quinta-feira, 21 de julho de 2011

Improviso para servir de boletim clínico...

Sabia tudo sobre os autores que lera
e quase nada
sobre a sua própria vida
e a vida dos outros
era professor catedrático
e analfabeto
foi internado ontem num
hospital psiquiátrico
continua a fingir que dá aulas
a alunos imaginários.

Ademar
10.04.2008


Improvisación para servir de parte clínico...

Lo sabía todo sobre los autores que había leído
y casi nada
sobre su propia vida
y la vida de los otros
era profesor catedrático
y analfabeto
fue internado ayer en un
hospital psiquiátrico
sigue fingiendo que da clases
a alumnos imaginarios.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Improviso para me reconfortar...

Tira-me os sapatos
e ajuda-me a calçar as pantufas
serve-me um whisky com muito gelo
e diz-me um poema
ou dá-me a ouvir uma balada
ou olha apenas para o meu cansaço
e deita-te com ele
como se fosse comigo
esta noite
ou o que me resta dela
preciso do que nunca serás.

Ademar
09.04.2008


Improviso para reconfortarme...

Quítame los zapatos
y ayúdame a calzar las zapatillas
sírveme un whisky con mucho hielo
y dime un poema
o dáme a oír una balada
o contempla sin más mi cansancio
y acuéstate con él
como si fuera conmigo
esta noche
o lo que me queda de ella
necesito lo que nunca serás.

Improviso em forma quase de acta...

Reúnes agora e reúnes depois
reúnes hoje e reúnes amanhã
este país é um permanente concílio
não de Trento nem dos deuses de Olimpo
mas de treta
um concílio de treta
treta barata e quase sempre indolente
ninguém ouve mas todos falam
ninguém diz o necessário
ninguém faz o suficiente
reunimo-nos apenas
a agenda está inscrita nos astros
ou nos genes
quase dispensávamos convocatória
é da nossa natureza reunir reunir reunir
reunimos tanto que não nos sobra tempo
para mais nada
pensamos enquanto dormimos
e acordamos apenas quando nos esquecemos
de desligar o despertador.

Ademar
08.04.2008


Improvisación en forma casi de acta...

Te reúnes ahora y te reúnes después
te reúnes hoy y te reúnes mañana
este país es un permanente concilio
no de Trento ni de los dioses del Olimpo
sino de treta
un concilio de treta
treta barata y casi siempre indolente
nadie oye pero todos hablan
nadie dice lo necesario
nadie hace lo suficiente
nos reunimos sin más
la agenda está inscrita en los astros
o en los genes
casi ni nos face falta la convocatória
está en nuestra naturaleza reunirnos reunirnos reunirnos
reunirnos tanto que no nos queda tiempo
para nada más
pensamos mientras dormimos
y nos despertamos solo cuando nos olvidamos
de desconectar el despertador.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Improviso para trompa e umbigo...

Nunca jogues em público
com Maomé
(ainda que o confundas com Cristo
ou outra tela qualquer)
nenhum profeta
resiste a fazer batota
quando vai a jogo
para perder a face
nunca transportes a tocha olímpica
com as mãos ensanguentadas
nem te laves no fogo
nenhuma medalha vale a incerteza
da civilização
nunca peças a recontagem dos votos
porque há urnas em que só cabem os mortos
e principalmente
nunca arrisques a vida pela pátria
que as pátrias esquecem depressa
como os amantes que erraram as mãos
no umbiguismo dos gestos.

Ademar
07.04.2008


Improvisación para trompa y ombligo...

Nunca juegues en público
con Mahoma
(aunque lo confundas con Cristo
u otro asunto cualquiera)
ningún profeta
se resiste a hacer trampas
cuando juega
para perder la dignidad
nunca transportes la antorcha olímpica
con las manos ensangrentadas
ni te laves en el fuego
ninguna medalla vale la incertidumbre
de la civilización
nunca pidas el recuento de los votos
porque hay urnas en las que solo caben los muertos
y principalmente
nunca arriesgues la vida por la patria
que las patrias olvidan deprisa
como los amantes que se confundieron de manos
en el ombliguismo de los gestos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Improviso sobre um tema de Didier Squiban...


Não arrumarei as vozes
com os pratos
esta mesa
despida das tuas mãos
servirá hoje
de piano
sobre um silêncio
ou a tua ausência
de partituras.

Ademar
06.04.2008


Improvisación sobre un tema de Didier Squiban...

No recogeré las voces
con los platos
esta mesa
despojada de tus manos
servirá hoy
de piano
sobre un silencio
o tu ausencia
de partituras.

domingo, 17 de julho de 2011

Improviso para começar a descatalogar-me...

Não cabem mais objectos no
museu da minha alma
já nem chego à boca de cena
para abrir as portas e as janelas
estou fechado por dentro
e através das fissuras só passa
quem for mais estreito do que o futuro
e mais leve do que o silêncio
desisti
de me acrescentar prateleiras.

Ademar
05.04.2008


Improvisación para empezar a descatalogarme...

No caben más objetos en el
museo de mi alma
ya ni llego a la boca del escenario
para abrir las puertas y las ventanas
estoy cerrado por dentro
y a través de las fisuras solo pasa
quien sea más estrecho que el futuro
y más leve que el silencio
desistí
de añadirme estantes.

sábado, 16 de julho de 2011

Improviso sobre o medo...

O medo
é o silêncio do escravo
e do prisioneiro
o abuso do poder
alimenta-se do medo
serve-se do medo
nenhuma dignidade se autoriza
a quem ajoelha no medo
diante de quem manda.

Ademar
04.04.2008


Improvisación sobre el miedo...

El miedo
es el silencio del esclavo
y del prisionero
el abuso de poder
se alimenta del miedo
se sirve del miedo
ninguna dignidad se autoriza
a quien se arrodilla en el miedo
ante aquel que manda.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Improviso retirado de Debussy...

Deduzo que o mar
deste lugar que apenas os olhos habitam
é uma virtude que nem os ouvidos alcançam
um novelo de sentidos entrelaçados
nas marcas do peito que te ofereço
para que faças de mim
o mais próximo e o mais distante
de todos os horizontes líquidos
que confundes com o cais.

Ademar
03.04.2008


Improvisación tomada de Debussy...

Deduzco que el mar
de este lugar que solo los ojos habitan
es una virtud que ni los oídos alcanzan
un ovillo de sentidos entrelazados
en las marcas del pecho que te ofrezco
para que hagas de mí
el más cercano y el más distante
de todos los horizontes líquidos
que confundes con el muelle.

Improviso para iludir a perfeição...

Pergunto-me muitas vezes
como seria o poema perfeito
em que nenhuma palavra falhasse
nenhuma pausa ou silêncio
um poema feitiço ou bruxedo
luz apenas sem feixe de sombras
tão perfeito
que se garantisse a eternidade
na evidência elementar
do mais poderoso espanto.

Ademar
02.04.2008


Improvisación para engañar la perfección...

Me pregunto muchas veces
cómo sería el poema perfecto
en el que ninguna palabra fallase
ninguna pausa o silencio
un poema hechizo o brujería
luz solo sin haz de sombras
tan perfecto
que se garantizara la eternidad
en la evidencia elemental
del más poderoso asombro.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Improviso para comentar uma notícia... *

E as crianças
finalmente amordaçadas
falam com a parede
como nunca falaram com ninguém
a surdez de muitas escolas
não tem frechas
nem janelas.

Ademar
01.04.2008


Improvisación para comentar una noticia...*
 
Y los niños
por fin amordazados
hablan con la pared
como nunca habían hablado con nadie
la sordera de muchas escuelas
no tiene flechas
ni ventanas.

Improviso para partitura de surpresas...


O pensamento não tem mãos
as mãos com que escondes sempre
os olhos que talvez preferisses cegar
na superfície do espelho
só o corpo guarda as marcas
dos dentes que falam
tatuagens de poemas que duram mais
do que as palavras impressas
movimentas-te sempre devagar
pela casa que não dormes
há destinos de tão perfeitos
que não cantam
ou vozes que nem precisam de cantar
para se fazerem ouvir no silêncio.

Ademar
31.03.2008


Improvisación para partitura de sorpresas...

El pensamiento no tiene manos
las manos con las que escondes siempre
los ojos que tal vez preferirías cegar
en la superficie del espejo
solo el cuerpo guarda las marcas
de los dientes que hablan
tatuajes de poemas que duran más
que las palabras impresas
te mueves siempre despacio
por la casa que no duermes
hay destinos de tan perfectos
que no cantan
o voces que ni necesitan cantar
para hacerse oír en el silencio.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Improviso para servir de almofada...

As portas e as janelas do pensamento
só o silêncio as abre
o silêncio que convida à renovação
do sentido das palavras
quem não se põe à escuta do universo
em si próprio
ensurdece.

Ademar
30.03.2008


Improvisación para servir de almohada...

Las puertas y las ventanas del pensamiento
solo el silencio las abre
el silencio que invita a la renovación
del sentido de las palabras
quien no se pone a la escucha del universo
en sí mismo
ensordece.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Improviso em forma de noite...

Hoje
antes de sair de casa
abri a janela do quarto
ou da alma
para que o ar respirasse
quando voltei
a lua tinha procurado abrigo
na minha cama
é muito mais fácil
viver com as palavras
do que na própria vida
sem elas
abracei-me à lua em silêncio
e deixei a janela aberta
para que ela pudesse sair
discretamente do meu quarto
ou da minha alma
quando eu finalmente adormecesse.

Ademar
29.03.2008


Improvisación en forma de noche...

Hoy
antes de salir de casa
abrí la ventana de la habitación
o del alma
para que el aire respirase
cuando volví
la luna había buscado abrigo
en mi cama
es mucho más fácil
vivir con las palabras
que en la propia vida
sin ellas
me abracé a la luna en silencio
y dejé la ventana abierta
para que ella pudiera salir
discretamente de mi habitación
o de mi alma
cuando yo por fin me durmiera.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Improviso para servir de oráculo...









Ademar
28.03.2008

Improvisación para servir de oráculo...

Los hombres
que inventan
a los dioses
no caben
nunca
en los dioses
que inventan.

Improviso para dizer que morro...

Apodreço devagar
eu sei eu sei
não é poético escrever
apodreço devagar
os poetas não apodrecem
morrem apenas
e muito pouco naturalmente
diga-se aliás que
a morte do poeta é uma metáfora
ou nem chega a tanto
porque a obra do poeta nunca apodrece
está sempre pronta
digo disponível
para a antologia
ou a edição póstuma
a verdade porém é que sinto que
apodreço devagar
aliás
(perdoai que repita o advérbio)
no país e na língua em que escrevo
apodrece-se devagar
com excessiva e patriótica frequência
digamos assim
só os tolos é que apodrecem depressa.

Ademar
27.03.2008


Improvisación para decir que me muero...

Me pudro despacio
ya lo sé ya lo sé
no es poético escribir
me pudro despacio
los poetas no se pudren
se mueren apenas
y muy poco naturalmente
dígase además que
la muerte del poeta es una metáfora
o ni siquiera llega a tanto
porque la obra del poeta nunca se pudre
está simpre lista
digo disponible
para la antología
o la edición póstuma
la verdad sin embargo es que siento que
me pudro despacio
además
(perdonad que repita el adverbio)
en el país y en la lengua en la que escribo
uno se pudre despacio
con excesiva y patriótica frecuencia
digamos así
solo los locos se pudren deprisa.

domingo, 10 de julho de 2011

Improviso para adormecer metáforas...

O poema é uma vitrina
de palavras
que nenhuma mão alcança
nenhum olhar retém
uma ilusão
que acende apenas fascínios
e bruxedos
nas chamas que ardem
nos entreditos
o poema é sempre um perfume
a cheirar por dentro
do pensamento que o engravida.

Ademar
26.03.2008


Improvisación para dormir metáforas...

El poema es una vitrina
de palabras
que ninguna mano alcanza
ninguna mirada retiene
una ilusión
que enciende solo hechizos
y brujerías
en las llamas que arden
en los entredichos
el poema es siempre un perfume
que huele por dentro
del pensamiento que lo preña.

sábado, 9 de julho de 2011

Improviso para agradecer uma confidência...

Se fosse mulher
também casaria com um pintor
de interiores
que delicadamente oferecesse
o pescoço à trela
e os lábios à mama
os homens querem-se assim
maneirinhos no trato
maneirinhos no trote
e maneirinhos na treta.

Ademar
25.03.2008


Improvisación para agradecer una confidencia...

Si fuera mujer
también me casaría con un pintor
de interiores
que delicadamente ofreciera
el cuello a la correa
y los labios al pecho
a los hombres se les quiere así
bien dóciles en el trato
bien dóciles en el trote
y bien dóciles en la treta.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Improviso para servir de eco...

Nenhuma beleza sobrevive
ao desalento das tuas lágrimas interiores
como se todos os dias
encenasses a mesma ópera
num palco estranho
e te faltasse sempre a voz
ou a partitura
ouve esse violino que rasga
silenciosamente a noite
e pergunta-lhe donde vem
de que parte da tua alma.

Ademar
24.03.2008


Improvisación para servir de eco...

Ninguna belleza sobrevive
al desaliento de tus lágrimas interiores
como si todos los días
representaras la misma ópera
en un escenario extraño
y te faltara siempre la voz
o la partitura
oye ese violín que rasga
silenciosamente la noche
y pregúntale de dónde viene
de qué parte de tu alma.

Improviso sobre um vídeo cinquentenário... *


Nenhuma mulher foi
tão alta e tão firme
na minha vida
como esse plátano
que nos sobreviverá
à sombra do qual
todos nos deixámos fotografar
como se fosse o ascendente
mais antigo de nós
e o mais próximo
e o único que afinal nos unisse
nessa voz
que ouvíamos no pequeno quarto
da janela interior
da casa do pai e da mãe
que nenhum órgão habitava
nesse tempo em que Beniamino Gigli
ainda não cantava Handel
e todos tínhamos nascido aí
fica sempre um perfume de mãos no teclado
depois de todas as palavras
e de todas as vozes se calarem.

Ademar
23.03.2008

* Beniamino Gigli morreu em 1957.


Improvisación sobre un video cincuentenario... *

Ninguna mujer ha sido
tan alta y tan firme
en mi vida
como ese plátano
que nos sobrevivirá
a la sombra del cual
todos nos dejamos fotografiar
como si fuera el ascendiente
más antiguo de nosotros
y el más cercano
y el único que al final nos uniera
en esa voz
que oíamos en la pequeña sala
de la ventana interior
de la casa de nuestro padre y nuestra madre
que ningún órgano habitaba
en ese tiempo en el que Beniamino Gigli
aún no cantaba a Handel
y todos habíamos nacido ahí
queda siempre un perfume de manos en el teclado
una vez que todas las palabras
y que todas las vozes se han callado.

* Beniamino Gigli murió en 1957.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Improviso pascal...

Obrigado
por me deixares beijar
os pés
em vez da cruz
prometo fazê-lo sem embaraço
fingindo que não percebo o teu.

Ademar
22.03.2008

Improvisación pasqual...

Te agradezco
que me dejes besarte
los pies
en vez de la cruz
prometo hacerlo sin embarazo
fingindo que no noto el tuyo.

Improviso em forma de haiku para dizer a contingência...

É mais fácil descansar do futuro
ainda que no caminho tortuoso das palavras
os gestos tropeçam sempre na memória.

Ademar
21.03.2008


Improvisación en forma de haikú para decir la contingencia...

Es más fácil descansar del futuro
aunque en el camino tortuoso de las palabras
los gestos tropiezan siempre en la memoria.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Improviso para servir de epitáfio à enésima reforma do sistema educativo...

Todos sabem como há séculos se faz
ora-se do alto de um estrado
como na missa ou na universidade de coimbra
e cinco minutos antes da campainha
pergunta-se se alguém tem dúvidas
agora os quadros de lousa até
são interactivos
e numa tela cabem sempre
muitos bonecos muito powerpoint
olha para o boneco rapaz
olha para o boneco!
e tira apontamentos
não vás perder o manual
a sala de audiências é rectangular
mas um martelo já não basta
para impor a ordem
as varas antigas apodreceram
como a autoridade dos mestres
agora os mestres sabem muito pouco
porque já nascem professores
mal tiveram tempo para emprenhar a vida
quanto mais para a ensinar
mas todos sabem como se faz
de ciência certa e experiência velha
resolve-se tudo com duas estaladas
ou a cavalo-marinho
e o lixo põe-se à porta da escola
para que alguém o recolha
a autoridade está na lei
mude-se pois a lei
para que a autoridade regresse à jaula
a disciplina ao cemitério
e o silêncio dos ciprestes
e mude-se o mundo todo à volta da escola
para que a escola não tenha de continuar
a zangar-se diariamente com o mundo
tira apontamentos rapaz
tira apontamentos ou dorme em paz
vais ver que não dói nada.

Ademar
20.03.2008


Improvisación para servir de epitafio a la enésima reforma del sistema educativo...

Todos sabem cómo hace siglos se hace
se ora desde lo alto de un estrado
como en misa o en la universidad de coímbra
y cinco minutos antes de la campanilla
se pregunta si alguien tiene dudas
ahora los encerados hasta
son interactivos
y en una pantalla caben siempre
muchos muñecos mucho powerpoint
mira al muñeco chaval
mira al muñeco!
y toma apuntes
no vayas a perder el manual
la sala de audiencias es rectangular
pero un mazo ya no basta
para imponer le orden
las varas antiguas se han pudrido
como la autoridad de los maestros
ahora los maestros saben muy poco
porque ya nacen profesores
sin haber tenido tiempo casi para empreñar la vida
cuanto más para enseñarla
pero todos saben cómo se hace
a ciencia cierta y por experiencia vieja
se resuelve todo con dos bofetadas
o a caballito de mar
y la basura se deja a la puerta de la escuela
para que alguien la recoja
la autoridad está en la ley
cámbiese pues la ley
para que la autoridad regrese a la jaula
la disciplina al cementerio
y el silencio de los cipreses
y cámbiese el mundo entero alrededor de la escuela
para que la escuela no tenga que continuar
enfadándose diariamente con el mundo
toma apuntes chaval
toma apuntes o duerme en paz
vas a ver que no duele nada.

Improviso para quem escolhe morrer...

Quando nenhuma esperança mais
nos consentirmos da vida
com que autoridade
nos compelirão ainda à esperança
aqueles que nunca viveram por nós?

Ademar
19.03.2008


Improvisación para quien elige morir...

Cuando ninguna esperanza más
nos consintamos de la vida
¿con qué autoridad
nos obligarán aún a la esperanza
aquellos que nunca han vivido por nosotros?

terça-feira, 5 de julho de 2011

Improviso para fazer de clepsidra...

O tempo
essa rotina antiquíssima
em que jamais te lerás
ouve
nenhum segredo é mais íntimo
e mais instante
do que a própria vida.

Ademar
18.03.2008


Improvisación para hacer de clepsidra...

El tiempo
esa rutina antiquísima
en la que jamás te leerás
oye
ningún secreto es más íntimo
y más instante
que la propia vida.

Improviso para semente...

Exactamente
poderia dizer-te milhões de palavras
para romper o silêncio
mas os olhos e os ouvidos só engravidam
quando chove
e o corpo humedece.

Ademar
17.03.2008


Improvisación para semilla...

Exactamente
podría decirte millones de palabras
para romper el silencio
pero los ojos y los oídos solo se empreñan
cuando llueve
y el cuerpo se humedece.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Improviso cantabile...

Gestos sem gramática
mãos intraduzíveis
falha sempre uma música
para colorir o silêncio da partitura
já não há colos ciganos
que arrisquem a eternidade
sobram apenas noites adiadas
e milhões de perguntas
a que jamais responderás.

Ademar
16.03.2008


Improvisación cantábile...

Gestos sin gramática
manos intraducibles
falta siempre una música
para colorear el silencio de la partitura
ya no hay regazos gitanos
que arriesguen la eternidad
restan solo noches aplazadas
y millones de preguntas
a las que jamás responderás.

Improviso para esplanar...

Talvez pouco poeticamente
tenho saudades de esplanadas
não em praças maiores de Espanha
mas no abrigo do teu silêncio
que nunca pede ou exige nada
senão
campos despidos de verdes
desertos de sombras
abandonadas pelo sol.

Ademar
15.03.2008


Improvisación para terracear...

Tal vez poco poéticamente
tengo nostalgia de terrazas
no en plazas mayores de España
sino al abrigo de tu silencio
que nunca pide ni exige nada
más que
campos desnudos de verdes
desiertos de sombras
abandonadas por el sol.

domingo, 3 de julho de 2011

Improviso para chamar a chuva...



Se agora chovesse
nenhuma noite seria mais igual a esta
só talvez faltasse o céu da tua noite
esse abrigo tão próximo
e sempre tão distante
onde não cabe ninguém
se agora chovesse
seriam apenas lágrimas e silêncios
nessa tela em que as cores vulgares
não entram
nem as palavras
nenhuma noite seria mais igual a esta
só talvez faltasse o céu da tua noite
esse abrigo tão próximo
e sempre tão distante
onde não cabe ninguém
nem tu.

Ademar
14.03.2008


Improvisación para llamar a la lluvia...

Si ahora lloviera
ninguna noche sería jamás igual a esta
solo tal vez faltaría el cielo de tu noche
ese abrigo tan próximo
y siempre tan distante
donde no cabe nadie
si ahora lloviera
serían nada más lágrimas y silencios
en ese lienzo en el que los colores vulgares
no entran
ni las palabras
ninguna noche sería jamás igual a esta
solo tal vez faltaría el cielo de tu noche
ese abrigo tan próximo
y siempre tan distante
donde no cabe nadie
ni tú.

Improviso para traduzir o vento...

Não faças perguntas ao mar
porque o espelho do cais
nunca te dirá o que esperas
há multidões que ainda te ouvem em silêncio
só porque ignoram que viajaste
o mar é sempre uma imprecisão interior.

Ademar
13.03.2008


Improvisación para traducir el viento...

No le hagas preguntas al mar
porque el espejo del muelle
nunca te dirá lo que esperas
hay multitudes que aún te oyen en silencio
solo porque ignoran que has viajado
el mar es siempre una imprecisión interior.

sábado, 2 de julho de 2011

Improviso para acolher primaveras...

Hoje ouvi finalmente os grilos
não sei se dentro de mim ou fora
algo me diz
que o inverno morre algures
entre outros silêncios.

Ademar
12.03.2008


Improvisación para acoger primaveras...

Hoy he oído por fin los grillos
no sé si dentro de mí o fuera
algo me dice
que el invierno se muere por ahí
entre otros silencios.