terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Improviso na sombra de Apollinaire...

Sim confesso há palavras
que eu não sei ainda traduzir
palavras que me caem das mãos
como anéis desiludidos
e que me antecedem no tempo
de te imaginar
uma harpa sem cordas
talvez apenas o caixilho de uma ilusão
que entretém o pensamento
antes do desejo.

Ademar
23.01.2009


Improvisación a la sombra de Apollinaire...

Sí lo confieso hay palabras
que yo no sé aún traducir
palabras que se me caen de las manos
como anillos desengañados
y que me anteceden en el tiempo
de imaginarte
un arpa sin cuerdas
tal vez solo el marco de una ilusión
que entretiene el pensamiento
antes del deseo.

Improviso sob Ferré...

Sonhas-me mãos de veludo
nas esquinas sombrias da imaginação
e eu que tenho mãos
em que apenas circula um sangue antigo
que nunca enregela
nem na memória do veludo
mãos que viajassem por ti devagar
se ainda fosses um território
em que se pudesse viajar
mais de que um deserto
ou um campo de mistérios
ou o mar sempre indolente
que nem a lua desperta
é preciso saber navegar
para não perder o rumo das almas
quando as almas se encontram
no convés do desespero
se o desespero não fosse
uma forma superior do medo
como dirias
se não tivesses pensado exactamente
o contrário
sonhas-me gestos derramados de uma voz
que nunca ouviste
nas esquinas sombrias da imaginação
e eu que tenho uma voz
em que apenas circula um sangue antigo
que nunca enregela
nem na infinitude do teu silêncio.

Ademar
22.01.2009


Improvisación bajo Ferré...

Me sueñas las manos de terciopelo
en las esquinas sombrías de la imaginación
y yo que tengo manos
en las que solo circula una sangre antigua
que nunca se hiela
ni en el recuerdo del terciopelo
manos que viajarían por ti despacio
si aún fueras un territorio
en el que se pudiera viajar
más que un desierto
o un campo de misterios
o el mar siempre indolente
que ni la luna despierta
es preciso saber navegar
para no perder el rumbo de las almas
cuando las almas se encuentram
en la cubierta de la desesperación
si la desesperación no fuera
una forma superior de miedo
como dirías
si no hubieras pensado exactamente
lo contrario
me sueñas gestos derramados de una voz
que nunca has oído
en las esquinas sombrías de la imaginación
y yo que tengo una voz
en la que solo circula una sangre antigua
que nunca se hiela
ni en la infinitud de tu silencio.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Improviso para voltar a dizer carpe diem...

Antes temia o convite
da página em branco
ou da tela vadia
hoje dos olhos
que despem lentamente as palavras
e as suam por dentro
as perguntas
os silêncios
as paixões soletradas
ainda ao ritmo do desejo
escrevo talvez para que ames
apenas a poesia
que todas as noites te visita
nesta casa que agora pertence a ninguém
e já foi tua.

Ademar
21.01.2009


Improvisación para volver a decir carpe diem...

Antes temía el convite
de la página en blanco
o del lienzo vago
hoy de los ojos
que desnudan lentamente las palabras
y las sudan por dentro
las preguntas
los silencios
las pasiones deletreadas
aún al ritmo del deseo
escribo tal vez para que ames
nada más la poesía
que todas las noches te visita
en esta casa que ahora pertenece a nadie
y ha sido tuya.

Improviso em forma de banda desenhada para Barack Obama...

Hoje falo contigo
de homem para homem
digo
de branco para branco
ou se preferires
de preto para preto
nenhuma cegueira é mais cívica
do que esta
que não distingue a cor das epidermes
imagina
sou ainda do tempo de Harry Truman
já não puxei o lustro a Enola Gay
nem embalei o Little Boy
nasci depois
quando os comunistas começaram a comer criancinhas
à mesa do Senador
e devo em parte ao avô Dwight
ironia das ironias
ter sobrevivido ao feitiço das bruxas
embora ainda hoje esteja a pagar o crédito
das migalhas do general
fui adolescente com John
brinquei com ele na sala oval
aos meninos e às meninas
e chegámos até a projectar uma viagem secreta
à Indochina com Marguerite Duras
que Dallas abortou
foi com o tio Lyndon
que descobri finalmente Hollywood
e aprendi a soletrar à portuguesa Vietname
Watergate como sabes veio depois
com a liberdade de imprensa
e o 25 de Abril
e andei tão entretido por cá
que nem dei conta de que a Ford
entretanto
nacionalizara a Casa Branca
acordei a comer amendoins
mas foi uma experiência efémera e patética
depressa descobri
que o western saloon era a mais perfeita metáfora
da América dos pais fundadores
e um qualquer Charles Wilson
a partir do Texas digo do Congresso
era capaz de derrubar em dois tempos o império do mal
e foi assim que chegámos à família Bush
pai e filho armas e petróleo e betão armado
e não falo do espírito santo
porque a mulher do espírito santo
encomenda-te agora ao universo
de homem para homem
digo
de branco para branco
ou se preferires
de preto para preto
peço-te
quando te lembrarem que és
o quadragésimo quarto presidente
dos Estados Unidos da América
refugia-te humildemente numa tela
de Andrew Wyeth
esta por exemplo










e sorri.

Ademar
20.01.2009


Improvisación en forma de historieta para Barack Obama...

Hoy hablo contigo
de hombre a hombre
digo
de blanco a blanco
o si lo prefieres
de negro a negro
no hay ceguera más cívica
que esta
que no distingue el color de las epidermis
figúrate
soy todavía de los tiempos de Harry Truman
ja no le saqué lustre al Enola Gay
ni acuné al Little Boy
nací después
cuando los comunistas empezaron a comer niños
a la mesa del Senador
y le debo en parte al abuelo Dwight
ironía de las ironías
haber sobrevivido al hechizo de las brujas
si bien aún hoy esté pagando el crédito
de las migajas del general
fui adolescente con John
jugué con él en la sala oval
a los chicos y las chicas
y llegamos hasta a proyectar un viaje secreto
a Indochina con Marguerite Duras
que Dallas abortó
fue con el tío Lyndon
con quien descobrí finalmente Hollywood
y aprendí a deletrear a la portuguesa Vietname
Watergate como sabes vino después
con la libertad de prensa
y el 25 de Abril
y anduve tan entretenido por aquí
que ni me di cuenta de que la Ford
entre tanto
había nacionalizado la Casa Branca
me desperté comiendo cacahuetes
pero fue una experiencia efímera y penosa
rápido descubrí
que el western saloon era la más perfecta metáfora
de la América de los padres fundadores
y un tal Charles Wilson
desde Texas digo desde el Congresso
era capaz de derribar en dos tiempos el imperio del mal
y fue así como llegamos a la familia Bush
padre e hijo armas y petróleo y hormigón armado
y no hablo del espíritu santo
porque la mujer del espíritu santo
te encomienda ahora al universo
de hombre a hombre
digo
de blanco a blanco
o si lo prefieres
de negro a negro
te pido
cuando te recuerden que eres
el cuadragésimo cuarto presidente
de los Estados Unidos de América
refúgiate humildemente en un lienzo
de Andrew Wyeth
este por ejemplo

y sonríe.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Improviso antes que amanheça...

Há uma medida de luz
para o olhar
fora do corpo
nenhuma claridade se abre assim
ao excesso dos diafragmas predadores
escrevo entre as sombras
e aí descanso e distraio as palavras
para não perder nunca
a certeza do meu próprio horizonte
esse lugar onde me descubro sempre
desatento e imprestável ao sol.

Ademar
19.01.2009


Improvisación antes de que amanezca...

Hay una medida de luz
para la mirada
fuera del cuerpo
ninguna claridad se abre así
al exceso de los diafragmas predadores
escribo entre las sombras
y ahí descanso y distraigo las palabras
para no perder nunca
la certidumbre de mi propio horizonte
ese lugar donde me descubro siempre
desatento e inservible al sol.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Improviso confidencial...

Os machos em geral não entendem
que quando uma fêmea confessa
que anda com muita energia
isso não significa
pelo menos necessariamente
que ande com tesão e com vontade de foder
os machos aliás
também em geral
percebem muito pouco de fêmeas
e dos seus estados ou estádios de alma
refiro-me ao râguebi naturalmente
já imagino que vais dizer
que o teu amante parcial
esse que tem uma casa de mulher
e só veste roupa azul e conservadora
palavras tuas
merecia uma entrada porventura
menos gongórica
e que o sangue pedido
tarda a escorrer da tela
se queres mesmo sangue
dir-te-ei que ainda não percebi
quando me fazes certas confidências
sobre sindicalistas aéreos
se estás a tentar-me ao ciúme
ou ao ménage à trois
com legendas em japonês.

Ademar
18.01.2009


Improvisación confidencial...

Los machos en general no comprenden
que cuando una hembra confiesa
que anda con muchas energías
ello no significa
por lo menos necesariamente
que esté excitada y con ganas de follar
los machos además
también en general
entienden muy poco de hembras
y de sus estados o estadios de alma
me refiero al rugby naturalmente
ya me imagino que vas a decir
que tu amante parcial
ese que tiene una casa de mujer
y solo viste ropa azul y conservadora
palabras tuyas
merecía una entrada quizá
menos gongórica
y que la sangre pedida
tarda en escurrirse del lienzo
si quieres de verdad sangre
te diré que aún no he entendido
cuando me haces ciertas confidencias
sobre sindicalistas aéreos
si estás tentándome a los celos
o al ménage à trois
con subtítulos en japonés.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Improviso para renegar o esquecimento...

Na idade em que comecei a oscilar do umbigo
todos os meus amigos eram da extrema-esquerda
quando ser de esquerda não era mais do que um imperativo ético
ou uma pulsão libertária
alguns diziam-se em segredo comunistas
porque naquele tempo de tantas surdinas e censuras
o comunismo que o tempo nos consentia
não passava ainda de uma trincheira de desprendimentos
uma bondade uma coragem
e no dialecto marxista que então usávamos
éramos todos burgueses
digo
inimigos de classe de nós próprios
hoje
já quase não tenho amigos de esquerda
estão todos entretidos a coçar o umbigo
à porta do bordel da democracia
servindo de proxenetas.

Ademar
17.01.2009


Improvisación para renegar del olvido...

En la edad en la que empecé a vacilar del ombligo
todos mis amigos eran de extrema izquierda
cuando ser de izquerdas no era más que un imperativo ético
o una pulsión libertaria
algunos se decían en secreto comunistas
porque en aquel tiempo de tantas sordinas y censuras
el comunismo que el tiempo nos consentía
no pasaba aún de una trinchera de desprendimientos
una bondad un coraje
y en el dialecto marxista que entonces usábamos
éramos todos burgueses
digo
enemigos de classe de nosotros mismos
hoy
ya casi no tengo amigos de izquierdas
están todos entretenidos rascándose el ombligo
a la puerta del burdel de la democracia
haciendo de proxenetas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Improviso pedagógico...

Regressas sempre ao ventre da fera
o lago onde adormecem os cisnes
que um dia já foram patos
nenhuma luz se abre
à metamorfose do corpo
e há cansaços mais antigos do que a água
que enrugam destinos
nas veias das tuas mãos.

Ademar
16.01.2009


Improvisación pedagógica...

Regresas siempre al vientre de la fiera
el lago donde se duermen los cisnes
que en su día fueron patos
ninguna luz se abre
a la metamorfosis del cuerpo
y hay cansancios más antiguos que el agua
que arrugan destinos
en las venas de tus manos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Improviso quase corânico...

Abdullah morreu
nas costas de Monet
sem assinatura nem dedicatória
um punhal apenas cravado
na memória de Montmartre
e uma certa saudade do monte dos vendavais
que sempre foi de sarilhos
as fotografias porém eram lindíssimas
dizes
África
a norte ou a sul do equador
de todas as literaturas
fica sempre tão bem na parede.

Ademar
15.01.200


Improvisación casi coránica...

Abdullah ha muerto
en la espalda de Monet
sin firma ni dedicatoria
un puñal simplemente clavado
en la memoria de Montmartre
y una cierta nostalgia de cumbres borrascosas
que siempre ha sido de líos
las fotografías sin embargo eram preciosas
dices
África
al norte o al sur del ecuador
de todas las literaturas
queda siempre tan bien en la pared.

Improviso quase criacionista...

O esforço é inútil
e a crença
algo patética
os macacos estão geneticamente preparados
para ser macacos
e nunca serão outra coisa
senão macacos
por mais que Darwin os incentive
à antropológica superação
na república ou no reino dos macacos
mandará sempre quem primeiro
chegar à bananeira.

Ademar
14.01.2009


Improvisación casi creacionista...

El esfuerzo es inútil
y la creencia
algo patética
los monos están genéticamente preparados
para ser monos
y nunca serán otra cosa
sino monos
por más que Darwin los incentive
a la antropológica superación
en la república o en reino de los monos
mandará siempre el primero
en llegar al banano.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Improviso para viola d'arco e superego...

Nunca até hoje
me apaixonara por um nariz
mas a verdade é que há
irrelevâncias perfeitas
e o objecto do desejo pode ser mesmo
uma irrelevância
um nariz
quando fui menos velho
não me deixava seduzir
senão pela tela inteira
depois passei a usar óculos
para ver ao longe
e fui perdendo
a noção de proximidade
digo a visão
agora
deve ser da idade
já só atendo aos pormenores
e dou comigo até
a erotizar o nariz
o teu nariz
só depois
confesso
reparei na aliança
como o tempo da paixão
ou do desejo
pode ser tão breve.

Ademar
13.01.2009


Improvisación para viola y superego...

Nunca hasta hoy
me había enamorado de una nariz
pero la verdad es que hay
irrelevancias perfectas
y el objeto del deseo puede ser realmente
una irrelevancia
una nariz
cuando fui menos viejo
no me dejaba seducir
sino por el lienzo entero
después pasé a usar gafas
para ver de lejos
y fui perdiendo
la noción de cercanía
digo la visión
ahora
debe ser por la edad
ya solo atiendo a los pormenores
y me descubro hasta
erotizando la nariz
tu nariz
sólo despois
confieso
me fijé en la alianza
cómo puede ser tan breve
el tiempo de la pasión
o del deseo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Improviso recessivo...

Nem o Místico
uma conveniência de bairro
resistiu à crise
hoje
um aviso na porta
antecipava a solução final
encerrado para obras
(de falência)
confesso que não sei
o que são obras
(de falência)
mas espero que o governo
intervenha depressa
para salvar o Mistico
no Místico
eu encontrava todos os vizinhos
que me interessam
o pregoeiro de Fausto
a gueixa que ainda está a dever-me
uma matiné a três dimensões
o sr. Manuel
que nunca me recusava a dose de morfina
e um cego que traduzia Maiakovski
a partir do original em braille
e dançava o tango masoquista
com Florbela Espanca
no Místico eu era feliz
e pagava sempre em libras
esterlinas.

Ademar
12.01.2009


Improvisación recesivo...

Ni el Místico
una tienda de barrio
ha resistido la crisis
hoy
un aviso en la puerta
anticipaba la solución final
cerrado por obras
(de quiebra)
confieso que no sé
qué son obras
(de quiebra)
pero espero que el gobierno
intervenga deprisa
para salvar al Místico
en el Místico
yo encontraba a todos los vecinos
que me interesan
al pregonero de Fausto
a la geisha que aún me debe
una matiné en tres dimensiones
al sr. Manuel
que nunca me negaba la dosis de morfina
y a un ciego que traducía a Mayakovski
a partir del original en braille
y bailaba el tango masoquista
con Florbela Espanca
en Místico yo era feliz
y pagaba siempre en libras
esterlinas.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Improviso de ontologia...

A infantaria das almas
não há batalha que não perca
nem guerra
as sombras
fazem ainda parte dos corpos
que ajoelham
e nenhuma luz é mais ávida
do que o vento
quando o vento revolve
os interstícios da terra.

Ademar
11.01.2009


Improvisación de ontología...

La infantería de las almas
no hay batalla que no pierda
ni guerra
las sombras
forman aún parte de los cuerpos
que se arrodillan
y ninguna luz es más ávida
que el viento
cuando el vento revuelve
los intersticios de la tierra.

Improviso em forma de carta...

Antes do arejo
não sei se do tango ou da salsa
pedes-me de Paris
um improviso suculento e lento
talvez na voltagem de Debussy
esqueceste com a pressa de acrescentar
como quem não quer a coisa
dar-te-ei notícias de Portugal
sem vírgulas e com as orações despenteadas
como preferes
eu sei nós sabemos que Portugal cabe
numa fotografia de corpo inteiro
e não sobra muito mais
talvez um quarto uma biblioteca
um rio ou as suas margens
e toda a música dessas partes do mundo
que já só nós conhecemos e amamos
como diria Álvaro de Campos
o suco da distância por estes dias é a neve
ao ritmo do fogo em que ardemos sempre devagar
ainda não sei de que lado da fronteira
ficam os Pirinéus.

Ademar
10.01.2009


Improvisación en forma de carta...

Antes del oreo
no sé si del tango o de la salsa
me pides desde París
una improvisación suculenta y lenta
tal vez en el voltaje de Debussy
se te ha olvidado con las prisas añadir
como quien no quiere la cosa
te daré notícias de Portugal
sin comas y con las oraciones despeinadas
como prefieres
yo lo sé nosotros sabemos que Portugal cabe
en una fotografía de cuerpo entero
y no sobra mucho más
tal vez una habitación una biblioteca
un río o sus orillas
y toda la música de esas partes del mundo
que ya solo nosotros conocemos y amamos
como diría Álvaro de Campos
el surco de la distancia estos días es la nieve
al ritmo del fuego en el que ardemos siempre despacio
aún no sé de qué lado de la frontera
quedan los Pirineos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Improviso quase coloquial...

Faça o favor de limpar os pés
antes de pensar
ou calce as sandálias ou as pantufas
não imagina como a burrice deprime
a humanidade
para já não falar na falta de higiene
e não apenas a mental
faça pelo menos um esforço
para cheirar a ironia
lembre-se de que
nem todo o pensamento é binário
ou rasteiro
e a estupidez tem sempre
medidas curtas
mais curtas ainda do que os seus próprios pés
seja como for
de uma forma ou de outra
faça o favor de ser gente
pelo menos um pouco mais.

Ademar
09.01.2009


Improvisación casi coloquial...

Haga el favor de limpiarse los pies
antes de pensar
o cálcese las sandalias o las zapatillas
no se imagina cómo deprime la burricie
a la humanidad
por no hablar ya de la falta de higiene
y no solo la mental
haga por lo menos un esfuerzo
por oler la ironía
recuerde que
no todo pensamiento es binario
o rastrero
y la estupidez tiene siempre
medidas cortas
más cortas todavía que sus propios pies
sea como sea
de una forma o de otra
haga el favor de ser persona
por lo menos un poco más.

Improviso ferroviário...

Recordo esses dois comboios
na estação terminal de Braga
aquele em que chegaste
e aquele que perdeste
até hoje não percebi
se seriam o mesmo
ou eu nunca existi.

Ademar
08.01.2009


Improvisación ferroviaria...

Recuerdo esos dos trenes
en la estación terminal de Braga
aquel en el que llegaste
y aquel que perdiste
aún hoy no he entendido
si eran el mismo
o yo nunca he existido.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Improviso para Gaza...









Parai a guerra please
por razões humanitárias
três horas apenas
três horas bastam
mais não é preciso
para enterrar em segurança as mulheres e as crianças
e alimentar as próximas vítimas
uma guerra sem intervalos humanitários
é uma violência
enquanto não morrem
os soldados também precisam de foder.

Ademar
08.01.2009


Improvisación para Gaza...

Parad la guerra please
por razones humanitarias
tres horas nada más
tres horas bastan
más no es necesario
para enterrar con seguridad a las mujeres y a los niños
y alimentar a las próximas víctimas
una guerra sin intermedios humanitarios
es una violencia
mientras no mueren
los soldados también necesitan follar.

Improviso a caminho...

A selva no lugar do jardim
é lá que te encontro e te perco
nas horas de nos cruzarmos
as jaulas são as casas
que nunca adormeces
ou adormeces sempre mais tarde
conto nas sombras do teu corpo
os passos que me sobram
para atravessar a fronteira
e sigo a luz mais próxima do sol
treslendo as cartas que confundo com a bússola.

Ademar
07.01.2009


Improvisación en camino...

La selva en el lugar del jardín
es ahí donde te encuentro y te pierdo
en las horas de cruzarnos
las jaulas son las casas
que nunca duermes
o duermes siempre más tarde
cuento en las sombras de tu cuerpo
los pasos que me quedan
para atravesar la frontera
y sigo la luz más próxima al sol
leyendo al revés las cartas que confundo con la brújula.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Improviso para tresler o antigo testamento...

Hoje escrevi
imagino o céu uma imensa chicoteria
dez graus negativos em Paris
e uma braseira na faixa de Gaza
notoriamente
as trombetas estão desafinadas.

Ademar
06.01.2009


Improvisación para leer el antiguo testamento al revés...

Hoy he escrito
me imagino el cielo una inmensa azotería
diez grados bajo cero en París
y un brasero en la franja de Gaza
notoriamente
las trompetas están desafinadas.

Improviso para relicário...

Já não sei como conserve
fora do congelador
o pénis de Napoleão Bonaparte
sim sou eu que o tenho
o santo lenho
o corpo de São Tiago
e a própria arca de noé
são relíquias a mais
para um condomínio tão estreito
sinto a alma
cada vez mais quadrada
e não encontro comprador.

Ademar
05.01.2009


Improvisación para relicario...

Ya no sé cómo conservar
fuera del congelador
el pene de Napoleón Bonaparte
sí soy yo quien lo tiene
el santo madero
el cuerpo de Santiago
y la mismísima arca de noé
son reliquias de más
para tan reducido condominio
siento el alma
cada vez más cuadrada
y no encuentro comprador.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Improviso colateral...

Dizes que o azul morre sempre
nas costas do luar
para que eu interrogue a memória das noites
e procure a chave no vento
onde as manhãs férteis se escondem
talvez na linha do horizonte mais íntimo
as janelas se abram ainda para o mar
e a terra não termine sempre
preguiçosamente
num cais.

Ademar
04.01.2008


Improvisación colateral...

Dices que lo azul muere siempre
por detrás del claro de luna
para que yo interrogue la memoria de las noches
y busque la clave en el viento
donde las mañanas fértiles se esconden
tal vez en la línea del horizonte más íntimo
las ventanas se abran todavía al mar
y la tierra no termine siempre
perezosamente
en un muelle.

Improviso para posta restante...

Exibe com fluência fetichista
os pés e as pernas
e os adereços correlativos
e salta e dança muito sobre si própria
para que todos percebam
que perdeu o rabo antigo
na guerra dos sexos
e a vergonha em Lisboa
ou algures em Bruxelas de alcova
jardins incluídos
tem muitas amantes e admiradoras
nos intervalos de cheirar o labrego pátrio
entre duas pedradas de fado da Deolinda
e chá de tia
que já foi de tília
nas horas de ócio do espelho
padece de vertigens literárias
e então escreve a néon em catadupa
como se receasse ainda perder-se
na floresta das cores que já foram palavras
há mulheres que sofrem assim
e eu em verdade vos digo
sofro muito com elas.

Ademar
03.01.2009


Improvisación para lista de correos...

Exhibe com fluencia fetichista
los pies y las piernas
y los aderezos correlativos
y salta y baila mucho sobre sí misma
para que todos entiendan
que ha perdido el culo antiguo
en la guerra de los sexos
y la verguenza en Lisboa
o en algún lugar en Bruselas de alcoba
jardines incluidos
tiene muchas amantes y admiradoras
en los intervalos en que huele al gañán patrio
entre dos tajadas de fado de Deolinda
e infusión de tía
que antes fue de tila
en las horas de ocio del espejo
padece de vértigos literarios
y entonces escribe con neón en cascada
como si temiera aún perderse
en el bosque de los colores que antes fueron palabras
hay mujeres que sufren así
y yo en verdad os digo
sufro mucho con ellas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Improviso de amor ou ainda não...

Nunca escrevi poemas de amor
porque nunca aprendi a escrever
poemas de amor
e nunca me ensinaram a escrever
poemas de amor
e de resto se bem me lembro
nunca ninguém esperou de mim
que escrevesse poemas de amor
confesso porém que tentei
por imitação
escrever poemas que fossem de amor
ou pelo menos parecessem
poemas de amor
falhei sempre
ainda hoje não sei porquê.

Ademar
02.01.2009


Improvisación de amor o todavía no...

Nunca he escrito poemas de amor
porque nunca aprendí a escribir
poemas de amor
y nunca me enseñaron a escribir
poemas de amor
y por lo demás si mal no recuerdo
nunca nadie ha esperado de mí
que escribiera poemas de amor
confieso sin embargo que he intentado
por imitación
escribir poemas que fueran de amor
o por lo menos parecieran
poemas de amor
he fracasado siempre
todavía hoy no sé porqué.

Improviso sem arreios...

Hoje fui visitado por Deus
que me concedeu o exclusivo da Sua palavra
a partir de agora
a Sua verdade
serei eu a proclamá-la
primeira revelação
só os cegos reconhecem a divindade
nas cores do arco-íris
segunda revelação
nenhum orgasmo tem arestas.

Ademar
01.01.2009


Improvisación sin arreos...

Hoy fui visitado por Dios
que me concedió la exclusiva de Su palabra
a partir de ahora
Su verdad
seré yo quien la proclame
primera revelación
solo los ciegos reconocen la divinidad
en los colores del arcoíris
segunda revelación
ningún orgasmo tiene aristas.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Conduz-me discretamente
pelos canais da cidade proibida
que nenhuma vagina seja perfeita
entre tantos rumores de mulheres eclipsadas
nenhuma luz
às sombras
subtraia o teu corpo
entre os muros mais altos e impenetráveis
da cidade proibida
tudo hoje tem o sentido das trevas
os guardas à distância
observam-nos apenas
todas as vozes que caminham por nós
parecem ausentes
este é o país das bandeiras trocadas
aquele em que nos perderemos sempre
depois do pôr do sol.

Ademar
31.12.2008


Improvisación oriental...

Condúceme discretamente
por los canales de la ciudad prohibida
que ninguna vagina sea perfecta
entre tantos rumores de mujeres eclipsadas
ninguna luz
a las sombras
substraía tu cuerpo
entre los muros más altos e impenetrables
de la ciudad prohibida
todo hoy tiene el sentido de las tinieblas
los guardias a distancia
simplemente nos observan
todas las voces que caminan por nosotros
parecen ausentes
este es el país de las banderas cambiadas
aquel en el que nos perderemos siempre
tras la puesta de sol.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Improviso quase prosaico...

Hoje fui ao banco e descobri
que o meu gestor de conta
ainda é primo de Ali Babá
pelo lado dos quarenta ladrões
pedi o livro de reclamações
chamaram a polícia
fiquei de preventiva.

Ademar
30.12.2008


Improvisación casi prosaica...

Hoy fui al banco y descubrí
que mi gestor de cuenta
al final es primo de Alí Babá
por parte de los cuarenta ladrones
pedí el libro de reclamaciones
llamaron a la policía
me quedé en preventiva.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Improviso para descaprichar...

Escrevo apenas
para que saibas que estou vivo
ainda estou vivo nas palavras que escorro
pelo menos nestas
estar vivo é uma graça da natureza
frequentemente uma piada
faz-se tudo o que se pode para morrer
e a morte joga connosco à cabra-cega
fingindo que não percebe
essa puta vadia e calaceira.

Ademar
29.12.2008


Improvisación para descaprichar...

Escribo solamente
para que sepas que estoy vivo
aún estoy vivo en las palabras que escurro
por lo menos en estas
estar vivo es una gracia de la naturaleza
frecuentemente un chiste
se hace todo lo que se puede para morir
y la muerte juega con nosotros a la gallinita ciega
fingiendo que no entiende
esa puta vagabunda y perezosa.

Improviso para roteiro...

Faremos um filme sem figurantes
nem duplos
e os cenários não serão de papel
mas de barro que domine
os segredos íntimos do fogo
sem palavras
sem efeitos
a nudez apenas das serpentes
envenenando o tempo.

Ademar
28.12.2008


Improvisación para guión...

Haremos una película sin figurantes
ni dobles
y los escenarios no serán de papel
sino de barro que domine
los secretos íntimos del fuego
sin palabras
sin efectos
la desnudez nada más de las serpientes
envenenando el tiempo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Improviso gramatical...

Perguntas-me se te guardo
não sei se gralhaste o verbo
e antes quisesses perguntar
se te aguardo
as palavras e a vida são assim
por uma vogal se ganha
por uma vogal se perde.

Ademar
28.12.2008


Improvisación gramatical...

Me preguntas si te guardo
no sé se has errado el verbo
y lo que querías era preguntar
si te aguardo
las palabras y la vida son así
por una vocal se gana
por una vocal se pierde.

Improviso quase metereológico...

À minha volta
todas as estradas foram ficando intransitáveis
dizem as notícias
que as pontes são agora
muros de neve
que nenhuma luz atravessa
aqueço as mãos numa sombra
que a noite enregela
e deixo-me acender nas palavras
à distância.

Ademar
27.12.2008


Improvisación casi metereológica...

A mi alrededor
todas las carreteras se han ido volviendo intransitables
dicen las noticias
que los puentes son ahora
muros de nieve
que ninguna luz atraviesa
me caliento las manos en una sombra
que la noche congela
y me dejo encender en las palabras
a distancia.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Improviso para amortizar algo muito parecido com o amor...

Bebo ainda à tua saúde
amiga
como se agora só agora
a eternidade nos consentisse
um brinde fora de tempo
sempre estivemos do mesmo lado do balcão ou do cais
pagando a meias um destino impartilhável
e ouvindo aos marinheiros tantas epopeias sem gente dentro
como nos filmes de Fassbinder
não há saúde agora a que possamos mais beber
senão à nossa
foi por ela que perdemos e ganhámos tudo
e foi por nós que sempre fingimos
que não era nada connosco.

Ademar
26.12.2008


Improvisación para amortizar algo muy parecido al amor...

Bebo aún a tu salud
amiga
como si ahora solo ahora
la eternidad nos consintiera
un brindis a destiempo
siempre hemos estado del mismo lado de la barra o del muelle
pagando a medias un destino incompartible
y oyéndoles a los marineros tantas epopeyas sin gente dentro
como en las películas de Fassbinder
no hay salud ahora a la que podamos ya beber
sino a la nuestra
por ella lo hemos perdido y ganado todo
y por nosotros siempre hemos fingido
que ni nos iba ni nos venía.

Improviso em forma de decreto para afixar nos locais de culto...

Ser livre dá muito trabalho
nada melhor do que viver espreguiçado
no meio do rebanho
e dizer sempre o que se espera
da obediência.

Ademar
25.12.2008


Improvisación en forma de decreto para colocar en los lugares de culto...

Ser libre da mucho trabajo
nada mejor que vivir perezosamente
en medio del rebaño
y decir siempre lo que se espera
de la obediencia.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Improviso ainda para vaguear...

Um violoncelo e um acordeão
um binómio mais do que improvável
entre tantas mãos que tropeçam
na partitura desta noite
sempre tão enjoada de palavras
sento os gestos à mesa
e sirvo-me sobre a toalha de linho
a memória de todas as ausências
que dormem comigo.

Ademar
24.12.2008


Improvisación aún para vagar...

Un violonchelo y un acordeón
un binomio más que improbable
entre tantas manos que tropiezan
en la partitura de esta noche
siempre tan hastiada de palabras
siento los gestos a la mesa
y me sirvo sobre el mantel de lino
el recuerdo de todas las ausencias
que duermen conmigo.

Improviso em forma de papagaio...

Não me desejes um feliz natal
nem um bom carnaval
já troco as mãos e os altares
e confundo tudo
sobreviverei apenas
se me lembrares.

Ademar
23.12.2008


Improvisación en forma de papagayo...

No me desees felices navidades
ni feliz carnaval
ya trabuco las manos y los altares
y lo confundo todo
sobreviviré sólo
si me recuerdas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Improviso para Confianzas...



Nada que o tango não liberte
o suor ou o pudor
ele há tantas viagens
que não saem do corpo
o cigarro que tu me acendes nos lábios
e o cigarro que eu te acendo na alma
morremos ambos
ou salvamo-nos assim
com este poema não dançaremos
nem nas margens da cama
nem na pista dos olhos
ainda não somos suficientemente estranhos
para entrelaçarmos as coxas
no desejo de um tango interdito a maiores.

Ademar
23.12.2008


Improvisación para Confianzas...

Nada que el tango no liberte
el sudor o el pudor
y es que hay tantos viajes
que no salen del cuerpo
el pitillo que tú me enciendes en los labios
y el pitillo que yo te enciendo en el alma
nos morimos ambos
o nos salvamos así
con este poema no bailaremos
ni en las orillas de la cama
nin en la pista de los ojos
aún no somos lo suficientemente extraños
para entrelazar los muslos
en el deseo de un tango prohibido a mayores.

Improviso quase patriótico...

Há dias em que perco o pé
por muito pouco
a impaciência bate-me
no lugar ainda do coração
e abro mapas
para trocar de país ou de condição
Portugal mata-me de overdose.

Ademar
22.12.2008


Improvisación casi patriótica...

Hay días en los que pierdo pie
por muy poco
la impaciencia me late
en el lugar aún del corazón
y abro mapas
para cambiar de país o de condición
Portugal me mata de sobredosis.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Improviso em forma quase de reportagem...

Ruínas que falam
como se a humanidade ainda as tocasse
antes do apodrecimento
as máscaras também derretem
quando ateadas pela raiva
a agenda do fogo pede apenas uma câmara
e a barbárie voa agora com as pedras
de um lado e do outro de nenhuma barricada
pandora percorre a europa descalça
e todos os ventos parecem segui-la.

Ademar
21.12.2008


Improvisación en forma casi de reportaje...

Ruinas que hablan
como si la humanidad todavía las tocara
antes de la pudrición
las máscaras también se derriten
cuando las atiza la rabia
la agenda del fuego pide solo una cámara
y la barbarie vuela ahora con las piedras
de un lado y del otro de ninguna barricada
pandora recorre europa descalza
y todos los vientos parecen seguirla.

Improviso para pompa e circunstância...

Colocar a primeira pedra neste poema
digo
a palavra inicial
inaugurar-me solenemente
para mais uma noite
desconhecendo a medida da sofreguidão
desse olhar que me acolhe
ou a indiferença
a poesia é uma embriaguez de palavras
com a alma dentro
nunca sei quem paga a conta do bar
ou o violoncelista
as musas são sempre oferta da casa
como os deuses.

Ademar
20.12.2008


Improvisación para pompa y circunstancia...

Colocar la primera piedra en este poema
digo
la palabra inicial
inaugurarme solemnemente
para una noche más
desconociendo la medida de las ansias
de esa mirada que me acoge
o la indiferencia
la poesía es una embriaguez de palabras
con el alma dentro
nunca sé quién paga la cuenta del bar
ni el violonchelista
a las musas siempre invita la casa
como a los dioses.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Improviso para antologia...

Ninguém sabe
entre deus e o diabo
de que segredos
me alimento
nem a mim próprio os desvendo
nem a terapeutas confesso
não pertenço a nenhuma tribo
nos meus segredos
nem a nenhuma condição
sou ainda mais livre
do que na morte.

Ademar
19.12.2008


Improvisación para antología...

Nadie sabe
entre dios y el diablo
de qué secretos
me alimento
ni a mí mismo me los desvendo
ni a terapeutas se los confieso
no pertenezco a ninguna tribu
en mis secretos
ni a ninguna condición
soy todavía más libre
que en la muerte.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Improviso para antítese...

As mentiras portáteis
pesam muito mais do que as poéticas
deus por exemplo
é um tupperware de mentiras
e a democracia não bebe de outro leite
nem o amor
escrevo ao contrário
por saber donde venho
adormeci há muito a contar ruínas
em vez de carneiros.

Ademar
18.12.2008


Improvisación para antítesis...

Las mentiras portátiles
pesam mucho más que las poéticas
dios por ejemplo
es un tupperware de mentiras
y la democracia no bebe de otra leche
ni el amor
escribo al revés
por saber de dónde venho
me dormí hace mucho contando ruinas
en vez de carneros.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Improviso para cântico...

Já escrevi tantas palavras
que sequei o dicionário em que me lia
agora refaço-me do cansaço das mãos
fingindo regressar às origens de mim
por caminhos cujas margens me estranham
esta peregrinação ao contrário
houvesse um deus que me esperasse
ou uma mulher ainda mais absoluta
no princípio de tudo.

Ademar
17.12.2008


Improvisación para cántico...

Ya he escrito tantas palabras
que he secado el diccionario en el que me leía
ahora me rehago del cansancio de las manos
fingiendo regresar a los orígenes de mí
por caminos cuyas orillas me extrañan
esta peregrinación al revés
si hubiera un dios que me esperara
o una mujer aún más absoluta
en el principio de todo.

Improviso para Desdémona...

As imagens dançam-se
no palco do pensamento
não aspiro a dançar contigo
fora de nós
num lugar que não fosse de absoluto recolhimento
não precisamos de vozes
para nos ouvirmos
nem de braços
para nos enlaçarmos
ele há tantos bazares
em que nunca compraremos o destino
das palavras abençoadas
a perfeição entretece-nos
nesse impossível de nos sabermos.

Ademar
16.12.2008


Improvisación para Desdémona...

Las imágenes se bailan
en el escenario del pensamiento
no aspiro a bailar contigo
fuera de nosotros
en un lugar que no fuese de absoluto recogimiento
no necesitamos voces
para oírnos
ni brazos
para enlazarnos
y es que hay tantos bazares
en que nunca compraremos el destino
de las palabras bendecidas
la perfección nos entreteje
en ese imposible de sabernos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Improviso para teclar...

Nas palmas das mãos
nunca tentes acariciar o fogo
nenhuma superfície é tão combustível
fecha antes os olhos e sorri
estarás sempre a um passo de nascer
enquanto faltares ao destino.

Ademar
15.12.2008


Improvisación para teclear...

En las palmas de las manos
nunca intentes acariciar el fuego
ninguna superficie es tan combustible
mejor cierra los ojos y sonríe
estarás siempre a un paso de nacer
mientras faltes al destino.

Improviso quase perfeito...

Não te agradeço o silêncio
nem o mais que de ti sobra
antes e depois das palavras
sempre tão breves e tão irregulares
não te agradeço o pudor nem o medo
sobre os telhados da insónia
em que dormes sem braços
não te agradeço a compreensão
de como tudo tão lentamente floresce
numa primavera que não chegou a visitar-nos
não te agradeço a teimosia das nuvens
nem a ilusão do esquecimento
na incerteza de todas as distâncias inúteis
e menos ainda te agradeço o amor
esse amor sempre arranhado numa corda solta
que de tão pouco assim nos serve
quando troca a partitura.

Ademar
14.12.2008


Improvisación casi perfecta...

No te agradezco el silencio
ni nada que de ti sobra
antes y después de las palabras
siempre tan breves y tan irregulares
no te agradezco el pudor ni el miedo
sobre los tejados del insomnio
en el que duermes sin brazos
no te agradezco la comprensión
de cómo todo tan lentamente florece
en una primavera que no llegó a visitarnos
no te agradezco la tozudez de las nubes
ni la ilusión del olvido
en la incertidumbre de todas las distancias inútiles
y menos aún te agradezco el amor
ese amor siempre arañado en una cuerda suelta
que de tan poco así nos sirve
cuando cambia la partitura.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Improviso para heresia democrática...

Servem a vaidade
que os engrandece
e pouco mais
o poder é um jogo de sombras e aparências
disputado num ringue universal
em forma de tela
e as paixões têm rédea curta
nos palcos onde tudo se imita
até a certeza de uma causa
antes da farsa como é sabido
ensaiam a máscara ao espelho
dialogam com o teleponto
treinam frases e gestos
e refinam duas ou três poses de culto
para o retrato de caderneta
e o cartaz da propaganda
nos arraiais deste circo
todas as lágrimas e todos os gritos
são de plástico
até os orgasmos das putas
e tudo se paga
tudo se pega.

Ademar
13.12.2008

Improvisación para herejía democrática...

Sirven a la vanidade
que los engrandece
y poco más
el poder es un juego de sombras y apariencias
disputado en un ring universal
en forma de pantalla
y las pasiones tienen rienda corta
en los escenarios donde todo se imita
hasta la certeza de una causa
antes de la farsa como es sabido
ensayan la máscara al espejo
dialogan con el autocue
practican frases y gestos
y refinan dos o tres poses de culto
para el retrato de carné
y el cartel de la propaganda
en los festivales de este circo
todas las lágrimas y todos los gritos
son de plástico
hasta los orgasmos de las putas
y todo se paga
todo se coge.

Improviso para nota de rodapé...

Evito as palavras que não me obedecem
exijo-me ainda o poder de atracção do centro da terra
mas todos os adjectivos já foram usados e abusados
e a originalidade está pela hora da antologia
a poesia é agora um bordel de magníficas insignificâncias
um bordel barato
ao preço do ego de ocasião
escrevo apenas para repintar o silêncio.

Ademar
12.12.2008


Improvisación para nota a pie de página...

Evito las palavras que no me obedecen
me exijo aún el poder de atracción del centro de la tierra
pero todos los adjetivos ya han sido usados y abusados
y la originalidad cuesta un ojo de la antología
la poesía es ahora un burdel de magníficas insignificancias
un burdel barato
al precio del ego de ocasión
escribo nada más para repintar el silencio.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Improviso a pensar na europa...

Tens uma batida velha
swing de passos
que parecem tropeçar sempre na luz
um cheiro a pólvora de liberdade
embrulhada em medos originais
que nunca colonizaste
doem tão pouco as palavras
quando simplesmente nos curamos nelas.


Ademar
11.12.2008


Improvisación pensando en europa...
Tienes un ritmo viejo
swing de pasos
que parecen tropezar siempre en la luz
un olor a pólvora de libertad
envuelta en miedos originales
que nunca colonizaste
duelen tan poco las palabras
cuando simplemente nos curamos en ellas.

Improviso para inscrição tumular...

Não sei de altares
que não tenham a forma de mausoléu
morri no embalo de todos os deuses
e só fui eu
quando descobri o segredo
de ler a eternidade ao contrário.

Ademar
10.12.2008


Improvisación para inscripción tumular...

No sé de altares
que no tengan forma de mausoleo
me he muerto mecido por todos los dioses
y solo he sido yo
cuando he descubierto el secreto
de leer la eternidad al revés.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Improviso caleidoscópico...

Nenhum espelho é mais nítido
do que essa água em que te consentes submergir
nenhuma sombra recortará o perfil
do teu corpo fragmentado
perdeste o tempo da perfeição
numa lavoura antiga de incertezas
e a infância que nunca chegaste a brincar
apodreceu-te nas mãos
a luz proporciona-se sempre
à área disponível da alma.

Ademar
09.12.2008


Improvisación caleidoscópica...

No hay espejo más nítido
que esa agua en la que te consientes sumergir
ninguna sombra recortará el perfil
de tu cuerpo fragmentado
has perdido el tiempo de la perfección
en una labranza antigua de incertezas
y la infancia que nunca llegaste a jugar
se te pudrió en las manos
la luz se proporciona siempre
al área disponible del alma.