sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Improviso sobre "Dance me to the end of love"...

Nunca ninguém me tratou assim
por meu caro poeta
não sabia que era tão notória
a deficiência
e nunca ninguém se escondeu
atrás de um biombo
para mo dizer
foste a primeira
e só poderei agradecer-te por isso
mas não me convenci logo
de que fosses mulher
há máscaras que não tem gênero
almas sem corpo
olhos sem mãos
pés sem braços
talvez no terraço de um hotel sobre o Tejo
respirasses ainda mais intensamente
e nenhum poema fosse definitivo
na hora de adormeceres
o sexo pode ser
o que deixaremos sempre para amanhã
hoje ainda sobra vontade para dançar
entre as palavras
e talvez choremos.

Ademar
21.07.2008


Improvisación sobre "Dance me to the end of love"...

Nunca nadie me trató así
como mi querido poeta
no sabía que era tan notoria
la deficiencia
ni nunca nadie se escondió
detrás de un biombo
para decírmelo
has sido a primera
y sólo podré agradecerte por ello
pero no me convencí enseguida
de que fueras mujer
hay máscaras que no tienen género
almas sin cuerpo
ojos sin manos
pies sin brazos
tal vez en la terraza de un hotel sobre el Tajo
respirarías aún más intensamente
y ningún poema sería definitivo
a la hora de dormirte
el sexo puede ser
lo que dejaremos siempre para mañana
hoy todavía quedan ganas de bailar
entre las palabras
y tal vez lloremos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Improviso para iludir o horizonte...

Por vezes sou
uma estranheza de ventos
nas palavras que
me conduzem ao alto-mar
de mim próprio
por vezes
não caibo sequer no cais
donde nunca parto
tenho excesso de luas
nos braços que me pesam
ondas insólitas
no lugar das palavras
a minha alma transpira
como se fosse ainda
o prolongamento das mãos
e por elas
apenas por elas
desconhecidamente
te desejasse.

Ademar
20.07.2008


Improvisación para engañar al horizonte...

A veces soy
una extrañeza de vientos
en las palabras que
me conducen a alta mar
de mí mismo
a veces
no quepo siquiera en el muelle
de donde nunca zarpo
tengo exceso de lunas
en los brazos que me pesan
olas insólitas
en lugar de palavras
mi alma transpira
como si fuera aún
la prolongación de las manos
y por ellas
sólo por ellas
desconocidamente
te deseara.

Improviso para contar margaridas...

No princípio de tudo
é o que não existe
antes mesmo do silêncio
antes mesmo da ausência
antes mesmo do pensamento
ou do desejo
o que não existe
é a vida que será ou não
se algum dia for ou deixar de ter sido
há mais beleza
nos pontos de interrogação
que interrogam o que ainda não existe
o universo ele mesmo já foi uma inexistência
e hoje
é tudo aquilo que parece
uma imensidão que nem as palavras
alcançam
algo maior
muito maior
do que o próprio infinito
ou a noção que temos dele
o que não existe
não tem curso na corrente das emoções
porque nem sequer o podemos projectar
se fosse projectável
seria como os sonhos ou as utopias
teria um corpo no horizonte das ideias
um corpo talvez visionário
mas ainda um corpo realidade interrogável
tudo o que convida à expectativa
já existe
mas eu falo aqui do que não existe
e não sei
porque não existe
como dizê-lo
fosse eu capaz de te dar um nome
e já serias real
mesmo que o teu corpo não passasse
de uma constelação de margaridas.

Ademar
19.07.2008


Improvisación para contar margaritas...

En el principio de todo
es lo que no existe
antes incluso del silencio
antes incluso de la ausencia
antes incluso del pensamiento
o del deseo
lo que no existe
es la vida que será o no
si algún día fuera o dejara de haber sido
hay más belleza
en los puntos de interrogación
que interrogan lo que aún no existe
el universo propiamente ya ha sido una inexistencia
y hoy
es todo aquello que parece
una imensidad que ni las palabras
alcanzan
algo mayor
mucho mayor
que el mismísimo infinito
o la noción que tenemos de él
lo que no existe
no tiene curso en la corriente de las emociones
porque ni siquiera lo podemos proyectar
si fuera proyectable
sería como los sueños o las utopías
tendría un cuerpo en el horizonte de las ideas
un cuerpo tal vez visionario
pero todavía un cuerpo realidad interrogable
todo lo que invita a la expectativa
ya existe
pero yo hablo aquí de lo que no existe
y no sé
porque no existe
cómo lo diría yo
si fuera capaz de darte un nombre
ya serías real
aunque tu cuerpo no pasara
de una constelación de margaritas.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Improviso para viajar...

Destreinei-me de perguntar
perdi o hábito e a destreza do punhal
agora só poderei dizer-te
que nasces
onde te esperam
e esse será o nosso milagre
uma longa e demorada viagem
entre mistérios
que lentamente se despem.

Ademar
18.07.2008


Improvisación para viajar...

Me desentrenado de preguntar
he perdido la costumbre y la destreza del puñal
ahora solo podré decirte
que naces
donde te esperan
y ese será nuestro milagro
un largo y demorado viaje
entre misterios
que lentamente se desvisten.

Improviso como enigma...

Talvez essa foto não fosse
verdadeira
as imagens perfeitas
contêm sempre alguma trama de imperfeição
talvez nem mesmo a voz
fosse verdadeira
nem a noite
nem o poema
talvez a verdade
fosse ainda mais ínfima
do que a urgência de coisa nenhuma
as auto-estradas nunca terminam
na última portagem
e há sempre mais cidades
depois de nós.

Ademar
17.07.2008


Improvisación como enigma...

Tal vez esa foto no era
verdadera
las imágenes perfectas
contienen siempre alguma trama de imperfección
tal vez ni siquiera la voz
fuera verdadera
ni la noche
ni el poema
tal vez la verdad
fuera todavía más ínfima
que la urgencia de ninguna cosa
las autopistas nunca terminan
en el último peaje
y hay siempre más ciudades
después de nosotros.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Improviso ainda mais desconcertante...

As máscaras não dormem
e falam por vozes
que nunca chegam a adormecer-te
talvez o desejo reclame
feitiços ainda mais exactos
ou o fogo da poesia
em que enregeles.

Ademar
16.07.2008


Improvisación todavía más desconcertante...

Las máscaras no duermen
y hablan por voces
que nunca llegan a dormirte
tal vez el deseo reclame
hechizos aún más exactos
o el fuego de la poesía
en que te congeles.

Improviso para mapa de despojos...

Na rua dos cães abandonadosnem todas as mulheres
cheiram a mulher
ou vestem de mulher
há esquinas e campos e casas
que não fazem parte de história alguma
e mulheres
muitas mulheres
que morderam solitariamente
o isco da rua.

Ademar
15.07.2008


Improviso para plano de despojos...

En la calle de los perros abandonados
no todas las mujeres
huelen a mujer
o van vestidas de mujer
hay esquinas y campos y casas
que no forman parte de historia alguna
y mujeres
muchas mujeres
que han mordido solitariamente
el anzuelo de la calle.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Improviso na forma de pedido...

Convém que não digas a ninguém
que morri
recolhe antes os filmes
e os poemas que não cheguei a escrever
e limpa o disco duro
pelo menos do portátil
se te perguntarem de que morri
responde poeticamente
que me cansara de abrir e fechar
gavetas vazias
ninguém entenderá
mas os segredos não são para contar.

Ademar
14.07.2008


Improviso en forma de petición...

Conviene que no le digas a nadie
que me he muerto
recoge antes las películas
y los poemas que no llegué a escribir
y limpia el disco duro
por lo menos del portátil
si te perguntan de qué he muerto
responde poéticamente
que me había cansado de abrir y cerrar
cajones vacíos
nadie lo entenderá
pero los secretos no son para contarlos.

Improviso para aniversário...

Sim podes dizê-lo
os anos passam e só
as circunstâncias mudam
imagens aparências caixilhos
os olhos que já não calçam
os chinelos que foram da moda
as palavras mais antigas
do que as mãos que as tocam
canso-me agora
muito mais depressa
a não ser que levite
ou rasteje sobre corpos inanimados
já não distingo as fotografias
pela data
nem os cenários
volto sempre ao princípio de tudo
ao princípio de mim
para não me esquecer.

Ademar
13.07.2008


Improvisación para aniversario...

 Sí puedes decirlo
los años pasan y solo
las circunstancias cambian
imágenes apariencias marcos
los ojos que ya no calzan
las zapatillas que estuvieron de moda
las palabras más antiguas
que las manos que las tocan
me canso ahora
mucho más rápido
a no ser que levite
o me arrastre sobre cuerpos inanimados
ya no distingo las fotografias
por la fecha
ni los escenarios
vuelvo siempre al principio de todo
al principio de mí
para no olvidarme.

domingo, 25 de setembro de 2011

Improviso para atiçar o vento...

O relevo
sobressai as evidências
o chão
engole todas as sombras
os gestos incompletos
e a noite contrai na ausência
a respiração do vento.

Ademar
12.07.2008


Improvisación para atizar el viento...

El relieve
destaca las evidencias
el suelo
engulle todas las sombras
los gestos incompletos
y la noche contrae en la ausencia
la respiración del viento.

sábado, 24 de setembro de 2011

Improviso como contemplação e discernimento...

Meia lua
sobre os cavalos enfim adormecidos
o verde agora
já não se distingue na paleta da noite
e há memórias que o cigarro queima
e há saudades e silêncios que ardem
no lugar mais oculto do coração
impões-me todos os dias o esquecimento
para que eu me lembre.

Ademar
11.07.2008


Improvisación como contemplación y discernimiento...

Media luna
sobre los caballos por fin dormidos
el verde ahora
ya no se distingue en la paleta de la noche
y hay recuerdos que el cigarrillo quema
y hay nostalgias y silencios que arden
en el lugar más oculto del corazón
me impones todos los días el olvido
para que me acuerde.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Improviso sobre uma espécie de renúncia...

Há vozes que prometem lâminas
mulheres feridas rasgadas de dentro para fora
violoncelos voláteis
ancoradouros para sempre esquecidos da condição de cais
há estátuas jacentes em lágrimas de calcário
máscaras anteriores ao próprio olhar
e à persona
um turbilhão de silêncios
e de segredos
e uma sabedoria impenetrável
uma história impenetrável
átrio cada vez mais sombrio
sobre o qual não se abre já
nenhuma janela.

Ademar
10.07.2008


Improvisación sobre una especie de renuncia...

Hay voces que prometen cuchillas
mujeres heridas rasgadas de dentro afuera
violonchelos volátiles
fondeaderos para siempre olvidados de la condición de muelle
hay estatuas yacentes en lágrimas de caliza
máscaras anteriores a la propia mirada
y a la persona
un torbellino de silencios
y de secretos
y una sabiduría impenetrable
una historia impenetrable
atrio cada vez más sombrío
sobre el cual no se abre ya
ninguna ventana.

Improviso para legenda dos dias desertos...

Nenhuma fantasia
suporta a ausência que a sustém
és mais inteira ainda
do que a sombra
que te precede
há gritos que só estão ao alcance
da tua voz
e há movimentos
que têm exactamente a forma das tuas pernas
e dos teus braços
quando desaguam no pensamento.

Ademar
09.07.2008


Improviso para leyenda de los días desiertos...

Ninguna fantasía
soporta la ausencia que la sostiene
eres más entera aún
que la sombra
que te precede
hay gritos que solo están al alcance
de tu voz
y hay movimientos
que tienen exactamente la forma de tus piernas
y de tus brazos
cuando desaguan en el pensamiento.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Improviso quase epistemológico...

Não é apenas o planeta
senhora
que gira sobre si próprio
para cumprir o destino incerto dos dias
nós giramos com ele
e com ele voltamos sempre ao princípio
de tudo
e de nada
o movimento é apenas uma ilusão cosmológica.

Ademar
08.07.2008


Improvisación casi epistemológica...

No solamente el planeta
señora
gira sobre sí mismo
para cumplir el destino incierto de los días
nosotros giramos con él
y con él volvemos siempre al principio
de todo
y de nada
el movimento es solo una ilusión cosmológica.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Improviso para enunciado...

O desespero tem entranhas por dentro
não tem palavras
com palavras
não se faz o desespero
mas a poesia.

Ademar
07.07.2008


Improvisación para enunciado...

La desesperación tiene entrañas por dentro
no tiene palabras
con palabras
no se hace la desesperación
sino la poesía.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Improviso ao jeito de Mário-Henrique Leiria...

Está provado e comprovado que
só há nove pessoas que sabem
como se resolve o problema
é verdade que são muitas mais
as que julgam que sabem como se resolve o problema
mas um júri olímpico
constituído por deuses de condição indeclinável
concluiu fora de qualquer dúvida razoável
ainda que divina
que são nove apenas nove
as pessoas que efectivamente sabem como o problema se resolve
quatro já desapareceram
e não deixaram obra publicada
duas outras já tentaram
e não conseguiram
as restantes não cabem no inventário
uma
porque não quer ser identificada
outra
porque entretanto enlouqueceu
e a terceira finalmente
porque finge ignorar que sabe
como se resolve o problema
e não aceita ser mobilizada para a patriótica missão
de salvar o país
espera-se a qualquer instante
o despacho final de arquivamento
do supremo juiz de turno.

Ademar
07.07.2008


Improvisación al estilo de Mário-Henrique Leiria...

Está probado y comprobado que
solo hay nueve personas que saben
cómo se resuelve el problema
es verdad que son muchas más
las que se creen que saben cómo se resuelve el problema
pero un jurado olímpico
constituido por dioses de condición indeclinable
concluyó fuera de cualquier duda razonable
aunque divina
que son nueve y solo nueve
las personas que efectivamente saben cómo se resuelve el problema
cuatro ya han desaparecido
y no dejaron obra publicada
otras dos ya lo intentaron
y no lo consiguieron
las restantes no caben el inventario
una
porque no quiere ser identificada
otra
porque entre tanto enloqueció
y la tercera finalmente
porque finge ignorar que sabe
cómo se resuelve el problema
y no acepta ser mobilizada para la patriótica misión
de salvar al país
se espera en cualquier instante
el despacho final de archivamiento
del supremo juez de turno.

Improviso a desoras...

Hoje
na viagem de regresso
perdeste o sentido da lua
e eu já não fiquei no cais
a perguntar-me se seria
a última vez
alguém trocou os mapas
ou os horizontes
e é preciso começar tudo
de novo
nenhuma noite é eterna
e a morte pode esperar.

Ademar
06.07.2008


Improvisación a deshoras...

Hoy
en el viaje de regreso
perdiste el sentido de la luna
y yo ya no me quedé en el andén
preguntándome si sería
la última vez
alguien cambió los mapas
o los horizontes
y hace falta empezarlo todo
de nuevo
ninguna noche es eterna
y la muerte puede esperar.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Improviso em forma de anotação...

Há perguntas que são quase tão inúteis
ou redundantes como o tempo que faz lá fora ou cá dentro
a resposta está nos olhos
e nas pausas a que o silêncio obedece
estou bem claro
se estivesse mal
também responderia que estou bem
e morto
continuaria ainda a responder
ouvi há pouco aliás umas tretas sobre a imortalidade
parece que não tardará
mas hoje doeu-me o estômago
ou terá sido a alma no lugar dele
será cancro? será gente?
cancro não é com certeza
diria o Gil
e a gente nem sempre dói assim
o Henrique disse
que estava muito cansado e pôs-se com o sol
mas ainda não adormeceu
a propósito de trilhos poéticos
perguntaram-me se apreciava Torga
devo ter mentido
o Francisco quis terminar o Borat
e eu aproveitei para arrumar de vez
O Conto dos Crisântemos Tardios
fomos três ao jantar
e ninguém te serviu.

Ademar
05.07.2008


Improvisación en forma de apunte...

Hay preguntas que son casi tan inútiles
o redundantes como el tiempo que hace ahí fuera o aquí dentro
la respuesta está en los ojos
y en las pausas a las que el silencio obedece
estoy bien claro
si estuviera mal
también respondería que estoy bien
y muerto
seguiría respondiendo
he oído hace poco, por cierto, unas patrañas sobre la imortalidad
parece que no tardará
pero hoy me ha dolido el estómago
¿o habrá sido el alma en su lugar?
¿será cáncer? ¿será gente?
cáncer no es eso seguro
diría Gil
y la gente no siempre duele así
Henrique ha dicho
que estaba muy cansado y se puso con el sol
pero aún no se ha dormido
a propósito de senderos poéticos
me han preguntado si apreciaba a Torga
debo de haber mentido
Francisco ha querido terminar el Borat
y yo he aprovechado para guardar de una vez
El Cuento de los Crisantemos Tardíos
hemos sido tres para cenar
y nadie te ha servido.

Improviso para tentar significar que ainda há sonhos gratuitos...

De vez em quando
há quem peça refúgio às minhas palavras
quem se abrigue e recolha nelas
se dependesse apenas de mim
as minhas palavras seriam de toda a gente
como a água ou o fogo
ou o oxigénio de todas as manhãs.

Ademar
04.07.2008


Improvisación para intentar señalar que aún hay sueños gratuitos...

De vez en cuando
hay quien le pide refugio a mis palabras
quien se abriga y recoge en ellas
si dependiera solo de mí
mis palabras serían de todo el mundo
como el agua o el fuego
o el oxígeno de todas las mañanas.

domingo, 18 de setembro de 2011

Improviso para dizeres ao balcão...

Não sabes para que serve Piazzolla
quando o copo está vazio
e ninguém se oferece
para te encher a alma
não sabes para que serve a morte
naqueles instantes em que só te apetece mesmo
suspender a vida
e retomá-la depois do pesadelo
ou do cansaço
não sabes para que serve o corpo
quando o corpo é uma casa deserta
e a noite cai sobre ele
e não cai mais nada
não sabes para que servem as palavras
quando apenas queres falar com o silêncio
e nem já o silêncio te responde.

Ademar
03.07.2008


Improvisación para que la recites en la barra...

No sabes para qué sirve Piazzolla
cuando el vaso está vacío
y nadie se ofrece
para llenarte el alma
no sabes para qué sirve la muerte
en aquellos instantes en que de verdad solo te apetece
suspender la vida
y retomarla después de la pesadilla
o del cansancio
no sabes para qué sirve el cuerpo
cuando el cuerpo es una casa desierta
y la noche cae sobre él
y no cae nada más
no sabes para qué sirven las palabras
cuando solo quieres hablar con el silencio
y ya ni el silencio te responde.

Improviso para Ingrid Betancourt, finalmente resgatada...









Conta-se que o povo de Romorantin
naquela manhã
saiu todo à rua para ouvir Sidarta
na voz talvez daquela mulher que gritava
piedade!
diante das escadas que a elevariam ao cadafalso
perguntaram ao iluminado
como é da lenda
se era deus ou o diabo
e ele respondeu a todas as perguntas
que não
nem homem disse
estava apenas acordado
mas o povo de Romorantin já não o ouviu
porque a mulher entretanto deixara de gritar
foi a última vez naquela praça
que o silvo da lâmina se sobrepôs
à verdade ou à mentira de um profeta
nenhum cativeiro tem fim
quando apenas o povo o mantém.

Ademar
02.07.2008


Improvisación para Ingrid Betancourt, por fin rescatada...

Se cuenta que el pueblo de Romorantin
aquella mañana
salió todo a la calle para oír a Sidarta
en la voz tal vez de aquella mujer que gritaba
¡piedad!
ante las escaleras que la elevarían al cadalso
le preguntaron al iluminado
como dice la leyenda
si era dios o el diablo
y él respondió a todas las preguntas
que no
ni hombre dijo
solo estaba despierto
pero el pueblo de Romorantin ya no lo oyó
porque la mujer entre tanto había dejado de gritar
fue la última vez en aquella plaza
que el silbido de la cuchilla se sobrepuso
a la verdad o a la mentira de un profeta
ningún cautiverio tiene fin
cuando solo el pueblo lo mantiene.

sábado, 17 de setembro de 2011

Improviso para violino e bandoneon...

Chama-me apenas
quando tiveres escolhido
a última ária
o último poema
quando a morte já tiver adormecido
nos braços e nas mãos
o silêncio
e a noite finalmente
por inteiro
possa pertencer-nos
nem só os olhos abrem janelas
quando as pontes renunciam à luz.

Ademar
01.07.2008


Improvisación para bandoneón y violín...

Llámame nada más
cuando hayas elegido
la última aria
el último poema
cuando la muerte ya se haya dormido
en los brazos y en las manos
el silencio
y la noche finalmente
por entero
nos pueda pertenecer
no solo los ojos abren ventanas
cuando los puentes renuncian a la luz.

Improviso para partitura...

Se ainda quiséssemos namorar
não faltariam para as mãos
encostas nem contrabaixos
é uma arte para iniciados
entre o montanhismo e o jazz
bastam dois olhos e dois ouvidos
e cordas que prendam.

Ademar
30.06.2008


Improvisación para partitura...

Si todavía quisiéramos ser novios
no faltarían para las manos
laderas ni contrabajos
es un arte para iniciados
entre el montañismo y el jazz
bastan dos ojos y dos oídos
y cuerdas que sujeten.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Improviso sitiado...

Não preciso de consultar nenhum mapa
para saber como se sai desta cidade
todas as ruas têm uma marca no meu corpo
uma tatuagem invisível
mas não há caminho para fora de mim
esta vida de espera é um vicio
não sei partir
não sei tão pouco como se parte
vejo apenas os barcos chegar
e chego sempre com eles.

Ademar
29.06.2008


Improvisación sitiada...

No necesito consultar ningún plano
para saber cómo se sale de esta ciudad
todas las calles tienen una marca en mi cuerpo
un tatuaje invisible
pero no hay camino hacia fuera de mí
esta vida de espera es un vicio
no sé irme
no sé tampoco cómo se va uno
veo solo los barcos llegar
y llego siempre con ellos.

Improviso indisposto...

Ninguém ensina a viver
a vida nunca se aprende
vive-se e morre-se
simplesmente
talvez tenham reprovado mesmo em todos os exames
mas foram pais e mães
e governaram o mundo
não foram à escola da vida
porque a vida
é uma vertigem de programas
mas aprenderam tudo de ouvido
decoraram frases
para fingir apenas que sabiam
e com elas
governaram o mundo
os génios da vida morrem incógnitos
no palco da glória efémera só cabem
os castrados os falhados os bandidos e os patetas
lede os jornais e as revistas
espreitai as televisões
estão lá todos
os vossos heróis.

Ademar
28.06.2008


Improvisación indispuesta...

Nadie enseña a vivir
la vida nunca se aprende
se vive y se muere
simplemente
tal vez realmente hayan suspendido en todos los exámenes
pero han sido padres y madres
y han gobernado el mundo
no han ido a la escuela de la vida
porque la vida
es un vértigo de programas
pero se lo aprendieron todo de oído
memorizaron frases
para fingir nada más que sabían
y con ellas
gobernaron el mundo
los genios de la vida mueren ignorados
en el palco de la gloria efímera solo caben
los castrados los fracasados los bandidos y los mamarrachos
led los diarios y las revistas
mirad las televisiones
están ahí todos
vuestros héroes.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Improviso quase visionário...

Eu sei que o impossível muitas vezes
pede apenas um olhar diferente
mas não tenho olhos
para todos os ângulos da vida
não esperes por isso
que eu seja capaz de ver tudo
ou dizer que vi ou percebi
há imagens simplesmente que não cabem
nos limites do pensamento que me imponho
imagens que não vejo
porque não me pertencem
ou porque não me merecem.

Ademar
27.06.2008


Improvisación casi visionaria...

Ya sé que lo imposible muchas veces
pide solo una mirada diferente
pero no tengo ojos
para todos los ángulos de la vida
no esperes por ello
que seja capaz de verlo todo
o decir que lo vi o entendí
hay imágenes simplemente que no caben
en los límites del pensamiento que me impongo
imágenes que no veo
porque no me pertencen
o porque no me merecen.

Improviso para descantar os amanhãs que choram...

Há quem aspire a ver ainda
o dia prometido
entre os raios de uma bruma qualquer
a ambliopia da alma
nunca acerta a visão
ou a fé.

Ademar
26.06.2008


Improvisación para cantar los mañanas que lloran...

Hay quien aspira a ver todavía
el día prometido
entre los rayos de una bruma cualquiera
la ambliopia del alma
nunca ajusta la visión
o la fe.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Improviso como explicação...

Perguntas-me por que escrevo sempre
poemas tão curtos
como se as palavras me queimassem nas mãos
se te dissesse a verdade
se tivesse ao menos uma verdade
para te dizer
talvez não acreditasses
as palavras pesam-me sempre mais
do que o fogo.

Ademar
25.06.2008


Improvisación para explicar...

Me preguntas por qué escribo siempre
poemas tan cortos
como si las palabras me quemaran las manos
si te dijera la verdad
si tuviera al menos una verdad
que decirte
quizá no la creerías
las palabras me pesan siempre más
que el fuego.

Improviso para confortar o bacalhau à gomes de sá...

Desaprendi a técnica de perguntar
ou a vontade de chegar mais depressa à desilusão
os mapas não escolhem os caminhos
tenho os passos trocados
entre todos os desertos e nenhum oásis.

Ademar
24.06.2008


Improvisación para consolar el bacalao a la gomes de sá...

He desaprendido la técnica de preguntar
o la voluntad de llegar más rápido a la desilusión
los mapas no escogen los caminos
tengo los pasos cambiados
entre todos los desiertos y ningún oasis.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Improviso na berma da estrada...

Nenhum pássaro azul sorri agora
à porta dos meus olhos
só tenho jaulas
do pensamento para dentro
e ainda não me ensinaste a libertar-te
nenhuma prisão tem a forma
da tua ausência
e não há verbo
que me consentisses
conjugar no futuro.

Ademar
23.06.2008


Improvisación en el arcén de la carretera...

Ningún pájaro azul sonríe ahora
a la puerta de mis ojos
solo tengo jaulas
del pensamiento para dentro
y aún no me has enseñado a libertarte
ninguna prisión tiene la forma
de tu ausencia
y no hay verbo
que me hayas consentido
conjugar en el futuro.

Improviso sobre uma tela de Ticiano...













Hoje sairão todos à rua
com Salomé
para jogar uma vez mais
a cabeça de João Baptista
mas depois da orgia
ninguém lavará as mãos
no Jordão
todos os rios secam
na origem dos mitos.

Ademar
23.06.2008


Improvisación sobre un lienzo de Ticiano...

Hoy saldrán todos a la calle
con Salomé
para jugarse una vez más
la cabeza de Juan Bautista
pero después de la orgía
nadie se lavará las manos
en el Jordán
todos los ríos se secan
en el origen de los mitos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Improviso para afugentar o caos...

Nunca sei se o próximo verso será o último
a viagem nas palavras tem esse único aliciante
nada se alterará depois
mas arrisca-se sempre a vida
a vida toda
no suicídio de cada poema
sei apenas que morrerei entre palavras.

Ademar
22.06.2008


Improvisación para ahuyentar el caos...

Nunca sé si el próximo verso será el último
el viaje en las palabras tiene ese único aliciente
nada se alterará después
pero siempre se arriesga la vida
toda la vida
en el suicidio de cada poema
sé nada más que me moriré entre palabras.

sábado, 10 de setembro de 2011

Improviso para dizer por que não parto...

Quando limpo o futuro da memória
atenho-me velozmente à vontade de brincar
há muitas crianças em mim
que esperam apenas a trombeta do sol
para desamarrar
as palavras formam na noite
tapetes de flores
e todas têm na pele
a marca vagabunda dos meus pés
uma tatuagem feita
de viagens que não saíram do cais.

Ademar
21.06.2008


Improvisación para decir por qué no me voy...

Cuando limpio el futuro de la memoria
me atengo velozmente a las ganas de jugar
hay muchos niños en mí
que esperan solo la corneta del sol
para desamarrar
las palabras formam en la noche
alfombras de flores
y todas tienen en la piel
la marca vagabunda de mis pies
un tatuaje hecho
de viajes que no han salido del muelle.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Improviso enleante...

Nenhuma cidade termina
no bairro onde fomos felizes
a felicidade sofre da ambiguidade dos mapas
e não tem cama nem memória certa
em que repouse
uma praça ou uma rua
ou a avenida inteira
já estivemos lá
e prometemo-nos voltar
não importa o nome da cidade
e talvez o bairro não caiba em nenhuma
mas foi lá exactamente lá
que fomos felizes.

Ademar
20.06.2008


Improvisación liante...

Ninguna ciudad termina
en el barrio en donde fuimos felices
la felicidad sufre de la ambigüedad de los mapas
y no tiene cama ni memoria fija
en las que reposar
una plaza o una calle
o la avenida entera
ya hemos estado ahí
y nos prometemos volver
da lo mismo el nombre de la ciudad
y tal vez el barrio no quepa en ninguna
pero fue exactamente ahí
donde fuimos felices.

Improviso para soluçar o hino...

Eles correm atrás de uma bola
e a bola corre atrás de um país
que tropeça na relva e cai
na glória fácil
eram todos heróis do mar
mas nas sete partidas do mundo
nunca foram além do cais
o excesso de luz embriaga
os tímidos.

Ademar
19.06.2008


Improvisación para sollozar el himno...
Ellos correen detrás de un balón
y el balón corre detrás de un país
que tropieza en el césped y se cae
en la gloria fácil
eran todos héroes del mar
pero en las siete partidas del mundo
nunca fueron más allá del muelle
el exceso de luz embriaga
a los tímidos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Improviso quase pedagógico...

Hoje as conversas são menos espessas
do que na antiguidade clássica
quando todos respeitavam
a vez de cada um falar
principalmente os escravos e os mudos
os discípulos as crianças e as mulheres
hoje até consigo conversar ao mesmo tempo
com todos os deuses do olimpo
mais o diabo de serviço a todos eles
a internet foi uma grande descoberta
contra a obesidade das falas
e dos falos
hoje
(dizem-me as pitonisas)
ninguém exibe os tomates
como antes.

Ademar
18.06.2008


Improvisación casi pedagógica...

Hoy las conversaciones son menos espesas
que en la antigüedad clássica
cuando todos respetaban
la vez de cada cual para hablar
principalmente los esclavos y los mudos
los discípulos los niños y las mujeres
hoy hasta puedo conversar al mismo tiempo
con todos los dioses del olimpo
y con el diablo al servicio de todos ellos
internet ha sido un gran descubrimiento
contra la obesidad de las charlas
y de los falos
hoy
(me dicen las pitonisas)
nadie exhibe los huevos
como antes.

Improviso para antecipar o descanso...

E um dia
não terei mais palavras para dizer ou escrever
as palavras também esgotam na fonte
como tudo o que morre ou seca
sempre tive a certeza
de que só teria férias de mim
no silêncio.

Ademar
17.06.2008


Improvisación para anticipar el descanso...

Y un día
no tendré más palabras que decir o escribir
las palabras también se agotan en la fuente
como todo lo que muere o se seca
siempre he tenido la certeza
de que solo tendría vacaciones de mí
en el silencio.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Improviso para natureza quase morta...

De costas
todos os machos parecem
muito menos imperfeitos
aprendi nos olhares impudicos
(os livros pecam por omissão)
que não há rabo
que as mulheres não cobicem.

Ademar
16.06.2008


Improvisación para naturaleza casi muerta...

De espaldas
todos los machos parecen
mucho menos imperfectos
he aprendido en las miradas impúdicas
(los libros pecan por omisión)
que no hay cachas
que las mujeres no codicien.

Improviso suspenso de uma nota...

Se eu pudesse chegar a vida atrás
como nos filmes
e não tivesse passado já
o carro do lixo
se tudo fosse ainda reconstruível
ou reciclável
como antes do big bang
e se as palavras não pesassem sempre tanto
sobre a memória
atrofiando-a
nenhum fruto apodrecesse nas mãos
e todos os prazos do olhar
fossem eternos
e também as flores
e o sangue que corre delas
e ainda me tocasses
na quinta corda do violino que fui
no teu arco.

Ademar
15.06.2008


Improvisación colgada de una nota...

Si yo pudiera darle a la vida para atrás
como en las películas
y no hubiera pasado ya
el camión de la basura
si todo fuera todavía reconstruible
o reciclable
como antes del big bang
y si las palabras no pesaran siempre tanto
sobre la memoria
atrofiándola
ningún fruto se pudriera en las manos
y todos los plazos de la mirada
fueran eternos
y también las flores
y la sangre que corre de ellas
y todavía me tocaras
en la quinta cuerda del violín que fui
en tu arco.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Improviso para fazer o download do dia...

Tudo bem
a vida hoje correu ao largo
não consegui os mínimos para Pequim
mas também não traí a verdade desportiva
bebi do mesmo sangue de ontem
e do mesmo vinho
e comi à mesa de todas as ilusões
servindo-me das sobras do destino
não fui à praia
nem à montanha
passeei apenas no pântano
e devo ter sido feliz
pelo menos
não me lembro de ter pensado
que amanhã poderá ser diferente.

Ademar
14.06.2008


Improvisación para hacer el download del día...

Todo bien
la vida hoy corrió a lo ancho
no conseguí los mínimos para Pequín
pero tampoco tracioné la verdad deportiva
bebí de la misma sangre que ayer
y el mismo vino
y comí a la mesa de todas las ilusiones
sirviéndome de las sobras del destino
no fui a la playa
ni a la montaña
me paseé nada más por el pantano
y debo de haber sido feliz
por lo menos
no recuerdo haber pensado
que mañana podrá ser diferente.

Improviso só para chatear os europarvos...

Quando os rebanhos mandam à merda
os putativos pastores
a vida e a história
têm muito mais encanto
e o oxigénio até parece finalmente sobrar
para todos.

Ademar
14.06.2008


Improvisación sólo para fastidiar a los eurotontos...

Cuando los rebaños mandan a la mierda
a los putativos pastores
la vida y la historia
tienen mucho más encanto
y el oxígeno hasta parece por fin llegar
para todos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Improviso em forma de post-it...

Essas botas não são para descalçar
senhora
forram o desejo
até ao mais íntimo da pele
e a memória
de todas as mãos
que ajoelharam por elas
também as minhas
senhora
também as minhas.

Ademar
13.06.2008


Improvisación en forma de post-it...

Esas botas no son para descalzarlas
señora
forran el deseo
hasta lo más íntimo de la piel
y la memoria
de todas las manos
que se arrodillaron por ellas
también las mías
señora
también las mías.

domingo, 4 de setembro de 2011

Improviso sob a inspiração de Cole Porter...

Ninguém sabe como morro
todas as noites
quando o pensamento me foge
e não consigo mais agarrá-lo
ninguém sabe como as mãos
se misturam nas palavras e nos sons
e como trabalham diligentemente
a matéria sempre fátua da ausência
ninguém sabe como me divirto
desejando o indesejável
e morrendo assim
ou ainda vivendo.

Ademar
12.06.2008


Improvisación bajo la inspiración de Cole Porter...

Nadie sabe cómo me muero
todas las noches
cuando el pensamiento se me escapa
y ya no logro agarrarlo
nadie sabe cómo las manos
se mezclan en las palabras y en los sonidos
y cómo trabajan diligentemente
la materia siempre fatua de la ausencia
nadie sabe cómo me divierto
deseando lo indeseable
y muriéndome así
o todavía viviendo.

sábado, 3 de setembro de 2011

A surpresa tem corpo e forma
de réptil
distraio os pés
e sinto logo o pântano
no interior da terra que me grita
todos os dias acrescentam indecisão
à nenhuma sabedoria do destino
em que tropeço
não sei se viva
ou se escreva
já fui menos incompatível.

Ademar
11.06.2008


Improvisación para interrogarme...

La sorpresa tiene cuerpo y forma
de reptil
distraigo los pies
y siento en seguida el pantano
en el interior de la tierra que me grita
todos los días añaden indecisión
a la nula sabiduría del destino
en que tropiezo
no sé si vivir
o si escribir
ya he sido menos incompatible.

Improviso junto ao cais...

Na fronteira das lágrimas
a mais próxima do medo
não me perdi das tuas mãos
nem as tuas mãos me perderam
que sempre a água tece
o que a terra decompõe.

Ademar
10.06.2008


Improvisación junto al muelle...

En la frontera de las lágrimas
la más próxima al miedo
no me perdí de tus manos
ni tus manos me perdieron
que siempre el agua teje
lo que la tierra descompone.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Improviso intemporal...

Nenhuma árvore resume
os benefícios da civilização
nem o plátano de Handel
em ombra ma fù
não há voz que nos agarre
quando falha o tronco ou a imortalidade
e tudo no pensamento parece perfeito
o arco-íris súbito nas cores do horizonte
e as mãos que prolongam ainda a avidez
nas palavras que comem a noite
nenhum poema honesto
dir-te-á menos do que isto.

Ademar
09.06.2008


Improvisación intemporal...

Ningún árbol resume
los beneficios de la civilización
ni el plátano de Handel
en ombra ma fù
no hay voz que nos agarre
cuando falta el tronco o la imortalidad
y todo en el pensamiento parece perfecto
el arcoíris súbito en los colores del horizonte
y las manos que prolongan aún la avidez
en las palabras que comen a la noche
ningún poema honesto
te dirá menos que esto.

Improviso para explicar Alberto Pimenta aos indígenas...

A existência da maior parte dos filhos da puta
prova apenas
que o verdadeiro problema
não está nas putas
nem necessariamente na descendência delas
tenho mesmo por amplamente demonstrado
que todas as mulheres são respeitáveis
mesmo quando se deixam emprenhar
pelos pais dos filhos da puta
a investigação académica concluiu
(e as universidades
sabem muito bem do que falam)
que o problema dos filhos da puta
não está nas putas
mas a montante delas
ou seja
nos espermatozóides
que carimbam sempre o destino da descendência.

Ademar
08.06.2008


Improvisación para explicarles Alberto Pimenta a los indígenas...

La existencia de la mayor parte de los hijos de puta
prueba solo
que el verdadero problema
no está en las putas
ni necesariamente en la descendencia de estas
tengo incluso por ampliamente demostrado
que todas las mujeres son respetables
hasta cuando se dejan preñar
por los padres de los hijos de puta
la investigación académica ha concluído
(y las universidades
saben muy bien de qué hablan)
que el problema de los hijos de puta
no está en las putas
sino por encima de ellas
o sea
en los espermatozoides
que sellan siempre el destino de la descendencia.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Improviso contrastante...

O ópio tem a forma de uma lua
que não dorme
a alegria é pouca coisa
uma rua que ainda grita
na noite suspensa
dos títulos da insónia.

Ademar
07.06.2008


Improvisación contrastante...

El opio tiene la forma de una luna
que no duerme
la alegría es poca cosa
una calle que aún grita
en la noche colgada
de los títulos del insomnio.

Improviso no pretérito mais-do-que-imperfeito...

Há noites em que me pesa ainda mais
a memória das palavras
e fico enredado nelas
como numa espécie de novelo de mim
sigo então a pista do último gato
que molhou as patas no sangue
dos meus dedos feridos
e ponho-me novamente à escuta do universo
atrás do silêncio.

Ademar
06.06.2008


Improvisación en pretérito más-que-imperfecto...

Hay noches en las que me pesa todavía más
la memoria de las palabras
y me quedo enredado en ellas
como en una especie de ovillo de mí
sigo entonces la pista del último gato
que mojó las patas en la sangre
de mis dedos heridos
y me pongo nuevamente a la escucha del universo
por detrás del silencio.