sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Improviso em forma quase de editorial...

Duas pedras
uma em cada mão
nenhuma luz ou sombra
a servir de alvo ou objecto
nenhum altar
nenhum deus
o puro desconsolo da ira
que te impele em direcção a um espelho
vazio
as ruas agora desabitadas
os sinos pesam como terra molhada
e já ninguém consegue tocá-los
há multidões que ainda choram uma criança desaparecida
diante da tela estreita de todas as noites
como se o universo coubesse todo
em Hitchcock
há multidões que tentam descer à cave
dos satélites
para disparar sobre o monstro
enquanto o presidente garante
civilização
há multidões que querem saber de tudo
e de nada
nessa indiferença assassina
entre a mesa e a cama
em que se deita o cansaço de todas as vidas
e há multidões refasteladas na espreguiçadeira do tédio
esperando apenas a tragédia
da próxima edição.

Ademar
01.05.2008


Improvisación en forma casi de editorial...

Dos piedras
una en cada mano
ninguna luz o sombra
que sirva de blanco u objeto
ningún altar
ningún dios
el puro desconsuelo de la ira
que te impulsa en dirección a un espejo
vacío
las calles ahora deshabitadas
las campanas pesan como tierra mojada
y ya nadie es capaz de tocarlas
hay multitudes que aún lloran a un niño desaparecido
ante la pantalla estrecha de todas las noches
como si el universo cupiera todo
en Hitchcock
hay multitudes que intentan bajar al sótano
de los satélites
para disparar sobre el monstruo
mientras el presidente garantiza
civilización
hay multitudes que quieren saber de todo
y de nada
en esa indiferencia asesina
entre la mesa y la cama
en la que se acuesta el cansancio de todas las vidas
y hay multitudes repantingadas en la tumbona del tedio
esperando unicamente la tragedia
de la próxima edición.