segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Improviso para Brecht... *

Antologia poética (467)...









Brecht
meu cúmplice de tantos dramas
a guerra por aqui
está pela hora do nosso inimigo de sempre
degrada-se o armamento
com o excesso de uso
e os projécteis
já não matam como outrora
inquieta-me todo este desperdício
hoje dispara-se à toa
falta treino de poupança
aos generais
o crédito sopra a indústria da morte
e a morte coitada
faz horas extraordinárias
para abastecer o mercado
mas a guerra não pára
a guerra não pára
e os orçamentos não chegam
para pagar tanta guerra
acabaremos todos nos braços da banca
essa puta inefável.

Ademar
02.08.2006

* A imagem que ilustra o "improviso" reproduz uma litografia de Mabel Dwight.


Antología poética (467)...

Improvisación para Brecht... *

Brecht
cómplice mío de tantos dramas
la guerra por aquí
está a favor de nuestro enemigo de siempre
se degrada el armamento
con el exceso de uso
y los projectiles
ya no matan como antaño
me inquieta todo este desperdicio
hoy se dispara al tuntún
les falta entreno de ahorro
a los generales
el crédito infla la industria de la muerte
y la muerte la pobre
hace horas extraordinarias
para abastecer el mercado
pero la guerra no para
la guerra no para
y los presupuestos no llegan
para pagar tanta guerra
acabaremos todos en los brazos de la banca
esa puta inefable.

* La imagen que ilustra la "improvisación" reproduce una litografía de Mabel Dwight.

2 comentários:

Alexandre de Castro disse...

Bertolt Brecht constituiu-se num dos meus autores de referência. Descobri-o, quando tinha 20 anos, altura em que comecei a estruturar o meu pensamento ideológico, político e literário. Isto, antes do 25 de Abril, quando ler Brecht era altamente suspeito e até perigoso.
Brecht marcou o seu tempo, quer como poeta, quer, principalmente, como dramaturgo, em que a sua obra é genial. As suas obras seguiram uma linha de continuidade temática, centradas no Homem (leia-se) povo como o agente da História. Soube retratar, através da criação e da caracterização das suas personagens, a opressão dos poderes constituídos sobre o povo e a luta heróica que esse mesmo povo deveria desencadear para ser o único dono do seu destino, tendo por pano de fundo uma narrativa que se enquadra, e a expressão é minha, no "realismo heróico".
Permita-me, Maria Alonso, que insira aqui um outro poema deste autor, para que os leitores o fiquem a conhecer melhor.
Não posso deixar de também referir a importância do Professor Catedrático de Letras da Universidade de Coimbra, já falecido,Paulo Quintela, na divulgação de Brecht em Portugal, através das exemplares traduções da maior parte da sua obra.
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General, o teu tanque é um carro forte


General, o teu tanque é um carro forte.
Arrasa um bosque e esmaga cento de homens.
Mas tem um defeito:
Precisa de um condutor.

General, o teu bombardeiro é forte.
Voa mais rápido que uma tempestade
e carrega mais que um elefante.
Mas tem um defeito:
Precisa de um mecânico.

General, o homem é muito hábil.
Sabe voar e sabe matar.
Mas tem um defeito:
Sabe pensar.

Bertolt Brecht

Tradução de Paulo Quintela

Sun Iou Miou disse...

Sempre grata pelos seus comentários complementares, Alexandre.

Ai, com certeza, o homem sabe pensar, mas nem sempre usa essa capacidade.