domingo, 31 de outubro de 2010

Improviso para milagrar...

Sinto-me a gerir a tua alma
como se ela já não te pertencesse
suspendo flores diante de cada um dos teus retratos
para dizer que ainda vives
milagro-te
como li a Manoel de Barros
há um labirinto que nos ainda serve de alcova
tenho a memória despida de ti
e porém
continuas a convidar-me à eternidade.

Ademar
16.01.2007


Improvisación para milagrear...

Me siento gobernando tu alma
como si ella ya no te perteneciera
cuelgo flores ante cada uno de tus retratos
para decir que aún vives
te milagreo
como le leí a Manoel de Barros
hay un laberinto que todavía nos sirve de alcoba
tengo la memoria despojada de ti
y sin embargo
sigues invitándome a la eternidad.

Improviso para distrair o cais...

Desaprendo de esperar
habituo-me a errar o tempo
como se jogássemos sempre às escondidas
se alguma coisa fosse certa em mim
seria esta capacidade de estar sempre desatento
a todos os embarques e desembarques
há uma rotina que me conduz ao cais
e uma névoa interior que não me deixa ver
quem chega e quem parte
distraio-me das horas e dos compromissos
sei apenas que desaprendo de esperar
e regresso sempre a mim
interpelando-me na multidão
falo por muitas mais vozes
do que aquela esta que ouves.

Ademar
13.01.2007


Improvisación para despistar el muelle...

Desaprendo de esperar
me habitúo a errar el tiempo
como si jugásemos siempre al escondite
si algo fuera cierto en mí
sería esta capacidad de estar siempre desatento
a todos los embarques y desembarques
hay una rutina que me conduce al muelle
y una niebla interior que no me deja ver
quién llega y quién parte
me despisto de las horas y de los compromisos
sólo sé que desaprendo de esperar
y regreso siempre a mí
interpelándome en la muchedumbre
hablo por muchas más voces
que aquella esta que oyes.

Improviso para respirar...

O fio da tua voz
enrola-se-me na garganta
e quase asfixio
prometes-me a boca
sobre todos os tabus
e o silêncio
dos pudores originais
essa jaula tem as grades
que te colocas.

Ademar
11.01.2007


Improvisación para respirar...

El hilo de tu voz
se me enrolla en la garganta
y casi me asfixio
me prometes la boca
sobre todos los tabúes
y el silencio
de los pudores originales
esa jaula tiene las rejas
que te colocas.

sábado, 30 de outubro de 2010

Improviso para contar talvez o vento...

Que te ignorassem os astros
e a noite continuaria ainda a acordar
no teu corpo
já não há poema que nos distraia
do tempo em que seremos
o vento ouves o vento
esse gemido quase animal
que parece confundir no horizonte mais próximo de nós
o íntimo rumor de todas as palavras?
sim
talvez a vida tropece ainda nos teus gestos
esse lastro de imaterialidade
que te projecta muito para além da própria vida.

Ademar
10.01.2007


Improvisación para contar tal vez el viento...

Que te ignorasen los astros
y la noche seguiría aún despertándose
en tu cuerpo
ya no hay poema que nos distraiga
del tiempo en que seremos
el viento ¿oyes el viento
ese gemido casi animal
que parece confundir en el horizonte más cercano a nosotros
el íntimo rumor de todas las palabras?

tal vez la vida tropiece todavía en tus gestos
ese lastre de inmaterialidad
que te proyecta mucho más allá de la propia vida.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Improviso sobre a mais presente de todas as ausências...

Dá-me as formas
para eu caber em ti
as medidas não
que eu não respeito medidas
a tua ausência
tem mais presença
do que todos os mortos
há quase uma vida depois de ti
e antes de ti
e no meio do que fui
e do que serei
estás tu
e eu contigo.

Ademar
09.01.2007


Improvisación sobre la más presente de todas las ausencias...

Dame las formas
para que quepa en ti
las medidas no
que yo no respeto medidas
tu ausencia
tiene más presencia
que todos los muertos
hay casi una vida después de ti
y antes de ti
y en el medio de lo que fui
y de lo que seré
estás tú
y yo contigo.

Improviso para desejar apenas boa viagem...

Pode ser que o universo
comece e acabe em ti
e que Einstein afinal se tenha enganado
que tudo passe pelo teu corpo
e se submeta a ele
e que te ofereças
a todos os movimentos de translação
sem te confiares a nenhum
pode ser mesmo que não tenhas
fim nem princípio
que comeces onde acabes
e acabes sempre onde comeces
e pode ser que a tua vontade
seja a própria fonte do cosmos
e que nada exista fora de ti
ou dentro
pode ser até que viajes apenas
neste poema.

Ademar
08.01.2007


Improvisación para desear solamente buen viaje...

Puede ser que el universo
empiece y acabe en ti
y que Einstein al final se haya equivocado
que todo pase por tu cuerpo
y se someta a él
y que te ofrezcas
a todos los movimientos de traslación
sin confiarte a ninguno
puede ser incluso que no tengas
fin ni principio
que empieces donde acabes
y acabes siempre donde empieces
y puede ser que tu voluntad
sea la propia fuente del cosmos
y que nada exista fuera de ti
o dentro
hasta puede ser que viajes solamente
en este poema.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Improviso para refundar a iniciação...

Perder tudo e ganhar tudo
dizes
voltar ao princípio do que seremos
eis o único sentido da viagem
que intimamente nos espreita.

Ademar
07.01.2007


Improvisación para refundar la iniciación...

Perderlo todo y ganarlo todo
dices
volver al principio de lo que seremos
he ahí el único sentido del viaje
que íntimamente nos acecha.

Improviso a benefício de inventário...

Já retirei as cortinas
as persianas
e as janelas
o universo poderá agora
cavalgar livremente por ti
nesse único horizonte
que te impões
ah
deixei ficar apenas as grades
para que jamais te esqueças
de onde vieste.

Ademar
02.01.2007


Improvisación a beneficio de inventario...

Ya he retirado las cortinas
las persianas
y las ventanas
el universo podrá ahora
cabalgar libremente por ti
en ese único horizonte
que te impones
ah
he dejado quedar sólo las rejas
para que jamás te olvides
de dónde has venido.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Improviso para reiniciar a história...

Amor é negócio de almas
poupai-o à circunstância dos corpos.

Ademar
01.01.2007


Improvisación para reiniciar la historia...

Amor es negocio de almas
ahorradle la circunstancia de los cuerpos.

Improviso para imaginar a Europa a partir do Picoto...

Antologia poética (470)...

Talvez da lixeira do Picoto
ainda se veja a cidade
antes de todas as guerras
a ponte que um dia terá sido romana
sobre o Guadalquivir
ou Rialto de todas as setas
alombando sobre o grande canal
os olhos que mergulham para dentro
cruzam todas as memórias
o flamenco e as máscaras
a certeza da porta fechada
que se abre para a noite
quando tu chegas e já não queres deitar-te
e lá em baixo outro canal
com as suas pontes de cimento
que ninguém atravessa
e Paris que corre entre nós
como se lá tivéssemos vivido
esta ausência de bússulas
que nos viaja
este mapa impossível
de tantas saudades
sem data e sem lugar
já estivemos lá
e perdemo-nos sempre.

Ademar
01.08.2006


Antología poética (470)...

Improvisación para imaginar Europa a partir del Picoto...

Tal vez desde el basurero del Picoto
todavía se vea la ciudad
antes de todas las guerras
el puente que quizá un día fue romano
sobre el Guadalquivir
el Rialto de todas las flechas
combándose sobre el gran canal
los ojos que se sumergen hacia dentro
cruzan todas las memorias
el flamenco y las máscaras
la certeza de la puerta cerrada
que se abre a la noche
cuando tú llegas y ya no te quieres acostar
y allá abajo otro canal
con sus puentes de cemento
que nadie atraviesa
y París que corre entre nosotros
como si hubiéramos vivido allí
esta ausencia de brújulas
que nos viaja
este mapa imposible
de tantas nostalgias
sin fecha y sin lugar
ya estuvimos ahí
y nos perdimos siempre.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Improviso para Bach (ou para ti)...

Antologia poética (469)...

Se entrasses agora
por aquela porta
ouvirias Bach
serias Bach
e eu continuaria a desfolhar em vão
a partitura
atento apenas às tuas mãos
vazias sempre de teclas.

Ademar
02.08.2006


Antología poética (469)...

Improvisación para Bach (o para ti)...

Si entrases ahora
por aquella puerta
oirías a Bach
serías Bach
y yo seguiría deshojando en vano
la partitura
atento sólo a tus manos
vacías siempre de teclas.

Improviso sobre a mentira...

Antologia poética (468)...

A mentira
é uma aprendizagem
aprendi a mentir
no confessionário
diante de uma sombra
que me interrogava
em nome de um deus fardado
eu confessava espontaneamente
todos os pecados
que ele esperava
os pecados do corpo
e até os pecados da alma
tudo a preto-e-branco
e sem genérico ou legendas
cinema mudo para cegos
foi assim
entre perfis de altares vazios
que eu aprendi a mentir
a mim próprio
pecado
de todos o mais capital.

Ademar
03.08.2006


Antología poética (468)...

Improvisación sobre a mentira...

La mentira
es un aprendizaje
aprendí a mentir
en el confesionario
ante una sombra
que me interrogaba
en nombre de un dios uniformado
yo confesaba espontáneamente
todos los pecados
que él esperaba
los pecados del cuerpo
y hasta los pecados del alma
todo en blanco y negro
y sin créditos o subtítulos
cine mudo para ciegos
fue así
entre perfiles de altares vacíos
como aprendí a mentir
a mí mismo
pecado
de todos el más capital.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Improviso para Brecht... *

Antologia poética (467)...









Brecht
meu cúmplice de tantos dramas
a guerra por aqui
está pela hora do nosso inimigo de sempre
degrada-se o armamento
com o excesso de uso
e os projécteis
já não matam como outrora
inquieta-me todo este desperdício
hoje dispara-se à toa
falta treino de poupança
aos generais
o crédito sopra a indústria da morte
e a morte coitada
faz horas extraordinárias
para abastecer o mercado
mas a guerra não pára
a guerra não pára
e os orçamentos não chegam
para pagar tanta guerra
acabaremos todos nos braços da banca
essa puta inefável.

Ademar
02.08.2006

* A imagem que ilustra o "improviso" reproduz uma litografia de Mabel Dwight.


Antología poética (467)...

Improvisación para Brecht... *

Brecht
cómplice mío de tantos dramas
la guerra por aquí
está a favor de nuestro enemigo de siempre
se degrada el armamento
con el exceso de uso
y los projectiles
ya no matan como antaño
me inquieta todo este desperdicio
hoy se dispara al tuntún
les falta entreno de ahorro
a los generales
el crédito infla la industria de la muerte
y la muerte la pobre
hace horas extraordinarias
para abastecer el mercado
pero la guerra no para
la guerra no para
y los presupuestos no llegan
para pagar tanta guerra
acabaremos todos en los brazos de la banca
esa puta inefable.

* La imagen que ilustra la "improvisación" reproduce una litografía de Mabel Dwight.

Improviso para uma leitora...

Antologia poética (465)...

Quando todas as vozes
forem uma
regressarei ao cantochão
para morrer.

Ademar
04.08.2006


Antología poética (465)...

Improvisación para una lectora...

Cuando todas las voces
sean una
regresaré al canto llano
para morir.

domingo, 24 de outubro de 2010

Improviso em forma de arquipélago...

Antologia poética (464)...

Esperaste comigo
tempo de mais
ou o tempo indispensável
eu era apenas um aeroporto periférico
donde talvez deixassem um dia de partir
(acreditaste)
os aviões para os Açores
um daqueles aeroportos em que só pousamos
por razões de escala
as molduras servem para todos os retratos
mas há retratos que não cabem
na única moldura que somos
sempre te disse (lembras-te?)
que há viagens que eternamente adolescemos
eu era apenas um berço tardio
a mais longínqua e inabitável de todas as ilhas.

Ademar
05.08.2006


Antología poética (464)...

Improvisación en forma de archipiélago...

Has esperado conmigo
demasiado tiempo
o el tiempo indispensable
yo era sólo un aeropuerto periférico
de donde quizá dejasen un día de partir
(creíste)
los aviones a las Azores
uno de aquellos aeropuertos en los que sólo nos posamos
por razones de escala
las molduras sirven para todos los retratos
pero hay retratos que no caben
en la única moldura que somos
siempre te he dicho (¿recuerdas?)
que hay viajes que eternamente remozamos
y yo era sólo una cuna tardía
la más lejana e inhabitable de todas las islas.

Improviso para dois cravos e todas as cordas...

Antologia poética (463)...

Ouve
hoje descobri no fundo de mim
uma lágrima
aproveitei para chorar
inadvertidamente
sobre os vinis em terceira ou quarta mão
que um dia me trouxeste das Canárias
a agulha tropeça como eu nas espiras
como se o andante do concerto de Bach tardasse
em dó menor para dois cravos
BWV 1062
ainda há gemidos que eu ouço
no sofá ao fundo da sala
quando tiravas os óculos
para não veres que era eu
nunca me explicaste
por que eram precisos tantos dedos
para tocar um instrumento tão delicado
Gustav Leonhardt.

Ademar
06.08.2006


Antología poética (463)...

Improvisación para dos claves y todas las cuerdas...

Oye
hoy he descubierto en el fondo de mí
una lágrima
he aprovechado para llorar
inadvertidamente
sobre los vinilos de tercera o cuarta mano
que un día me trajiste de Canárias
la aguja tropieza como yo en las espiras
como si el andante del concierto de Bach tardase
en dó menor para dos claves
BWV 1062
todavía hay gemidos que oigo
en el sofá del fondo de la sala
cuando te quitabas las gafas
para no ver que era yo
nunca me explicaste
por qué hacían falta tantos dedos
para tocar un instrumento tan delicado
Gustav Leonhardt.

sábado, 23 de outubro de 2010

Improviso para distrair o abandono...

Antologia poética (462)...

Não há segredos
para explicar o regresso
a vertigem do eterno retorno
a nostalgia
transporta-nos sempre aos embalos iniciais
como se apenas no passado
de todos os abandonos
pudéssemos ainda encontrar algum conforto
para o próprio abandono.

Ademar
06.08.2006


Antología poética (462)...

Improvisación para distraer el abandono...

No hay secretos
para explicar el regreso
el vértigo del eterno retorno
la nostalgia
nos transporta siempre a los balanceos iniciales
como si sólo en el pasado
de todos los abandonos
pudiéramos aún encontrar algun consuelo
para el propio abandono.

Improviso para violino imaginário...

Antologia poética (461)...

Se ainda te lembras
foi em Salò
o berço de Gaspare
junto à Piazza Duomo
que comprei
Il Trillo del Diavolo
que agora ouço
tentaste explicar-me a minudência técnica
mas eu não percebi
faltava nas tuas mãos
talvez para a dança da vida breve de Falla
(a aula prática)
um violino
sobrava-nos antes a imaginação de Pier Paolo Pasolini
para todo o horror dos 120 dias de Sodoma
que nos levara àquelas margens tardias do Garda
ainda voltámos a Salò
mas já não a tempo de reescrever a história
a nossa.

Ademar
07.08.2006


Antología poética (461)...

Improvisación para violín imaginario...

Si todavía te acuerdas
fue en Salò
la cuna de Gaspare
junto a la Piazza Duomo
donde compré
Il Trillo del Diavolo
que ahora oigo
intentaste explicarme el pormenor técnico
pero yo no lo entendí
faltaba en tus manos
tal vez para la danza de la vida breve de Falla
(la clase prática)
un violín
nos quedaba eso sí la imaginación de Pier Paolo Pasolini
para todo el horror de los 120 días de Sodoma
que nos había llevado a aquellas orillas tardías del Garda
aún volvimos a Salò
pero ya no a tiempo de rescribir la historia
la nuestra.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Improviso sobre o fogo em que ardemos...

Antologia poética (460)...

Como Marley
poderia também dizer-te
No Woman No Cry
as lágrimas não abrem as janelas
que deixámos fechar
e há manhãs de sumo de laranja
que não voltaremos a beber
as saudades tropeçam no destino
e nós tropeçamos nas saudades
sobra ainda esta fuligem de fogo
que nos sufoca por dentro
como se continuássemos a arder.

Ademar
07.08.2006


Antología poética (460)...

Improvisación sobre el fuego en que ardemos...

Como Marley
podría también decirte
No Woman No Cry
las lágrimas no abren las ventanas
que hemos dejado cerrar
y hay mañanas de zumo de naranja
que no volveremos a beber
la nostalgia tropieza en el destino
y nosotros tropezamos en la nostalgia
resta aún este hollín de fuego
que nos sofoca por dentro
como si siguiésemos ardiendo.

Improviso sobre "Caro mio ben", de Giordani...

Antologia póetica (459)...

Cecilia
no Teatro Olímpico
de Vicenza
cantando apenas para nós
(ficaste com as fotografias)
Caro mio ben
de Giuseppe Giordani
credimi almen
senza di te
languisce il cor
a voz no palco de todas as máscaras
as estátuas espreitando-nos
a antiguidade ali tão perto de nós
e tu subindo e descendo os degraus
à procura do ângulo que falha sempre
il tuo fedel
sospira ognor
cessa crudel
tanto rigor
caro mio ben
Cecilia Bartoli
Agosto de 2003
(digo: Junho de 1998).

Ademar
07.08.2006


Antología póetica (459)...

Improvisación sobre "Caro mio ben", de Giordani...

Cecilia
en el Teatro Olímpico
de Vicenza
cantando sólo para nosotros
(te quedaste con las fotografías)
Caro mio ben
de Giuseppe Giordani
credimi almen
senza di te
languisce il cor
la voz en el palco de todas las máscaras
las estatuas observándonos
la antigüedad allí tan cerca de nosotros
y tú subiendo y bajando los escalones
en busca del ángulo que falla siempre
il tuo fedel
sospira ognor
cessa crudel
tanto rigor
caro mio ben
Cecilia Bartoli
agosto de 2003
(digo: junio de 1998).

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Improviso para vigiar o teu sono...

Nesse sonho viajas por mim
e vais ainda mais longe
do que já te imaginaste
a realidade do teu desejo
tem agora dimensões que desconhecias
e nao há célula do teu corpo
que me vire as costas
como na fotografia
o teu dicionário íntimo soletra palavras
princesa puta escrava
e acrescenta-lhes todos os adjectivos
com que te fantasias
nao há terminologia agora que te termine
renasces sempre em todos os sonhos.

Ademar
06.01.2006


Improvisación para velarte el sueño...

En ese ensueño viajas por mí
y vas aún más lejos
de lo que te hayas imaginado
la realidad de tu deseo
tiene ahora dimensiones que desconocías
y no hay célula de tu cuerpo
que me dé la espalda
como en la fotografía
tu diccionario íntimo deletrea palabras
princesa puta esclava
y les añade todos los adjetivos
con los que te fantaseas
no hay terminología ahora que te termine
renaces siempre en todos los ensueños.

Improviso para conjugar o verbo pertencer...

Improviso para conjugar o verbo pertencer...

Os meus olhos acrescentam luminosidade ao teu corpo
e quando entro pelas frestas do pensamento que me abres
percebo que já somos um
em vez de dois
o verbo pertencer conjuga-se assim.

Ademar
05.01.2006


Improvisación para conjugar el verbo pertenecer...

Mis ojos añaden luminosidad a tu cuerpo
y cuando entro por las rendijas del pensamiento que me abres
entiendo que ya somos uno
en vez de dos
el verbo pertenecer se conjuga así.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Improviso para segredar ao ouvido...

Antologia poética (458)...

Há segredos
que eu não dispo para ninguém
senão para ti
que vives dentro deles
como numa espécie de concha da alma
seria inútil negar-te o que sabes
porque sempre o soubeste
mesmo antes de mim.

Ademar
08.08.2006


Antología poética (458)...

Improvisación para susurrar al oído...

Hay secretos
que no desnudo para nadie
sino para ti
que vives dentro de ellos
como en una especie de concha del alma
sería inútil negarte lo que sabes
porque siempre lo has sabido
incluso antes que yo.

Improviso sobre uma ária de J.S.Bach...

Antologia poética (457)...

Que os meus olhos sempre despertos
só adormecessem por dentro dos teus
que as nossas mãos
não errassem as cordas da guitarra nem a partitura
que não houvesse mais corpo entre nós
para além do pensamento
e que até as palavras perdessem
a noção do tempo
que tudo
fosse simples delicado e perfeito
como nesta ária de Bach
uma nudez de saudades
um silêncio de lágrimas
a eternidade cantada assim
num sorriso sem data.

Ademar
08.08.2006


Antología poética (457)...

Improvisación sobre un aria de J.S.Bach...

Que mis ojos siempre despiertos
sólo se durmiesen por dentro de los tuyos
que nuestras manos
no errasen las cuerdas de la guitarra ni la partitura
que no hubiese más cuerpo entre nosotrós
al otro lado del pensamiento
y que hasta las palabras perdiesen
la noción del tiempo
que todo
fuese simple delicado y perfecto
como en esta aria de Bach
una desnudez de nostalgia
un silencio de lágrimas
la eternidad cantada así
en una sonrisa sin fecha.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Improviso para explicar que a poesia deve ser outra coisa...

Antologia poética (456)...

Depois da morte
a vida deve ter mais
do que intervalos
entre as ausências
perguntas-me se aguento
e eu respondo
que tentarei
não saberia sequer dizer-te
o que espero
ou mesmo se espero
este intervalo
já faz parte de mim
sou uma saudade do que fui
talvez a mesma saudade
que te leva a perguntar-me
se aguento
pudesse eu saber
o quê.

Ademar
08.08.2006


Antología poética (456)...

Improvisación para explicar que la poesía debe ser otra cosa...

Tras la muerte
la vida debe tener más
que intermedios
entre las ausencias
me preguntas si aguanto
y respondo
que lo intentaré
no sabría siquiera decirte
qué espero
o tan sólo si espero
este intermedio
ya forma parte de mí
soy una nostalgia de lo que fui
tal vez la misma nostalgia
que te lleva a perguntarme
si aguanto
quisiera yo saber
qué.

Improviso para adormecer pássaros...

Antologia poética (455)...

Com a simplicidade dos crentes
contaram-me hoje
que alguém
por amor
fingiu deixar de amar quem amava
só para que a gaiola se abrisse
e o pássaro aprisionado
finalmente pudesse voar
em direcção à gaiola que
por direito da paixão
julgava pertencer-lhe
estórias
que a literatura inventa.

Ademar
08.08.2006


Antología poética (455)...

Improvisación para dormir pájaros...

Con la simplicidad de los creyentes
me han contado hoy
que alguien
por amor
fingió dejar de amar a quien amaba
sólo para que la jaula se abriese
y el pájaro aprisionado
finalmente pudiera volar
en dirección a la jaula que
por derecho de la pasión
creía le pertenecía
cuentos
que la literatura inventa.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Improviso para antecipar o caminho inverso...

Antologia poética (454)...

Ei-lo
o homem
exactamente à medida da tua paixão
medida de todas as paixões
o primeiro
que riu contigo
que disse talvez que eras única
que te serviu a vida
numa girândola de ilusões
ei-lo
uma vez mais
adolescendo contigo
inventando madrugadas
que jogam a tua ausência
um dia regressarás a ti
pelo caminho inverso.

Ademar
09.08.2006


Antología poética (454)...

Improvisación para anticipar el camino inverso...

Helo ahí
el hombre
exactamente a medida de tu pasión
medida de todas las pasiones
el primero
que se rio contigo
que dijo tal vez que eras única
que te sirvió la vida
en una girándula de ilusiones
Helo
una vez más
remozando contigo
inventando madrugadas
que se juegan tu ausencia
un día regresarás a ti
por el camino inverso.

Improviso sobre Touch Me...

Há pepinos que cheiram ainda às minhas mãos
quando ouves comigo Touch Me
The Doors
lembras-te?
aquela batida que quase se confundia com o coração
e que só parava na espira seguinte do vinil
digo na vida seguinte
e as estrelas que não calavam a chuva
naquela letra que nunca foi de poema
come on come on come on
now touch me baby
e a promessa de todos os céus por azular
e mesmo o sopro que não faltava
não digo o instrumento
porque nunca percebi de metais.

Ademar
03.01.2006


Improvisación sobre Touch Me...

Hay pepinos que huelen aún a mis manos
cuando oyes conmigo Touch Me
The Doors
¿te acuerdas?
aquel toque que casi se confundía con el corazón
y que sólo paraba en la espira siguiente del vinilo
digo en la vida siguiente
y las estrellas que no callaban la lluvia
en aquella letra que nunca fue de poema
come on come on come on
now touch me baby
y la promesa de todos los cielos por azulear
e incluso el viento que no faltaba
no digo qué instrumento
porque nunca entendí de metales.

domingo, 17 de outubro de 2010

Improviso para aliviar ausências...

Antologia poética (453)...

Nunca aprendi a dizer
adeus
destituí-me para renúncias
herdei talvez
de minha mãe
esta incapacidade
a morte
que se sentava sempre à mesa
e entretinha as ausências
e eu que comia depressa
para não ouvir
a única janela era interior
e abria para a cozinha
donde vinham todos os cheiros
e todas as vozes
que transgrediam o silêncio
a infância
naquele tempo
em que ninguém se despedia
e todos voltavam
a memória das pessoas
parecia fazer parte delas
não havia palavras
para ensinar o esquecimento.

Ademar
10.08.2006


Antología poética (453)...

Improvisación para aliviar ausencias...

Nunca aprendí a decir
adiós
me destituí en renuncias
heredé tal vez
de mi madre
esta incapacidad
la muerte
que se sentaba siempre a la mesa
y entretenía las ausencias
y yo que comía deprisa
para no oír
la única ventana era interior
y daba a la cocina
de donde venían todos los olores
y todas las voces
que transgredían el silencio
la infancia
en aquel tiempo
en el que nadie se despedía
y todos volvían
a la memoria de las personas
parecía formar parte de ellas
no había palabras
para enseñar el olvido.

Improviso quase para desenfeitiçar...

Nada é mais escuro do que a noite
que me ofereces e porém mais claro
tenho antípodas no pensamento
que te viaja
entre todos os solstícios.

Ademar
31.12.2006


Improvisación casi para deshechizar...

Nada es más oscuro que la noche
que me ofreces y sin embargo más claro
tengo antípodas en el pensamiento
que te viaja
entre todos los solsticios.

sábado, 16 de outubro de 2010

Improviso para não desistir do círculo...

Há muitos anos que acredito que
as mentalidades hão-de mudar
acho mesmo que nasci a acreditar que
as mentalidades hão-de mudar
tenho a certeza de que morrerei a acreditar que
as mentalidades hão-de mudar
mudarei?

Ademar
31.12.2006


Improvisación para no desistir del círculo...

Hace muchos años que creo que
las mentalidades van a cambiar
pienso incluso que nací creyendo que
las mentalidades van a cambiar
tengo la certeza de que me moriré creyendo que
las mentalidades van a cambiar
¿cambiaré?

Improviso sobre Diabaté...

Antologia poética (452)...

Vivemos em corpos trocados
agora fechamos os olhos para não vermos
há uma fronteira de invisualidade
que ao mesmo tempo nos separa e aproxima
cegámos o desejo
e agora tacteamo-nos.

Ademar
13.08.2006


Antología poética (452)...

Improvisación sobre Diabaté...

Vivimos en cuerpos cambiados
ahora cerramos los ojos para no ver
hay una frontera de invisualidad
que al mismo tiempo nos separa y aproxima
hemos cegado el deseo
y ahora nos palpamos.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Improviso para violino, guitarra e medo...

Antologia poética (451)...

Seria talvez
o último encore
ou o primeiro de todos
mas tu não quiseste arriscá-lo
trocaste o violino pelo medo
e falhaste uma vez mais a partitura.

Ademar
14.08.2006


Antología poética (451)...

Improvisación para violín, guitarra y miedo...

Sería tal vez
el último bis
o el primero de todos
pero no quisiste arriesgarlo
cambiaste el violín por el miedo
y fallaste una vez más la partitura.

Improviso para dizer o cais...

Antologia poética (450)...

Empresto-te a mão
apenas uma delas
a mão de que não preciso
para escrever que não há rostos perfeitos
destinos escritos a fogo
na intensidade dos olhares
uma voz uma pronúncia
e o sangue que corre
por fora de nós
entrando nessa corrente universal
que aproxima e afasta os corpos
que se aguardam no cais
agora já posso desembarcar nos teus silêncios
tocar a imagem
segredar-te ao ouvido os versos
que tu seguramente completarás
como se sempre tivesses adivinhado
as saudades que esperavam
os lábios entreabertos
o sorriso suspenso
e o mais que não vejo
talvez essa íntima fracção
de uma vontade de regresso
que esvoaça imperceptivelmente dos olhos.

Ademar
15.08.2006


Antología poética (450)...

Improvisación para decir el muelle...

Te presto la mano
sólo una de ellas
la mano que no necesito
para escribir que no hay rostros perfectos
destinos escritos a fuego
en la intensidad de las miradas
una voz un acento
y la sangre que corre
por fuera de nosotros
entrando en esa corriente universal
que aproxima y aleja los cuerpos
que se aguardan en el muelle
ahora ya puedo desembarcar en tus silencios
tocar la imagen
musitarte al oído los versos
que tú seguramente completarás
como si siempre hubieses adivinado
la nostalgia que esperaba
los labios entreabiertos
la sonrisa suspendida
y todo cuanto no veo
tal vez esa íntima fracción
de un voluntad de regreso
que revolotea imperceptiblemente de los ojos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Improviso para explicar tudo ao contrário...

Antologia poética (449)...

A porta abre-se para o mar
e é do mar que tu vens
como se os teus braços fossem ondas
e tudo afinal fizesse sentido
nessa ausência ilíquida de formas
um corpo suspenso sobre um horizonte
de renúncias
a âncora subindo de ti
em direcção às nuvens que te esperam
e a bússola talvez nos teus olhos
parada exactamente nesse ponto
em que tudo começa.

Ademar
15.08.2006


Antología poética (449)...

Improvisación para explicarlo todo al revés...

La puerta se abre al mar
e es del mar de donde vienes
como si tus brazos fuesen olas
y todo al final tuviese sentido
en esa ausencia ilíquida de formas
un cuerpo suspendido sobre un horizonte
de renuncias
el ancla subiendo de ti
en dirección a las nubes que te esperan
y la brújula tal vez en tus ojos
parada exactamente en ese punto
en el que todo empieza.

Improviso em forma de haiku para me oferecer...

Antologia poética (448)...

Emprestaria o corpo para realejo
se alguma rua me quisesse
já não tenho serventia para afinador.

Ademar
16.08.2006


Antología poética (448)...

Improvisación en forma de haikú para ofrecerme...

Prestaría el cuerpo como organillo
si alguna calle me quisiese
ya no tengo utilidad como afinador.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Improviso sobre Yamore...

Antologia poética (447)

Vagueias o amor em pedaços
repartes-te assim
ouves quando não vês
se perdesses os olhos
verias com as mãos
se as mãos não vissem
talvez cheirassem
e
ainda que mutilada de todos os sentidos
continuarias a pensar-me
o amor tem silêncios
que só tu ouvirás.

Ademar
16.08.2006


Antología poética (447)

Improvisación sobre Yamore...

Vagabundeas el amor en pedazos
te repartes así
oyes cuando no ves
si perdieses los ojos
verías con las manos
si las manos no viesen
tal vez oliesen
y
aun mutilada de todos los sentidos
seguirías pensándome
el amor tiene silencios
que sólo tú oirás.

Improviso a brincar com palavras e os seus sentidos...

Toda a vida
todavia
toda a vida.

Ademar
29.12.2006


Improvisación que juega con palabras y sus sentidos...

Toda vida
todavía
toda vida.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Improviso confidencial...

Confidencias-me diariamente
o medo e o orgulho do sofrimento
lentamente
desapossas-te do corpo que te serviu
e agora serve apenas
espantosa viagem essa
do alto-mar para o cais dos espinhos
o universo em ti todo a nado
metáfora de uma paixão talvez sem falhas.

Ademar
29.12.2006


Improvisación confidencial...

Me confidencias diariamente
el miedo y el orgullo del sufrimiento
lentamente
te despojas del cuerpo que te ha servido
y sirve apenas
admirable viaje ese
de alta mar hacia el muelle de las púas
el universo en ti todo a nado
metáfora de una pasión tal vez sin taras.

Improviso oficinal...

Desaparafuso-me do pensamento em emoções
as peças já não me encaixam.

Ademar
29.12.2006


Improvisación talleril...

Me desatornillo del pensamiento en emociones
las piezas ya no me encajan.

Ademar
29.12.2006

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Improviso para tatuar futuros...

Ofereces-me as costas
para que eu escreva nelas
frágil território para mãos
tão carentes de narrativa
deixa-me reiventar o dicionário e a gramática
soletra-me depois.

Ademar
28.12.2006


Improvisación para tatuar futuros...

Me ofreces la espalda
para que escriba en ella
frágil territorio para manos
tan carentes de narrativa
déjame reiventar el diccionario y la gramática
deletréame después.

Improviso breve para pedra tumular...

O meu universo foi estreito
só teve dias de 24 horas
e morri na navalha de todos os deuses.

Ademar
28.12.2006


Improvisación breve para pedra tumular...

Mi universo ha sido estrecho
sólo ha tenido días de 24 horas
y he muerto en la navaja de todos los dioses.

domingo, 10 de outubro de 2010

Improviso sobre uma imagem...









Donde sai de ti
o pensamento que finge não ver?
onde começam e acabam os teus braços
e as tuas pernas
e onde se cruzam?
há um sinal no horizonte do corpo
que quase te desvenda
um enigma em forma de vela
uma insinuação de género
uma sombra de antiquíssimo pudor.

Ademar
27.12.2006


Improvisación sobre una imagen...

¿De dónde sale de ti
el pensamiento que finge no ver?
¿dónde empiezan y acaban tus brazos
y tus piernas
y dónde se cruzan?
hay una señal en el horizonte del cuerpo
que casi te desvenda
un enigma en forma de vela
una insinuación de género
una sombra de antiquísimo pudor.

Improviso com partitura...

A tua voz vem de muito mais longe
para trás ficam
os limites que te imponho
quando ainda cantavas livremente
e não obedecias a partituras
entras-me agora por todos os ouvidos
e serpenteias-me os braços
em direcção ao peito
o único alvo que não erras.

Ademar
27.12.2006


Improvisación con partitura...

Tu voz viene de mucho más lejos
atrás quedan
los límites que te impongo
cuando aún cantabas libremente
y no obedecías a partituras
me entras ahora por todos los oídos
y me serpenteas los brazos
en dirección al pecho
el único blanco que no yerras.

sábado, 9 de outubro de 2010

Improviso para voar sobre o atlântico...

Não há mãos que triunfem sobre as palavras
nem as mãos que te acordassem dessa tela
onde quase repousas
não há mãos nem chicotes nem algemas
o teu corpo pede agora viagens imateriais
exige o cárcere sem grades
suplica evidências que neguem a superfície do espelho
já quase obedeces apenas a ti própria
um pouco mais de submissão e
poderás conceder-te finalmente a liberdade
de voares nas minhas asas.

Ademar
26.12.2006


Improvisación para sobrevolar el atlántico...

No hay manos que triunfen sobre las palabras
ni las manos que te despertasen de ese lienzo
donde casi descansas
no hay manos ni látigos ni esposas
tu cuerpo pide ahora viajes inmateriales
exige la carcel sin rejas
suplica evidencias que nieguen la superficie del espejo
ya casi obedeces únicamente a ti misma
un poco más de sumisión y
podrás concederte finalmente la libertad
de volar en mis alas.

Improviso para contar que regressei do Mali...

Antologia poética (446)...

No deserto
o mar deve dizer-se
como tu o dizes
e eu que nada entendo
do que dizes
embora perceba tudo
até o mar
esse mar eternamente imutável
na voz das mulheres
que desertam contigo.

Ademar
16.08.2006


Antología poética (446)...

Improvisación para contar que he regresado de Mali...

En el desierto
el mar debe decirse
como tú lo dices
y yo que nada entiendo
de lo que dices
aunque lo comprenda todo
hasta el mar
ese mar eternamente inmutable
en la voz de las mujeres
que desertan contigo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Improviso em forma de haiku para me viajar subúrbio...

Antologia poética (445)...

Já me circum-naveguei tantas vezes
que perdi a noção do centro histórico de mim
agora viajo-me subúrbio.

Ademar
18.08.2006


Antología poética (445)...

Improvisación en forma de haikú para viajarme suburbio...

Ya me he circum-navegado tantas veces
que he perdido la noción del centro histórico de mí
ahora me viajo suburbio.

Improviso circular...

No princípio
nunca estão todos
só no fim
nas vésperas de ninguém.

Ademar
25.12.2006


Improvisación circular...

En el principio
nunca están todos
sólo en el fin
en vísperas de nadie.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Improviso em forma de resposta...

O desejo que te entranha o pensamento
é território demasiado frágil
para frequentar em bicos de pés
não sei dançar sobre pântanos.

Ademar
25.12.2006


Improvisación en forma de respuesta...

El deseo que te entraña el pensamiento
es territorio demasiado frágil
para frecuentarlo de puntillas
no sé bailar sobre pantanos.

Improviso com endereço para lembrar a Andaluzia...

Volta da Andaluzia
para o frio de cá
vem por Córdoba
depois de Granada
e traze-me nas mãos
o clamor do flamenco
e os gemidos na tua voz
não precisamos de mais
para vadiar memórias
volta da Andaluzia por favor
e transporta-me de novo a Sevilha
antes que seja demasiado tarde
para folhearmos calendários.

Ademar
25.12.2006


Improvisación con dirección para recordar Andalucía...

Vuelve de Andalucía
al frío de aquí
ven por Córdoba
después de Granada
y tráeme en las manos
el clamor del flamenco
y los gemidos en tu voz
no necesitamos más
para vagar recuerdos
vuelve de Andalucía por favor
y transpórtame de nuevo a Sevilla
antes de que sea demasiado tarde
para que hojeemos calendários.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Improviso para vadiar-te...

Vadia de desejos
ofereces-te a tudo
e a ninguém te entregas
não te pesassem tanto as asas
e serias mesmo puta.

Ademar
24.12.2006


Improvisación para vagabundear-te...

Vagabunda de deseos
te ofreces a todo
y a nadie te entregas
si no te pesasen tanto las alas
serías puta de verdad.

Improviso para enfeitiçar a má vida...

Talvez os olhos vendados
me convidem a ver nos teus
luas que ainda não foram narradas
noites que começam e acabam em ti
como se nenhum sol as pudesse despertar
talvez o temor do risco
talvez apenas o preço da desilusão
palavras que nos estribam a viagem incerta
vozes quase intocáveis
e a inteligência exactamente aquém de nós.

Ademar
23.12.2006


Improvisación para hechizar la mala vida...

Quizá los ojos vendados
me inviten a ver en los tuyos
lunas que aún no han sido narradas
noches que empiezan y acaban en ti
como si ningún sol las pudiese despertar
quizá el temor del riesgo
quizá sólo el precio de la desilusión
palabras que nos estriban el viaje incierto
voces casi intocables
y la inteligencia justo a este lado de nosotros.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Improviso para fundar a oitava cidade...

Antologia poética (444)...

Cada verso
uma jangada
cada poema
um transatlântico
nas tuas mãos pequenas
crescem remos.

Ademar
19.08.2006


Antología poética (444)...

Improvisación para fundar la octava ciudad...

Cada verso
una balsa
cada poema
un transatlántico
en tus manos pequeñas
crecen remos.

Improviso a benefício da retórica...

Antologia poética (443)...

Quantas vezes confundiste
a canoa com o cais?
quantas vezes
foste o mar e a terra
sem seres nenhum?
quantas vezes
forçaste o naufrágio
e depois te salvaste?
quantas vezes
erraste o mapa e a bússula
só para ignorares o rumo?
e quantas vezes
adoeceste de mim
fingindo apenas que morrias?

Ademar
19.08.2006


Antología poética (443)...

Improvisación a beneficio de la retórica...

¿Cuántas veces has confundido
la canoa con el muelle?
¿cuántas veces
has sido el mar o la tierra
sin ser ninguno?
¿cuántas veces
has forzado el naufragio
y después te has salvado?
¿cuántas veces
has errado el mapa y la brújula
sólo para desdeñar el rumbo?
¿y cuántas veces
has enfermado de mí
fingiendo unicamente que te morías?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Improviso, com dedicatória, para desdizer o destino...

Antologia poética (442)...

Ainda que uma perna ou uma mão
te pese muito mais do que a outra
um dia
terás de voltar para casa
a tua guerra
não tinha mapa
perdeste-a apenas no espelho
dos sonhos.

Ademar
20.08.2006


Antología poética (442)...

Improvisación, con dedicatoria, para desdecir al destino...

Aunque una pierna o una mano
te pese mucho más que la otra
un día
tendrás que volver a casa
tu guerra
no tenía mapa
la has perdido sólo en el espejo
de los sueños.

Improviso para desdobrar o mapa das tuas ruas...

Mais rua menos rua
o teu corpo
mapa estreito
deixa-se percorrer
numa noite de lua cheia
e ainda sobram horas
para tecer contigo a claridade
como te lamentaria
se não fosses Veneza
canais subterrâneos
segredos quase impartilháveis
asas porventura invisíveis
pressinto-te aquém da superfície das formas
a eternidade morrendo ligeira no teu corpo
e nas minhas mãos.

Ademar
22.12.2006


Improvisación para desdoblar el mapa de tus calles...

Calle más o menos
tu cuerpo
mapa estrecho
se deja recorrer
en una noche de luna llena
y aún sobran horas
para tejer contigo la claridad
cómo te lloraría
si no fueras Venecia
canales subterráneos
secretos casi incompartibles
alas acaso invisibles
te presiento a este lado de la superficie de las formas
la eternidad muriéndose veloz en tu cuerpo
y en mis manos.

domingo, 3 de outubro de 2010

Improviso para que me digas das árvores...

Quando o coração me falhar
ficarei à espera da instrução das tuas palavras
digo
seguirei apenas o eco
o lastro da tua voz
no descompasso da festa que faremos
para que ninguém se atreva a acreditar
que a poesia também falhou.

Ademar
21.12.2006


Improvisación para que me digas de los árboles...

Cuando el corazón me falle
me quedará esperando la instrucción de tus palabras
digo
seguiré sólo el eco
el lastre de tu voz
en la arritmia de la fiesta que haremos
para que nadie se atreva a creer
que la poesía también falló.

Improviso para guião de alcova...

Os meus olhos cobiçam a lentidão
de patins tropeçam
sacerdotizo vagares
respirações tensas concentradas
suspiros
gemidos a princípio agrilhoados
não tenho pernas para correr
nem pulmões
nem palavras
teço pudores ofegantes
silêncios quase entesoados
o excesso de ruído faz-me sempre errar o mapa
digo
as pulsações íntimas do teu corpo.

Ademar
20.12.2006


Improvisación para guión de alcoba...

Mis ojos codician la lentitud
de patines tropiezan
sacerdotizo calmas
respiraciones tensas concentradas
suspiros
gemidos al principio refrenados
no tengo piernas para correr
ni pulmones
ni palabras
tejo pudores jadeantes
silencios casi empalmados
el exceso de ruido me hace siempre errar el mapa
digo
las pulsaciones íntimas de tu cuerpo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Improviso para dizer a eterna natureza masculina...

Antologia poética (441)...

Sim claro
os preservativos
não me esqueci dos preservativos
nem tão pouco dos acessórios
para os preliminares
Álvaro de Campos
Herberto Helder
Almada Negreiros
no fundo da mala
a caderneta incompleta
não colei ainda o teu cromo
superstição
reservei o hotel
sessenta e nove estrelas
duas camas individuais
não vá o diabo tecê-las
(diz lá que não rima!)
pequeno-almoço continental
internet
levo pijama
para as leituras primárias
e o portátil
onde guardo a ficção
não descuides por favor a lingerie
que pode falhar-me o tesão.

Ademar
21.08.2006


Antología poética (441)...

Improvisación para expresar la eterna naturaleza masculina...

Sí claro
los preservativos
no se me han olvidado los preservativos
ni tampoco los acessorios
para los preliminares
Álvaro de Campos
Herberto Helder
Almada Negreiros
al fondo de la maleta
la cartilla inacabada
no he pegado aún tu cromo
superstición
he reservado el hotel
sesenta y nueve estrellas
dos camas individuales
y que no sea por ellas
(¡dime ahora que no rima!)
desayuno continental
internet
llevo pijama
para las lecturas primarias
y el portátil
donde guardo la ficción
no descuides por favor la lencería
que me puede fallar la erección.

Improviso sacramental...

Antologia poética (440)...

Na cama e na mesa
até que a morte vos separe
ou a vida.

Ademar
22.08.2006


Antología poética (440)...

Improvisación sacramental...

En la cama y en la mesa
hasta que la muerte os separe
o la vida.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Improviso para explicar o banho nocturno...

Antologia poética (439)...

Sais de ti e voltas a ti
todos os dias
ninguém atrapalha a saída
ninguém atrapalha o regresso
talvez não sejas mais
do que uma plataforma instável
de memórias e de sonhos
abres e fechas janelas
só para te sentires arejável
de vez em quando
deixas a porta aberta
como se convidasses o universo todo
a entrar
e deitas-te com a água
não vá a noite pesar-te de mais
com a água
e com todas as personagens
que te naufragam
há sempre um filme em que te viste
um nome que podias roubar
à literatura
um verso que passou por ti
e não fugiu
um vendaval de ausências
amanhã acordarás
para sair e voltar outra vez
e repetirás um a um
todos os passos em que tropeças.

Ademar
22.08.2006


Antología poética (439)...

Improvisación para explicar el baño nocturno...

Sales de ti y vuelves a ti
todos los días
nadie estorba la salida
nadie estorba el regreso
tal vez no seas más
que una plataforma inestable
de recuerdos y de sueños
abres y cierras ventanas
sólo para sentirte aireable
de vez en quando
dejas la puerta abierta
como si convidases a todo el universo
a entrar
y te acuestas con el agua
no vaya a ser que la noche te pese demasiado
con el agua
y con todos los personajes
que te naufragan
hay siempre una película en la que te has visto
un nombre que le podrías robar
a la literatura
un verso que ha pasado por ti
y no ha huido
un vendaval de ausencias
mañana te despertarás
para salir y volver otra vez
y repetirás uno a uno
todos los pasos en que te tropiezas.

Improviso para descontar os dias...

Antologia poética (438)...

Um labor de miudezas
o governo desse ancoradouro
os dois braços chegam-te
para desenfunar todas as velas
e não há marinheiros agora
que te distraiam
a faina tem os dias contados
mas as tardes por vezes
ainda são límpidas
entre Santa Maria e São Miguel.

Ademar
23.08.2006


Antología poética (438)...

Improvisación para descontar los días...

Una labor escrupulosa
el gobierno de ese fondeadero
los dos brazos te llegan
para desinflar todas las velas
y no hay marineros ahora
que te distraigan
la faena tiene los días contados
pero las tardes a vezes
todavía son límpidas
entre Santa María y São Miguel.

Improviso sobre quatro cordas em forma de mulher...

Se eu coubesse nas saudades
algemar-me-ia apenas ao teu violino
ou seria a caixa dele
caberia em mim
como tu sempre coubeste
mesmo quando transbordavas do leito
agora tens casa
já podes abrir as janelas à madrugada
e dedilhar as cordas desse falso stradivarius
delicadamente
como exigias que eu te dedilhasse
contei apenas três
a quarta corda que nunca cheguei a tocar
eras tu.

Ademar
19.12.2006


Improvisación sobre cuatro cuerdas en forma de mujer...

Si yo cupiera en la nostalgia
me esposaría sólo a tu violín
o sería su caja
cabría en mí
como tú siempre has cabido
incluso cuando desbordabas del lecho
ahora tienes casa
ya puedes abrir las ventanas a la madrugada
y puntear las cuerdas de ese falso stradivarius
delicadamente
como exigías que yo te puntease
conté sólo tres
la cuarta corda que nunca llegué a tocar
eras tú.