quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Improviso até um dia...

Hoje preciso de dormir
duas noites ou mais
e fosse como fosse
não celebro nenhum aniversário
se vieres
usa a chave com que costumas abrir
o postigo do vento
e não me acordes
o corpo hoje pede-me eternidades
não sei se voltarei.

Ademar
24.10.2008


Improvisación hasta un día...

Hoy necesito dormir
dos noches o más
y sea como sea
no celebro ningún cumpleaños
si vienes
usa la llave con la que sueles abrir
el postigo del viento
y no me despiertes
el cuerpo hoy me pide eternidades
no sé si volveré.

Improviso para dizer, simplesmente, que a poesia não serve para nada...

Desempregados da vida
os poetas não aspiram a empregos
nem a futuros que a economia consagre
a poesia só gere mais valias
no mercado das incertezas
é um recolhimento interior
uma sombra no deserto
um cântico silencioso
que só ouve quem desce
ao lugar mais grávido de si.

Ademar
24.10.2008


Improvisación para decir, simplemente, que la poesía no sirve para nada...

Desempleados de la vida
los poetas no aspiran a empleos
ni a futuros que la economía consagre
la poesía solo administra plusvalías
en el mercado de las incertidumbres
es un recogimiento interior
una sombra en el desierto
un cántico silencioso
que solo oye quien desciende
al lugar más preñado de sí.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Improviso sobre "Dieu fumeur de havanes", de Serge Gainsbourg...


*
No balanço das vozes imortais
peitos que emagrecem apenas
na tela dos ossos
e as mãos que tremem o cigarro
na ponta dos dedos
essa certeza de que nunca quiseste ter
vinte anos
e ser tão virgem assim
de uma virgindade quase antropológica
tantas cadeiras no palco
tantos microfones para o silêncio
os lábios que beijam devagar
e as palavras que tropeçam na garganta
nenhum futuro cicatriza
nas asas que não voam.

Ademar
23.10.2008


Improvisación sobre "Dieu fumeur de havanes", de Serge Gainsbourg...

En el balanceo de las voces inmortales
pechos que adelgazan solo
en el lienzo de los huesos
y las manos que tiemblan el pitillo
en la punta de los dedos
esa certeza de que nunca has querido tener
veinte años
y ser tan virgen así
de una virginidad casi antropológica
tantas sillas en el escenario
tantos micrófonos para el silencio
los labios que besan despacio
y las palabras que tropiezan en la garganta
ningún futuro cicatriza
en las alas que no vuelan.







































*O vídeo que originariamente colocou o Ademar foi desactivado. Coloquei este no lugar por conter a mesma música.

Improviso ainda artesanal...

Mãos como teares
teço o que vestes
é pouco corpo
para tanto linho
sobram palavras
e dedos
e a tela porém
onde não cabes
parece infinita.

Ademar
22.10.2008


Improvisación todavía artesanal...

Manos como telares
tejo lo que vistes
es poco cuerpo
para tanto lino
sobran palabras
y dedos
y el lienzo en cambio
donde no cabes
parece infinito.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Improviso quase bíblico...

Tenho sempre medo
quando adormeço profundamente
que me roubem uma costela
eu também li o génesis
e sei o que aconteceu.

Ademar
22.10.2008


Improvisación casi bíblica...

Tengo siempre miedo
cuando me duermo profundamente
de que me roben una costilla
yo también leí el génesis
y sé lo que sucedió.

Improviso elementar...

Escrevo sobre despojos
memória exaustas
há uma ruína diária nas palavras
em que tropeço
a vida perde-se assim
numa lenta hemorragia de sentidos
o futuro regressa no tempo
a um tempo que já foi passado
a noite sussurra os pesadelos
que absurdamente sorriem
esse berço antigo que já não embala
nenhuma promessa
agora dizes-me cansado e aborrecido
e adivinhas exactamente como sangro
na luz que atravessa ainda a janela
de todos os dias.

Ademar
21.10.2008


Improvisación elemental...

Escribo sobre despojos
recuerdos exhaustos
hay una ruina diaria en las palabras
en que tropiezo
la vida se pierde así
en una lenta hemorragia de sentidos
el futuro regresa en el tiempo
a un tiempo que ha sido pasado
la noche susurra las pesadillas
que absurdamente sonríen
esa cuna antigua que ya no mece
ninguna promesa
ahora me dices cansado y aburrido
y adivinas exactamente cómo sangro
en la luz que atraviesa todavía la ventana
de todos los días.

domingo, 27 de novembro de 2011

Improviso para esgotar talvez a poesia...

Troco frases
por uma vida menos retórica
os orgasmos estão pela hora do vento
como as energias renováveis
poderia escrever tratados
sobre o medo do corpo
e a culpa do espelho
se não coleccionasse palavras como cromos
e não morresse devagar
(projecção recorrente)
no prazer solitário e ambíguo de todas as noites
troco frases
por uma luz apenas que me encandeie.

Ademar
20.10.2008


Improvisación para agotar tal vez la poesía...

Cambio frases
por una vida menos retórica
los orgasmos están por los vientos
como las energías renovables
podría escribir tratados
sobre el miedo del cuerpo
y la culpa del espejo
si no coleccionara palabras como cromos
y no me muriera despacio
(proyección recurrente)
en el placer solitario y ambiguo de todas las noches
cambio frases
por una luz simplemente que me encandele.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Improviso autografado para servir de epitáfio...











  
Improvisación autografiada para servir de epitafio...

Me he muerto despacio
porque siempre he tenido prisa
de vivir entero hasta el fin.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Improviso para viajar em contramão...

Estarei perto da praia
só não sei se pelo lado do mar
ou da terra
se tropeço antes
ou naufrago
receio ter perdido a bússola
ou alguém a escondeu
agora sigo o vento
na direcção talvez do cais
dos impossíveis.

Ademar
19.10.2008


Improvisación para viajar en sentido contrario...

Estaré cerca de la playa
solo que no sé si por el lado del mar
o de la tierra
si tropiezo antes
o naufrago
temo haber perdido la brújula
o alguien me la escondió
ahora sigo el viento
en direccción tal vez al muelle
de los imposibles.

Improviso em câmara lenta...

Hesitas sempre entre subir ou descer as escadas
sair ou entrar
não tens fome dizes
e nunca conjugas a mesa com a sobremesa
apetece-te apenas mais um cigarro
ou uma cerveja
tens o corpo fechado
e o destino suspenso do corpo
que não abre
há um lado do rosto que parece ter quebrado
como um espelho
e é desse lado que me espreitas
enquanto tremes por dentro do olhar.

Ademar
18.10.2008


Improvisación a cámara lenta...

Vacilas siempre entre subir o bajar las escaleras
salir o entrar
no tienes hambre dices
y nunca conjugas la mesa con el postre
te apetece nada más otro pitillo
o una cerveza
tienes el cuerpo cerrado
y el destino suspendido del cuerpo
que no se abre
hay un lado de la cara que parece haberse roto
como un espejo
y desde ese lado justamente me observas
mientras tiemblas por dentro de la mirada.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Improviso sobre a nudez...

Numa máscara
cabem todos os medos
agora já podes despir-te
as cicatrizes são tatuagens
sobra o caminho do género
no corpo predestinado
esse caminho que ainda não fizemos
como te direi
que nem as sombras nos pertencem
nem o chão
nenhuma nudez foi assim tão urgente.

Ademar
17.10.2008


Improvisación sobre la desnudez...

En una máscara
caben todos los miedos
ahora ya te puedes desvestir
las cicatrizes son tatuajes
queda el camino del género
en el cuerpo predestinado
ese camino que aún no hemos hecho
cómo te diré
que ni las sombras nos pertenecen
ni el suelo
ninguna desnudez ha sido así tan urgente.

Improviso quase naturalista...

Pântanos que cheiram a rosas
jardins desfeitos
que guardam saudades da terra original
a chuva e o vento
e as marés uterinas que transportam
os pólenes do big bang
os pés que já não acertam os passos
os passos que já não reconhecem os pés
rosas que perfumam os pântanos
jardins que guardam saudades
da terra original.

Ademar
16.10.2008


Improvisación casi naturalista...

Pantanos que huelen a rosas
jardines deshechos
que guardan nostalgia de la tierra original
la lluvia y el viento
y las mareas uterinas que transportan
los pólenes del big bang
los pies que ya no atinan los pasos
los pasos que ya no reconocen los pies
rosas que perfuman los pantanos
jardines que guardan nostalgia
de la tierra original.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Improviso sobre um tema de Toumani Diabaté...


Não digas lindíssimas as mãos
que te conduzem a África
por um caminho de cordas
vibra com elas
como se estivesses ainda para nascer
a paixão no corpo que ofereces
ao segredo lentamente partilhado
o sol que rasteja na virgindade da areia
humedecendo esse tão antigo deserto
em que viajas.

Ademar
15.10.2008


Improvisación sobre un tema de Toumani Diabaté...

No digas lindísimas las manos
que te conducen a África
por un camino de cuerdas
vibra con ellas
como si estuvieras aún por nacer
la pasión en el cuerpo que ofreces
al secreto lentamente compartido
el sol que se arrastra en la virgindad de la arena
humedeciendo ese tan antiguo desierto
en el que viajas.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Improviso quase pornográfico...

Hoje a lua jantou à minha mesa
trocámos apenas olhares silenciosos
e servimo-nos o desejo de noites intermináveis
não posso garantir que tenha sido
rapto ou sequestro
mas fomos ambos reféns do culto
da sobremesa
o infinito
ou algo assim.

Ademar
14.10.2008


Improvisación casi pornográfica...

Hoy la luna ha cenado a mi mesa
hemos cruzado solo miradas silenciosas
y nos hemos servido el deseo de noches interminables
no puedo garantizar que haya sido
rapto o secuestro
pero hemos sido ambos rehenes del culto
del postre
el infinito
o algo así.

domingo, 20 de novembro de 2011

Improviso para drama e saudade...

Se reescrevesse a minha história
já não seria a minha história
mas uma espécie de romance de mim
talvez existisse ao contrário
talvez começasse por morrer
e só depois acordasse
a vida no princípio só convém à poesia
a sabedoria é o envelhecimento
morre-se sempre na viagem.

Ademar
14.10.2008


Improvisación para drama y nostalgia...

Si reescribiera mi historia
ya no sería mi historia
sino una especie de novela de mí
tal vez existiría al revés
tal vez empezaría por morirme
y sólo después me despertaría
la vida en principio solo le conviene a la poesía
la sabiduría es el envejecimiento
se muere siempre en el viaje.

Improviso sobre Le Chien, de Léo Ferré...


Sim
posso dizer todas as noites que a lua
não importa o adjectivo ou o grau
belíssima ou esplendorosa
a lua que cruza todos os olhares
quando se levantam do chão
que a lua és tu e ninguém
ou mais ninguém
que a lua improvisa todas as sombras
que a luz descurou
que a lua não existe
senão nas palavras que a noite grita
à diversão dos cães de Ferré
ele próprio que se dizia cão
sim
posso dizer todas as noites
que as diligências da memória vão vazias
ou lotadas de toda a gente que morreu
e que ninguém até hoje viveu no corpo
que te viaja
território tão frágil e tão virgem
que nem tu própria pareces habitar
todas as noites a incerteza do dia seguinte
o direito de ser tudo no futuro
e nada hoje
a não ser o pó que conjuga as estrelas.

Ademar
13.10.2008


Improvisación sobre Le Chien, de Léo Ferré...


puedo decir todas las noches que la luna
da igual el adjetivo o el grado
bellísima o esplendorosa
la luna que cruza todas las miradas
cuando se levantan del suelo
que la luna eres tú y nadie
o nadie más
que la luna improvisa todas las sombras
que la luz descuidó
que la luna no existe
sino en las palabras que la noche grita
a la diversión de los perros de Ferré
él mismo que se decía perro

puedo decir todas las noches
que las diligencias de la memoria van vacías
o llenas de toda la gente que ha muerto
y que nadie hasta hoy ha vivido en el cuerpo
que te viaja
territorio tan frágil y tan virgen
que ni tú misma pareces habitar
todas las noches la incertidumbre del día siguiente
el derecho de ser todo en el futuro
y nada hoy
a no ser el polvo que conjuga las estrellas.

sábado, 19 de novembro de 2011

Improviso íntimo...

Corpos assim
ausentes do seu próprio destino
mulheres que nunca se fizeram engravidar
pela luz dos dias que riem
que desconhecem o colo e o coito
no lugar da alma
e que vigiam o medo
como se o medo andasse por aí
desejos impolutos
que descem pelas mãos criadoras
que perguntam tudo
e tudo aspiram a saber
uma tatuagem em árabe no pensamento
e a nudez que finalmente nos embaraça.

Ademar
12.10.2008


Improvisación íntima...

Cuerpos así
ausentes de su propio destino
mujeres que nunca se han hecho embarazar
por la luz de los días que ríen
que desconocen el regazo y el coito
en el lugar del alma
y que vigilan el miedo
como si el miedo andara por ahí
deseos impolutos
que bajan por las manos creadoras
que preguntan todo
y todo aspiran a saber
un tatuaje en árabe en el pensamiento
y la desnudez que finalmente nos turba.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Improviso sobre "Parlez-Moi D'Amour"...



Vou escrever um dicionário
de palavras de amor
para que nunca as usemos em vão
ou mais depressa do que a inteligência deveria consentir
os corpos que se desejam
descuidam o rigor da linguagem.

Ademar
11.10.2008


Improvisación sobre "Parlez-Moi D'Amour"...

Voy a escribir un diccionario
de palabras de amor
para que nunca las usemos en vano
o más deprisa de lo que la inteligencia debería consentir
los cuerpos que se desean
descuidan el rigor del lenguaje.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Improviso sobre um quadro de Diana Martins...













Mãos que entram por mãos
por todas as mãos e nenhumas
mãos sem dedos
incompletas
disformes
como garras
mãos quase cicatrizadas
que tão depressa acolhem e repelem
mandíbulas de cães mitológicos
na tarde que ladra ao longe
essa máscara sem mãos
veneziana
e o espelho breve e antigo
em que apenas brilham os olhos
mãos com luvas por dentro
que ajoelham a ternura ainda incomestível.

Ademar
10.10.2008


Improvisación sobre un cuadro de Diana Martins...

Manos que entran por manos
por todas las manos y ninguna
manos sin dedos
incompletas
disformes
como garras
manos casi cicatrizadas
que tan pronto acogen como repelen
mandíbulas de perros mitológicos
en la tarde que ladra a lo lejos
esa máscara sin manos
veneciana
y el espejo breve y antiguo
en el que solo brillan los ojos
manos con guantes por dentro
que arrodillan la ternura todavía incomestible.

Improviso para dizer uma vez mais que no princípio foi o verbo...

Interiores
que se abrem muito devagar
que a luz e o vento penetram obliquamente
entre grades
e um pudor antiquíssimo
que a matriz do género prolonga e retarda
essa é a parte que chove
na noite que não adormece
a parte que vagueia num sonho anfíbio
entre a terra e o mar
suspendes as mãos e os olhos
diante do espelho
e suspendes a vida
enquanto o pensamento humedece.

Ademar
09.10.2008


Improvisación para decir una vez más que en el principio fue el verbo...

Interiores
que se abren muy despacio
que la luz y el viento penetran oblicuamente
entre rejas
y un pudor antiquísimo
que la matriz del género prolonga y retarda
esa es la parte que llueve
en la noche que no se duerme
la parte que vaga en un ensueño anfibio
entre la tierra y el mar
suspendes las manos y los ojos
delante del espejo
y suspendes la vida
mientras el pensamiento se humedece.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Improviso para fresta...

Como se não tivesses voz
e eu adoecesse de palavras
ou te faltasse um corpo
apresentável
celas subterrâneas
em que a luz não entra
destinos que são bunkers
como se já tivesses nascido
em pijama
e nunca te despisses
nem para o banho da chuva.

Ademar
08.10.2008


Improvisación para rendija...

Como si no tuvieras voz
y yo adoleciera de palabras
o te faltara un cuerpo
presentable
celdas subterráneas
en las que la luz no entra
destinos que son búnkeres
como si ya hubieras nacido
en pijama
y nunca te desviesteras
ni para el baño de la lluvia.

Improviso em sol...

O fogo nasce algures no pensamento
e depois pulveriza os ossos
por dentro da pouca carne que ainda os envolve
ardes tão lentamente tão velozmente
que as chamas iluminam as estrelas da noite
como cinzas suspensas de um vulcão
e tudo crepita em volta
como se queimasse
há silêncios que gritam
naturezas adormecidas.

Ademar
07.10.2008


Improvisación en sol...

El fuego nace en algún lugar del pensamiento
y después pulveriza los huesos
por dentro de la poca carne que aún los envuelve
ardes tan lentamente tan velozmente
que las llamas iluminan las estrellas de la noche
como cenizas en suspensión de un volcán
y todo crepita alrededor
como si quemara
hay silencios que gritan
naturalezas dormidas.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Improviso no modo de trespasse...

Hoje arrendei o sol ou uma parte dele
exactamente a parte que me devia
e fui feliz no futuro
agora já poderei renascer no outono
e morrer talvez na primavera.

Ademar
06.10.2008


Improvisación a modo de tránsito(1)...

Hoy he alquilado el sol o una parte de él
exactamente la parte que me debía
y he sido feliz en el futuro
ahora ya podré renacer en otoño
y morir tal vez en primavera.

____________
1. Nota de la T.: Además de 'traspaso', aquí en el sentido de 'subarrendamiento', trespasse significa 'muerte'.

Improviso como lâmina...

Desenho cicatrizes
num lugar que já não é o corpo
mas a casa o berço
há destinos que quase morrem na infância
condições sempre adiadas
agora teço hímenes complacentes
numa quase ausência de género
desfolho flagrâncias
e parece que nunca sorris
homens a mais talvez num mundo tão fechado
tão curto nos seus limites
e o renascimento ao alcance das mãos
enfim cicatrizadas.

Ademar
05.10.2008


Improvisación como cuchilla...

Dibujo cicatrices
en un lugar que ya no es el cuerpo
sino la casa la cuna
hay destinos que casi mueren en la infancia
condiciones siempre aplazadas
agora tejo hímenes complacientes
en una casi ausencia de género
deshojo fragancias
y parece que nunca sonríes
hombres de más tal vez en un mundo tan cerrado
tan corto en sus límites
y el renacimiento al alcance de las manos
por fin cicatrizadas.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Improviso sobre uma imagem...

Não sei agora por onde começar
a noite arrefeceu
e caminhas devagar
há evidências de luzes na sombra
e olhares desfocados
um cansaço que tropeça
entre vozes que já não gritam
caminhas devagar
mas para longe
não importa os braços caídos
as pernas que parecem errar os passos
entras na noite cada vez mais fria
e chamas por quem
te conduza ao outro lado da vida.

Ademar
04.10.2008


Improvisación sobre una imagen...

No sé ahora por dónde empezar
la noche ha refrescado
y caminas despacio
hay evidencias de luces en la sombra
y miradas desenfocadas
un cansancio que tropieza
entre voces que ya no gritan
caminas despacio
pero hacia lejos
da lo mismo los brazos caídos
las piernas que parecen errar los pasos
entras en la noche cada vez más fría
y llamas a alguien
que te conduzca al otro lado de la vida.

Improviso à luz de Oríon...

Entre as setas e as cordas
no arco que seguras
como se a castidade te impusesse o sacrifício
de todos os caçadores
nada mais elementar do que a vertigem
do ciúme da mãe que sempre triunfa
protectora e temível
deusa inquieta
a constelação tem agora o nome
do mito que fundaste
e é lá que todas as noites esperas
o feitiço da lua
entre braços e mãos e olhares que dominas
as palavras vão a caminho
e tu despes a alma
enquanto contas os astros no teu corpo
pó estelar
a espada que te corta ao meio
e te divide
quem soubesse reunir-te
e fosse capaz de cerzir tanta beleza
fragmentada.

Ademar
03.10.2008


Improvisación a la luz de Orión...

Entre las flechas y las cuerdas
en el arco que sujetas
como si la castidad te impusiera el sacrifício
de todos los cazadores
nada más elemental que el vértigo
de los celos de la madre que siempre triunfa
protectora y temible
diosa inquieta
la constelación tiene ahora el nombre
del mito que fundaste
y es ahí donde todas las noches esperas
el hechizo de la luna
entre brazos y manos y miradas que dominas
las palabras van en camino
y tú desnudas el alma
mientras cuentas los astros en tu cuerpo
polvo estelar
la espada que te corta al medio
y te divide
quién supiera reunirte
y fuera capaz de zurcir tanta belleza
fragmentada.

domingo, 13 de novembro de 2011

Improviso para ditar uma resposta...

Essa parte não é a totalidade
mas faz parte dela
e é talvez a parte
de que todas as outras procedem
o sexo e o género
que nem sempre conjugam
ou harmonias que falham
no tempo exacto em que fundiriam
a origem da identidade é sempre um enigma
há partes que oscilam
numa espécie de baloiço
mulheres que nascem muito tarde.

Ademar
02.10.2008


Improvisación para dictar una respuesta...

Esa parte no es la totalidad
pero forma parte de ella
y es tal vez la parte
de la que todas las demás proceden
el sexo y el género
que no siempre conjugan
o armonías que fallan
en el tiempo exacto en el que se fundirían
el origen de la identidad es siempre un enigma
hay partes que oscilan
en una especie de columpio
mujeres que nacen muy tarde.

sábado, 12 de novembro de 2011

Improviso em forma de futuro...

Há uma intimidade anterior às palavras
dizes
e viagens que só se cumprem depois
de equacionada e resolvida a incógnita da distância
são apenas seis letras
e a história toda da humanidade
dentro delas
foi sempre assim
será sempre assim
talvez amanhã chova
e os olhos fiquem ainda mais límpidos
talvez amanhã
o poema voe da tela
ou da paleta
e o universo se interrogue por quê
silêncios que só as vozes reconhecem.

Ademar
01.10.2008


Improvisación en forma de futuro...

Hay una intimidad anterior a las palabras
dices
y viajes que solo se cumplen una vez
equacionada y resuelta la incógnita de la distancia
son nada más seis letras
y toda la historia de la humanidad
dentro de ellas
ha sido siempre así
será siempre así
tal vez mañana llueva
y los ojos queden todavía más límpidos
tal vez mañana
el poema vuele del lienzo
o de la paleta
y el universo se interrogue por qué
silencios que solo las voces reconocen.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Improviso para dedilhar numa única corda...

O pensamento reparte-se
como um bolo de aniversário
ponho velas no desejo
e deixo-me atear
há talvez copos a mais
na bandeja que conduzes entre as mesas
e as garrafas já estiveram vazias
sobra agora um poema incompleto
e a paixão inteira
primeira.

Ademar
30.09.2008


Improvisación para puntear en una única cuerda...

El pensamiento se reparte
como una tarta de cumpleaños
pongo velas en el deseo
y me dejo atizar
hay tal vez vasos de más
en la bandeja que conduces entre las mesas
y las botellas ya han estado vacías
queda ahora un poema incompleto
y la pasión entera
primera.

Improviso para servir um pudor arqueológico...

A luz fechada sobre o corpo
o embaraço da janela que se abre de mais
que tudo fosse tão simples como parece
o passado tem jugos
que poucos silêncios desvendam
e nem todas as lágrimas choram pelos olhos
a tua nudez é mais liquida
do que a lua minguante.

Ademar
29.09.2008


Improvisación para servir un pudor arqueológico...

La luz cerrada sobre el cuerpo
la turbación de la ventana que se abre demasiado
que todo fuera tan simple como parece
el pasado tiene yugos
que pocos silencios desvendan
y no todas las lágrimas lloran por los ojos
tu desnudez es más líquida
que la luna menguante.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Improviso para surrealizar...

Andas sempre na rua e
a rua morre devagar
não há passos que te reconduzam a casa
e a noite chove sombras de estrelas
no teu olhar
hoje
arriscarás o subúrbio num altar de pedra
como esse a que já subiste
e contarás pegadas
nenhum carro no fim da rua te espera
pedes boleia
às cordas íntimas de um violoncelo
e começas enfim a caminhar.

Ademar
28.09.2008


Improvisación para surrealizar...

Andas siempre por la calle y
la calle se muere despacio
no hay pasos que te reconduzcan a casa
y la noche llueve sombras de estrellas
en tu mirada
hoy
arriesgarás el suburbio en un altar de piedra
como ese al que ya subiste
y contarás huellas
ningún coche al final de la calle te espera
les pides que te lleven
a las cuerdas íntimas de un violonchelo
y empiezas por fin a caminar.

Improviso para desviar o teu rio...

Todos os corpos são
territórios estreitos
e têm apenas duas margens
desabitadas
já não há alternativa à corrente
no caudal que nos viaja
deixa-me ainda ensinar-te isto
nada é tão urgente e definitivo no teu corpo
como o perfume que lhe acrescento.

Ademar
27.09.2008


Improvisación para desviar tu río...

Todos los cuerpos son
territorios estrechos
y tienen solo dos orillas
deshabitadas
ya no hay alternativa a la corriente
en el caudal que nos viaja
déjame aún enseñarte esto
nada es tan urgente y definitivo en tu cuerpo
como el perfume que le añado.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Improviso para natureza viva...

Vodca e chocolate preto
ou whisky e bolinhos de bacalhau
não discuto a cor da lingerie
nem o tamanho da mochila
apenas o rigor da paixão
ou a sua verdade
a mesa pode esperar
e a cama
a viagem não.

Ademar
26.09.2008


Improvisación para naturaleza viva...

Vodka y chocolate negro
o whisky y buñuelos de bacalao
no discuto el color de la lencería
ni el tamaño de la mochila
solo el rigor de la pasión
o su verdad
la mesa puede esperar
y la cama
el viaje no.

Improviso de circunstância para aconchegar uma amiga casadoura...

Não me peças que me enrede
ainda mais na lavoura das palavras
a felicidade será
ou talvez já tenha sido
nunca estamos no lugar das notícias
morreremos antes ou depois.

Ademar
25.09.2008


Improvisación de circunstancias para acomodar a una amiga casadera...

No me pidas que me enrede
todavía más en la labranza de las palabras
la felicidad será
o tal vez ya haya sido
nunca estamos en el lugar de las noticias
nos moriremos antes o después.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Improviso para borboleta...

Hoje apetece-me inventar ou reinventar um verbo
despetrificar
digo
limpar do feitiço da pedra
não importa a física dos materiais
há metamorfoses
que só ao desejo se consentem
a urgência dos braços abertos
o sono em forma de berço.

Ademar
25.09.2008


Improvisación para mariposa...

Hoy me apetece inventar o reinventar un verbo
despetrificar
digo
limpar del hechizo de la piedra
da igual la física de los materiales
hay metamorfosis
que solo al deseo se le consienten
la urgencia de los brazos abiertos
el adormecimiento en forma de cuna.

Improviso para memória futura...

Pedes-me que te sequestre
impeles-me a uma certa forma de crime
dizes que assinas um papel
a autorizar
e que não farás queixa
mas a poesia não releva como atenuante
muito menos a paixão ou o desejo
todos os crimes
convidam ao recolhimento de uma cela
e as palavras são grades
quando falham o horizonte dos olhos
e das mãos
quero ser livre
para te aprisionar.

Ademar
24.09.2008


Improvisación para memoria futura...

Me pides que te secuestre
me incitas a una cierta forma de delito
dices que firmas un papel
autorizándolo
y que no pondrás denuncia
pero la poesía no exonera como atenuante
mucho menos la pasión o el deseo
todos los delitos
invitan al recogimiento de una celda
y las palabras son rejas
cuando yerran el horizonte de los ojos
y de las manos
quiero ser libre
para aprisionarte.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Improviso na forma de urgência...

O coração por vezes arde assim
na floresta virgem das palavras
se a fénix soubesse
como as cinzas ainda queimam
o fogo que renasce das entranhas
e se propaga
na humidade distraída das noites que chovem
esses passos tão lentos
que o coração ainda ardendo
quase adormece nas chamas.

Ademar
23.09.2008


Improvisación en forma de urgencia...

El corazón a veces arde así
en la selva virgen de las palabras
si el fénix supiera
cómo queman aún las cenizas
el fuego que renace de las entrañas
y se propaga
en la humedad distraída de las noches que llueven
esos pasos tan lentos
que el corazón aún ardiendo
casi se duerme en las llamas.

Improviso para apóstrofe...

Não sei se entendes mesmo a circunstância
tenho sempre de esquecer o que já escrevi
para voltar a escrever
toda a escrita vive do esquecimento
por isso
não me exijas a memória
das palavras que fui
e que reproduzes
renasço em todos os textos
para me assegurar a ilusão da eternidade
aprendi hoje a escrever
e só agora começo a desejar-te
ontem não era eu
se era
morri.

Ademar
22.09.2008


Improvisación para apóstrofe...

No sé si entiendes realmente la circunstancia
siempre tengo que olvidar lo que he escrito
para volver a escribir
toda escritura vive del olvido
por eso
no me exijas el recuerdo
de las palabras que he sido
y que reproduces
renazco en todos los textos
para asegurarme la ilusión de la eternidad
he aprendido hoy a escribir
y solo ahora empiezo a desearte
ayer no era yo
si era
me morí.

domingo, 6 de novembro de 2011

Improviso para dizer que não chegaste...

Agora tenho as mãos sujas
dos botões da concertina
e o desejo é um fole
que a saudade atravessa
mas ainda há frases que reconheço
essa fui eu que escrevi
não importa onde a encontraste
hoje fiz apenas três ruas
e não passaste por mim

tenho o chapéu vazio de moedas
hei-de morrer ainda mais pobre nesta cidade
ou descuidado.

Ademar
21.09.2008


Improvisación para decir que no has llegado...

Ahora tengo las manos manchadas
de los botones de la concertina
y el deseo es un fuelle
que la nostalgia atraviesa
pero aún hay frases que reconozco
esa la escribí yo
da igual dónde la hayas encontrado
hoy he hecho nada más tres calles
y no has pasado por mí
fíjate
tengo el sombrero vacío de monedas
me moriré aún más pobre en esta ciudad
o descuidado.

sábado, 5 de novembro de 2011

Improviso estranhável...

Não posso escrever poemas perfeitos todas as noites
falta-me
eu ia escrever nas mãos
magia para tanto
e quem a quisesse
aprendi apenas meia dúzia de truques
veio tudo numa caixa e nem fui eu que a abri
a infância passa depressa
e os adultos não brincam
morrem mesmo assim
desfolho-te e leio-te devagar
tenho os olhos cheios de tantas luzes
cobardes
soletro o teu corpo
arrisco frases
e tropeço sempre em mim
antes do ponto final
assim.

Ademar
20.09.2008


Improvisación reprensible...

No puedo escribir poemas perfectos todas las noches
me falta
iba yo a escribir en las manos
magia para tanto
y quien la quisiera
he aprendido simplemente media docena de trucos
vino todo en una caja y ni siquiera la abrí yo
la infancia pasa deprisa
y los adultos no juegan
mueren exactamente así
te deshojo y te leo despacio
tengo los ojos llenos de tantas luces
cobardes
deletreo tu cuerpo
arriesgo frases
y tropiezo siempre en mí
antes del punto final
así.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Improviso estelar...

Tu ainda não aprendeste a dizer poemas
ao porteiro da lua
o homem das longas barbas brancas
que atravessa distraído o deserto
como se tivesse errado a bússola
das coordenadas da noite
tantas algemas na voz
tantas luzes à distância que embaraçam o olhar
o porteiro da lua acende estrelas
no lugar do medo
o homem das longas barbas brancas
no silêncio do cais.

Ademar
19.09.2008


Improvisación estelar...

Tú aún no has aprendido a decirle poemas
al portero de la luna
el hombre de la larga barba branca
que atraviesa distraído el desierto
como si hubiera confundido la brújula
de las coordenadas de la noche
tantos grilletes en la voz
tantas luces a lo lejos que entorpecen la mirada
el portero de la luna enciende estrellas
en el lugar del miedo
el hombre de la larga barba branca
en el silencio del muelle.

Improviso para bivalve e muito mais de quatro cordas...

Já não aspiro à eternidade
mas apenas à paciência das ostras
e ao seu brilho interior
tenho pérolas no pensamento
entre as palavras que uso
e mãos como pinças
partituras em forma de concha
e essa luz que te abre devagar.

Ademar
18.09.2008


Improvisación para bivalvo y mucho más que cuatro cuerdas...

Ya no aspiro a la eternidad
sino solo a la paciencia de las ostras
y a su brillo interior
tengo perlas en el pensamiento
entre las palabras que uso
y manos como pinzas
partituras en forma de concha
y esa luz que te abre lentamente.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Improviso para retiro na cidade...

O fumo separa
cada noite do dia seguinte
já quase não há chaminés na cidade
e agora sobram apenas as palavras
para dizer que arde
chove no pensamento
com que viajas pelas entranhas do fogo
e já te pesa a roupa molhada
tão frágil a nudez que te prometes.

Ademar
17.09.2008


Improvisación para retiro en la ciudad...

El humo separa
cada noche del día siguiente
ya casi no hay chimeneas en la ciudad
y ahora restan nada más las palabras
para decir que arde
llueve en el pensamiento
con el que viajas por las entrañas del fuego
y ya te pesa la ropa mojada
tan frágil la desnudez que te prometes.

Improviso entre carris...

Talvez o comboio não passe
por essa estação ou apeadeiro
talvez o cais
seja apenas um jardim
ou um museu de satélites
a viagem pode ser um embaraço
ou não ter regresso
há comboios que não respeitam destinos.

Ademar
16.09.2008


Improvisación entre carriles...

Quizá el tren no pase
por esa estación o apeadero
Quizá el andén
sea simplemente un jardín
o un museo de satélites
el viaje puede ser una complicación
o no tener regreso
hay trenes que no respetan destinos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Improviso sobre um poema de Adélia Prado...

Contas os livros
é mais fácil contar lombadas
do que sentimentos
as mãos que se deixam impregnar do pó acumulado
ainda não voam
mas é por pouco tempo
fechas a porta para banhar-te
e abres o pensamento a Lucrécia
como o abres para mim
lavada dos livros
cheiras ainda mais intensamente
Adélia diria
que andas no mar encantada
e que transpões montanhas
na bicicleta do sonho
tomara que a biblioteca tivesse o tamanho do universo
e que todos os livros dissessem uma verdade qualquer
enquanto os desfolhasses.

Ademar
15.09.2008


Improvisación sobre un poema de Adélia Prado...

Cuentas los libros
es más fácil contar lomos
que sentimientos
las manos que se dejan impregnar del polvo acumulado
aún no vuelan
pero es por poco tiempo
cierras la puerta para bañarte
y abres el pensamiento a Lucrecia
como lo abres para mí
lavada de los libros
hueles aún más intensamente
Adélia diría
que andas en el mar encantada
y que superas montañas
en la bicicleta del ensueño
ojalá la biblioteca tuviera el tamaño del universo
y que todos los libros dijeran una verdad cualquiera
mientras los deshojabas.

Improviso para partitura de viagem...

As esquinas suspendem o olhar
a rua é um plano que adormece na tela
procuras o lugar certo na noite
uma espécie de berço que ainda te acolhesse
há um traço branco no asfalto
uma tatuagem no braço
e palavras que são casas ainda
sem portas nem janelas
o mar fica sempre tão perto e tão longe do perigo
quando projectas esquinas
na rua em que despertas.

Ademar
14.09.2008


Improvisación para partitura de viaje...

Las esquinas suspenden la mirada
la calle es un plano que se duerme en el lienzo
buscas el lugar preciso en la noche
una especie de cuna que todavía te acogiera
hay una raya blanca en el asfalto
un tatuaje en el brazo
y palabras que son casas todavía
sin puertas ni ventanas
el mar queda siempre tan cerca y tan lejos del peligro
cuando proyectas esquinas
en la calle en que te despiertas.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Improviso na forma de gesto...

Sim fecha a porta
e diz antes
com licença
é evidente que
a porta nunca se fecha
mas convém
que não a deixes sempre escancarada
ele há tantas frestas
no pensamento que nos abre
atrás do biombo
pareces muito mais do que um reflexo
e ouço a água a atravessar o corpo
que nunca se despe
a porta
e o gesto de a fechar
o gesto apenas
e a mão que tropeça.

Ademar
13.09.2008


Improvisación en forma de gesto...

Sí cierra la puerta
y di antes
con permiso
es evidente que
la puerta nunca se cierra
pero conviene
que no la dejes siempre de par en par
es que hay tantas rendijas
en el pensamiento que nos abre
detrás del biombo
pareces mucho más que un reflejo
y oigo el agua atravesando el cuerpo
que nunca se desviste
la puerta
y el gesto de cerrarla
el gesto simplemente
y la mano que tropieza.

Improviso num bar imaginário...

Dois cubos de gelo ou três
dose dupla dizes
sentas-te sobre as pernas abertas
desces as pálpebras
e começas a molhar os lábios
como se só agora os pressentisses
a garrafa tem muitas formas
e muitas que desconhecesses
é indispensável voltar sempre
à origem de tudo
és anterior ao próprio universo
e ainda não nasceste.

Ademar
12.09.2008


Improvisación en un bar imaginario...

Dos cubitos de hielo o tres
que sea doble dices
te sientas sobre las piernas abiertas
bajas los párpados
y empiezas a mojar los labios
como si solo ahora los presintieras
la botella tiene muchas formas
y muchas que desconocieras
es indispensable volver siempre
al origen de todo
eres anterior al mismísimo universo
y aún no has nacido.