quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Improviso em forma de metáfora instrumental...

O corpo armário de evasivas
e dentro dele ou de ti um violoncelo
afinado entre a violeta e o contrabaixo
cordas tão secretas
que nenhuma mão alcança
nem à partitura
abres as pernas
e só o espigão te prolonga
até ao interior das palavras
chove lá fora de novo
adivinho humidades.

Ademar
04.09.2008


Improvisación en forma de metáfora instrumental...

El cuerpo armario de evasivas
y dentro de él o de ti un violonchelo
afinado entre la viola y el contrabajo
cuerdas tan secretas
que ninguna mano alcanza
ni con partitura
abres las piernas
y solo el espigón te prolonga
hasta el interior de las palabras
llueve ahí fuera de nuevo
adivino humedades.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Improviso para que ninguém mais entenda...

O caminho das cerejas
que se perde sempre nos novelos da primavera
perguntas-me ingenuamente o que isto quer dizer
e
à mingua de cerejas
ou de primavera
convidas-me a provar das uvas
que te descem das orelhas
e eu que nem sei o teu nome em árabe
inscrito na tatuagem
com que me abraças
nem o tamanho dos pés
com que foges
sim
quero dizer apenas que me vendo
em palavras
(vendo do verbo vendar).

Ademar
03.09.2008


Improvisación para que nadie más entienda...

El camino de las cerezas
que se pierde siempre en los ovillos de la primavera
me perguntas ingenuamente qué quiere decir esto
y
a falta de cerezas
o de primavera
me invitas a probar de las uvas
que te bajan de las orejas
y yo que ni sé tú nombre en árabe
inscrito en el tatuaje
con el que me abrazas
ni el tamaño de los pies
con los que huyes

quiero decir nada más que me vendo
en palabras
(vendo del verbo vendar).

Improviso açoriano...

Fixo finalmente o olhar nas pedras e nos pés
e nos cabelos que já foram compridos
tudo parece humedecer em volta
e nos dedos frágeis que
ancoram o corpo
é aqui que me detenho
neste equilíbrio precário com a grécia dentro
não há pernas que te conduzam tão longe
como pelo olhar
a água escorre silenciosamente
de uma fresta recortada na furna
que se abre
e tudo aquece e fervilha de novo
no interior da terra.

Ademar
02.09.2008


Improvisación azoriana...

Fijo finalmente la mirada en las rocas y en los pies
y en el pelo que fue largo
todo parece humedecerse alrededor
y en los dedos frágiles que
anclan el cuerpo
es aquí donde me detengo
en este equilibrio precario con grecia dentro
no hay piernas que te conduzcan tan lejos
como con los ojos
el agua rezuma silenciosamente
de una grieta recortada en la gruta
que se abre
y todo se calienta y bulle de nuevo
en el interior de la tierra.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Improviso para duas notas só...

Um pouco de chá
e um pouco de jazz
as teclas do corpo
e todas as mãos
palavras para lábios
quando nada fica por dizer
ou por cantar
não importa que seja um standard
este chá bebe-se frio
e sem adoçante
serve-me o piano e o contrabaixo
não preciso de prato sob a chávena
não preciso de chávena
não preciso de chá
basta-me a partitura desta tela
em branco
e o swing sempre apetecível
dos teus silêncios.

Ademar
01.09.2008


Improvisación para dos notas solo...

Un poco de té
y un poco de jazz
las teclas del cuerpo
y todas las manos
palabras para labios
cuando nada queda por decir
o por cantar
da igual que sea un standard
este té se bebe frío
y sin sacarina
sírveme el piano y el contrabajo
no necesito plato bajo la taza
no necesito taza
no necesito té
me basta la partitura de este lienzo
en blanco
y el swing siempre apetecible
de tus silencios.

Improviso para ventilador...

Morri hoje
mas ainda tenho que escrever este poema
antes que venham buscar o meu corpo
para a reciclagem
não sei se ainda tenho crédito de palavras
e temo mesmo que a password
neste momento
já esteja desactivada
mas arrisco
nem na morte me pesou a vida
digo-te que é apenas uma vertigem
nada que o amor entenda
ou o desamor
uma última miragem
o barco que finalmente sai da linha do horizonte
e parece naufragar
e foram necessárias tantas mortes
para chegar a esta
em que só tu me esperavas
não levantes já o meu corpo peço-te
deixa-me ainda acabar de morrer neste cigarro.

Ademar
31.08.2008


Improvisación para ventilador...

Me he muerto hoy
pero aún tengo que escribir este poema
antes de que vengan a recoger mi cuerpo
para el reciclaje
no sé si aún tengo crédito de palabras
y me temo incluso que la contraseña
en este momento
esté ya desactivada
pero me arriesgo
ni en la muerte me ha pesado la vida
te digo que es simplemente un vértigo
nada que el amor entienda
ni el desamor
un último espejismo
el barco que finalmente sale de la línea del horizonte
y parece naufragar
y han sido necesarias tantas muertes
para llegar a esta
en la que solo tú me esperabas
no levantes ya mi cuerpo te lo pido
déjame aún acabar de morir en este pitillo.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Improviso para pira e viola de arco...

Chegas o fogo ao combustível
e deixas arder
quando retomo a vertigem do fumo
envolvo-me nas chamas
e ofereço-me à fragmentação
em todos os gestos incendiários
este é o fogo que eu exijo
que ninguém apague
nem a água nos olhos
nem a espuma do céu.

Ademar
30.08.2008


Improvisación para pira y viola...

Acercas el fuego al combustible
y lo dejas arder
cuando retomo el vértigo del humo
me envuelvo en las llamas
y me ofrezco a la fragmentación
en todos los gestos incendiarios
este es el fuego que yo exijo
que nadie apague
ni el agua en los ojos
ni la espuma del cielo.

Improviso quase vagabundo...

De vez em quando
convocas-me pelo lado errado da noite
ou da vida
como se tudo afinal fosse indiferente
partir ou chegar
ou ficar ainda suspenso de uma esquina imaginária
entre luzes que cegassem apenas
todos os bares já tinham fechado
quando saí ao teu encontro
e tu não estavas em nenhum
estes bairros sem gente dentro
estas ruas que as sombras assaltam
estas ruínas em que só nós cabemos
já é tão tarde para voltar para casa.

Ademar
29.08.2008


Improvisación casi vagabunda...

De vez en cuando
me convocas por el lado errado de la noche
o de la vida
como si todo al final fuera indiferente
partir o llegar
o quedarse aún colgado de una esquina imaginaria
entre luces que cegaran nada más
todos los bares habían cerrado
cuando salí a tu encuentro
y tú no estabas en ninguno
estos barrios sin gente dentro
estas calles que las sombras asaltan
estas ruinas en las que solo nosotros cabemos
ya es tan tarde para volver a casa.

domingo, 23 de outubro de 2011

Improviso para "voucher"...

Haverá talvez um hotel
sobre o Tejo
um terraço uma varanda
e uma ponte
perpendicular à memória de Aranjuez
as noites adormecem devagar
quando ninguém te espera
e há mãos que não te oferecem mais do que poemas
trazes uma guitarra nos olhos
e as páginas do concerto
e não poupas ninguém ao recolhimento dos teus dedos
nesse hotel sobre o Tejo.

Ademar
28.08.2008


Improvisación para vale...

Habrá tal vez un hotel
sobre el Tajo
una terraza un balcón
y un puente
perpendicular a la memoria de Aranjuez
las noches se duermen despacio
cuando nadie te espera
y hay manos que no te ofrecen más que poemas
traes una guitarra en los ojos
y las páginas del concierto
y no dispensas a nadie del recogimiento de tus dedos
en ese hotel sobre el Tajo.

sábado, 22 de outubro de 2011

Improviso para desenhar a escuridão...

Já dei muitas voltas ao planeta
à procura dos teus olhos
e das tuas mãos
e adormeci sempre entre satélites
sem te ter encontrado
sei que me olhas e que me tocas
mas não te reconheço na noite antiquíssima
quando todas as luzes se apagam
e sobro apenas para a saudade
do que serás
nenhum corpo resiste a tamanha ausência
e não há palavras que ocupem o lugar
da vida que não quisemos.

Ademar
27.08.2008


Improvisación para dibujar la oscuridad...

He dado muchas vueltas al planeta
en busca de tus ojos
y de tus manos
y me dormido siempre entre satélites
sin haberte encontrado
sé que me miras y que me tocas
pero no te reconozco en la noche antiquísima
cuando todas las luces se apagan
y sigo aquí sólo para la nostalgia
de lo que serás
ningún cuerpo resiste a tamaña ausencia
y no hay palabras que ocupen el lugar
de la vida que no quisimos.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Improviso para continuar a contar noites...

Hoje inventei uma caixa de música
para não ter de me dar à manivela
do silêncio
volto sempre ao princípio de mim
para iludir o tempo
e digo-te as mesmas palavras
numa partitura sem fim
em dó menor ou em sol maior
tenho nuvens no pensamento
e não me ensinaste ainda a abrir o pára-quedas.

Ademar
26.08.2008


Improvisación para seguir contando noches...

Hoy he inventado una caja de música
para no tener que darme a la manivela
del silencio
vuelvo siempre al principio de mí
para engañar al tiempo
y te digo las mismas palabras
en una partitura sin fin
en do menor o en sol mayor
tengo nubes en el pensamiento
y no me has enseñado aún a abrir el paracaídas.

Improviso para responder a uma pergunta demorada...

Do terraço verás lá em baixo o rio
e se fechares os olhos
subirás ainda acima do K2
a um braço apenas da lua
essa encosta tem dois caminhos
e é na confluência deles que me encontrarás
não há mais vidas
depois desta que perdermos
não há mais palavras
nem silêncios
as noites morrem assim
entre janelas que ninguém abre
e ninguém fecha.

Ademar
25.08.2008


Improvisación para responder a una pregunta aplazada...

Desde la terraza verás ahí abajo el río
y si cierras los ojos
subirás aún por encima del K2
a un brazo nada más de la luna
esa ladera tiene dos caminos
y es en su confluencia donde me encontrarás
no hay más vidas
después de esta que perder
no hay más palabras
ni silencios
las noches mueren así
entre ventanas que nadie abre
y nadie cierra.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Improviso para essência...

Lavo todos os dias as palavras que uso
como as mãos
é uma higiene elementar
antes da mesa e antes do corpo
que te sirvo sobre a mesa
podes até embrulhar-te na toalha
imaculada
cheiras as palavras
e dizes rosmaninho
o leite e o mel
humedecem com a noite
os nossos lábios secretos.

Ademar
24.08.2008


Improvisación para esencia...

Lavo todos los días las palabras que uso
como las manos
es una higiene elemental
antes de la mesa y antes del cuerpo
que te sirvo sobre la mesa
puedes incluso envolverte en el mantel
inmaculado
hueles las palabras
y dices romero
la leche y la miel
humedecen con la noche
nuestros labios secretos.

Improviso para adormecer o futuro...

Nunca dançaste para mim o flamenco
em Sevilha era cedo
e em Granada já todos dormiam
e porém os teus pés
cobiçavam o palco do meu olhar
em joelhos servido
à luxúria do movimento dos dois braços que apontavas à lua
eras muito mais alta do que dizias
mais alta e mais esguia
mesmo quando dançavas nua e descalça
e os teus cabelos cheiravam a deserto
grutas afeiçoadas nas cordas
de todas as guitarras que me tocavam
por dentro do teu corpo
e ninguém dançava o flamenco como tu
nas tábuas dos espelhos da minha saudade.

Ademar
23.08.2008


Improvisación para dormir al futuro...

Nunca has bailado para mí flamenco
en Sevilla era pronto
y en Granada ya todos dormían
sin embargo tus pies
codiciaban el escenario de mi mirada
de rodillas servida
a la lujuria del movimiento de los dos brazos que apuntabas a la luna
eras mucho más alta de lo que decías
más alta y más esbelta
incluso cuando bailabas desnuda y descalza
y tu pelo olía a desierto
grutas amoldadas a las cuerdas
de todas las guitarras que me tocaban
por dentro de tu cuerpo
y nadie bailaba flamenco como tú
en las tablas de los espejos de mi añoranza.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Improviso para 46 cordas, mais as que te acrescentares...

Hoje adormeceria a ouvir esta harpa
se ajoelhasses à cabeceira da minha alma
e a tocasses
já pertenci a todas as mãos
menos às tuas
nenhuma noite tem tanto futuro dentro
como a noite que dizes
que nunca será.

Ademar
22.08.2008


Improvisación para 46 cuerdas, y las que te añadas...

Hoy me dormiría oyendo esta arpa
si te arrodillaras a la cabecera de mi alma
y la tocaras
he pertenecido a todas las manos
menos a las tuyas
ninguna noche tiene tanto futuro dentro
como la noche que dices
que nunca será.

Improviso para dizer que percebi...

Há mãos que circulam labirintos
e biombos transparentes
e há títulos que são máscaras caídas
e sedas que ainda enrugam o olhar
mas também há marcas de nudez
como impressões digitais
gestos que transportam memórias
de Álvaro de Campos
noites antiquísimas (lembras-te?)
outras vidas
outros corpos
mas sempre o mesmo
sempre o teu.

Ademar
21.08.2008


Improvisación para decir que he entendido...

Hay manos que circulan laberintos
y biombos transparentes
y hay títulos que son máscaras caídas
y sedas que todavía arrugan la mirada
pero también hay marcas de desnudez
como huellas dactilares
gestos que transportan recuerdos
de Álvaro de Campos
noches antiquísimas (¿te acuerdas?)
otras vidas
otros cuerpos
pero siempre el mismo
siempre el tuyo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Improviso quase redundante...

Há coisas que eu escrevo
e que só tu entendes
há coisas que eu escrevo
e que nem tu entendes
e há coisas que eu escrevo
para que tu não possas entender
tenho segredos impartilháveis
e outros que nem as palavras
saberiam dizer
é essa parte do mistério de cada um
que explica a resiliência dos deuses
todos os altares convidam
à ilusão do recolhimento.

Ademar
21.08.2008


Improvisación casi redundante...

Hay cosas que yo escribo
y que solo tú entiendes
hay cosas que yo escribo
y que ni tú entiendes
y hay cosas que yo escribo
para que tú no las puedas entender
tengo secretos incompartibles
y otros que ni las palabras
sabrían decir
es esa parte del misterio de cada un
lo que explica la resiliencia de los dioses
todos los altares invitan
a la ilusión del recogimiento.

Improviso para decifrar o Tejo...

Antes da idade das palavras
ainda não existíamos
e só o vento servia de ponte
às margens do rio que habitávamos
nesse tempo
nem o silêncio engravidava de palavras
eram só rumores e olhares
e cheiros primitivos
e as noites não cumpriam estações
todos os dias tinham em nós
a duração da eternidade.

Ademar
20.08.2008


Improvisación para descifrar el Tajo...

Antes de la edad de las palabras
aún no existíamos
y solo el viento servía de puente
a las orillas del río que habitábamos
en ese tiempo
ni el silencio se embarazaba de palabras
eran solo rumores y miradas
y olores primitivos
y las noches no cumplían estaciones
todos los días tenían en nosotros
la duración de la eternidad.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Improviso para tela e melancolia...

Continuas à janela
a ver as palavras que passam
a janela e as palavras
pintam uma tela nos teus olhos
dir-se-ia que nenhum recato
pousa nela
e a noite não desce persianas
sobre o silêncio em que te ouves
lá fora
e há uma voz que canta
numa língua que não entendes
as palavras tropeçam nas sombras
e pedem-te ajuda
deixas uma esmola com o olhar
parece um vinil dos mais antigos
esse que desce da janela
em que permaneces assim
será ainda Nat King Cole?

Ademar
19.08.2008


Improvisación para lienzo y melancolía...

Sigues en la ventana
viendo las palabras que pasan
la ventana y las palabras
pintan un lienzo en tus ojos
se diría que ningún recato
se posa en él
y la noche no baja persianas
sobre el silencio en el que te oyes
ahí afuera
y hay una voz que canta
en una lengua que no entiendes
las palabras tropiezan en las sombras
y te piden ayuda
dejas una limosna con la mirada
parece un vinilo de los más antiguos
ese que baja de la ventana
en la que permaneces así
¿será todavía Nat King Cole?

Improviso para errar o cartaz...

Regressaremos sempre àquela rua
em que nunca estivemos
e daremos as mãos
como na primeira vez
em que não demos
e desceremos ou subiremos as escadas
que só existem no filme de Wong Kar Way
para nos encontrarmos
onde logo nos desencontraremos
os violinos e os violoncelos têm as cordas
dos teus longos cabelos imaginários
e mesmo o corpo assim desnudado
é muito pouco provável que te pertença
hoje mais uma vez
chegaremos atrasados à sessão da meia noite
e nem a lua estará à nossa espera
quando finalmente nos cruzarmos
ah sim habitamos também uma longa história
de reposições falhadas.

Ademar
18.08.2008


Improvisación para equivocarse de cartelera...

Regresaremos siempre a aquella calle
en la que nunca estuvimos
y nos daremos las manos
como la primera vez
en que no nos las dimos
y bajaremos o subiremos las escaleras
que solo existen en la película de Wong Kar Way
para encontrarnos
donde luego nos desencontraremos
los violines y los violonchelos tienen las cuerdas
de tu larga melena imaginaria
e incluso el cuerpo así desnudado
es muy poco probable que te pertenezca
hoy una vez más
llegaremos tarde a la sesión de medianoche
y ni la luna estará esperándonos
cuando finalmente nos crucemos
ah sí habitamos también una larga historia
de reposiciones fallidas.

domingo, 16 de outubro de 2011

Improviso cobarde...

Não temos cartas para ir a jogo
nem para passar
as mãos vazias e cheias
de tantas mesas em que já ganhámos e perdemos
as noites agora começam e acabam assim
entre baralhos e máscaras que não se consentem sequer
o risco da nudez.


Ademar
17.08.2008


Improvisación cobarde...

No tenemos cartas para ir
ni para pasar
las manos vacías y llenas
de tantas mesas en las que hemos ganado y perdido
las noches ahora empiezan y acaban así
entre barajas y máscaras que no se consienten siquiera
el riesgo de la desnudez.

Improviso breve para servir de tela...

Há mais luzes no deserto
do que nas noites que o habitam
faltarão talvez os teus olhos
sobre o oásis mais próximo
nenhuma constelação tece no silêncio
a sombra das tuas asas.

Ademar
16.08.2008


Improvisación breve para servir de lienzo...

Hay más luces en el desierto
que en las noches que lo habitan
faltarán tal vez tus ojos
sobre el oásis más cercano
ninguna constelación teje en el silencio
la sombra de tus alas.

sábado, 15 de outubro de 2011

Improviso para plano e sequência...

Os olhos
convidam a memórias concêntricas
nesse lugar da alma
em que viajas sempre sobre um fio de luz
há penumbras em que ainda me perco
quando acendes na noite
uma vela apenas
e adormeces palavras.

Ademar
15.08.2008


Improvisación para plano y secuencia...

Los ojos
invitan a recuerdos concéntricos
en ese lugar del alma
en el que viajas siempre sobre un hilo de luz
hay penumbras en las que aún me pierdo
cuando enciendes de noche
una vela nada más
y duermes palabras.

Improviso para piano e contrabaixo...

Afinas em dó
a quinta corda
os dedos ainda não arriscam
o arco
nem os olhos
a teia da partitura
há um corpo
que se furta à nudez
uma máscara
que não cai
no princípio do jazz
o swing
o labirinto depois.

Ademar
14.08.2008


Improvisación para piano y contrabajo...

Afinas en dó
la quinta cuerda
los dedos aún no arriesgan
el arco
ni los ojos
la red de la partitura
hay un cuerpo
que se hurta a la desnudez
una máscara
que no cae
en el principio del jazz
el swing
el laberinto después.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Improviso para diário de bordo...

Arrumar a casa
o corpo
o pensamento
ou desarrumar tudo de vez
antes de partir
arrumar a compaixão
e o medo
e não voltar atrás
não olhar sequer para trás
arrumar o arrependimento
e a culpa
e a memória de outras viagens
arrumar a saudade
deste lugar a que já não pertenço
e o desejo
e as palavras derrotadas
antes de partir
não voltarei aqui
senão para te dizer
que voei por outras vidas.

Ademar
13.08.2008


Improvisación para diario de abordo...

Ordenar la casa
el cuerpo
el pensamiento
o desordenarlo todo de una vez
antes de partir
guardar la compasión
y el miedo
y no volver atrás
no mirar siquiera atrás
guardar el arrepentimiento
y la culpa
y el recuerdo de otras viajes
guardar la nostalgia
de este lugar al que ya no pertenezco
y el deseo
y las palabras derrotadas
antes de partir
no volveré aquí
sino para decirte
que he volado por otras vidas.

Improviso para sobrevoar o tempo...

Tantas vezes dissemos perfeição
que nos metemos dentro dela
e agora já não sabemos sair
que faremos com as noites que faltam?
a que destino cortaremos a cabeça
na manhã em que finalmente nos celebremos?
todas as lágrimas parecem levitar
quando as marés rebentam nos teus olhos.

Ademar
12.08.2008


Improvisación para sobrevolar el tiempo...

Tantas veces hemos dicho perfección
que nos hemos metido dentro de ella
y ahora ya no sabemos salir
¿qué haremos con las noches que faltan?
¿a qué destino le cortaremos la cabeza
la mañana en que finalmente nos celebremos?
todas las lágrimas parecem levitar
cuando las mareas revientan en tus ojos.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Improviso húmido...

Escalar-te pela vertente das noites
quando nenhuma voz te desperta
mais intensamente
e ouvir a respiração do silêncio
no desejo que parece rasgar ainda mais fundo
o pensamento
beber-te devagar
gota a gota
entre a foz e a nascente
de todos os rios interiores
e dizer-te sempre a sede
na nudez dos lábios que não adormecem.

Ademar
11.08.2008


Improvisación húmeda...

Escalarte por la vertiente de las noches
cuando ninguna voz te despierta
más intensamente
y oír la respiración del silencio
en el deseo que parece rasgar aún más a fondo
el pensamiento
beberte despacio
gota a gota
entre a la boca y la fuente
de todos los ríos interiores
y decirte siempre la sed
en la desnudez de los labios que no se duermen.

Improviso para inventar outra cidade...

Fosse eu o deus de turno
e inventaria uma cidade à medida do pensamento
sem gólgotas onde todas as noites nos deixássemos crucificar
uma cidade que não fosse
um labirinto de esconderijos
mas uma teia de bairros seguros e acolhedores
com ruas de poemas
em vez de heróis
e tocadores de harpa ou acordeão
em cada esquina
pedindo apenas um sorriso
nessa cidade
não trocarias de nome
nem de identidade
amarias apenas como és.

Ademar
10.08.2008


Improvisación para inventar otra ciudad...

Si fuera yo el dios de turno
inventaría una ciudad a medida del pensamiento
sin gólgotas donde todas las noches nos dejáramos crucificar
una ciudad que no fuera
un laberinto de escondrijos
sino una red de barrios seguros y acogedores
con calles de poemas
en vez de héroes
y tocadores de arpa o acordeón
en cada esquina
pidiendo solo una sonrisa
en esa ciudad
no cambiarías de nombre
ni de identidad
amarías simplemente como eres.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Improviso para regressarmos a Veneza...










Não empurres as ondas com o olhar
não perturbes ainda mais o seu embalo
faz-me companhia na proa do vaporetto
acordar-te-ei apenas no instante preciso de acostarmos
essa azáfama de barcos e de vidas
essa teia de memórias de tantas descobertas
o cais que nos espera os canais
e as águas tão sujas
antes de nos lavarmos delas
tens a pele tão branca
quando a lua começa a confundir-se com o teu corpo
que adormece nas minhas mãos.

Ademar
09.08.2008


Improvisación para que regresemos a Venecia...

No empujes las olas con la mirada
no perturbes aún más su balanceo
hazme compañía en la proa del vaporetto
te despertaré solo en el instante preciso en que nos acerquemos
a ese ajetreo de barcos y de vidas
esa red de recuerdos de tantos descubrimientos
el muelle que nos espera los canales
y las aguas tan sucias
antes de que nos lavemos de ellas
tienes la piel tan blanca
cuando la luna empieza a confundirse con tu cuerpo
que se duerme en mis manos.

Improviso para explicar por que não há poemas, nem amantes perfeitos...

Se eu tivesse mais vidas para dispor
disporia desta
como se fosse apenas a primeira
e tu indefesa me esperasses no regresso
de todas as viagens que não chegarei a fazer
já não tenho cama em que te deite
mas apenas altares ou proas de fantásticas embarcações
chegando e partindo
e esta é a vida sabes? a única vida
em que ousaria adorar-te
não há poemas nem amantes perfeitos
e só tu aliás os reconhecerias.

Ademar
08.08.2008


Improvisación para explicar por qué no hay poemas, ni amantes perfectos...

Si yo tuviera más vidas de las que disponer
dispondría de esta
como si fuera unicamente la primera
y tú indefensa me esperaras al regreso
de todas los viajes que no llegaré a hacer
ya no tengo cama en la que acostarte
sino solo altares o proas de fantásticas embarcaciones
que llegan y zarpan
y esta es la vida ¿sabes? la única vida
en la que osaría adorarte
no hay poemas ni amantes perfectos
y solo tú además los reconocerías.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Improviso na forma de natureza viva...

Se não levantares o olhar
verás apenas o que se eleva dos pés e pouco mais
corpos e movimentos que não reconheces
vidas que não cabem sequer na tua história
talvez quem se aproxime
venha ainda mais devagar
do que tu própria desejaste
o mar sugere preguiças e adormecimentos
não fotografes agora as ondas nem os barcos
fecha as narinas
ao perfume do vento
e concentra-te apenas nos rumores
que te atravessam.

Ademar
07.08.2008


Improvisación en forma de naturaleza viva...

Si no levantas la mirada
verás solo lo que se eleva desde los pies y poco más
cuerpos y movimientos que no reconoces
vidas que no caben siquiera en tu historia
tal vez quien se aproxime
venga aún más despacio
de lo que tú misma has deseado
el mar sugiere perezas y adormecimientos
no fotografíes ahora las olas ni los barcos
cierra las ventanas de la nariz
al perfume del viento
y concéntrate solo en los rumores
que te atraviesan.