quarta-feira, 21 de julho de 2010

15.03.2005

Antologia poética (33)...

Improviso (em prosa?) sobre um acordeão esquecido...

Há um instrumento musical em que sempre tropeço,
quando me levam pela mão a ouvi-lo: o acordeão.
Sento-me na soleira da porta da casa dos meus pais
fecho os olhos para fingir de cego
(ou fixo-os num ponto qualquer ausente em mim)
e toco.
Toco aquele velho e trôpego acordeão,
enquanto as beatas de mantilha negra
a caminho do ofício do terço (ou seria da verbena?)
deixam a moeda distraída no chapéu virado do avesso,
como agora a minha memória.
Os homens não levam a mão ao bolso.
A caridade é feminina.
E eu continuo a tocar para ninguém
o acordeão que me escorre dos dedos
(ou será da alma?).
Hei-de procurar-me lá:
na soleira da casa onde nasci.
Talvez me encontre
(ou a partitura)...

Ademar
15.03.2005


Antología poética (33)...

Improvisación (¿en prosa?) sobre un acordeón olvidado...

Hay un instrumento musical en el que siempre me tropiezo,
cuando me llevan de la mano a oírlo: el acordeón.
Me siento en el umbral de la puerta de la casa de mis padres
cierro los ojos para hacerme el ciego
(o los fijo en un punto cualquiera ausente en mí)
y toco.
Toco aquel viejo y torpe acordeón,
mientras las beatas de mantilla negra
camino del rosario (¿o sería de la verbena?)
dejan la moneda distraída en el sombrero vuelto del revés,
como ahora mi recuerdo.
Los hombres no se llevan la mano al bolsillo.
La caridad es femenina.
Y yo sigo tocando para nadie
el acordeón que se me escurre de los dedos
(¿o será del alma?).
Allí me buscaré:
en el umbral de la casa donde nací.
Tal vez me encuentre
(o la partitura)...

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