sábado, 23 de junho de 2012

Improviso quase minimalista...

A tela
reparai
acrescenta-lhes atributos
que só os espelhos reconhecem
mas fora da tela
coitados
têm a finitude inscrita
na pequenez do umbigo
que eles frequentemente
confundem com os testículos
o onanismo hoje
tem a forma de uma tela
do tamanho do universo
e é diante dela
democraticamente
que os povos riem e bocejam
confundindo tudo
o ouro e os bandidos
a banha da cobra e os vendedores.

Ademar
03.08.2009


Improvisación casi minimalista...

La pantalla
fijaos
les añade atributos
que sólo los espejos reconocen
pero fuera de la pantalla
pobrecillos
tienen la finitud inscrita
en la pequeñez del ombligo
que ellos frecuentemente
confunden con los testículos
el onanismo hoy
tiene la forma de una pantalla
del tamaño del universo
y es delante de ella
democráticamente
donde los pueblos ríen y bostezan
confundiéndolo todo
el oro y los bandidos
el bálsamo de Fierabrás y los vendedores.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Improviso para explicar por que os rios foram as primeiras auto-estradas...

Foi apenas
quando começaram a viajar
que os homens fixaram a noção de
tempo
antes não precisavam
porque a lua nascia todas as noites
no mesmo lugar da evidência
e nenhum chefe prometia mais
do que a incerteza de cada dia
a memória dos viajantes
é o fogo que os persegue
e nenhum regresso
o destino promete
a quem parte.

Ademar
02.08.2009


Improvisación para explicar por qué los ríos fueron las primeras autopistas...

Fue solo
cuando empezaron a viajar
cuando los hombres fijaron la noción de
tiempo
antes no la necesitaban
porque la luna nacía todas las noches
en el mismo lugar de la evidencia
y ningún jefe prometía más
que la incertidumbre de cada día
la memoria de los viajeros
es el fuego que los persigue
y ningún regreso
el destino promete
a quien parte.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Improviso sobre a sobrevivência...

Há pais que se suicidam na prisão
e mães
que alugam todos os dias o corpo
pela dose
e há crianças
entre uma corda e milhares de seringas
que sobrevivem inteiras
só para salvarem a humanidade.

Ademar
01.08.2009


Improvisación sobre la supervivencia...

Hay padres que se suicidan en la cárcel
y madres
que alquilan todos los días el cuerpo
por la dosis
y hay niños
entre una cuerda y millares de jeringuillas
que sobreviven enteras
solo para salvar a la humanidad.

Improviso para viola de arco e disjuntor...

Não fosse tarde muito tarde
para voltar a abrir as portas e as janelas
de todas as casas em que me perdi
e talvez regressasse a mim
com a luz original de quem
nunca tivesse partido.

Ademar
31.07.2009


Improvisación para viola y disyuntor...

Si no fuera tarde muy tarde
para volver a abrir las puertas y las ventanas
de todas las casas en las que me perdí
tal vez regresaría a mí
con la luz original de quien
nunca se hubiera ido.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Improviso para explicar o Martinho da Arcada aos governantes de Lisboa...











Convida-me para a tua mesa
e que a bebida tarde
até que todos tenham saído
e na noite lá fora
(lotação esgotada)
não possa entrar mais ninguém
conta-me como conseguiste
cruzar no Martinho tantas vidas
na única em que coubeste
conta-me ao ouvido
e a partir de hoje
essa confidência será
o nosso único segredo.

Ademar
30.09.2009


Improvisación para explicar Martinho da Arcada a los gobernantes de Lisboa...

Invítame a tu mesa
y que la bebida tarde
hasta que todos se hayan ido
y en la noche ahí fuera
(aforo completo)
no pueda entrar nadie más
cuéntme como conseguiste
cruzar en Martinho tantas vidas
en la única en que has cabido
cuéntamelo al oído
y a partir de hoy
esa confidencia será
nuestro único secreto.

Improviso marítimo...

Esperas na praia
que o mar deposite ainda caravelas
no regaço do teu olhar
já não tens mãos para elas
nem pensamento
e o tempo em que viajas
perdeu-se nas marés
de uma história esgotada
folheias no cais
a página pretérita
do esquecimento.

Ademar
29.07.2009


Improvisación marítima...

Esperas en la playa
que el mar deposite aún carabelas
en el regazo de tu mirada
ya no tienes manos para ellas
ni pensamiento
y el tiempo en el que viajas
se perdió en las mareas
de una historia agotada
hojeas en el muelle
la página pretérita
del olvido.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Improviso ditirâmbico...

Dir-me-ás
do acne e das borbulhas
e dos dentes protésicos
e da barriga que cresce
dir-me-ás
do espelho que cegou
com os olhos castrados
e talvez da celulite
e das mamas suspensas
sobre a gravidade
dir-me-ás
do silicone que já não cabe
em parte alguma do cérebro
e de todas as ideias
que continuarão a desafinar no silêncio
dir-me-ás dos males da adolescência
e das demais idades imperfeitas
e do tempo
que só a eternidade corrigiria
e dir-me-ás porém da beleza
que te pertence
essa beleza
a que nenhuma fotografia
fará jus.

Ademar
28.07.2009


Improvisación ditirámbica...

Me dirás
del acné y de los granos
y de los dientes postizos
y de la barriga que crece
me dirás
del espejo que se cegó
con los ojos castrados
y tal vez de la celulitis
y de las tetas colgadas
sobre la gravedad
me dirás
de la silicona que ya no cabe
en parte alguna del cerebro
y de todas las ideas
que seguirán desafinando en el silencio
me dirás de los males de la adolescencia
y de las demás edades imperfectas
y del tiempo
que solo la eternidad corregiría
y me dirás sin embargo de la belleza
que te pertenece
esa belleza
a que ninguna fotografía
hará justicia.

Improviso para descer as persianas...

Gente que pendura o destino
numa fechadura
e entre a tela e o olhar
distrai a vida
em nenhum lugar
hoje
apetece-me simplesmente dizer-vos
boa noite
humanidade espreitadora.

Ademar
27.07.2009


Improvisación para bajar las persianas...

Gente que cuelga el destino
en una cerradura
y entre la pantalla y la mirada
distrae la vida
en ningún lugar
hoy
me apetece simplemente deciros
buenas noches
humanidad mirona.

domingo, 17 de junho de 2012

Improviso para dizer uma parte dos outros...

Não têm vida
como nós
não têm manhãs nem tardes nem noites
como nós
não têm um país
como nós
uma cidade um bairro um quarteirão uma rua
uma casa que todos possam visitar
lealmente
como nós
não têm vícios e rotinas comuns
como nós
não têm espelhos desavindos
como nós
não têm sequer sentimentos e melancolias de lusco-fusco
como nós
não têm silêncios
como nós
nem incertezas
nem paixões que virem as horas do avesso
como nós
não têm forças nem fraquezas
como nós
não têm portas e janelas
que abram para fora e para dentro
como nós
não têm ambiguidades
como nós
não têm opiniões
como nós
não têm solidões
como nós
não gritam
não amam
não suam
nem fodem
como nós
não acreditam e desacreditam
como nós
não dizem sequer
filhos da puta!
como nós
não autorizam obscenidades ao pensamento
como nós
não bocejam
como nós
não praguejam
como nós
não hesitam
como nós
têm a natureza do plástico
e a dimensão das telas
em que correm
e nunca serão mais do que isso.

Ademar
26.07.2009


Improvisación para decir una parte de los demás...

No tienen vida
como nosotros
no tienen mañanas ni tardes ni noches
como nosotros
no tienen un país
como nosotros
una ciudad un barrio una manzana una calle
una casa que todos puedan visitar
lealmente
como nosotros
no tienen vicios y rutinas comunes
como nosotros
no tienen espejos desavenidos
como nosotros
no tienen siquiera sentimientos y melancolías de crepúsculo
como nosotros
no tienen silencios
como nosotros
ni incertidumbres
ni pasiones que vuelvan las horas del revés
como nosotros
no tienen fuerzas ni flaquezas
como nosotros
no tienen puertas y ventanas
que se abran hacia afuera y hacia adentro
como nosotros
no tienen ambigüedades
como nosotros
no tienen opiniones
como nosotros
no tienen soledades
como nosotros
no gritan
no aman
no sudan
ni follan
como nosotros
no creen y descreen
como nosotros
no dicen siquiera
¡hijos de puta!
como nosotros
no le autorizan obscenidades al pensamiento
como nosotros
no bostezan
como nosotros
no echan pestes
como nosotros
no vacilan
como nosotros
tienen la natureza del plástico
y la dimensión de los lienzos
en los que corren
y nunca serán más que eso.

Improviso para dizer que, no fundo, tenho pena de ti...

Sim eu sei
convenceram-te de méritos que não tinhas
e
no concurso das efémeras circunstâncias
até chegaste a acreditar
que poderias construir sobre o destino
uma espécie de predestinação
ainda não tinhas percebido
que tudo em ti era falso
e que acabarias assim
desiludido de todos
tropeçando na imensa ilusão
da tua própria mentira
sim tu sabias
que nada tinhas para oferecer
senão a patética ferocidade de um animal
que o amor dos homens desprezara.

Ademar
 25.07.2009


Improvisación para decir que, en el fondo, me dás pena...

Sí ya lo sé
te habían convencido de méritos que no tenías
y
en el concurso de las efímeras circunstancias
hasta llegaste a creer
que podrías construir sobre el destino
una especie de predestinación
aún no te habías dado cuenta
de que todo en ti era falso
y de que acabarías así
decepcionado de todos
tropezando en la inmensa ilusión
de ta propia mentira
sí tú sabías
que nada tenías que ofrecer
sino la lastimosa ferocidad de un animal
que el amor de los hombres había despreciado.

sábado, 16 de junho de 2012

Improviso para dizer uma vez mais adeus a Coimbra...



Dizia-me há dias
que lhe pesava uma dor
nas costas
no ombro
no braço
sequelas de uma queda quase romântica
a colher laranjas
não era bem uma dor
corrigia
seria mais uma indisposição
uma incomodidade muscular
nada
brincou
que impusesse
um internamento hospitalar
hoje
ao princípio da tarde
ligaram-me
o Nuno morreu
a indisposição afinal
era um prenúncio de caso julgado
o último
como na balada do Zeca
o Nuno
não voltará mais a cantar.

Ademar
24.07.2009

Improvisación para decir una vez más adiós a Coimbra...

Me decía hace días
que le pesaba un dolor
en la espalda
en el hombro
en el brazo
secuelas de una caída casi romántica
cogiendo naranjas
no era exactamente un dolor
corregía
era más bien un malestar
un achaque muscular
nada
bromeó
que impusiera
un ingreso hospitalario
hoy
al inicio de la tarde
me llamaron
Nuno ha muerto
el malestar al final
era un presagio de caso sentenciado
el último
como en la balada de Zeca
Nuno
no volverá a cantar más.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Improviso para pedra tumular...




















Improvisación para lápida sepulcral...

Nadie ha sido mejor
que él
nadie podría haberlo sido
nadie lo será
nazca quien nazca
digan lo que digan
una mosca que se posa
en su ombligo
y en su anchura se imagina
todo el universo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

No palco das palavras
no quarto delas
nenhuma máscara serve ao pudor
nenhum silêncio
e não dirás a ninguém
o que te disse
nem a ti própria
no palco das palavras
no quarto delas
o sangue
prepara o esquecimento
da vida seguinte
a memória
de todas
a mais íntima.

Ademar
22.07.2009


Improvisación sobre la inconfesabilidad...

En el escenario de las palabras
en la habitación de estas
ninguna máscara sirve al pudor
ningún silencio
y no le dirás a nadie
lo que te he dicho
ni a ti misma
en el escenario de las palabras
en la habitación de estas
la sangre
prepara el olvido
de la vida siguiente
el recuerdo
de todas
el más íntimo.

Improviso para dizer ainda o país...

O solista virtuoso
tropeçou no mapa da cidade
e perdeu-se na noite
como costumam escrever
os mangas de alpaca
o palco é sempre estreito
para quem não cabe
no espelho da sua própria natureza
o solista virtuoso
finge seguir o rumo que os cães lhe ditam
os cães
e todos os filhos da puta.

Ademar
21.07.2009


Improvisación para decir aún el país...

El solista virtuoso
tropezó en el plano de la ciudad
y se perdió en la noche
como suelen escribir
los chupatintas
el escenario es siempre estrecho
para quien no cabe
en el espejo de su propia naturaleza
el solista virtuoso
finge seguir el rumbo que los perros le dictam
los perros
y todos los hijos de puta.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Improviso quase perfeito...

Perco-me a pensar
como numa floresta
não tropeço labirintos
nas noites opacas
nem os silêncios que hesitam
a eternidade
perco-me tão só nas clareiras inesperadas
onde a luz parece ainda brotar
do chão
antes de amanhecer.

Ademar
20.07.2009


Improvisación casi perfecta...

Me pierdo pensando
como en un bosque
no tropiezo laberintos
en las noches opacas
ni los silencios que vacilan
la eternidad
me pierdo tan solo en los claros inesperados
donde la luz parece aún brotar
del suelo
antes de amanecer.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Improviso para significar, apenas, o possível...

A felicidade
esperar-te-á sempre depois
da próxima esquina
e da esquina seguinte
e de todas as outras
não te poderei ensinar
mais do que isto
nunca encontrarás a felicidade
enquanto a procurares.

Ademar
19.07.2009


Improviso para significar, simplemente, lo posible...

La felicidad
te esperará siempre después
de la próxima esquina
y de la esquina siguiente
y de todas las demás
no te podré enseñar
más que esto
nunca encontrarás la felicidad
mientras la busques.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Improviso sobre Albeniz...

Este
o silêncio das palavras
e a sua matéria
a porta aberta
sobre o universo
e a noite quase sorrateira
que por ela entrasse
a divagar
este ainda
o mistério da poesia e da música
essa incerteza artesanal
de aragens
que nenhum cais reconhece.

Ademar
18.07.2009


Improvisación sobre Albeniz...

Este
el silencio de las palavras
y su materia
la puerta abierta
sobre el universo
y la noche casi taimada
que por ella hubiera entrado
divagando
este todavía
el misterio de la poesía y de la música
esa incertidumbre artesanal
de brisas
que ningún muelle reconoce.

Improviso retardado...

E voava os dias
subindo e descendo aviões
aprendeu o desconhecimento
das altitudes.

Ademar
17.07.2009


Improvisación retardada...

Y volaba los días
subiendo y bajando aviones
aprendió el desconocimiento
de las altitudes.

domingo, 10 de junho de 2012

Improviso promocional...

Oferta obviamente limitada
a poesia tem as suas próprias lotações
como a vida
e nela não cabem nunca
pleonasticamente falando
todos os que já se perderam da prosa
ainda que hoje
importa recordá-lo
abundem os casos
de travestismo literário
repito
oferta limitada
preços adequados à estação
e à crise
hotel a dez mil metros de profundidade
quartos com ligação à internet
e ao centro da Terra
neste pacote
não pagável a crédito
a lua pode esperar.

Ademar
16.07.2009


Improvisación promocional...

Oferta obviamente limitada
la poesía tiene sus propios aforos
como la vida
y en ella no caben nunca
pleonásticamente hablando
todos los que ya se han perdido de la prosa
aunque hoy
conviene recordarlo
abunden los casos
de travestismo literario
repito
oferta limitada
precios adecuados a la estación
y a la crisis
hotel a diez mil metros de profundidad
habitaciones con conexión a internet
y al centro de la Tierra
en este paquete
no abonable a crédito
la luna puede esperar.

Improviso em forma de apostila...

Subtraí a arte à humanidade
e nada restará
do pesadelo de sempre
senão
a rotina exausta de todos os dias.

Ademar
15.07.2009


Improvisación en forma de apostilla...

Sustraedle el arte a la humanidad
y nada restará
de la pesadilla de siempre
sino
la rutina exhausta de todos los días.

sábado, 9 de junho de 2012

Improviso escrito entre a Esplanada das Mesquitas e o Muro das Lamentações...

Hoje não há ausência
que me abandone
ainda tenho crédito de saudades
e em Jerusalém
nenhum deus me convida a entrar
no bar mais próximo
de serviço à salvação
sento-me no chão a queimar
sobre um livro sagrado
e finjo beber
distraidamente
à conformidade de todos os altares.

Ademar
14.07.2009


Improvisación escrita entre la Explanada de las Mezquitas y el Muro de las Lamentaciones...

Hoy no hay ausencia
que me abandone
aún tengo crédito de nostalgias
y en Jerusalén
ningún dios me invita a entrar
en el bar más cercano
de guardia para la salvación
me siento en el suelo a quemar
sobre un libro sagrado
y finjo beber
distraidamente
a conformidad de todos los altares.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Improviso para execrar imitações...

Existencialmente
a minha roupa não serve a ninguém
e ainda que servisse
a quem serviria?
só o rebanho partilha
o espelho de todos
a liberdade não tem medida
nem equivalente.

Ademar
13.07.2009


Improvisación para execrar imitaciones...

Existencialmente
mi ropa no le sirve a nadie
y aunque le sirviera
¿a quién le serviría?
sólo el rebaño comparte
el espejo de todos
la libertad no tiene medida
ni equivalente.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Improviso oracular...

Envelheces no medo
não no peito que ofereces às balas
envelheces na mudez da raiva
não no grito com que arranhas
o universo
só te submerge o abismo
quando te deixas atrair por ele.

Ademar
12.07.2009


Improvisación oracular...

Envejeces en el miedo
no en el pecho que ofreces a las balas
envejeces en la mudez de la rabia
no en el grito con el que arañas
el universo
sólo te sumerge el abismo
cuando te dejas atraer por él.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Improviso transitivo...

Pedes-me
que contrarie o infinito dizes
a vulnerabilidade
que o infinito acrescenta
aos dias que pesam
o ser e o nada
a consciência de não escolher
destino algum
ou a inconsciência disso mesmo
e a cerimónia íntima
absolutamente íntima
de apenas deixarmos correr o tempo
sobre todos os altares
sem nos celebrarmos.

Ademar
11.07.2009


Improvisación transitiva...

Me pides
que contraríe el infinito dices
la vulnerabilidad
que el infinito añade
a los días que pesan
el ser y la nada
la consciencia de no escoger
destino alguno
o la inconsciencia de eso mismo
y la ceremonia íntima
absolutamente íntima
de solamente dejar correr el tiempo
sobre todos los altares
sin celebrarnos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Improviso incomestível...

Palavras que não morrem
e raramente adoecem
sobrevivesse eu apenas
nessa parte do corpo que as palavras animam
e só elas me acrescentassem
intemporalidade
digo
autenticidade
o mais que fosse fogo e cinza
esquecimento
silêncio ainda
entre palavras.

Ademar
10.07.2009


Improvisación incomestible...

Palabras que no mueren
y raramente enferman
si sobreviviera yo únicamente
en esa parte del cuerpo que las palabras animan
y sólo ellas me añadiesen
intemporalidad
digo
autenticidad
como mucho que fuera fuego y ceniza
olvido
silencio todavía
entre palabras.

Improviso nostálgico...

Noites houvera
em que só as palavras mais simples
me apetecessem
numa balada sefardita talvez
desses tempos em que
tudo rimava com tudo
e a morte ainda não existia
noites
em que adormecesse tranquilamente
na antiguidade dos sentimentos.

Ademar
09.07.2009


Improvisación nostálgica...

Noches hubiera
en las que sólo las palabras más simples
me apetecieran
en una balada sefardita tal vez
de esos tiempos en los que
todo rimaba con todo
y la muerte aún no existía
noches
en que te durmieras tranquilamente
en la antigüedad de los sentimientos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Improviso cinematográfico...

Tenho uma avaria nos olhos
no lugar da tela
muito celulóide antigo interrompido
antes das cenas finais
projecto na memória
filmes que nunca vi
e reconto intimamente destinos
que tropeçam no argumento
mas o que mais me dói
repito
é a avaria nos olhos
adormecer sempre em Casablanca
antes de alcançar o aeroporto.

Ademar
07.07.2009


Improvisación cinematográfica...

Tengo una avería en los ojos
en lugar de pantalla
mucho celuloide antiguo interrumpido
antes de las escenas finales
proyecto en la memoria
películas que no he visto
y recuento íntimamente destinos
que tropiezan en el argumento
pero lo que más me duele
repito
es la avería en los ojos
dormirme siempre en Casablanca
antes de alcanzar el aeropuerto.

domingo, 3 de junho de 2012

Improviso sobre "Alabama Song"...

Sobre um mapa não imaginário
tracei duas setas
na mesma direcção
depois vi
o mapa ao contrário
e as setas reconduziram-me
ao cais de partida
a vida
parece que é isto sempre
a matéria do regresso.

Ademar
06.07.2009


Improvisación sobre "Alabama Song"...

Sobre un mapa no imaginario
tracé dos flechas
en la misma dirección
después vi
el mapa al revés
y las flechas me recondujeron
al muelle de partida
la vida
parece que es esto siempre
la materia del regreso.

sábado, 2 de junho de 2012

Improviso sem cota...

Os livros não têm destino
mas raros são
os que sobrevivem a si próprios
ao tempo em que se medem
com a sua efémera circunstância
entre a água e o fogo
nenhuma Alexandria tem garantida
a eternidade
não há lugar no mundo
onde possam caber ainda
todas as ilusões.

Ademar
05.07.2009


Improvisación sin cuota...

Los libros no tienen destino
pero raros son
los que sobreviven a sí mismos
al tiempo en que se miden
con su efímera circunstancia
entre el agua y el fuego
ninguna Alejandría tiene garantizada
la eternidad
no hay lugar en el mundo
donde puedan caber aún
todas las ilusiones.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Improviso para licitar a noite...

Dez dedos quase sem unhas
que persistem em sonhar o teclado perfeito
os pulmões cansados de tantas cidades dentro
que já mal respiram
um coração atrapalhado de arritmias
e dois olhos que vêem sempre mais
do que a humanidade merece
hoje
apetece-me adormecer na varanda
adivinhando simplesmente as nuvens
que embaraçam a lua.

Ademar
03.07.2009


Improvisación para subastar la noche...

Diez dedos casi sin uñas
que persisten en soñar el teclado perfecto
los pulmones cansados de tantas ciudades dentro
que ya mal respiran
un corazón trastornado de arritmias
y dos ojos que ven siempre más
de lo que la humanidad se merece
hoy
me apetece dormirme en el balcón
adivinando simplemente las nubes
que estorban a la luna.