quarta-feira, 30 de junho de 2010

Improviso antes de dizer que não sei nadar...

Não tenho
carta de marinheiro
até três milhas do porto de abrigo
mais próximo
navego sempre nas águas interiores
do esquecimento
e nunca me reconheço na memória dos dias
nem na sua opulência
de embarcações e potências instaladas
nada sei
e o mar é apenas o sufixo
em que viajo
antes de todos os naufrágios.

Ademar
10.05.2010


Improvisación para no decir que no sé nadar...

No tengo
licencia de marinero
hasta tres millas del puerto de abrigo
más cercano
navego siempre en las aguas interiores
del olvido
y nunca me reconozco en la memoria de los días
ni en su opulencia
de embarcaciones y potencias instaladas
nada sé
y el mar es apenas el sufijo
en que viajo
antes de todos los naufrágios.

Improviso para amanhecer contigo...

Se visse menos
ver-te-ia melhor
a luz ambiciosa
transpira-me do olhar
e cega-me para a tua verdade
que a tens tão próxima do chão
ou das nuvens
ou do sol
se visse menos
ver-te-ia maior
muito maior do que o silêncio
com que te dizes
nesse dialecto tão antigo.

Ademar
09.05.2010


Improvisación para amanecer contigo...

Si viese menos
te vería mejor
la luz ambiciosa
me transpira de la mirada
y me ciega para tu verdad
que la tienes tan cercana al suelo
o a las nubes
o al sol
si viese menos
te vería mayor
mucho mayor que el silencio
con que te dices
en ese dialecto tan antiguo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Improviso para distrair o lirismo...

Abro e fecho agora janelas
para que o pensamento respire
e transpire
todas as casas são universos contidos
e em nenhuma sombra doméstica
perscruto a confidência de uma luz
que nos conjugue na distância
o equilíbrio de todas as memórias é tão precário
que até as palavras tropeçam na tela
quando apenas o silêncio as conduz
se amanhã não chover
subirei os estores
e voarei por aí.

Ademar
08.05.2010


Improvisación para distraer el lirismo...

Abro y cierro ahora ventanas
para que el pensamiento respire
y transpire
todas las casas son universos contenidos
y en ninguna sombra doméstica
escruto la confidencia de una luz
que nos conjugue en la distancia
el equilibrio de todos los recuerdos es tan precario
que hasta las palabras tropiezaen el lienzo
cuando sólo el silencio las guía
si mañana no llueve
subiré las persianas
y volaré por ahí.

Improviso para explicar a luz...

Imaginai a largueza dos olhos
quando os olhos adormeciam apenas
nas palavras
e todos os horizontes tinham
a narrativa dentro
e todas as imagens
eram tão falsas ou verdadeiras
como as rugas das mãos domesticadoras
imaginai a largueza dos olhos
quando tudo o que se podia saber
cabia na perfeição do pensamento
e nenhum futuro era mais urgente
do que a memória.

Ademar
07.05.2010


Improvisación para explicar la luz...

Imaginad la largueza de los ojos
cuando los ojos se adormecían sólo
en las palabras
y todos los horizontes tenían
la narrativa dentro
y todas las imágenes
eran tan falsas o verdaderas
como las arrugas de las manos domesticadoras
imaginad la largueza de los ojos
cuando todo lo que se podía saber
cabía en la perfección del pensamiento
y ningún futuro era más urgente
que la memoria.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Improviso masculino e muito democrático para maiores de trinta e seis anos...

Farfalha a nação
que tão cabrestamente representas
farfalha-me
se tiveres ainda tesão para tanto
furta-me tudo
menos os testículos
preciso deles
para te foder.

Ademar
06.05.2010


Improvisación masculina e muy democrática para mayores de treinta y seis años...


Parlotea la nación
que tan cabestramente representas
parlotéame
si es que aún se te pone así tan tiesa
prívame de todo
salvo de los testículos
los necesito
para joderte.

Improviso antes do ponto (final)...

Não acrescento véus
ao teu rosto
nem luzes
em que ardesses devagar
no abismo dos meus olhos
todas as imagens são falsas
nada te pertence
nem mesmo as palavras
com que te vestes
sobre a nudez do silêncio
digo
esse tão antigo pudor do Génesis
quando todas as mulheres morriam
no pecado original da imperfeição das serpentes.

Ademar
05.05.2010


Improvisación antes del punto (final)...

No añado velos
a tu rostro
ni luces
en que pudieses arder despacio
en el abismo de mis ojos
todas las imágenes son falsas
nada te pega
ni siquiera las palabras
con que te vistes
sobre la desnudez del silencio
digo
ese tan antiguo pudor del Génesis
cuando todas las mujeres se morían
en el pecado original de la imperfección de las serpientes.

Improviso para harpa e umbigo...

Não conheço gajas boas
boas boas boas
só conheço mesmo
as mulheres
que eu conheço
não sei ainda
se é das barbas
ou das mãos
ou da voz
mas todas as mulheres
que eu conheço
se bem que viajassem primeiro
com George Clooney
(opção hormonal)
à falta de melhor
depois
viajariam comigo.

Ademar
04.05.2010


Improvisación para arpa y ombligo...

No conozco tías buenas
buenas buenas buenas
sólo conozco de verdad
a las mulheres
que conozco
no sé sin embargo
si es por las barbas
o por las manos
o por la voz
pero todas las mujeres
que conozco
aunque viajasen primero
con George Clooney
(opción hormonal)
a falta de algo mejor
después
viajarían conmigo.

Improviso para acrescer melodia ao silêncio...

Poderia semear de adjectivos
o chão que pisas
se tivesse a exacta medida
dos teus pés
e neles ainda reconhecesse
o caminho incerto da consagração
mas já gastei todos os adjectivos
neste nirvana de ouvir apenas
ciclicamente
o rumor dos teus.

Ademar
03.05.2010


Improvisación para añadir melodía al silencio...

Podría sembrar de adjetivos
el suelo que pisas
si tuviese la exacta medida
de tus pies
y en ellos aún reconociese
el camino incierto de la consagración
pero ya me gastado todos los adjetivos
en este nirvana de oír sólo
cíclicamente
el rumor de los tuyos.

domingo, 27 de junho de 2010

Improviso para não sentenciar o vento...

Por vezes pedem-me uma opinião
uma crítica
eu respondo sempre
que não comento poesia
não sou professor de literatura
nem aspirante a porteiro da fama
basto-me como as crianças
com gostar ou não gostar
da substância e do cheiro das palavras
e mais não digo
a poesia
respeita-se simplesmente assim
como as mãos sempre únicas
de quem a esculpe
e os seus gemidos.

Ademar
02.05.2010


Improvisación para no sentenciar al viento...

A veces me piden una opinión
una crítica
yo respondo siempre
que no comento poesía
no soy profesor de literatura
ni aspirante a portero de la fama
me basta como a los niños
con que me guste o no me guste
la substancia y el olor de las palabras
y no digo más
la poesía
se respeta simplemente así
como las manos siempre únicas
de quien la esculpe
y sus gemidos.

Improviso para cheirar-te...

Alinho olfactos
em nenhuma parte do teu corpo
a tamanha distância impercorrível
e espero simplesmente que se calem
todos os perfumes
todas as fragrâncias
todos os aromas
dos dias lentamente sobrepostos
na aragem do tempo
para
no fim da vadiagem
escutar apenas a essência
da tua mais íntima e líquida e carismática
metamorfose.

Ademar
01.05.2010


Improvisación para olerte...

Alineo olfatos
en ninguna parte de tu cuerpo
a tanta distancia irrecorrible
y espero simplemente que se callen
todos los perfumes
todas las fragancias
todos los aromas
de los días lentamente sobrepuestos
en la brisa del tiempo
para
al terminar el vagabundeo
escuchar sólo la esencia
de tu más íntima y líquida y carismática
metamorfosis.

30.04.2010

Improviso para pedir esmola...

A despir-me nas palavras
descurei o guarda-roupa
e a nudez visitou-me
entre rasgões e remendos
não
não me sirvas mais
à mesa do desejo
o vinho
nem a antologia
veste-me apenas
como um sem-abrigo
e diz-me depois
antes não
que me queres assim.

Ademar
30.04.2010


Improvisación para pedir limosna...

Desvistiéndome en las palabras
he descuidado el guardarropa
y la desnudez me ha visitado
entre desgarrones y remiendos
no
no me sirvas más
en la mesa del deseo
el vino
ni la antología
vísteme simplemente
como a un sintecho
y dime después
antes no
que me quieres así.

29.04.2010

Improviso para dizer a inutilidade da poesia...

Nenhum portal
me conduz ao lugar
a que pertences
nenhum destino ou chamada
no bairro que frequentamos
que parece maior do que o universo
todos os desencontros
têm hora marcada
todas as esquinas se perdem
na intemporalidade da matéria
que nos conjuga.

Ademar
29.04.2010


Improvisación para expresar la inutilidad de la poesía...

Ningún portal
me conduce al lugar
al que perteneces
ningún destino o llamada
en el barrio que frecuentamos
que parece mayor que el universo
todos los desencuentros
tienen hora concertada
todas las esquinas se pierden
en la intemporalidad de la materia
que nos conjuga.

28.04.2010

Improviso para prontuário...

Felicidade
é uma palavra com sílabas a mais
e que rima com
idade
e com
saudade
e com
eternidade
nenhuma palavra a rimar assim
tem muito futuro dentro.

Ademar
28.04.2010


Improvisación para prontuario...

Felicidad
es una palabra con sílabas de más
y que rima con
edad
y con
añorad
y con
eternidad
ninguna palabra que rime así
tiene mucho futuro dentro.

sábado, 26 de junho de 2010

27.04.2010

Improviso para chatear um filho da puta que passa muito nas televisões...

És uma pessoa importante
eu sei
todos os dias as televisões me dizem
que és uma pessoa importante
presumo obviamente sobre tu
perdão
sobre ti
coisas óbvias
por exemplo
que caminhas sobre três pernas
que comes com duas bocas
e lambes com todas as línguas
que vês por muitos olhos
e que nos enrabas
pela frente e por trás
desculpa a linguagem
tão pouco consentânea
com a importância que te atribuem.

Ademar
27.04.2010


Improviso para chinchar a un hijo de puta que sale mucho en las televisiones...

Eres una persona importante
ya lo sé
todos los días las televisiones me dicen
que eres una persona importante
presupongo obviamente sobre tú
perdón
sobre ti
cosas obvias
por ejemplo
que caminas sobre tres piernas
que comes con dos bocas
y lames con todas las lenguas
que ves por muchos ojos
y que nos la metes
por delante y por detrás
disculpa el vocabulario
tan poco acorde
con la importancia que te atribuyen.

26.04.2010

Improviso para estereotipar...

Sim
os homens e as mulheres
as mulheres e os homens
digo
os machos e as fêmeas
as fêmeas e os machos
não importa por que ordem
(mas eu
denunciado no género
serei nesta desordem
certamente suspeito
reformulo então)
as mulheres e os homens
os homens e as mulheres
digo
as fêmeas e os machos
os machos e as fêmeas
não importa por que ordem
mas
(nenhum poema sobrevive
a um tamanho conflito de nebulosas).

Ademar
26.04.2010


Improvisación para estereotipar...


los hombres y las mujeres
las mujeres y los hombres
digo
los machos y las hembras
las hembras y los machos
no importa por qué orden
(pero yo
denunciado en el género
seré en este desorden
seguramente sospechoso
reformulo entonces)
las mujeres y los hombres
los hombres y las mujeres
digo
las hembras y los machos
los machos y las hembras
no importa por qué orden
pero
(ningún poema sobrevive
a tal conflicto de nebulosas).

25.04.2010

Improviso para dizer a cumplicidade...
Se tu espreitares
no mais íntimo
dos meus olhos
ver-te-ás
e nenhum silêncio
será mais
a cerca do nosso refúgio
se eu espreitar
no mais íntimo
dos teus olhos
ver-me-ei
e nenhum silêncio
será mais
a cerca do nosso refúgio
à volta da mesa
que nos destinaram
uma única cadeira
chegará para os três
e ainda sobraremos.

Ademar
25.04.2010


Improvisación para expresar la complicidad...

Si escudriñas
en lo más íntimo
de mis ojos
te verás
y ningún silencio
será ya
la cerca de nuestro refugio
si escudriño yo
en lo más íntimo
de tus ojos
me veré
y ningún silencio
será ya
la cerca de nuestro refugio
alrededor de la mesa
que nos han destinado
una única silla
bastará para los tres
y aún sobraremos.

24.04.2010

Improviso para liricar...

O teu silêncio cheira bem
mais intensamente do que a primavera
destas noites
que já prometem todos os vagares
o teu silêncio tem
muitas reservas dentro
o pudor e o poder
das origens da sedução
e o treino da sabedoria
que não arde entre os ponteiros
de nenhum medidor do tempo
o teu silêncio
é uma voz de longe
e tão próxima
como o mar
que intimamente nos embarca.

Ademar
24.04.2010


Improvisación para liricar...

Tu silencio huele bien
más intensamente que la primavera
de estas noches
que ya prometen toda la calma
tu silencio tiene
muchas reservas dentro
el pudor y el poder
de los orígenes de la seducción
y el adestramiento de la sabiduría
que no arde entre las agujas
de ningún medidor del tiempo
tu silencio
es una voz de lejos
y tan próxima
como el mar
que íntimamente nos embarca.

23.04.2010

Improviso para consagrar mais um milagre da natureza, à portuguesa...

Um escaravelho da família dos
rola-bosta ou
(à portuguesa)
vira-merda
chegou a
professor catedrático da
faculdade de direito da
universidade de lisboa
nem kafka antecipou
uma tão extraordinária e medonha
metamorfose
garantem as agências noticiosas
que nunca um escaravelho
oferecera à ciência jurídica
tantas pernas traseiras
e tanto excremento
para definitiva consagração da escola
dita superior
só falta mesmo que o rola-bosta
ou (à portuguesa) vira-merda
junte as apetências biológicas
à ratazana de turno.

Ademar
23.04.2010


Improvisación para consagrar otro milagro de la naturaleza, a la portuguesa...

Un escarabajo de la familia de los
peloteros o
(a la portuguesa)
gira-mierda
ha llegado a
professor catedrático de la
faculdad de derecho de la
universidad de lisboa
ni kafka previó
una tan extraordinaria y espantosa
metamorfosis
aseguran las agencias noticiosas
que nunca un escarabajo
había ofrecido a la ciencia jurídica
tantas piernas traseras
y tanto excremento
para la definitiva consagración de la escuela
llamada superior
únicamente falta que el pelotero
o (a la portuguesa) gira-mierda
una las apetencias biológicas
a la rata de turno.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

22.04.2010

Improviso para te dizer ainda Barcelona...

Tens razão
a poesia é a arte superior
da imobilidade
subo e desço as Ramblas
todas as noites
e raramente te encontro
senão nos gestos suspensos
da estátua que todos fotografam
e levam para casa
és tu
e nenhum outro silêncio
tem a eloquência do teu olhar
e uma tão perfeita inexistência.

Ademar
22.04.2010


Improvisación para decirte todavía Barcelona...

Tienes razón
la poesia es el arte superior
de la inmovilidad
subo y bajo las Ramblas
todas las noches
y raramente te encuentro
sino en los gestos suspendidos
de la estatua que todos fotografían
y se llevan a casa
eres tú
y ningún otro silencio
tiene la elocuencia de tu mirada
y una tan perfecta inexistencia.

21.04.2010

Improviso para sonata...

Para te colar à memória
de mais uma noite
hesito
entre dois temas
de Johann Sebastian Bach
as mãos e os pés
ou
como se te dissesse
a lua e o sol
há um lugar entre nós
que não nos pertence
essa fronteira
tão apressada na invisibilidade
que só o mistério desenha
na distância e no desejo
das palavras.

Ademar
21.04.2010


Improvisación para sonata...

Para pegarte al recuerdo
de una noche más
dudo
entre dos temas
de Johann Sebastian Bach
las manos y los pies
ou
como si te dijese
la luna y el sol
hay un lugar entre nosotros
que no nos pertenece
esa fronteira
tan apresurada en la invisibilidad
que sólo el misterio dibuja
en la distancia y en el deseo
de las palabras.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

20.04.2010

Improviso para distrair o olhar do silêncio...

Tomo o teu mundo de empréstimo
mas não me perco nos espelhos
falsamente servidos à interrogação
dos olhares enfeitiçados
nenhuma imagem diz
a incerteza das palavras
com que cativas a mudança
e nela sempre tropeças
confio-te apenas à claridade
das sombras que nos conduzem.

Ademar
20.04.2010


Improvisación para distraer la mirada del silencio...

Me cojo tu mundo prestado
pero no me pierdo en los espejos
falsamente servidos a la interrogación
de las miradas hechizadas
ninguna imagen dice
la incertidumbre de las palabras
con la que cautivas el cambio
y en ella siempre te tropiezas
te confío sólo a la claridad
de las sombras que nos conducen.

19.04.2010

Improviso para despertar...

Os meus santuários
desde a infância
abriram sempre para fora
e todos os cálices que ergui
tinham apenas a forma
de um útero de mãos vazias
com todas as palavras dentro
nos arredores da ausência
falas-me agora de colares
e de aguaceiros azúis
como se a gramática de tantas noites
ainda consentisse entre nós
corrigenda.

Ademar
19.04.2010


Improvisación para despertar...

Mis santuarios
desde la infancia
se han abierto siempre hacia afuera
y todos los cálices que he levantado
tenían sólo la forma
de un útero de manos vacías
con todas las palabras dentro
en los alrededores de la ausencia
me hablas ahora de collares
y de aguaceros azules
como si la gramática de tantas noches
aún consintiese entre nosotros
corrigenda.

18.04.2010

Improviso para parêntesis andaluz...

Tenho menos mãos
do que as necessárias
para cruzar as cordas
no andante nocturno
do quarteto nº2 de Borodin
e ainda que te procurasse
em todas as praças e esplanadas
de Sevilha
não te encontraria
que a noite mediterrânica
tão longe dos braços do Guadalquivir
perde-se sempre ou ganha-se
na impaciência das palavras
com que me (a)guardas.

Ademar
18.04.2010

Improvisación para paréntesis andaluz...

Tengo menos manos
que las necesarias
para cruzar las cuerdas
en el andante nocturno
del quarteto nº2 de Borodin
y aunque te buscase
en todas las plazas y terrazas
de Sevilla
no te encontraría
que la noche mediterránea
tan lejos de los brazos del Guadalquivir
se pierde siempre o se gana
en la impaciencia de las palabras
con que me (a)guardas.

17.04.2010

Improviso para dedilhar a última harpa...

Viajar sempre num labirinto de cordas
as mãos suspensas
e intimamente desvendar a fonte
o segredo
da harmonia de todas as vozes
em nenhuma casa
fomos mais felizes do que nessa
e em tempo algum.

Ademar
17.04.2010


Improvisación para puntear la última arpa...

Viajar siempre en un laberinto de cuerdas
las manos suspendidas
e íntimamente desvendar la fuente
el secreto
de la armonía de todas las voces
en ninguna casa
hemos sido más felices que en ésa
ni en ningún otro tiempo.

16.04.2010

Improviso para escala num cais qualquer...

Suspende uma palavra
uma palavra apenas
de todos e de cada um
dos fios do teu cabelo
e sai à vida assim
para que todos te leiam
no sentido das nuvens
ou do céu enfim azul
e que nenhuma rosa
da cor da casa tão longínqua
diga mais sobre o tempo
que te habita
do que o poema
que um dia escreverás
para quem não sabias.

Ademar
16.04.2010


Improvisación para escala en un muelle cualquiera...

Cuelga una palabra
una palabra sólo
de todos y de cada uno
de los hilos de tu pelo
y sal a la vida así
para que todos te lean
en el sentido de las nubes
o del cielo por fin azul
y que ninguna rosa
del color de la casa tan lejana
diga más sobre el tiempo
que te habita
que el poema
que un día escribirás
para quien no sabías.

15.04.2010

Improviso para epítome de um poema universal (sobre um tema de Eleni Karaindrou)...

Não guardo na mochila
todas as memórias
com que poderia viajar
há um peso limite
para além do qual
já não me pertenço
quero-me leve
nos teus olhos acolhedores
que o nosso segredo
assim dito
nunca nos pese de mais.

Ademar
15.04.2010


Improvisación para epítome de un poema universal (sobre un tema de Eleni Karaindrou)...

No guardo en la mochila
todos los recuerdos
con que podría viajar
hay un peso límite
más allá del cual
ya no me siento a gusto
me quiero leve
en tus ojos acogedores
que nuestro secreto
así dicho
nunca nos pese de más.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

14.04.2010

Improviso tardio para Mumuki...

Se não morrermos esta noite
digo-te
morreremos amanhã
ou talvez depois
sobre a eternidade em Veneza
a Veneza de todos os regressos adiados
não sei de nenhuma certeza
tão exigente como esta
e tão sábia.

Ademar
14.04.2010


Improvisación tardía para Mumuki...

Si no nos morimos esta noche
te digo
nos moriremos mañana
o tal vez después
sobre la eternidad en Venecia
la Venecia de todos los regresos aplazados
no sé de ninguna certidumbre
tan exigente como ésta
y tan sabia.

13.04.2010

Improviso para Sheherazade...

Concordância e saudades
dizes
e vias de extinção
não peças a nenhum deus
o livro de reclamações
nem o mapa íntimo
de todas as distâncias
escreve antes virtudes e rumores
no lugar da ausência
canções de amor talvez
cânticos celestiais
outros sonharão o vento
certamente
mas será ainda na perfeição
que nos guardaremos
como segredo.

Ademar
13.04.2010


Improvisación para Sheherazade...

Concordancia y nostalgia
dices
y vías de extinción
no le pidas a ningún dios
el libro de reclamaciones
ni el mapa íntimo
de todas las distancias
mejor escribe virtudes y rumores
en lugar de la ausencia
canción de amor tal vez
cánticos celestiales
otros soñarán el viento
seguro
pero será sin embargo en la perfección
donde nos guardaremos
como secreto.

12.04.2010

Improviso para paciência e atrevimento


















Improvisación para paciencia y atrevimiento...

Siento añoranza
de cuando me tratabas
respetuosamente
me sentía aún más mayor
de lo que me veías
el poema podría morir aquí
y sería perfecto.

11.04.2010

Improviso sobre um tema de Louis Armstrong...

Se vivesses
um pouco mais perto
do mundo
dirias talvez
que a felicidade não tem dias
mas átomos apenas
e que não há
na vertigem dos sonhos
costas mais largas
do que as costas
da eternidade
se vivesses
um pouco mais perto
do mundo
talvez soubesses
que o mundo começa e acaba
no olhar com que o abraças.

Ademar
11.04.2010


Improvisación sobre un tema de Louis Armstrong...

Si vivieses
un poco más cerca
del mundo
dirías tal vez
que la felicidad no tiene días
sino átomos unicamente
y que no hay
en el vértigo de los sueños
espalda más ancha
que la espalda
de la eternidad
si vivieses
un poco más cerca
del mundo
tal vez supieses
que el mundo empieza y se acaba
en la mirada con que lo abrazas.