende”
tal vez jugueteando con las palabras
(por ejemplo, fue yo)
yo sea competente
en el más aún tropiezo
tengo incluso días en que siento
que he incumplido totalmente la agenda
me hace falta una secretaria
digo
una gestora de eventos domésticos
siempre renovables.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Improviso aritmético...

Seis vidas ou sete como os gatos
mas nenhuma para perder ou ganhar
seis máscaras ou sete
e uma única personagem dentro delas
de tanto te contar
quase desaprendi de saber
por que palavras te diga
há pessoas que não cabem em norma alguma
e que nunca nos consentem
a proeza do conhecimento
corrijo
a ilusão do conhecimento
talvez agora o silêncio seja mais entendível
o silêncio ou o acanhamento dos gestos
essa distância exacta entre o pensamento
e as raízes voláteis do corpo.

Ademar
14.01.2008


Improvisación aritmética...

Seis vidas o siete como los gatos
pero ninguna para perder o ganar
seis máscaras o siete
y un único personaje dentro de ellas
de tanto contarte
casi he desaprendido de saber
por qué palabras decirte
hay personas que no caben en norma alguna
y que nunca nos consienten
la proeza del conocimiento
corrijo
la ilusión del conocimiento
tal vez ahora el silencio sea más entendible
el silencio o el apocamiento de los gestos
esa distancia exacta entre el pensamiento
y las raíces volátiles del cuerpo.

Improviso para desmarcar compromissos...

A mais antiga das metáforas
e o número talvez
o mais próximo da perfeição
reconto lentamente as velas que deixaste
e reacendo a que apagaste
no veloz transporte da partida
carne da minha carne
sangue do meu corpo
este é então
o cheiro em que viajas
quando perguntas por mim
nenhuma intensidade é tão certa
como o teu silêncio feito de tantas grandezas
há mistérios há paixões
que se envergonham nas palavras
e nas perguntas distraídas
claro que acenderei outra vela
quando o fogo te iluminar.

Ademar
13.01.2008


Improvisación para anular compromisos...

La más antigua de las metáforas
y el número tal vez
el más próximo a la perfección
recuento lentamente las velas que dejaste
y vuelvo a encender la que apagaste
en el veloz transporte de la partida
carne de mi carne
sangre de mi cuerpo
este es pues
el olor en el que viajas
cuando preguntas por mí
ninguna intensidad es tan certera
como tu silencio hecho de tantas grandezas
hay misterios hay pasiones
que se avergüenzan en las palabras
y en las preguntas distraídas
claro que encenderé otra vela
cuando el fuego te ilumine.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Improviso como se anoitecesse...

 Nunca dás a vida de barato
todos os pontos são de reticências
respostas adiadas
frases inacabadas
horizontes que tremem diante dos olhos
e embrumecem
não garanto que o verbo se escreva assim
invento diariamente palavras
para me transgredir a teus olhos.

Ademar
12.01.2008


Improvisación como si anocheciera...

Nunca das la vida de buen grado
todos los puntos son suspensivos
respuestas aplazadas
frases inacabadas
horizontes que tiemblan ante los ojos
y se embruman
no garantizo que el verbo se escriba así
invento diariamente palabras
para transgredirme a tus ojos.

Improviso para dizer apenas que também sei rimar...

A perfeição tem as datas trocadas
e viaja sempre em classe turística
entre aeroportos banais
não lê revistas nem jornais
nem tem agenda diarística
a perfeição tropeça em todas as calçadas
e nunca rima quando se quer
homem ou mulher.

Ademar
11.01.2008


Improvisación para decir solo que también sé rimar...

La perfección tiene las fechas cambiadas
y viaja siempre en clase turista
entre aeropuertos ordinarios
no lee ni revistas ni diarios
ni tiene agenda prevista
la perfección tropieza en todas las calzadas
no siempre rima cuando es menester
hombre o mujer.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Improviso ao natural...

Desaperto os laçospara que não adoeças dos pés
abro as janelas e
voltas a respirar
sobre a mesa
deixo a fruta e deixo o vinho
e o pão que comerás
depois de todos os prazeres
e sobre a cama o livro
e sobre o livro os olhos
antes de adormeceres
hoje não me apetece escrever
infinitos
há evidências que têm mais poesia dentro
do que todas as metáforas.

Ademar
10.01.2008


Improvisación al natural...

Aflojo los cordones
para que no enfermes de los pies
abro las ventanas y
vuelves a respirar
sobre la mesa
dejo la fruta y dejo el vino
y el pan que comerás
después de todos los placeres
y sobre la cama el libro
y sobre el libro los ojos
antes de que te duermas
hoy no me apetece escribir
infinitos
hay evidencias que tienen más poesía dentro
que todas las metáforas.

Improviso para dizer talvez saudade...*

Nunca te esqueças
a vida é um carrocel
estamos sempre a voltar
ao princípio de nós
ao princípio ou ao fim de tudo
mesmo quando julgamos
que partimos
ou apenas sonhamos.

Ademar
10.01.2008

* Para a Conceição, que parte para a Alemanha. O teu lugar na turma nunca mais será ocupado.


Improvisación para decir tal vez nostalgia...*

Nunca lo olvides
la vida es un carrusel
estamos siempre volviendo
al principio de nosotros
al principio o al fin de todo
incluso cuando creemos
que nos vamos
o simplemente soñamos.

* Para Conceição, que se va a Alemania. Tu lugar en la clase nunca jamás será ocupado.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Improviso para descuidar amanhã...

O mesmo trilho outonal
um cavalo que pede e tem a mão
o homem ainda não
notícias que vêm
notícias que vão
segredos suspensos na tarde
algures uma clareira sem fogo dentro
ou o fogo todo
e as testemunhas ausentes
o contrato mais uma vez adiado
nos soluços da rebeldia
e um cavalo que pede e tem a mão
o homem ainda não
notícias que vêm
notícias que vão
ecos de vozes que sussurram
passos que deixam sempre pegadas no chão
uma incerteza quase tão antiga
como os dias que a memória consente
mas há mais claridade
na distância dos gestos
talvez menos imprecisão
e um cavalo que pede e tem a mão
o homem ainda não.

Ademar
09.01.2008


Improvisación para descuidar mañana...

El mismo sendero otoñal
un caballo que pide y tiene la mano
el hombre todavía no
noticias que vienen
noticias que van
secretos suspendidos en la tarde
en algún lugar un claro sin fuego dentro
o todo el fuego
y los testigos ausentes
el contrato una vez más aplazado
en los sollozos de la rebeldía
y un caballo que pide y tiene la mano
el hombre todavía no
noticias que vienen
noticias que van
ecos de voces que susurran
pasos que dejan siempre huellas en el suelo
una incertidumbre casi tan antigua
como los días que la memoria consiente
pero hay más claridad
en la distancia de los gestos
tal vez menos imprecisión
y un caballo que pide y tiene la mano
el hombre todavía no.

Improviso para aperfeiçoar o sol...

Deixo sempre no horizonte uma luz acesa
para que a noite não sofra de insónias
e fecho os olhos para não ver
talvez me leias algures no Japão
ou ainda mais longe ou mais perto
ou sejas tu própria as palavras
que não chego a escrever.

Ademar
08.01.2008


Improvisación para perfeccionar el sol...

Dejo siempre en el horizonte una luz encendida
para que la noche no padezca insomnio
y cierro los ojos para no ver
tal vez me leas desde algún lugar de Japón
o todavía más lejos o más cerca
o seas tú misma las palabras
que no llego a escribir.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Improviso em tons de arco-íris...

A cegueira
não se recomenda às evidências
tenho ângulos
que os olhos distraem
ou o que sobra deles
não há segunda pessoa
para dizer a poesia
e o singular ignora-me
morro devagar nas palavras
que me estrangulam
há viagens em que tropeço
metáforas pantanosas
e perco sempre o pé da alma
no que escrevo.

Ademar
07.01.2008


Improvisación en tonos de arcoíris...

La ceguera
no se recomienda a las evidencias
tengo ángulos
que los ojos distraen
o lo que sobra de ellos
no hay segunda persona
para decir la poesía
y el singular pasa de mí
me muero despacio en las palabras
que me estrangulan
hay viajes en los que tropiezo
metáforas pantanosas
y pierdo siempre el pie del alma
en lo que escribo.

Improviso para contrariar a rotina...

Outros olhos
sobre as palavras
ou sobre os corpos que se oferecem
há mais alguém no quarto
do pensamento
mãos à espera de aventurar
territórios desconhecidos
desiludimos a culpa
abrindo a porta a desertos sempre inexplicáveis
há tanta gente só
que aparece apenas acompanhada do universo.

Ademar
06.01.2008


Improvisación para contrariar la rutina...

Otros ojos
sobre las palabras
o sobre los cuerpos que se ofrecen
hay alguien más en la habitación
del pensamiento
manos a la espera de aventurar
territorios desconocidos
desengañamos la culpa
abriendo la puerta a desiertos siempre inexplicables
hay tanta gente sola
que aparece unicamente acompañada del universo.

domingo, 15 de maio de 2011

Improviso sobre uma imagem para dizer como se morre...











Morrerei assim num caminho de outonos
desencontrado talvez do olhar e das mãos
que tantas vezes dispensaste
numa íntima surdez de vibrações e folhas silenciadas
há fúrias e lágrimas a que nenhum coração resiste sempre
e a um certo jeito cansado de encolher os ombros
e as palavras na impaciência de todas as culpas
como se a tortura fosse a última higiene da alma
e só o trabalho redimisse as destemperanças do corpo
tomara que soubesses como se morre assim devagar ou depressa
algemado ao silêncio
na outra margem do sofrimento
não há contexto para dizer ambiguamente a claridade dos dias que vencemos
e em nenhuma data deixámos de ser o que éramos
e o que somos.

Ademar
05.01.2008


Improvisación sobre una imagen para decir cómo se muere...

Me moriré así en un camino de otoños
desencontrado tal vez de la mirada y las manos
de las que tantas veces prescindiste
en una íntima sordera de vibraciones y hojas silenciadas
hay furias y lágrimas a las que ningún corazón resiste siempre
ni a un cierto modo cansado de encojerse de hombros
ni a las palabras en la impaciencia de todas las culpas
como si la tortura fuera la última higiene del alma
y solo el trabajo redimiera las destemplanzas del cuerpo
ojalá supieras cómo se muere así despacio o deprisa
esposado al silencio
en la otra orilla del sufrimiento
no hay contexto para expresar ambiguamente la claridad de los días que vencimos
y en ninguna fecha dejamos de ser lo que éramos
ni lo que somos.

sábado, 14 de maio de 2011

Improviso em forma de haiku para dizer alguma coisa...

Há dias em que falho à vida
em que atrapalho quase tudo
na sorna do cais.

Ademar
04.01.2008


Improvisación en forma de haikú para decir algo...

Hay días en los que le fallo a la vida
en los que trastoco casi todo
en la modorra del muelle.

Improviso para adiar uma conversa...

Conta-me um segredo
e só o recontarei a mim próprio
tenho fome de uma sabedoria
que me entenda e amplie
nos teus braços.

Ademar
03.01.2008


Improvisación para aplazar una conversación...

Cuéntame un secreto
y sólo me lo recontaré a mí mismo
tengo hambre de una sabiduría
que me entienda y amplíe
en tus brazos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Improviso quase bíblico...

Procuro na toalha um segredo
com o nome e a forma exacta do teu corpo
e recolho o cheiro dos lençóis
para que não se perca vestígio algum
há toalhas e lençóis que têm o dom da história
emprestam eternidade a qualquer narrativa.

Ademar
02.01.2008


Improvisación casi bíblica...

Busco en la toalla un secreto
con el nombre y la forma exacta de tu cuerpo
y recojo el olor de las sábanas
para que no se pierda vestigio alguno
hay toallas y sábanas que tienen el don de la historia
le prestan eternidad a cualquier narración.

Improviso para acertar a bússola...

Nos olhos ainda o rasto do teu preto mais íntimo
e o vento no lugar das mãos
e viajo agora contigo
para que a noite encaminhe os teus passos
e uma luz nos proteja
e assim te devolvo ao silêncio
mais antigo de todos
o da nossa infinita perplexidade.

Ademar
01.01.2008


Improvisación para regular la brújula...

En los ojos todavía el rastro de tu negro más íntimo
y el viento en lugar de las manos
y viajo ahora contigo
para que la noche encamine tus pasos
y una luz nos proteja
y así te devuelvo al silencio
más antiguo de todos
el de nuestra infinita perplejidad.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Improviso para dizer a sabedoria...

Antes das palavras o silêncio
e depois também
nunca esperei menos
nunca espero mais
há uma sabedoria que não se aprende nos livros
e nenhuma escola ensina
sabedoria
que tu converteste numa espécie de arte
a arte do recolhimento.

Ademar
28.12.2007


Improvisación para decir la sabiduría...

Antes de las palabras el silencio
y después también
nunca esperé menos
nunca espero más
hay una sabiduría que no se aprende en los libros
ni ninguna escuela enseña
sabiduría
que tú has convertido en una especie de arte
el arte del recogimiento.

Improviso para beber-te...

Ninguém reclama tanto das palavras
e nenhuma posição faz justiça à intensidade do teu corpo
e à leveza
há uma perfeição antiga no silêncio em que te escondes
um recato que acolhe uma profusão de mistérios
o mais original e impartilhável dos teus segredos
que continuo à espera que derrames nos meus lábios.

Ademar
27.12.2007


Improvisación para beberte...

Nadie se queja tanto de las palavras
y ninguna postura hace justicia a la intensidad de tu cuerpo
y a la levedad
hay una perfección antigua en el silencio en el que te escondes
un recato que acoge una profusión de misterios
el más original e incompartible de tus secretos
que sigo esperando que derrames en mis labios.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Improviso para parecer de bússola...

Sobram sempre apenas cenários
casas incompletas
silêncios de portas e janelas que já não abrem nem fecham
há nomes de pedras sobre o lodo
que não decifro
e vestigios de rituais que dizes satânicos
talvez nenhum tronco renasça das águas
como o primeiro
na memória dos caminhos que agora se perdem na indiferença
                                                        [de quase tudo que já foi
há perguntas a que nunca respondes
mistérios que sobram sempre para nós.

Ademar
26.12.2007


Improvisación para parecer de brújula...

Quedan al final sólo escenarios
casas incompletas
silencios de puertas y ventanas que ya no abren ni cierran
hay nombres de piedras sobre el lodo
que no descifro
y vestigios de rituales que dices satánicos
tal vez ningún tronco renazca de las aguas
como el primero
en el recuerdo de los caminos que ahora se pierden en la indiferencia
                                                      [de casi todo lo que ya ha sido
hay preguntas a las que nunca respondes
misterios que quedan al final para nosotros.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Improviso sobre a água...

Talvez um dia as palavras se esgotem
de tanto serem usadas em vão
ou talvez um dia deixes de respirar ao contrário
como se apenas vivesses para dentro
nenhuma sombra pode mais
do que a luz que a projecta.

Ademar
25.12.2007


Improvisación sobre el agua...

Tal vez un día las palabras se agoten
de tanto ser usadas en vano
o tal vez un día dejes de respirar al revés
como si solo vivieras hacia dentro
ninguna sombra puede más
que la luz que la proyecta.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Improviso para dizer como bebes...

O líquido acaricia apenas os lábios
as mãos suspendem o gesto
no copo que a lingua trava
não é assim distinto no mais
nenhuma ausência com código que não domines
nenhum verbo que não conjuges no condicional e no singular
a vida em ti sofre de espasmos
há um intervalo entre o que pensas e o que desejas
um intervalo em que não cabe ninguém
senão um deserto de sombras
tenho tantas palavras de vantagem sobre ti
tantos anos tantas certezas
e tão pouco destino
o pensamento fechado numa cela
e as chaves fora.

Ademar
24.12.2007


Improvisación para decir cómo bebes...

El líquido acaricia solo los labios
las manos suspenden el gesto
en el vaso que la lengua frena
no es muy distinguido en general
ninguna ausencia con código que no domines
ningún verbo que no conjuges en condicional y en singular
la vida en ti sufre de espasmos
hay un intervalo entre lo que piensas y lo que deseas
un intervalo en el que no cabe nadie
más que un desierto de sombras
te llevo tantas palabras de ventaja
tantos años tantas certezas
y tan poco destino
el pensamiento encerrado en una celda
y las llaves por fuera.

domingo, 8 de maio de 2011

Improviso para sumariar o embaraço...

Deixas sempre a meio a frase e a mão
deixas sempre a meio a vida
tropeças sempre numa consciência
que não te pertence.

Ademar
23.12.2007

Improvisación para resumir el azoramiento...

Dejas siempre a medias la frase y la mano
dejas siempre a medias la vida
tropiezas siempre en una conciencia
que no te pertenece.

Improviso para pedir o natal...

Se me deixasses repousar a cabeça na tua fúria
talvez adormecesses
não te peço uma gravidez de melancias
nem o sangue perfeito de um olhar iluminado
contento-me com o trivial
tudo o que já foste capaz de me dar.

Ademar
21.12.2007


Improvisación para pedir la navidad...

Si me dejaras reposar la cabeza en tu furia
tal vez te durmieras
no te pido una preñez de sandías
ni la sangre perfecta de una mirada iluminada
me contento con lo trivial
todo lo que has sido capaz de darme.

sábado, 7 de maio de 2011

Improviso sobre a arte do demónio...

Uma ideia apenas
mas que faça parte de ti
com palavras dentro
as palavras necessárias
(não são precisas todas)
mas o corpo inteiro
indivisível
uma ideia que te congregue
que não deixe de fora nenhuma ilusão
nenhuma fantasia
nenhum sentimento
e que sopre tão cortante e definitiva como o vento
na montanha que não contas
uma ideia apenas
mas que seja tua
e revolva todos os ecos
dos precipícios que conjuraste.

Ademar
20.12.2007


Improvisación sobre el arte del demonio...

Una idea solo
pero que forme parte de ti
con palabras dentro
las palabras necesarias
(no son precisas todas)
pero el cuerpo entero
indivisible
una idea que te congregue
que no deje fuera ninguna ilusión
ninguna fantasía
ningún sentimiento
y que sople tan cortante y definitiva como el viento
en la montaña que no cuentas
una idea solo
pero que sea tuya
y revuelva todos los ecos
de los precipicios que conjuraste.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Improviso sobre um auto-retrato...

Já fui todas as palavras
que não ousaste dizer
as mãos algemadas
numa culpa antiga de gestos
uma quase impotência
finjo que não vejo
o fogo da distância tão próxima
o fogo e o vento gelado
e subo a todas as montanhas
para uivar com os lobos
não lamento nada
escrevo apenas
para que te ouças.

Ademar
19.12.2007












 

________________________
Que dizem as imagens do que fomos? Que diz esta imagem do que fui? Não importa quando. A memória que retemos das pessoas começa sempre por fixar imagens. Depois, talvez, palavras. Por fim, as vozes. E, porém, são as vozes que prolongam por mais tempo a nossa identidade. Não há duas vozes iguais. Talvez, por isso, a música resista melhor do que a poesia à erosão do próprio tempo. A eternidade dos sons pode sempre muito mais do que a eternidade das palavras. As imagens, essas, estão sempre a mudar. Nós é que, frequentemente, não reparamos. Continuo a falar para ser ouvido. E, se possível, vivido...


Improvisación sobre un autorretrato...

Ya he sido todas las palabras
que no osaste decir
las manos esposadas
en una culpa antigua de gestos
una casi impotencia
finjo que no veo
el fuego de la distancia tan cercana
el fuego y el viento helado
y subo a todas las montañas
para aullar con los lobos
no lamento nada
escribo nada más
para que te oigas.

________________________
¿Qué dicen las imágenes de lo que hemos sido? ¿Qué dice esta imagen de lo que he sido? No importa cuándo. El recuerdo que retenemos de las personas empieza siempre por fijar imágenes. Después, tal vez, palabras. Por fin, las voces. Y, no obstante, son las voces lo que prolonga por más tiempo nuestra identidad. No hay dos voces iguales. Tal vez, por ello, la música resista mejor que la poesia a la erosión del propio tiempo. La eternidad de los sonidos puede siempre mucho más que la eternidad de las palabras. Las imágenes, esas, están siempre cambiando. Lo que pasa es que nosotros, frecuentemente, no nos damos cuenta. Sigo hablando para ser oído. Y, si es posible, vivido...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Improviso quântico...

Sim claro as palavras
as palavras excedem-te
as palavras confundem-te
andas às voltas com as palavras
e desentendes-te sempre
não há silêncios em que caibam
todas as palavras que sangram
tropeças sempre nas palavras
e repetes mecanicamente os mesmos substantivos
como se nenhuma gramática
pudesse ser revista e actualizada
tempo e espaço
espaço e tempo
e a morte que devora tudo
nas entrelinhas ilegíveis de Einstein.

Ademar
18.12.2007


Improvisación cuántico...

Sí claro las palabras
las palabras te sobrepasan
las palabras te confunden
andas a vueltas con las palabras
y te desentiendes siempre
no hay silencios en los que quepan
todas las palabras que sangran
tropiezas siempre en las palabras
y repites mecánicamente los mismos sustantivos
como si ninguna gramática
pudiera ser revista y actualizada
tiempo y espacio
espacio y tiempo
y la muerte que lo devora todo
en las entrelíneas ilegibles de Einstein.

Improviso sobre uma tela...

Todos os silêncios que embrulhas e me ofereces
têm a vida dentro a vida toda
essa respiração distraída
nos olhos que se cansam tão depressa de ver
tenho fome de palavras
que não me pertençam
atrapalho as noites
nas duas mãos que te sobram.

Ademar
17.12.2007


Improvisación sobre un lienzo...

Todos los silencios que envuelves y me regalas
tienen la vida dentro la vida entera
esa respiración distraída
en los ojos que se cansan tan deprisa de ver
tengo hambre de palabras
que no me pertenezcan
enmaraño las noches
en las dos manos que te sobran.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Improviso ainda gramatical...

Nunca entenderei nunca
repito o advérbio de tempo
para que o verbo
ainda que no futuro
não se sinta tão só
o entendimento
nunca conjuga na primeira pessoa do singular
nunca
mas se me concederes o teu pronome
entenderemos os dois
talvez no presente do indicativo.

Ademar
16.12.2007


Improvisación todavía gramatical...

Nunca entenderé nunca
repito el adverbio de tiempo
para que el verbo
si bien en futuro
no se sienta tan solo
el entendimiento
nunca conjuga en primera persona de singular
nunca
pero si me concedes tu pronombre
entenderemos los dos
quizá en presente de indicativo.

Improviso para voltar ao princípio...

Ponte suspensa sobre um leito de cogumelos
e nenhuma margem antes ou depois
não tenho mãos nem olhos para a colheita
apenas um precipício para saltar
se não temesse errar o salto e morrer contigo
cresces não sei de que chão
há fungos de formas que me confundem
silêncios que não ouço dentro de mim.

Ademar
16.12.2007


Improvisación para volver al principio...

Puente colgante sobre un lecho de setas
y ninguna orilla antes ni después
no tengo manos ni ojos para la cosecha
solo un precipicio para saltar
si no temiese errar el salto y morir contigo
creces no sé de qué suelo
hay hongos de formas que me confunden
silencios que no oigo dentro de mí.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Improviso para completar a ausência...

Morro talvez mais depressa
do que a própria morte contava
errei a janela do tempo
e troquei sem regresso a direcção das asas
quando os pés já tropeçavam
agora nem a voz me pertence
apenas as mãos que ainda escrevem
a distância na noite imprevista
as grades impostas à saudade
a trela tão lassa
dir-te-ei fugitiva que me sinto credor
de uma morte que não suba nem desça montanhas
em silêncio.

Ademar
15.12.2007


Improvisación para completar la ausencia...

Me muero tal vez más deprisa
de lo que la propia muerte esperaba
erré la ventana del tiempo
y confundí sin regreso la dirección de las alas
cuando los pies ya tropezaban
ahora ni la voz me pertenece
solo las manos que aún escriben
la distancia en la noche imprevista
las rejas impuestas a la añoranza
la correa tan floja
te diré fugitiva que me siento acreedor
de una muerte que no suba ni baje montañas
en silencio.

Improviso para adormecer o silêncio...

Corri quilómetros de palavras
para chegar aqui
à margem menos distante do lago
de todas as sombras
desacorrentei memórias
de outros silêncios
para não ir ao fundo
talvez seja inútil dizer-te
que não há noite
em que a lua adormeça.

Ademar
14.12.2007


Improvisación para dormir al silencio...

He corrido kilómetros de palabras
para llegar aquí
a la orilla menos distante del lago
de todas las sombras
he liberado recuerdos
de otros silencios
para no irme al fondo
quizá sea inútil decirte
que no hay noche
en la que la luna se duerma.

domingo, 1 de maio de 2011

Improviso para negar a superstição...

Todas as noites servem
para Sherazade
não importa a fase da lua
nem a face
todas as noites
o mesmo eco que respira
o mesmo silêncio
a mesma teimosia
e o mesmo implícito convite à voz do dia seguinte
na distância de todas as noites
talvez morramos amanhã
sem conhecer o fim da história
talvez amanhã seja
a milésima segunda noite
que não chegou a ser escrita
amanhã sexta-feira
mas já não dia treze.

Ademar
13.12.2007


Improvisación para negar la superstición...

Todas las noches le sirven
a Sherazade
no importa la fase de la luna
ni la faz
todas las noches
el mismo eco que respira
el mismo silencio
la misma obstinación
el mismo implícito convite a la voz del día siguiente
en la distancia de todas las noches
tal vez muramos mañana
sin conocer el fin de la historia
tal vez mañana sea
la milésima segunda noche
que no llegó a ser escrita
mañana viernes
pero ya no día trece.