terça-feira, 13 de março de 2012

Improviso sobre uma voz...

Uma voz que agora desconheço
lê devagar palavras
que provavelmente terei escrito
não sei há quantos anos
nem em que vida
a voz parece ter a mesma urgência
das palavras
mas nenhuma memória me reconduz
à circunstância dessa íntima leitura
sei apenas que é uma voz de mulher
e diz no fim
como se assinasse um pôr-do-sol ilustrado
“tão lindo”
nunca terei amado essa mulher
que tão intensamente me dizia
continuará a ler-me?

Ademar
10.03.2009


Improvisación sobre una voz...

Una voz que ahora desconozco
lee despacio palabras
que probablemente haya escrito
no sé hace cuántos años
ni en qué vida
la voz parece tener la misma urgencia
que las palabras
pero ningún recuerdo me reconduce
a la circunstancia de esa íntima lectura
sé nada más que es una voz de mujer
y dice al final
como si firmara una puesta de sol ilustrada
“qué bonito”
nunca habré amado a esa mujer
que tan intensamente me recitaba
¿seguirá leyéndome?

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