sábado, 31 de julho de 2010

21.05.2006

Antologia poética (355)...

Improviso na forma quase de epitáfio...

Se pudesse reescrever-me
contar-me-ia ao contrário
de dentro para fora
e nunca de fora para dentro.

Ademar
21.05.2006


Antología poética (355)...

Improvisación en forma casi de epitafio...

Si pudiera reescribirme
me contaría del revés
de dentro hacia afuera
y nunca de fuera hacia adentro.

22.05.2006

Antologia poética (354)...

Improviso para compor na forma de moteto...

Há corpos em que embarcamos
para nos perdermos no alto-mar
e corpos em que morremos
antes de sabermos nadar.

Ademar
22.05.2006


Antología poética (354)...

Improvisación para componer en forma de motete...

Hay cuerpos en que nos embarcamos
para perdernos en alta mar
y cuerpos en que nos morimos
antes de saber nadar.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

22.05.2006

Antologia poética (353)...

Improviso a benefício do medo...

Voltarás a ouvir o silêncio
e arrumarás talvez o cachecol
na gaveta das intimidades impartilháveis
para que não sintas mais vontade
de te cheirar
faltar-te-á uma voz
do outro lado da cidade
mas ainda do mesmo lado de ti
uma voz entre o inverno e a primavera
que bordava simplesmente murmúrios
e morrerás um pouco mais
todas as noites
prisioneira dos medos que geraste
e de todas as mãos ausentes.

Ademar
22.05.2006


Antología poética (353)...

Improvisación a beneficio del miedo...

Volverás a oír el silencio
y guardarás quizá la bufanda
en el cajón de las intimidades incompartibles
para no sentir ya más ganas
de olerte
te faltará una voz
del otro lado de la ciudad
pero aún del mismo lado de ti
una voz entre el invierno y la primavera
que bordaba simplemente murmurios
y morirás un poco más
todas las noches
prisionera de los miedos que engendraste
y de todas las manos ausentes.

23.05.2006

Antologia poética (352)...

Improviso para harpa e duas mãos...

Descobriste muito tarde
aprendeste apenas comigo
que também tinhas duas mãos
e podias ser harpa
a madrugada solitária
transporta-me agora o eco
das tuas cordas
reconheço-te ainda na partitura.

Ademar
23.05.2006


Antología poética (352)...

Improvisación para arpa y dos manos...

Has descubierto muy tarde
lo has aprendido sólo conmigo
que también tenías dos manos
y podías ser arpa
la madrugada solitaria
me transporta ahora el eco
de tus cuerdas
te reconozco todavía en la partitura.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

24.05.2006

Antologia poética (351)...

Improviso para cadastro e baixo contínuo...

Não me engoliste
não te engasgaste
foste mãe para mim no pretérito
muito mais do que perfeita.

Ademar
24.05.2006

Antología poética (351)...

Improvisación para registro y bajo continuo...

No me has tragado
no te has atragantado
has sido madre para mí en el pretérito
mucho más que perfecta.

24.05.2006

Antologia poética (350)...

Improviso para masoquistas...

Talvez rastejar e ajoelhar
sejam apenas verbos
e não atributos
de quem se oferece à submissão
quem rasteja e ajoelha
mais tarde ou mais cedo
levanta-se
com a sabedoria ou a raiva
do chão.

Ademar
24.05.2006


Antología poética (350)...

Improvisación para masoquistas...

Tal vez arrastrarse y arrodillarse
sean sólo verbos
y no atributos
de quien se ofrece a la sumisión
quien se arrastra y arrodilla
antes o después
se levanta
con la sabiduría o la rabia
del suelo.

25.05.2006

Antologia poética (349)...

Improviso sobre os dias contados da primavera...

Morrerás um dia
para todos os olhos
e todas as mãos
que te vibraram
mas antes disso
deixarás de te ver ao espelho
as fêmeas borboletas
têm vida efémera
seca-lhes depressa a fonte do desejo
e todas as janelas passam a abrir
apenas para o deserto
a primavera
minha amiga
tem os dias contados.

Ademar
25.05.2006

Antología poética (349)...

Improvisación sobre los días contados de la primavera...

Te morirás un día
para todos los ojos
y todas las manos
que te vibraron
pero antes de eso
dejarás de verte al espejo
las hembras mariposas
tienen vida efímera
se les seca rápido la fuente del deseo
y todas las ventanas pasan a abrirse
solamente hacia el desierto
la primavera
amiga mía
tiene los días contados.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

26.05.2006

Antologia poética (348)...

Improviso pré-arquitectónico...

Todas as casas
são templos de magia
estão cheias de tudo
o que lá não está.

Ademar
26.05.2006


Antología poética (348)...

Improvisación prearquitectónica...
Todas las casas
son templos de magia
están llenas de todo
lo que en ellas no está.

26.05.2006

Antologia poética (347)...

Improviso a benefício da saudade...

Um dia
quando eu já for uma ausência eterna
ler-me-ás talvez com outros olhos
a morte que sempre há-de iluminar-nos.

Ademar
26.05.2006


Antología poética (347)...

Improvisación a beneficio de la añoranza...

Un día
cuando yo ya sea una ausencia eterna
me leerás tal vez con otros ojos
la muerte que siempre nos iluminará.

27.05.2006

Antologia poética (346)...

Improviso em forma de urgência...

Há sempre fantasia a mais
nas palavras com que despimos
esse território que desejaríamos comum
sofremos talvez de excesso de metáforas
ou de uma incapacidade elementar
de aspirar apenas ao possível
como se temêssemos que no possível
já não houvesse mais lugar
para nos agregarmos
a música pela música
com toda a poética lá dentro
ou simplesmente o sexo
essa superlativa evidência dos sentidos
que projecta os nossos corpos
na direcção contrária da morte.

Ademar
27.05.2006


Antología poética (346)...

Improvisación en forma de urgencia...
Hay siempre demasiada fantasía
en las palabras con que desnudamos
ese territorio que desearíamos común
sufrimos tal vez de exceso de metáforas
o de una incapacidad elemental
de aspirar solamente a lo posible
como si temiéramos que en lo posible
ya no hubiese más sitio
para agregarnos
la música por la música
con toda la poética ahí dentro
o simplemente el sexo
esa superlativa evidencia de los sentidos
que proyecta nuestros cuerpos
en dirección contraria a la muerte.

27.05.2006

Antologia poética (345)...

Improviso fraternal...

Não distingues
entre maldade e imperfeição
e confundes-te com ambas
julgando-te porém acima delas
se as distinguisses
saberias
que a maldade aspira sempre à perfeição.

Ademar
27.05.2006


Antología poética (345)...

Improvisación fraternal...

No distingues
entre maldad e imperfección
y te confundes con ambas
creyéndote, no obstante, por encima de ellas
si las distinguieras
sabrías
que la maldad aspira siempre a la perfección.

terça-feira, 27 de julho de 2010

01.03.2006

Antologia poética (307)...

Improviso geresiano...

As palavras mendigam-te
mas tu ainda não abriste o dicionário
para me traduzires.

Ademar
01.03.2006


Antología poética (307)...

Improvisación geresiana...

Las palabras te mendigan
pero tú aún no has abierto el diccionario
para traducirme.

19.03.2006

Antologia poética (261)...

Improviso sem tradução...

Renasces
em cada sorriso envergonhado
e aprendes a gemer
como se em cada gemido
só viajasses através de ti
sem admitires tradução
não há dicionário de étimos
para a iniciação destes gestos
estamos sempre a improvisar
recriamo-nos eternamente.

Ademar
19.03.2006


Antología poética (261)...

Improvisación sin traducción...

Renaces
en cada sonrisa ruborizada
y aprendes a gemir
como si en cada gemido
sólo viajases a través de ti
sin admitir traducción
no hay diccionario de étimos
para la iniciación de estos gestos
estamos siempre improvisando
nos recreamos eternamente.

15.02.2006

Antologia poética (239)...

Improviso com dedicatória sobre uma fotografia...









Ainda há lugares nocturnos
que só a lua engana à escuridão
e onde a chuva não desce sobre os olhos
em cascatas de luz
que só as crianças reconhecem
ainda há vales
que nos conduzem ao silêncio transversal
das vidas que talvez jamais viveremos
vejo-te agora debruçada sobre as águas
da aldeia desaparecida
algures entre o gerês e a amarela
e vou interrogando os múltiplos sentidos da saudade
na impossível tradução das palavras
que nenhum dicionário nos ensinará a usar.

Ademar
15.02.2006


Antología poética (239)...

Improvisación con dedicatoria sobre una fotografía...

Aún hay lugares nocturnos
en que sólo la luna engaña a la oscuridad
y donde la lluvia no desciende sobre los ojos
en cascadas de luz
que sólo los niños reconocen
Aún hay valles
que nos conducen al silencio transversal
de las vidas que tal vez jamás viviremos
te veo ahora asomada a las aguas
de la aldea desaparecida
en algún lugar entre el gerês y la amarela
y voy interrogando a los múltiples sentidos de la saudade
en la imposible traducción de las palabras
que ningún dicionario nos enseñará a usar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

16.02.2006

Antologia poética (237)...

Improviso sobre a urgência do dicionário...

Há dialectos
que os meus olhos não entendem
falta-me o dicionário
para perceber o que calas.

Ademar
16.02.2006


Antología poética (237)...

Improvisación sobre la urgencia del diccionario...

Hay dialectos
que mis ojos no entienden
me falta el diccionario
para comprender lo que te callas.

11.09.2006

Improviso sobre todas as mulheres e nenhuma...

Uma mulher é
uma mulher
uma mulher
uma mulher
as mulheres choram
as mulheres gemem
as mulheres sangram
as mulheres não dormem
as mulheres desconhecem o plural
dos substantivos masculinos
e femininos
quando é o caso
as mulheres têm muito mais
do que duas pernas
e dois braços
quando sorriem
sorriem por todos os lábios
e os seus olhos perscrutam sempre
o invisível
mulheres-bruxas
mulheres-feiticeiras
mulheres-absolutas
como diria Herberto Helder
nesse poema contínuo
que nem a morte interromperá
mulheres que nunca jogam em serviço
mulheres que sonham
destinos sempre improváveis
que serpenteiam ausências
através do desejo dos homens
e das outras mulheres
quando é o caso
que silenciam e gritam
que seduzem e fogem
que abrigam e desabrigam
e nunca deixam de amar
mulheres servidas eternamente à poesia
porque só a poesia as serve
nessa fronteira intangível
das palavras que sabem tudo
dizendo nada.

Ademar
11.09.2006


Improvisación sobre todas las mujeres y ninguna...

Una mujer es
una mujer
una mujer
una mujer
las mujeres lloran
las mujeres gimen
las mujeres sangran
las mujeres no duermen
las mujeres desconocen el plural
de los sustantivos masculinos
y femeninos
si llega el caso
las mujeres tienen mucho más
que dos piernas
y dos brazos
cuando sonríen
sonríen por todos los labios
y sus ojos escrutan siempre
lo invisible
mujeres-brujas
mujeres-hechiceras
mujeres-absolutas
como diría Herberto Helder
en ese poema continuo
que ni la muerte interrumpirá
mujeres que nunca se andan con tonterías
mujeres que sueñan
destinos siempre improbables
que serpentean ausencias
a través del deseo de los hombres
y de las otras mujeres
si llega el caso
que silencian y gritan
que seducen y huyen
que abrigan y desabrigan
y nunca dejan de amar
mujeres servidas eternamente a la poesía
porque sólo la poesía las sirve
en esa frontera intangible
de las palabras que lo saben todo
diciendo nada.

domingo, 25 de julho de 2010

10.09.2006

Improviso para contar cadáveres...

Entre a morte e a ausência
que já mal distingo
vagueio neste labirinto de sombras
rastos vestígios sinais
pijamas que ainda cheiram
chinelos que ficaram órfãos de pés
toalhas de banho distraídas de corpos
que não voltarão aqui a humedecer
dizes
talvez o mel e as tostas integrais
a lingerie esquecida na gaveta dos acessórios
a máquina de filmar
com o desejo todo lá dentro
e as laranjas para o sumo que já ninguém bebe
e o haxixe que já ninguém fuma
e os lençóis e as almofadas que dormem finalmente
a indiferença
amanhã regressarei ao cemitério
para contar de novo os cadáveres
falta um.

Ademar
10.09.2006


Improvisación para contar cadáveres...

Entre la muerte y la ausencia
que ya apenas distingo
vago por este laberinto de sombras
rastros vestigios indicios
pijamas que todavía huelen
zapatillas que quedaron huérfanas de pies
toallas de baño distraídas de cuerpos
que no volverán aquí a humedecerse
dices
tal vez la miel y las tostadas integrales
la lencería olvidada en el cajón de los complementos
la máquina de filmar
con todo el deseo ahí dentro
y las laranjas para el zumo que ya nadie bebe
y el hachís que ya nadie fuma
y las sábanas y las almohadas que duermen por fin
la indiferencia
mañana regresaré al cementerio
para contar de nuevo los cadáveres
falta uno.

08.09.2006

Improviso heterónimo...

Não me falta uma cama para adormecer
falta-me apenas uma almofada
com a forma talvez do teu corpo
e uma voz que secretamente me recorde
que deixei enfim de morrer.

Ademar
08.09.2006


Improvisación heterónima...

No me falta una cama para dormirme
me falta sólo uma almohada
con la forma tal vez de tu cuerpo
y una voz que secretamente me recuerde
que he dejado por fin de morirme.

08.09.2006

Improviso para provar sentimentos...

Tu
que enfeitiças sentimentos
ensina-me a sentir
e não me deixes morrer
desensinado de ti.

Ademar

08.09.2006


Improvisación para probar sentimientos...


que hechizas sentimientos
enséñame a sentir
y no me dejes morir
desenseñado de ti.

sábado, 24 de julho de 2010

06.09.2006

Improviso para evitar a urgência...

Dói-me a cabeça
na ponta das mãos
deve ser trovoada
lá fora ou cá dentro
hoje vou-me deitar
com santa bárbara.

Ademar
06.09.2006


Improvisación para evitar la urgencia...

Me duele la cabeza
en la punta de las manos
debe de ser tormenta
ahí fuera o aquí dentro
hoy me voy a acostar
con santa bárbara.

05.09.2006

Improviso para servir de canoa...

Se não fosses mais do que caudal
eu seria canoa
se rumorejasses apenas
eu faria do silêncio
dialecto
e dir-te-ia palavras
inavegáveis
se não tivesses morrido
em tantas margens
milagrar-te-ia.

Ademar
05.09.2006


Improvisación para servir de canoa...

Si no fueses más que caudal
yo sería canoa
si rumoreases solamente
yo haría de silencio
dialecto
y te diría palabras
innavegables
si no te hubieses muerto
en tantas orillas
te milagrearía.

04.09.2006

Improviso da cor do tijolo...

São códigos
quase metáforas
muito mais do que um problema de cor
ou de formato
talvez uma intriga de olhares
uma reserva de mãos
memórias de outras telas
quando quase tudo
ainda esperava por mim
lê-me bem nesse tijolo
e faz-me renascer.

Ademar
04.09.2006


Improvisación de color ladrillo...

Son códigos
casi metáforas
mucho más que un problema de color
o de formato
tal vez una intriga de miradas
una reserva de manos
recuerdos de otros lienzos
cuando casi todo
aún esperaba por mí
léeme bien en ese ladrillo
y hazme renacer.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

03.09.2006

Improviso de escárnio e bem-dizer...

Esbarro sempre
senhora
na metafísica
uma prima da noite aliás
diagnosticou-me há muito a deficiência
défice congénito de glamour
parece que eu devia usar jeans
(escreve-se assim?)
e camisas largonas
diz ela
estampadas à maneira
percebi
com este magro q.i.
que sou completamente destituído
de maneiras
a Caras não vai decerto
com a minha
de resto senhora
acumulo deficiências
nasci no norte
vivo no norte
e não vou a festas
(festas é em casa
dizia a minha mãe)
para tacanho e provinciano
(está a ver?)
não me falta nada
tenho menos serventia
do que um preservativo furado
as melhores pilas da nação
já se sabe
estão em Lisboa
ou em trânsito para o Algarve
e eu perdi-me da minha
agora
já só uso os dedos das mãos
(quando não me atrapalham)
para blogar poesia.

Ademar
03.09.2006


Improvisación de escarnio y bien-decir...

Me tropiezo siempre
señora
en la metafísica
una prima de la noche por cierto
me diagnosticó hace mucho la deficiencia
déficit congénito de glamour
parece que yo debería usar jeans
(¿se escribe así?)
y camisas grandotas
dice ella
estampadas a juego
entendí
con este flaco q.i.
que soy completamente carente
de maneras
la Caras no va desde luego
con la mía
por lo demás señora
acumulo deficiencias
nací en el norte
vivo en el norte
y no voy a fiestas
(las fiestas en casa
decía mi madre)
para tacaño y provinciano
(¿lo ve?)
no me falta nada
tengo menos utilidad
que un preservativo pinchado
las mejores pililas de la nación
ya se sabe
están en Lisboa
o en tránsito hacia el Algarve
y yo me perdí de la mía
ahora
ya sólo uso los dedos de las manos
(cuando no me aturullan)
para bloguear poesía.

01.05.2005

Retomando um poema escrito sobre Walk on by...

Improviso geracional, escrito sobre "Walk on by", de Isaac Hayes (1969)...













Li Marcuse
mas cheguei atrasado a Berkeley e a Nanterre
comecei por acreditar em Dubcek
mas Kafka reteve-me no aeroporto de todas as dúvidas
e já não apanhei a tempo
o avião para Praga
tentei ainda Woodstock (depois de ir à Lua)
mas a lotação estava esgotada
e quando finalmente
desci em Coimbra B
até o Alberto já tinha sido mobilizado
para a guerra colonial
e não fui além do Easy Rider
entre baladas de protesto
tenho andado sempre um passo atrás
da história que me destinaram
mas continuo a recusar a amnésia
com Walk on by.

Ademar
01.05.2005


Retomando un poema escrito sobre Walk on by...

Improvisación generacional, escrito sobre "Walk on by", de Isaac Hayes (1969)...

Leí a Marcuse
pero llegué tarde a Berkeley y a Nanterre
empecé por creer en Dubcek
pero Kafka me retuvo en el aeropuerto de todas las dudas
y ya no cogí a tiempo
el avión a Praga
intenté aún Woodstock (después de ir a la Luna)
pero se habían agotado las entradas
y cuando por fin
me bajé en Coímbra B
hasta a Alberto lo habían mobilizado
a la guerra colonial
y no pasé del Easy Rider
entre baladas de protesta
he ido siempre un paso por detrás
de la historia que me habían destinado
pero sigo rechazando la amnesia
con Walk on by.

20.03.2005

Antologia poética (34)...

Improviso erótico...

De vez em quando apetece-me a reciclagem
deposito-me num contentor
e fico à espera que me levem
para a incineradora mais próxima
sinto que adoeço do lixo acumulado
depuro-me no fogo.

Ademar
20.03.2005


Antología poética (34)...

Improvisación erótica...

De vez en cuando me apetece reciclarme
me deposito en un contenedor
y me quedo esperando a que se me lleven
a la incineradora más cercana
siento que enfermo por la basura acumulada
me depuro en el fuego.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

15.03.2005

Antologia poética (33)...

Improviso (em prosa?) sobre um acordeão esquecido...

Há um instrumento musical em que sempre tropeço,
quando me levam pela mão a ouvi-lo: o acordeão.
Sento-me na soleira da porta da casa dos meus pais
fecho os olhos para fingir de cego
(ou fixo-os num ponto qualquer ausente em mim)
e toco.
Toco aquele velho e trôpego acordeão,
enquanto as beatas de mantilha negra
a caminho do ofício do terço (ou seria da verbena?)
deixam a moeda distraída no chapéu virado do avesso,
como agora a minha memória.
Os homens não levam a mão ao bolso.
A caridade é feminina.
E eu continuo a tocar para ninguém
o acordeão que me escorre dos dedos
(ou será da alma?).
Hei-de procurar-me lá:
na soleira da casa onde nasci.
Talvez me encontre
(ou a partitura)...

Ademar
15.03.2005


Antología poética (33)...

Improvisación (¿en prosa?) sobre un acordeón olvidado...

Hay un instrumento musical en el que siempre me tropiezo,
cuando me llevan de la mano a oírlo: el acordeón.
Me siento en el umbral de la puerta de la casa de mis padres
cierro los ojos para hacerme el ciego
(o los fijo en un punto cualquiera ausente en mí)
y toco.
Toco aquel viejo y torpe acordeón,
mientras las beatas de mantilla negra
camino del rosario (¿o sería de la verbena?)
dejan la moneda distraída en el sombrero vuelto del revés,
como ahora mi recuerdo.
Los hombres no se llevan la mano al bolsillo.
La caridad es femenina.
Y yo sigo tocando para nadie
el acordeón que se me escurre de los dedos
(¿o será del alma?).
Allí me buscaré:
en el umbral de la casa donde nací.
Tal vez me encuentre
(o la partitura)...

18.03.2005

Antologia poética (32)...

Improviso sobre um estudo de Malhoa (3)...













Há sempre em mim
uma criança que te espreita e procura
regresso no fim ao princípio de tudo
para que me acolhas e rejeites.

Ademar
18.03.2005


Antología poética (32)...

Improvisación sobre un estudio de Malhoa (3)...

Hay siempre en mí
un niño que te observa y busca
regreso finalmente al principio de todo
para que me acojas y rechaces.

18.03.2005

Antologia poética (31)...

Improviso sobre um estudo de Malhoa (2)...













A metade da mulher que eu não reconheço
pertence à imaginação
é a parte que brinca
com a liquidez marítima dos meus olhos.

Ademar
18.03.2005


Antología poética (31)...

Improvisación sobre un estudio de Malhoa (2)...

La mitad de la mujer que no reconozco
pertenece a la imaginación
es la parte que juguetea
con la liquidez marítima de mis ojos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

18.03.2005

Antologia poética (30)...

Improviso sobre um estudo de Malhoa (1)...













Não sei se saio do teu corpo
ou das vestes que o prolongam
escondo-me sempre atrás do desejo
para parecer ausente.

Ademar
18.03.2005


Antología poética (30)...

Improvisación sobre un estudio de Malhoa (1)...

No sé si salgo de tu cuerpo
o del atuendo que lo prolonga
me escondo siempre detrás del deseo
para parecer ausente.

25.03.2005

Antologia poética (29)...

Improviso sobre a eutanásia...

Não quero que me mates
se fores capaz de entender a diferença
pedir-te-ei simplesmente
que me ajudes a morrer.

Ademar
25.03.2005


Antología poética (29)...

Improvisación sobre la eutanasia...

No quiero que me mates
si eres capaz de entender la diferencia
te pediré simplemente
que me ayudes a morir.

27.03.2005

Antologia poética (28)...

Improviso ao estilo de Manoel de Barros...

Hei-de crescer com as silvas
e morrer entre elas
predestinei-me para erva daninha.

Ademar
27.03.2005


Antología poética (28)...

Improvisación al estilo de Manoel de Barros...

Creceré com las zarzas
y moriré entre ellas
me he predestinado a mala hierba.

24.02.2005

Antologia poética (26)...

Improviso sobre a gaguez do silêncio...

Perguntas-me pelo libreto
como se as árias que arrisco nesta descontínua partitura
já não fossem suficientes
para me cantar
digo-te
não tenho a paciência interior
dos maratonistas da alma
continuo fechado no quarto da infância
entre dicionários cromos e legos
a minha mãe ainda bate à porta
e zanga-se com a chave por dentro
continuo a improvisar os medos da infância
já escrevi e reescrevo aqui
hei-de morrer de inibições
ainda que te desiludas
negar-me-ei sempre o libreto
talvez eu sofra
de uma patologia estranha e quase arcaica
este silêncio sôfrego
e tantas vezes gaguejante.

Ademar
24.02.2005


Antología poética (26)...

Improvisación sobre la tartamudez del silencio...

Me preguntas por el libreto
como si las arias que arriesgo en esta discontinua partitura
no fuesen ya suficientes
para cantarme
te digo
no tengo la paciencia interior
de los maratoneros del alma
continúo encerrado en el cuarto de la infancia
entre diccionarios cromos y legos
mi madre todavía llama a la puerta
y se enfada con la llave por dentro
continúo improvisando los miedos de la infancia
ya he escrito y reescribo aquí
me moriré de inhibiciones
aunque que te defraudes
me negaré siempre el libreto
tal vez sufra yo
de una patología extraña y casi arcaica
este silencio ávido
y tantas veces tartamudeante.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

30.03.2005

Antologia poética (25)...

Improviso sobre a arte da caça...

A pele
arranhada dos tigres ausentes
(ou seria a alma da mobília?)
a floresta tem tantos silêncios felinos
os segredos é que ainda não estão
ao alcance de todos.

Ademar
30.03.2005


Antología poética (25)...

Improvisación sobre el arte de la caza...

La piel
arañada de los tigres ausentes
(o sería el alma del mobiliario?)
el bosque tiene tantos silencios felinos
los secretos sí que aún no están
al alcance de todos.

31.03.2005

Antologia poética (24)...

Improviso em forma de uivo...

Há quem se canse de latir em segredo
outros ladram para calar o silêncio das noites
desenhas-te na alma
o mapa das solidões animais.

Ademar
31.03.2005


Antología poética (24)...

Improvisación en forma de aullido...

Hay quien se cansa de ladrar en secreto
otros ladran para acallar el silencio de las noches
te dibujas en el alma
el mapa de las soledades animales.

28.03.2005

Antologia poética (23)...

Improviso sobre um desenho de Almada (2)...













Talvez não fosses tu quando mordesses
talvez não fosses tu quando arranhasses
talvez não fosses tu quando gemesses ou gritasses
talvez não fosses tu quando lambesses
talvez não fosses tu quando cheirasses
talvez não fosses tu quando saltasses e fugisses
talvez não fosses tu quando aninhasses
talvez não fosse tu quando escorresses
talvez não fosses tu quando montasses
talvez esse animal que trazes pela coleira
dependurado do instinto.

Ademar
28.03.2005


Antología poética (23)...

Improvisación sobre un dibujo de Almada (2)...

Tal vez no fueras tú cuando mordías
tal vez no fueras tú cuando arañabas
tal vez no fueras tú cuando gemías o gritabas
tal vez no fueras tú cuando lamías
tal vez no fueras tú cuando olías
tal vez no fueras tú cuando saltabas y huías
tal vez no fueras tú cuando te acurrucabas
tal vez no fueras tú cuando te escurrías
tal vez no fueras tú cuando montabas
tal vez ese animal que llevas del collar
colgado del instinto.

domingo, 18 de julho de 2010

28.03.2005

Antologia poética (22)...

Improviso sobre um desenho de Almada (1)...













Não tenho medidas para a perfeição dos corpos
aprendi na catequese da intimidade
que todos os corpos são imperfeitos
porque neles projectamos sempre alguma ausência
gestos ou formas que não casam exactamente com o desejo
ou talvez mesmo o imperceptível o movimento
que arranha por dentro o olhar e nos cega.

Ademar
28.03.2005


Antología poética (22)...

Improvisación sobre un dibujo de Almada (1)...

No tengo medidas para la perfección de los cuerpos
aprendí en la catequesis de la intimidad
que todos los cuerpos son imperfectos
porque en ellos proyectamos siempre alguna ausencia
gestos o formas que no casan exactamente con el deseo
o tal vez incluso lo imperceptible el movimiento
que araña por dentro la mirada y nos ciega.

Improviso lesa-pátria...*

Antologia poética (21)...

Tenho Portugal atravessado algures em mim
entre o cansaço e a desilusão
pátria género indefinido
macho nas caravelas e fêmea
na vaga espera de todos os solstícios
este excesso de luz que nos cega
esta modorra de negreiros extintos
farsa quase milenar de mascarados
Portugal das cenas do ódio
e de todas as ceias de cardeais
Portugal dos pequeninos
e das mais belas aldeias moribundas
em concurso de sombras
e da padralhada de junqueiro
arena antiga de toureiros e fadistas
e barões ao balcão da mercearia
Portugal também ele exausto
quase tanto como nós.

Ademar
26.02.2005

* Este improviso está musicado aqui.


Antología poética (21)...

Improvisación lesa patria...

Tengo Portugal atravesado en algún sitio en mí
entre el cansancio y la desilusión
patria género indefinido
macho en las carabelas y hembra
en la vaga espera de todos los solsticios
este exceso de luz que nos ciega
esta modorra de negreros extinguidos
farsa casi milenaria de enmascarados
Portugal de las escenas del odio
y de todas las cenas de cardenales
Portugal de los pequeñitos
y de las más bellas aldeas moribundas
en concurso de sombras
y de los curas de junqueiro
arena antigua de toreros y fadistas
y barones en el mostrador de la tienda
Portugal también él exhausto
casi tanto como nosotros.

26.02.2005

Antologia poética (20)...

Improviso sobre ninguém...

Às escondidas eternamente dos meus pais
venho há muitos anos do futuro
a dançar com alguém que desconheço
uma mulher (suspeito)
porque só as mulheres dançam assim
nos meus braços vazios
é em ti que eu me projecto em movimento
quando desejo ninguém.

Ademar
26.02.2005


Antología poética (20)...

Improvisación sobre nadie...

A escondidas eternamente de mis padres
vengo hace muchos años del futuro
a bailar con alguien que desconozco
una mujer (sospecho)
porque sólo las mujeres bailan así
en mis brazos vacíos
es en ti en quien me proyecto en movimiento
cuando deseo a nadie.

sábado, 17 de julho de 2010

27.02.2005

Antologia poética (19)...

Improviso para violoncelo e silêncio...

Há dias em que homossexualmente me basto
com as suites para violoncelo de
Johann Sebastian Bach
não preciso de mais
para antecipar a superior e feminina
musicalidade do silêncio que me espera
depois da última nota.

Ademar
27.02.2005


Antología poética (19)...

Improvisación para violonchelo y silencio...

Hay días en que homosexualmente me basto
con las suites para violonchelo de
Johann Sebastian Bach
no necesito más
para anticipar la superior y femenina
musicalidad del silencio que me espera
depués de la última nota.

08.02.2005

Antologia poética (18)...

Improviso quase musical...

Não tenho batuta nem maestro que me dirija
quando as palavras descendo pelas mãos
me instrumentam
toco-me de ouvido
eu próprio sou a partitura das notas
que fixam os silêncios do meu corpo
que falam
viajo numa galáxia de vozes
entre mim e todos os outros.

Ademar
08.02.2005


Antología poética (18)...

Improvisación casi musical...

No tengo batuta ni maestro que me dirija
cuando las palabras bajando por las manos
me instrumentam
me toco de oído
yo mismo soy la partitura de las notas
que fijan los silencios de mi cuerpo
que hablan
viajo en una galaxia de voces
entre yo y todos demás.

05.02.2005

Antologia poética (17)...

Improviso sobre o regresso...

Com a alma de inverno
fui procurar-me na primavera e voltei
os olhos perfumados de camélias altivas
e as mãos nervosamente suspensas
sobre o tacto prometido
não sou predestinável a viagens impossíveis
tenho o treino e a teimosia dos navegadores solitários
que nunca recuam
perante os mais íntimos horizontes do medo.

Ademar
05.02.2005


Antología poética (17)...

Improvisación sobre el regreso...

Con el alma de invierno
he ido a buscarme a la primavera y he vuelto
los ojos perfumados de camelias altivas
y las manos nerviosamente suspendidas
sobre el tacto prometido
no soy predestinable a viajes imposibles
tengo el entrenamiento y la tenacidad de los navegadores solitarios
que nunca retroceden
ante los más íntimos horizontes del miedo.

02.02.2005

Antologia poética (16)...

Improviso sobre um abandono de camélias...

Tenho um quintal
plantado na saudade da infância
a que subia por uma estreita escada de granito
sofridamente talhada numa vertente de séculos
era lá que eu me esculpia solitário
entre nomes de coisas que pareciam sorrir
à lógica ainda refractária do meu entendimento
eu não sabia ainda de fronteiras marítimas
nem de caravelas galopantes
mas todos os meus sentidos costumavam dialogar em segredo
com o mistério das formas que me renasciam
interrogando a luz e o cheiro
daquelas corolas que a minha mãe
dizia exiladas do oriente
só muito mais tarde compreendi que as japoneiras
precisavam do silêncio dos meus olhos
para florir neste inverno.

Ademar
02.02.2005


Antología poética (16)...

Improvisación sobre un abandono de camelias...

Tengo un jardín
plantado en la nostalgia de la infancia
a la que subía por una estrecha escalera de granito
sufridamente tallada en una pendiente de siglos
era allí donde yo me esculpía solitario
entre nombres de cosas que parecían sonreír
a la lógica todavía refractaria de mi entendimiento
yo no sabía aún de fronteras marítimas
ni de carabelas galopantes
pero todos mis sentidos solían dialogar en secreto
con el misterio de las formas que me renacían
interrogando a la luz y al olor
de aquellas corolas que mi madre
decía exiliadas de oriente
sólo mucho más tarde he comprendido que las camelias
necesitaban el silencio de mis ojos
para florecer en este invierno.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

24.01.2005

Antologia poética (15)...

Improviso ao jeito de Alexandre O'Neill...

Projectei o poema
a partir de quatro metáforas de garantida originalidade
todas elas tão pessoais
e intransmissíveis
(supus)
que seria improvável
para não dizer impossível
que alguém as tivesse usado antes
com as quatro metáforas
empreitei o poema
depois comovi-me ao espelho
(se o poema não comove o autor
é um poema falhado)
e
orgulhoso da obra prima
partilhei-a com o patologista de serviço
à urgência das literaturas
o diagnóstico foi fulminante
nenhuma das metáforas era original
e o poema não passava de um remendo trôpego
de alarvidades
sujeito-me agora
à expiação do copista intalentado
confesso e assino por baixo
esgotei o baú das metáforas
sobra-me apenas um destino honroso
mudar de ramo
(literário).

Ademar
24.01.2005


Antología poética (15)...

Improvisación al estilo de Alexandre O'Neill...

He proyectado el poema
a partir de cuatro metáforas de garantizada originalidad
todas ellas tan personales
e intransmisibles
(he supuesto)
que sería improbable
por no decir imposible
que alguien las hubiera usado antes
con las cuatro metáforas
he construido el poema
después me he conmovido al espejo
(si el poema no conmueve al autor
es un poema fallido)
y
orgulloso de la obra prima
la he compartido con el patólogo de guardia
en urgencias de las literaturas
el diagnóstico ha sido fulminante
ninguna de las metáforas era original
y el poema no pasaba de un remiendo torpe
de ordinarieces
me sujeto ahora
a la expiación del copista intalentado
confieso y subscribo
he agotado el baúl de las metáforas
sólo me resta un destino honroso
mudar de ramo
(literario).

30.01.2005

Antologia poética (14)...

Improviso sobre a ruptura...

Sou um novelo de palavras
não sei onde me termino
evito os pontos finais
porque o futuro pode sempre começar
numa recusa
entre frases que não cheguei a ligar
um gesto suspenso sobre o pântano
uma rosa que não completou o feitiço
um livro que não saiu do cais
dos segredos impartilháveis
sou um novelo de palavras
e vivo enredado em mim
à espera talvez de um milagre
a derradeira metamorfose
o regresso à fonte de todos os inícios.

Ademar
30.01.2005


Antología poética (14)...

Improvisación sobre la ruptura...

Soy un ovillo de palabras
no sé dónde me termino
evito los puntos finales
porque al final el futuro puede empezar
en un rechazo
entre frases que no he llegado a unir
un gesto suspendido sobre el pantano
una rosa que no ha consumado el hechizo
un libro que no ha salido del muelle
de los secretos incompartibles
soy un ovillo de palabras
y vivo enredado en mí
a la espera tal vez de un milagro
la postrera metamorfosis
el regreso a la fuente de todos los inicios.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Antologia poética (431)... Telegramando...

Não me esperes do outro lado da sebe stopNão me obrigues a saltar sobre o muro
que posso cair e partir a bússola stop
Vem ao meu encontro procura-me stop
Estarei onde tu quiseres stop
e trarei comigo um sinal de luz
nos olhos cansados mas ainda abertos stop
para que me distingas na noite stop
no cinzento baço da penumbra dos bosques
por entre os pirilampos stop

Ademar
publicado em Descansando do Futuro - Reserva de Intimidade. Edições Asa. 2003


Antología poética (431)...
Telegramando...

No me esperes del otro lado del seto stop
No me obligues a saltar el muro
que me puedo caer y romper la brújula stop
ven a mi encuentro búscame stop
Estaré donde tú quieras stop
y llevaré conmigo un vestigio de luz
en los ojos cansados pero aún abiertos stop
para que me distingas en la noche stop
en el gris empañado de la penumbra de los bosques
entre las luciérnagas stop

publicado en Descansando do Futuro - Reserva de Intimidade. Edições Asa. 2003

07.12.2004

Improviso para desaprender o futuro...

Já nada peço ao espelho
distraí-me da eternidade
e o tempo corre agora para trás
entre imagens em que já não me revejo
desaprendo-me lentamente
de me espreitar no futuro.

Ademar
07.12.2004


Antología poética (27)...

Improvisación para desaprender el futuro...

Ya nada le pido al espejo
me he despistado de la eternidad
y el tiempo corre ahora hacia atrás
entre imágenes en las que ya no me reconozco
me desaprendo lentamente
de escrutarme en el futuro.

terça-feira, 13 de julho de 2010

15.12.2004

Antologia poética (13) ...

Testamento apócrifo de Alexandre Magno, rei da Macedónia...

De Aristóteles aprendi
que a natureza de cada um
é a sua máxima autoridade
e por isso a minha ambição
não se deteve diante de nenhuma fronteira
a eternidade que escutei em cada batalha
foi a única medida da razão
que a mim próprio me impus
persegui apenas um sonho
e a esse sonho sacrifiquei tudo e todos
menos a vaidade da grandeza que me prometera
não poupei traições nem desconfianças
mas fui magnânimo
com todos os cronistas de aquém e de além-mar
e os vencidos que se ofereceram à vassalagem
em troca do perdão
não vacilei diante dos inimigos
nem temi confrontos desiguais
e aceitei o preço mais alto da solidão
porque esse é o destino impartilhável
dos inventores de futuro
o poder construí-o sobre o mito da invencibilidade
e nem na morte abdiquei dele
digo
de mim
herança intransmissível
para que ninguém o diminuísse
o meu sonho teria que morrer comigo.

Ademar
15.12.2004


Antología poética (13) ...

Testamento apócrifo de Alejandro Magno, rey de Macedonia...

De Aristóteles aprendí
que la naturaleza de cada uno
es su máxima autoridad
y por eso mi ambición
no se ha detenido ante frontera alguna
la eternidad que he escuchado en cada batalla
ha sido la única medida de la razón
que a mí mismo me he impuesto
he perseguido sólo un sueño
y a ese sueño lo he sacrificado todo y a todos
menos la vanidad de la grandeza que me había prometido
no he ahorrado en traiciones ni en desconfianzas
pero he sido magnánimo
con todos los cronistas de éste y del otro lado del mar
y los vencidos que se ofrecieron en vasallaje
a cambio del perdón
no he vacilado ante los enemigos
ni he temido confrontaciones desiguales
y he aceptado el precio más alto de la soledad
porque ése es el destino incompartible
de los inventores de futuro
sobre el mito de la invencibilidad he construido el poder
y ni en la muerte he abdicado de él
digo
de mí
herencia intransmisible
para que nadie lo rebajase
mi sueño tendría que morir conmigo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

27.12.2004

Antologia poética (12)...

Improviso quase poético em forma de brinquedo...

Nem sempre o caminho
é voltar para trás
há esquinas em que apetece
enganar o destino
e seguir numa paralela
há poemas assim como crianças
escondidas debaixo da cama
para não serem vistas
eu tenho uma cama de pregos
por cima das palavras
em que me escondo.

Ademar
27.12.2004


Antología poética (12)...

Improvisación casi poética en forma de juguete...

No siempre el camino
es volver hacia atrás
hay esquinas en que apetece
engañar al destino
y tirar por una paralela
hay poemas así como niños
escondidos debajo de la cama
para que no los vean
yo tengo una cama de clavos
por encima de las palabras
en que me escondo.

13.10.2004

Antologia poética (11)...

Saudades de Veneza...

Quando quero fingir de mim
afivelo uma máscara.

Ademar
13.10.2004


Antología poética (11)...

Añoranza de Venecia...

Cuando me quiero fingir yo
me ciño una máscara.

23.10.2004

Antologia poética (10)...

Improviso através das grades...

Memória cela
como fugir dela?...
como voltar?...
perdi a chave
para poder entrar em mim
e sair de mim
sempre que quiser.

Ademar
23.10.2004


Antología poética (10)...

Improvisación a través de las rejas...

Memoria celda
¿cómo escapar de ella?...
¿cómo volver?...
he perdido la llave
para poder entrar en mí
y salir de mí
siempre que quiera.

domingo, 11 de julho de 2010

18.10.2004

Antologia poética (9)...

My moleskine...

Parece que estamos sempre de partida
para sítio nenhum
viajamos incógnitos no silêncio
entre todos os passados
e todos os futuros
e um dia finalmente
abandonamo-nos a descansar
no cais do esquecimento
chorando um a um
como fazem os náufragos
todos os navios que nos adiaram.

Ademar
18.10.2004


Antología poética (9)...

My moleskine...

Parece que estamos siempre de partida
hacia ningún sitio
viajamos incógnitos en el silencio
entre todos los pasados
y todos los futuros
y un día por fin
nos abandonamos a descansar
en el muelle del olvido
llorando uno a uno
como hacen los náufragos
todos los navíos que nos han postergado.

10.Julho.2004

Antologia poética (8)...

Escrito sobre o "Agnus Dei", de Frank Martin

Há palavras que se anunciam e me despertam
e outras que sem bater à porta entram por mim adentro
sorrateiramente
adoentando-me
Sou em estado de palavras
Não sei donde venho
ignoro todas as origens que me transportam
Por isso
peço apenas hospedagem ou internamento a mim próprio
e ofereço-me às palavras
para sobreviver com elas.

Ademar
10.Julho.2004


Antología poética (8)...

Escrito sobre el "Agnus Dei", de Frank Martin

Hay palabras que se anuncian y me despiertan
y otras que sin llamar a la puerta entran por mí adentro
taimadamente
enfermándome
Soy en estado de palabras
No sé de dónde vengo
ignoro todos los orígenes que me transportan
Por eso
me pido únicamente hospedaje o internamiento a mí mismo
y me regalo a las palabras
para sobrevivir con ellas.

sábado, 10 de julho de 2010

11.Julho.2004

Antologia poética (7)...

Escrito sobre "Christmas Music from Aquitanian Monasteries" (12th century)

Moro na cidade de baixo
esquecido do rumo de outras cidades
Nem campos nem desertos
É daqui que vejo tudo o que sobra para os meus olhos
a rigorosa incontinência dos gestos das pessoas comuns
que já não aspiram a altares na embriaguês dos desejos
e os caminhos circulares dos que ainda procuram as pontes
que nunca existiram
Nem florestas nem praias
Na cidade de baixo
já não há vestígios das sete portas
e a esfinge sou eu.

Ademar
11.Julho.2004


Antología poética (7)...

Escrito sobre "Christmas Music from Aquitanian Monasteries" (12th century)

Vivo en la ciudad de abajo
olvidado del rumbo de otras ciudades
Ni campos ni desiertos
Desde aquí veo todo lo que queda para mis ojos
la rigurosa incontinencia de los gestos de las personas normales
que ya no aspiran a altares en la embriaguez de los deseos
y los caminos circulares de los que todavía buscan los puentes
que nunca han existido
Ni bosques ni playas
En la ciudad de abajo
ya no hay vestigios de las siete puertas
y la esfinge soy yo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Iniciação...

Antologia poética (6)...

Não cobiço nem disputo os teus olhos
não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos
nem sei tão pouco se quero ver o que vêem e do modo como vêem os teus olhos
Nada do que possas ver me levará a ver e a pensar contigo
se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo
Não me digas como se caminha e por onde é o caminho
deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser
Se o caminho dos teus passos estiver iluminado
pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias
mesmo que tu me percas e eu te perca
algures na caminhada certamente nos reencontraremos
Não me expliques como deverei ser
quando um dia as circunstâncias quiserem que eu me encontre
no espaço e no tempo de condições que tu entendes e dominas
Semeia-te como és e oferece-te simplesmente à colheita de todas as horas
Não me prendas as mãos
não faças delas instrumento dócil de inspirações que ainda não vivi
Deixa-me arriscar o barro talvez impróprio
na oficina onde ganham forma e paixão todos os sonhos que antecipam o futuro
E não me obrigues a ler os livros que eu ainda não adivinhei
nem queiras que eu saiba o que ainda não sou capaz de interrogar
Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta
e com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos
ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida.

Ademar
Junho.2000

publicado em Descansando do Futuro (Reserva de Intimidade), Asa, 2003


Antología poética (6)...

Iniciación...

No codicio ni disputo tus ojos
no estoy siquiera esperando que me dejes ver a través de tus ojos
ni sé tampoco si quiero ver qué ven y cómo ven tus ojos
Nada de lo que puedas ver me llevará a ver y a pensar contigo
si no no soy capaz de aprender a ver por mis ojos y a pensar conmigo
No me digas cómo se camina y por dónde es el camino
déjame simplemente acompañarte cuando yo quiera
Si el camino de tus pasos está iluminado
por la más resplandeciente de las estrellas que observan las noches y los días
aunque que tú me pierdas y yo te pierda
en algún lugar de la caminata con seguridad nos reencontraremos
No me expliques cómo deberé ser
cuando un día las circunstancias quieran que yo me encuentre
en el espacio y en el tiempo de condiciones que tú entiendes y dominas
Siémbrate como eres y ofrécete simplemente a la cosecha de todas las horas
No me ates las manos
no hagas de ellas instrumento dócil de inspiraciones que aún no he vivido
Déjame arriesgar el barro tal vez impropio
en el taller donde cobran forma y pasión todos los sueños que anticipan el futuro
Y no me obligues a leer os libros que yo aún no he adivinado
ni quieras que sepa lo que aún no soy capaz de interrogar
Prótegeme de las incursiones obligatorias que ahogan el placer del descubrimiento
y con el silencio (íntimamente sabio) de tus palabras y de tus gestos
ayúdame serenamente a leer y a escribir mi propia vida.

publicado en Descansando do Futuro (Reserva de Intimidade), Asa, 2003

Setembro.2004

Antologia poética (5)...

Improviso sobre outra imagem...












Na memória das imagens que me interrogam
respondo-te com a antiguidade
de um tempo que me precede
Semicerro os olhos e desenho as tuas formas
numa espécie de neblina pré-histórica
Desconhecerei eternamente a idade que nos pertence.

Ademar
Setembro.2004


Antología poética (5)...

Improvisación sobre otra imagen...

En el recuerdo de las imágenes que me interrogan
te respondo con la antigüedad
de un tiempo que me precede
Semicierro los ojos y dibujo tus formas
en una especie de neblina prehistórica
Desconoceré eternamente la edad que nos corresponde.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Setembro.2004

Antologia poética (4)...

Improviso sobre uma imagem...














Aprender as mãos e os ouvidos
aprender o gesto e o corpo
aprender os cheiros e os sabores
aprender o silêncio
aprender o movimento
aprender os sentidos do olhar
e voltar sempre ao princípio de tudo.

Ademar
Setembro.2004

Antología poética (4)...

Improvisación sobre una imagen...

Aprender las manos y los oídos
aprender el gesto y el cuerpo
aprender los olores y sabores
aprender el silencio
aprender el movimiento
aprender los sentidos de la mirada
y volver siempre al principio de todo.

02.06.2004

Antologia poética (3)...

Memória de uma voz...

Nat King Cole

Uma voz pode ser
interpretando mesmo a ausência
todo o centro de gravidade
da nostalgia.

Ademar
02.06.2004


Antología poética (3)...

Recuerdo de una voz...

Nat King Cole

Una voz puede ser
interpretando incluso la ausencia
todo el centro de gravedad
de la nostalgia.

11.08.2004

Antologia poética (2)...

Poema ao estilo de Serge Gainsbourg...

Nunca disse je-teme
(assim mesmo, à portuguesa)
Preferi sempre a linguagem gestual
que não consente tradutor
(antes de me especializar em braille).

Ademar

11.08.2004


Antología poética (2)...

Poema al estilo de Serge Gainsbourg...

Nunca he dicho je-teme
(tal cual, a la portuguesa)
He preferido siempre el lenguaje gestual
que no admite traductor
(antes de especializarme en braille).

quarta-feira, 7 de julho de 2010

22.06.2004

Antologia poética (1)...

Escrito sobre o Adagietto da 5ª Sinfonia de Mahler
(interpretado por The Uri Caine Ensemble)

Estou delicadamente construído sobre uma rede de canais
De todas as margens que hesito
saem pontes que me projectam para os outros lados de mim
Distraio-me
para perder sempre
a última carreira do vaporetto.

Ademar
22.06.2004


Antología poética (1)...

Escrito sobre el Adagietto de la 5ª Sinfonía de Malher
(interpretado por The Uri Caine Ensemble)

Estoy delicadamente construido sobre una red de canales
De todas las orillas que vacilo
salen puentes que me proyectan hacia los otros lados de mí
Me distraigo
para perder siempre
el último viaje del vaporetto.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Improviso (mais um) para pedra tumular...

1. Desmarquei todas as consultas
para não saber a data precisa da minha morte
2. e para não ter de renovar
o guarda-roupa
3. a cor das paredes ficou fantástica
não fora a cegueira das mãos
4. os manuais escolares os jornais e
as revistas velhas não couberam no papelão
5. as estantes da sala não celebraram ainda
o milagre da ressurreição
6. os brinquedos do quarto do espelho
continuam à espera de pilhas novas
7. as velas deixaram de contar
o fogo que as silenciou
8. e as flores que entretanto murcharam
também.

Ademar
20.05.2010


Improvisación en respuesta a un cuestionario íntimo...

1. He anulado todas las consultas
para no saber la fecha exacta de mi muerte
2. y para no tener que renovar
el guardarropa
3. el color de las paredes ha quedado fantástico
si no fuese por la ceguera de las manos
4. los manuales escolares los diarios y
las revistas viejas no han cabido en el contenedor
5. las estanterías de la sala no han celebrado aún
el milagro de la resurrección
6. los juguetes del cuarto del espejo
siguen esperando pilas nuevas
7. las velas han dejado de contar
el fuego que las silenció
8. y las flores que mientras tanto se han marchitado
también.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Improviso (mais um) para pedra tumular...

Se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
voltaria por exemplo a escrever sonetos
quase perfeitos
para a Deolinda
que virginava entre as capelas da Sé
e para a Sameiro
de quem guardo ainda uma fotografia
naturalista
a preto e branco
e para a Conceição
que me acompanhava sempre em silêncio
ou em latim
se calhar já morreram
ou continuam ainda a ler-me em segredo
já sexagenárias
se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
e regressaria sempre
à lenta memória das teclas
e dos dedos
que tocaram todas as palavras.

Ademar
19.05.2010


Improvisación (otra más) para piedra tumular...

Si renaciese
repetiría todo otra vez
y me acompañaría al piano
sin partitura
que ya me sabría de oído
o de memoria
volvería por ejemplo a escribir sonetos
casi perfectos
para Deolinda
que virginaba entre las capillas de la Catedral
y para la Sameiro
de quien guardo todavía una fotografía
naturalista
en negro y blanco
y para Conceição
que me acompañaba siempre en silencio
o en latín
quizá ya hayan muerto
o siguen aún leyéndome en secreto
ya sexagenarias
si renaciese
repetiría todo otra vez
y me acompañaría al piano
sin partitura
que ya me sabría de oído
o de memoria
y regresaría siempre
a la lenta memoria de las teclas
y de los dedos
que han tocado todas las palabras.

domingo, 4 de julho de 2010

Improviso para epopeia e contrafacção...

Hoje morreram em Portugal
até às vinte e três horas
contei-as uma a uma
duzentas e oitenta pessoas
e nasceram
duzentas e setenta e duas
tenho uma hora
uma hora apenas
para inverter o contador da demografia
e suster o défice
pela pátria
como o primeiro-ministro
faço tudo.

Ademar
18.05.2010


Improvisación para epopeya e imitación...

Hoy habían muerto en Portugal
hasta las veintitrés horas
las he contado una a una
doscientas ochenta personas
y habían nacido
doscientas setenta y dos
tengo una hora
una hora solamente
para invertir el contador de la demografía
y contener el déficit
por la patria
como el primero-ministro
lo hago todo.

Improviso para metáfora convencional...

O universo
tem muita gente
que anda à procura
de uma casa
em que caiba
e nunca encontra
pelo menos
no tempo de uma vida
os gatos
ao invés
têm muitas vidas
e nunca desistem
pelo menos
antes da última.

Ademar
17.05.2010


Improvisación para metáfora convencional...

En el universo
hay mucha gente
que anda buscando
una casa
en que quepa
y nunca la encuentra
por lo menos
en el tiempo de una vida
los gatos
al contrario
tienen muchas vidas
y nunca desisten
por lo menos
antes de la última.

sábado, 3 de julho de 2010

Improviso sobre uma tela desta noite... *


























Improvisación sobre un lienzo de esta noche... *

Las distancias
engañan a la mirada
y al pensamiento
sólo las manos tocan
la evidencia de todas las cosas
que fingen existir.

____________
* Fotografia de María Alonso Seisdedos.

Improviso para perguntar afinal o teu nome...

Tanto ou tão breve destino
entre as minhas palavras
e o teu olhar tão fiel
é aqui
todas as noites
neste bar de desterrados
que nos cruzamos
e por nenhuma porta
entramos ou saímos
entre comungarmos
o arbítrio das sombras
numa tela com a forma
de uma cama
ou de uma mesa
sobre a qual sempre adormecêssemos
antes mesmo de nos cuidarmos
a poesia tem as fronteiras exactas
deste silêncio compartilhado
encontramo-nos aqui
como em tempo algum
e seremos sempre felizes
assim.

Ademar
15.05.2010


Improvisación para preguntar por fin tu nombre...

Tanto o tan breve destino
entre mis palabras
y tu mirada tan fiel
es aquí
todas las noches
en este bar de desterrados
donde nos cruzamos
y por ninguna puerta
entramos ni salimos
entre que comulgamos
el arbitrio de las sombras
en un lienzo con la forma
de una cama
o de una mesa
sobre la cual siempre nos durmiésemos
antes incluso de darnos cuenta
la poesía tiene las fronteras exactas
de este silencio compartido
nos encontramos aquí
como en ningún tiempo
y seremos siempre felices
así.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Improviso gastronómico e muito popular...

Maria de Todas as Alheiras
Bruna Real
no esplendor da nudez mais pedagógica
de Portugal
José Gama
da geração mais antiga dos Gamas
e também a mais sacerdotal
Isaltino Morais
o imortal de Oeiras
(a aguardar presidio)
Jesualdo Ferreira
Luciano Cordeiro
de tão pedestre memória
e
mais célere e celebrado de que todos os demais
o Professor Doutor
por extenso
Ambrósio Asdrúbal Piruças de Aragão e Castela
todos
cidadãos ilustres de Mirandela.

Ademar
14.05.2010


Improvisación gastronómica y muy popular...

Maria de Todas as Alheiras
Bruna Real
en el esplendor de la desnudez más pedagógica
de Portugal
José Gama
de la generación más antigua de los Gamas
y también la más sacerdotal
Isaltino Morais
el inmortal de Oeiras
(esperando presidio)
Jesualdo Ferreira
Luciano Cordeiro
de tan pedestre memoria
y
más célere y celebrado de que todos los demás
de nombre completo
Ambrósio Asdrúbal Piruças de Aragón y Castilla
todos
ciudadanos ilustres de Mirandela.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Improviso para desesteriotipar...

Dizias de tudo o que te fazia vibrar
fossem cordas de uma harpa
ou de uma guitarra
ou de um violoncelo
que era romântico
e eu replicava sempre
nenhum adjectivo pertence às coisas
mas a cada um de nós
e tu ficavas confusa
porque não entendias
julgavas talvez
que as flores nascessem românticas
por força de uma lei qualquer
da natureza
um dia saberás que os adjectivos
são a única e exacta medida
da subjectividade
tudo o mais
repartimos com o universo.

Ademar
13.05.2010


Improvisación para desesteriotipar...

Decías de todo lo que te hacía vibrar
ya fuesen cuerdas de un arpa
o de una guitarra
o de un violonchelo
que era romántico
y yo objetaba siempre
ningún adjetivo concierne a las cosas
sino a cada uno de nosotros
y tú te quedabas confusa
porque no entendías
creías tal vez
que las flores nacían románticas
por causa de una ley cualquiera
de la naturaleza
un día sabrás que los adjetivos
son la única y exacta medida
de la subjetividad
todo lo demás
nos lo repartimos con el universo.

Improviso para sobreviver à escola...

Fui à educação e voltei
nenhum fogo me reteve
tão próximo da água
das matrizes
como o fogo
de me saber interior
a todos os vulcões
em que cresci.

Ademar
12.05.2010


Improvisación para sobrevivir a la escuela...

Fui a la educación y volví
ningún fuego me retuvo
tan cerca del agua
de las matrizes
como el fuego
de saberme interior
a todos los volcanes
en que crecí.

Improviso para explicar por que não abro a porta de minha casa a todos os comediantes...

Tens todo o ar
meu velho salafrário
de sorriso nazi
de quem foi comido
em segredo
por Pier Paolo Pasolini
e gostou muito
na cruz
obviamente
em technicolor
e de braços bem abertos
como impõem os evangelhos.

Ademar
11.05.2010


Improvisación para explicar por qué no abro la porta de mi casa a todos los comediantes...

Tienes toda la pinta
viejo mamarracho
de sonrisa nazi
de que se te hubiese cepillado
en secreto
Pier Paolo Pasolini
y te hubiese gustado mucho
en la cruz
obviamente
en tecnicolor
y con los brazos bien abiertos
como imponen los evangelios.