quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Improviso ao jeito de post-scriptum...

Antologia poética (437)...

Rir ou enlouquecer
e
entre uma coisa e outra
sempre o mar
na sua imperceptível nudez.

Ademar
24.08.2006


Antología poética (437)...

Improvisación a modo de post scriptum...

Reír o enloquecer
y
entre una cosa y otra
siempre el mar
en su imperceptible desnudez.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Improviso para apoiar as "salas de chuto assistido"...

Ofereço-te a minha veia
poética
não sei se fica
no braço esquerdo
ou no direito
um pouco mais acima
ou um pouco mais abaixo
da virtude que está no meio
ofereço-te aliás as veias todas
para que não falhes
o "chuto"
naturalmente assistido
que estas intimidades literárias
querem-se públicas.

Ademar
24.08.2006


Antología poética (436)...

Improvisación para apoyar las "salas de chute asistido"...

Te ofrezco mi vena
poética
no sé si queda
en el brazo izquierdo
o en el derecho
un poco más arriba
o un poco más abajo
de la virtud que está en el medio
te ofrezco es más las venas todas
para que no falles
el "chute"
naturalmente asistido
que estas intimidades literarias
se quieren públicas.

Improviso para servir de posta restante...

Há dias em que a tua ausência me conspira
pensar-te sem os olhos e sem as mãos
há mais urgência na cegueira
e menos distância talvez
agora já não conto pontes nem viagens
vagabundeio apenas
entre bairros que me clandestinam
sem portas e sem janelas
para ruas inviáveis
desendereço-me
desendereças-me.

Ademar
18.12.2006


Improvisación para servir de lista de correos...

Hay días en que tu ausencia me conspira
pensarte sin los ojos y sin las maos
hay más urgencia en la ceguera
y menos distancia tal vez
ahora ya no cuento puentes ni viajes
vagabundeo sólo
entre barrios que me clandestinan
sin puertas y sin ventanas
hacia calles inviables
me desdirecciono
me desdireccionas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Improviso para piscar o olho ao Henrique...

Antologia poética (435)...

Gaveta a gaveta
haverá segredo que te resista?
a novidade não descansa
nos teus olhos
as mãos são culatras
que te disparam
e eu que desejo que me devasses
servirão os pais para coisa distinta?
desvenda-me com essa chave
que é agora o teu tesouro
e não olhes para trás
que eu estarei sempre a ver-te.

Ademar
27.08.2006


Antología poética (435)...

Improvisación para guiñarle un ojo a Henrique...

Cajón a cajón
¿habrá secreto que se te resista?
la novedad no descansa
en tus ojos
las manos son culatas
que te disparan
y yo que deseo que me descubras
¿servirán los padres para algo distinto?
desvéndame con esa llave
que es ahora tu tesouro
y no mires atrás
que yo estaré siempre viéndote.

Improviso para distrair grilações...

Sim
há noites em que já me faltam estrelas
e em que a própria lua
parece zangada comigo
como se o guião do filme me desconhecesse
há grilos a menos
nas palavras que agora me interpelam
esses grilos cujas vozes
ouvias tão longe
e tão perto de mim
quando as noites não eram assim
há um desejo de grilos
nesta evidência que me perde
nesta saudade de não sei o quê
talvez de nós
quando contávamos estrelas
e interrogávamos a lua.

Ademar
28.08.2006


Improvisación para distraer grillamientos


hay noches en que ya me faltan estrellas
y en que la propia luna
parece enfadada conmigo
como si el guión de la película me desconociese
hay grillos de menos
en las palabras que ahora me interpelan
esos grillos cuyas voces
oías tan lejos
y tan cerca de mí
cuando las noches no eran así
hay un deseo de grillos
en esta evidencia que me pierde
en esta nostalgia de no sé qué
tal vez de nosotros
cuando contábamos estrellas
e interrogábamos a la luna.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Improviso para auscultar a lua...

Começavas sempre num silêncio de vozes
há uma quinta corda no violino
que só tu sabes tocar
uma terceira mão que sempre me negaste
o olhar que me atravessava de lés a lés
e repousava muito além de mim
onde eu já não estava nem podia chegar
era já um tempo em que sobrávamos
um tempo que abria portas e janelas
para outros tempos
viagem entre sombras
as luzes murchavam com a noite
que não dormias
e eu namorava a lua que me deras
para me achares ainda acordado.

Ademar
16.12.2006


Improvisación para auscultar a la luna...

Empezabas siempre en un silencio de voces
hay una quinta cuerda en el violín
que sólo tú sabes tocar
una tercera mano que siempre me negaste
la mirada que me atravesaba de lado a lado
y reposaba mucho más allá de mí
donde yo ya no estaba ni podía llegar
era ya un tiempo en que sobrábamos
un tiempo que abría puertas y ventanas
hacia otros tempos
viaje entre sombras
las luzes se marchitaban con la noche
que no dormías
y yo cortejaba a la luna que me habías dado
para que me hallases todavía despierto.

domingo, 26 de setembro de 2010

Improviso para não dizer as horas...

Não uso medidores do tempo
ando simplesmente às voltas de mim
como se eu fosse o próprio tempo que me recuso
o universo já não cabe no meu sono
fecho os olhos para ver
e fecho as mãos
para espremer ainda mais as palavras
sofro da nostalgia do adjectivo
já usei paletas e pincéis
para pintar a realidade de outras cores
agora distraio-me da própria realidade
finjo que não tenho mais palavras para ela
ando simplesmente às voltas de mim
borboleta que aspira a regressar apenas
à condição original.

Ademar
15.12.2006


Improvisación para no decir la hora...

No uso medidores del tiempo
ando simplemente a vueltas de mí
como si yo fuese el mismo tiempo que me niego
el universo ya no cabe en mi sopor
cierro los ojos para ver
y cierro las manos
para exprimir aún más las palabras
sufro de la nostalgia del adjectivo
ya he usado paletas y pinceles
para pintar la realidad de otros colores
ahora me distraigo de la propia realidad
finjo que no tengo más palabras para ella
ando simplemente a vueltas de mí
mariposa que aspira a regresar solamente
a la condición original.

sábado, 25 de setembro de 2010

Improviso quase aritmético...

De ciência certa
tens os astros e as moléculas
as ervas distraem-te os saltos altos
e a manta sobre as coxas
tecendo a neve
talvez tenhas poesia a menos nas tuas mãos
ou excesso de carga
digo
de ausências
mas voa de ti um novo corpo
como se apenas te multiplicasses.

Ademar
14.12.2006


Improvisación casi aritmética...

A ciencia cierta
tienes los astros y las moléculas
las hierbas te distraen los tacones altos
y la manta sobre las piernas
tejiendo la nieve
tal vez tengas poesía de menos en tus manos
o exceso de carga
digo
de ausencias
pero vuela de ti un nuevo cuerpo
como si sólo te multiplicases.

Improviso para musicar o dano...

E se tudo fosse ao contrário
do que autorizas?
se as sombras mentissem
a tua própria luz?
se todas as ervas daninhas
tocadas pelos teus olhos
não passassem de ervas danadas?
pouco sobra do engano que fomos.

Ademar
14.12.2006


Improvisación para musicar el daño...

¿Y si todo fuese al revés
de lo que autorizas?
¿si las sombras mintiesen
tu propia luz?
¿si todas las hierbas malas
tocadas por tus ojos
no pasasen de hierbas malditas?
Poco queda del engaño que fuimos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Improviso para insculpir toalhas...

Improviso para insculpir toalhas...
Todos os corpos são perfeitos
não importam as cores nem os caixilhos
nem mesmo o lugar da tela
e todas as cortinas são transparentes
como as luzes
como os olhos
como as mãos que convidam outras mãos
a água ausente
a toalha simplesmente do meu desejo.

Ademar
14.12.2006


Improvisación para tallar manteles...

Todos los cuerpos son perfectos
no importan los colores ni los marcos
ni siquiera el lugar del lienzo
y todas las cortinas son transparentes
como las luces
como los ojos
como las manos que invitan a otras manos
el agua ausente
el mantel simplemente de mi deseo.

Improviso para contar tatuagens...

Abre-me ao princípio da tua alma tatuada
suspende-te dessa fonte de enigmas
para que eu te interrogue
mesmo sabendo que não responderás
nega-me o nome
mas não me negues a valsa
venda-me os olhos
algema os pulsos abertos que te ofereço
mas não silencies a partitura
tenho palavras para o teu corpo
as palavras certas.

Ademar
14.12.2006


Improvisación para contar tatuajes...

Ábreme al principio de tu alma tatuada
suspéndete de esa fuente de enigmas
para que yo te interrogue
sabiendo incluso que no responderás
niégame el nombre
pero no me niegues el vals
véndame los ojos
espósame las muñecas abiertas que te ofrezco
pero no silencies la partitura
tengo palabras para tu cuerpo
las palabras precisas.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Improviso para melancolizar...

Como se tivessem morrido
os teus cabelos já não cheiram
agora deserto-me de ti
e perco-me dos demais sentidos
até ao pensamento
fecho a porta e apago a luz
em mais uma cela
neste presídio de ausências.

Ademar
28.08.2006


Antología poética (433)...

Improvisación para melancolizar...

Como si se hubiese muerto
tu pelo ya no huele
ahora me deserto de ti
y me pierdo de los demás sentidos
hasta el pensamiento
cierro la puerta y apago la luz
en otra celda más
en este presidio de ausencias.

Improviso em forma de haiku para dizer o movimento...

Antologia poética (432)...

Regresso ao fim
onde me encontrarei
com o princípio de tudo.

Ademar
29.08.2006


Antología poética (432)...

Improvisación en forma de haikú para expresar el movimiento...

Regreso al fin
donde me encontraré
con el principio de todo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Improviso para vadiar eroticamente...

A aridez dos desertos não me faz desejá-los
castro-me de evidências
Eros reclama apenas a insinuação
os holofotes deprimem-no
descreio da realidade que me entra pelos olhos
como um chicote
prefiro a venda
o pressentimento que induz à peregrinação
sinto-me vadio de sombras.

Ademar
13.12.2006


Improvisación para vagabundear eróticamente...

La aridez de los desiertos no me hace desearlos
me castro de evidencias
Eros reclama sólo la insinuación
los proyectores le deprimen
descreo de la realidad que me entra por los ojos
como un látigo
prefiero la venda
el presentimiento que induce a la peregrinación
me siento vagabundo de sombras.

13.12.2006

Improviso para violino e saudades...

A imperfeição das palavras agonia-me
quis escrever para ti o poema perfeito
e encalhei em mim
nada sai perfeito
quando aspiramos à perfeição
há um hiato entre o que somos
e o que dizem de nós as palavras
um buraco negro impenetrável intransponível
digo imaterial
fenda quase sísmica de ausências
todas as ausências que nos preenchem
aproximaste-te com um violino adormecido nos braços
e nem dei pelos dedos que me queriam tocar.

Ademar
13.12.2006


Improvisación para violín y nostalgia...

La imperfeción de las palabras me fastidia
he querido escribir para ti el poema perfecto
y me he encallado en mí
nada sale perfecto
cuando aspiramos a la perfección
hay un hiato entre lo que somos
y lo que dicen de nosotros las palabras
un agujero negro impenetrable infranqueable
digo inmaterial
grieta casi sísmica de ausencias
todas las ausencias que nos llenan
te aproximaste con un violín dormido en los brazos
y ni me fijé en los dedos que me querían tocar.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

30.08.2006

Antologia poética (430)...

Improviso para celebrar Aristóteles...

Eu sei
é uma metáfora masculina
o esperma do teu riso
impudor de género.

Ademar
30.08.2006


Antología poética (430)...

Improvisación para conmemorar a Aristóteles...

Ya lo sé
es una metáfora masculina
el esperma de tu risa
impudor de género.

30.08.2006

Antologia poética (429)...

Improviso quase pornográfico...

Entre a espécie e o género
há lábios em ti a mais
e a menos
o teu excesso de humidade
endurece-me
sinto
que me impeles â metamorfose.

Ademar
30.08.2006


Antología poética (429)...

Improvisación casi pornográfica...

Entre la especie y el género
hay labios en ti de más
y de menos
tu exceso de humedad
me endurece
siento
que me impeles a la metamorfosis.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

12.12.2006

Improviso para dizer que nunca fui à Mauritânia...

Namoro a chuva dentro de ti
bailando miragens
ou talvez prefira manter-me à distância de uma ilusão
que o teu oásis sofre de exuberâncias pré-natais
até engana ou chora desertos.

Ademar
12.12.2006


Improvisación para decir que nunca he ido a Mauritania...

Cortejo a la lluvia dentro de ti
bailando espejismos
o tal vez prefiera mantenerme a distancia de una ilusión
que tu oasis sufre de exuberancias prenatales
incluso engaña o llora desiertos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

31.08.2006

Antologia poética (428)...

Improviso para cremar Woodstock...

Tudo parecia tão
simples
entre nós
nesse tempo
em que éramos só matéria
e as palavras
não engravidavam de metáforas
bastava dizer
amor
e tudo acontecia
deslumbradamente
como
numa eterna primeira vez
ainda te lembras?
era assim
depois adoecemos
de memórias.

Ademar
31.08.2006


Antología poética (428)...

Improvisación para incinerar Woodstock...

Todo parecía tan
simple
entre nosotros
en ese tiempo
en el que éramos sólo materia
y las palabras
no se preñaban de metáforas
bastaba decir
amor
y todo sucedía
deslumbradamente
como
en una eterna primera vez
¿todavía te acuerdas?
era así
depués enfermamos
de recuerdos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

02.07.2006

Antologia poética (427)...

Improviso para dizer que os ponteiros pararam...

Se pudesse nascer outra vez
trocaria de casa e de berço
e faria outras viagens
não morreria assim distraidamente
como quem espera no cais deserto
o próximo comboio
e se atrasa sempre.

Ademar
02.07.2006


Antología poética (427)...

Improvisación para decir que las manecillas se han parado...

Se pudiese nacer outra vez
cambiaría de casa y de cuna
y haría otros viajes
no me moriría así distraídamente
como quien espera en el muelle desierto
el próximo tren
y se retrasa siempre.

02.07.2006

Antologia poética (426)...

Improviso para ritual e estremecimento...

A poesia calar-se-á
calar-se-á a música
despirás a bata branca
e não terás mais
para quem olhar
no lado oculto de ti
talvez agora
silenciados os violinos
estremeças finalmente da ausência.

Ademar
02.07.2006


Antología poética (426)...

Improvisación para ritual y estremecimiento...

La poesía se callará
se callará la música
te quitarás la bata blanca
y no tendrás más
a quien mirar
en el lado oculto de ti
tal vez ahora
silenciados los violines
te estremezcas finalmente por la ausencia.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

10.12.2006

Improviso para uma orelha solitária...

Nessa mão que
como que te ampara a memória
entre colunas e capitéis
existes num tempo que te transporta entre labirintos
ao recolhimento da infância
grécia e roma antigas sempre
ou
a nudez das formas que secaram no teu corpo
esse pescoço interminável
que termina abruptamente
numa orelha solitária
a única mesmo com que te ouves.

Ademar
10.12.2006


Improvisación para una oreja solitaria...

En esa mano que
como que te ampara la memoria
entre columnas y capiteles
existes en un tiempo que te transporta entre laberintos
al recogimiento de la infancia
grecia y roma antiguas siempre
o
la desnudez de las formas que se secaron en tu cuerpo
ese cuello interminable
que termina abruptamente
en una oreja solitaria
la única con la que de verdad te oyes.

03.07.2006

Antologia poética (425)...

Improviso sob a forma de antimadrigal...

Habito palavras suburbanas
perdi-me algures numa periferia de mim
viajo agora às arrecuas
no sentido contrário da infância.

Ademar
03.07.2006


Antología poética (425)...

Improvisación en forma de antimadrigal...

Habito palabras suburbanas
me he perdido por ahí en una periferia de mí
viajo ahora hacia atrás
en sentido contrario a la infancia.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

06.07.2006

Antologia poética (424)...

Improviso para ser feliz...

Quando lá estive
nunca fui feliz
sou agora
a felicidade
é a ínfima parte da memória
que sobrevive em paixão
ao esquecimento.

Ademar
06.07.2006


Antología poética (424)...

Improvisación para ser feliz...

Cuando estuve allí
nunca fui feliz
lo soy ahora
la felicidad
es la ínfima parte de la memoria
que sobrevive en pasión
al olvido.

06.07.2006

Antologia poética (423)...

Improviso para dizer que talvez não existas...

Saí hoje de mim
à tua procura
não te encontrei
as fotografias dão muito jeito
quando procuramos alguém
que ainda não conhecemos
nem sabemos se existe.

Ademar
06.07.2006


Antología poética (423)...

Improvisación para decir que tal vez no existas...

He salido hoy de mí
en busca tuya
no te he encontrado
las fotografias son muy útiles
cuando buscamos a alguien
que aún no conocemos
ni sabemos si existe.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

06.07.2006

Antologia poética (422)...

Improviso em forma de haiku para nota de rodapé...

O ponto crítico de todas as paixões
não está no comboio que parte
mas no comboio que chega.

Ademar
06.07.2006


Antología poética (422)...

Improvisación en forma de haikú para nota a pié de página...

El punto crítico de todas las pasiones
no está en el tren que parte
sino en el tren que llega.

08.07.2006

Antologia poética (421)...

Improviso para dizer os olhos e as mãos...

Para me especializar em ti
precisaria de olhos maiores do que os teus
mãos talvez mais argutas
que as mãos que lavram e semeiam no teu corpo
não podem distrair-se assim
entre poemas urbanos
vens de negro
(não consigo ver-te de outras cores)
e porém cheiras a tudo o que sorri
como se a primavera
tivesse adormecido para sempre
nos teus lábios.

Ademar
08.07.2006


Antología poética (421)...

Improvisación para expresar los ojos y las manos...

Para especializarme en ti
necesitaría ojos mayores que los tuyos
manos tal vez más sutiles
que las manos que labran y siembran en tu cuerpo
no pueden distraerse así
entre poemas urbanos
vienes de negro
(no logro verte de otro color)
sin embargo hueles a todo lo que sonríe
como si la primavera
se hubiese dormido para siempre
en tus labios.

domingo, 12 de setembro de 2010

07.12.2006

Improviso quase em sol...

A água não me conduz à terra de mim
sou bípede da alma
digo
sofro de materialidade vertebral
já não rastejo.

Ademar
07.12.2006


Improvisación casi en sol...

El agua no me conduce a la tierra de mí
soy bípedo del alma
digo
sufro de materialidad vertebral
ya no me arrastro.

06.12.2006

Improviso para explicar o bocejo...

Há imagens que me deixam assim
uma quase impotência de palavras
desmetaforizado
quando já nada combina no altar de mim
nem Boccaccio vendido a peso
nessa feira ambulante de novelas
e papéis de alterne
gótico
como agora sói dizer-se
finjo que não vejo a coxa descarnada
finjo aliás que não vejo nada
nem o que sobra das vestes.

Ademar
06.12.2006


Improvisación para explicar el bostezo...

Hay imágenes que me dejan así
una casi impotencia de palabras
desmetaforizado
cuando ya nada combina en el altar de mí
ni Boccaccio vendido a peso
en esa feria ambulante de novelas
y papeles de alterne
gótico
como ahora se suele decir
finjo que no veo el muslo descarnado
finjo incluso que no veo nada
ni lo que rebosa del ropaje.

sábado, 11 de setembro de 2010

05.12.2006

Improviso em forma quase de passado...

Sobro para mim
quando já não cabes entre as margens
de ti
exalto-me nos teus silêncios
viajo-me nas tuas inércias
vou pelo lado contrário do destino
na ilusão de te encontrar
o mais longe possível de nós
essa proximidade que nos cega.

Ademar
05.12.2006


Improvisación en forma casi de pasado...

Reboso para mí
cuando ya no cabes entre los márgenes
de ti
me exalto en tus silencios
me viajo en tus inercias
voy por el lado contrario del destino
en la ilusión de encontrarte
lo más lejos posible de nosotros
esa proximidad que nos ciega.

02.12.2006

Improviso para dizer a raridade...

Não sei como me perca nas tuas palavras
antes delas
perder-me-ei sempre nos lábios que te silenciam
essa boca que instintivamente me viaja noutras condições
menos retóricas
e que me transporta ao universo aquém do teu corpo
a raridade de todos os alvos
que em ti espreitam e desafiam o desejo especular
o teu mapa reservado
tratado de anatomia impublicável
e as mãos que te folheiam
as únicas aliás que até hoje
não tropeçaram as páginas inumeradas.

Ademar
02.12.2006


Improvisación para expresar la rareza...

No sé cómo me voy a perder en tus palabras
antes que en ellas
me perderé siempre en los labios que te silencian
esa boca que instintivamente me viaja en otras condiciones
menos retóricas
y que me transporta al universo más acá de tu cuerpo
la rareza de todos los blancos
que en ti acechan y desafían al deseo especular
tu mapa reservado
tratado de anatomía impublicable
y a las manos que te hojean
las únicas, por cierto, que hasta hoy
no han tropezado las páginas innumeradas.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

29.11.2006

Improviso sobre nenhumas vestes...

O meu desejo perdeu as vestes
está nu neste inverno de dentro
treme de frio quase enregela
todas as correntes o levam
todas as correntes o trazem
e não há sofrimento que o distraia
o meu desejo não tem
encontro marcado com a morte
confunde-se com ela.

Ademar
29.11.2006


Improvisación sobre ningún ropaje...

Mi deseo ha perdido el ropaje
está desnudo en este invierno de dentro
tiembla de frío casi aterido
todas las corrientes lo llevan
todas las corrientes lo traen
y no hay sufrimiento que lo distraiga
mi deseo no tiene
encuentro concertado con la muerte
se confunde con ella.

28.11.2006

Improviso sobre uma tela quase de Bruegel... *









Há véus que nos protegem
oferecemo-nos assim
numa bandeja de olhares cativos
pintamos de cores baças o destino
somos a espera
e espreitamos
caberemos sempre na tela
não há mercado que nos esgote.

Ademar
28.11.2006

* Fotografia de Rosário Tique publicada no Expresso-Revista (nº1195, de 23 de Setembro de 1995)


Improvisación sobre un lienzo de Bruegel... *

Hay velos que nos protegen
nos ofrecemos así
en una bandeja de miradas cautivas
pintamos de colores empañados el destino
somos la espera
y acechamos
cabremos siempre en el lienzo
no hay mercado que nos agote.

* Fotografía de Rosário Tique publicada en Expresso-Revista (nº1195, de 23 de septiembre de 1995)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

28.11.2006

Improviso para guitarra, voz e algemas...

Inclino-me aos teus gritos
Todos os vazios suplicam desertos
as mãos que escorrem pela tua inércia
e simplesmente rastejam
a esperança trocou sempre o destino
não há fadas boas nem fadas más
e a guitarra convida sempre ao corão
o fado é o cárcere em que resides
quando descantas.

Ademar
28.11.2006


Improvisación para guitarra, voz y esposas...

Me inclino a tus gritos
Todos los vacíos suplican desiertos
las manos que resbalan por tu inercia
y simplemente rastrean
la esperanza ha cambiado al final el destino
no hay hadas buenas ni hadas malas
y la guitarra invita siempre al corán
el fado es la cárcel en que resides
cuando descantas.

26.11.2006

Improviso sobre mulheres...

Nunca as mulheres se completam
nascem umas das outras
umas nas outras
e as mãos quase inertes dos homens
passam sempre ao lado delas
nunca chegam a tocá-las
as mulheres não respiram
elas próprias são
atmosferas impartilháveis.

Ademar
26.11.2006



Improvisación sobre mujeres...

Nunca se completan las mujeres
nacen unas de otras
unas en otras
y las manos casi inertes de los hombres
pasan siempre al lado de ellas
nunca llegan a tocarlas
las mujeres no respiran
ellas son en sí
atmósferas incompartibles.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

25.11.2006

Improviso com todas as teclas...

O alimento das imagens que me serves
teclas que vais tocando à distância
com os olhos
este piano de tantas palavras
que te engravidam
dizes tu ou eu adivinho
devolvo por metáforas o toque
dos teus olhos
metaforizo-me
para que não me confundas com o silêncio.

Ademar
25.11.2006


Improvisación con todas las teclas...

El alimento de las imágenes que me sirves
teclas que vas tocando a distancia
con los ojos
este piano de tantas palabras
que te preñan
dices tú o yo adivino
devuelvo por metáforas el toque
de tus ojos
me metaforizo
para que no me confundas con el silencio.

24.11.2006

Improviso para dizer que cego...

Não sei com que olhos me vês
entre tantos reflexos
o pescoço que parece prolongar-te
no atrevimento da proa
e o cabelo
o teu cabelo
que voa
e eu com ele
partindo os lábios ausentes
dos mamilos falsos que me ofereces.

Ademar
24.11.2006

Improvisación para decir que me ciego...

No sé com qué ojos me ves
entre tantos reflejos
el cuello que parece prolongarte
en el atrevimiento de la proa
y el pelo
tu pelo
que vuela
y yo con él
separando los labios ausentes
de los pezones falsos que me regalas.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

08.07.2006

Antologia poética (420)...

Improviso para desver ao longe...

De imagens e de palavras
como tijolos
se faz em mim o desejo
raramente encaixam e fecham
sobram sempre frestas muitas frestas
para espreitar o mundo
e do lado de fora
já não existo
não consigo ver-te.

Ademar
08.07.2006


Antología poética (420)...

Improvisación para desver de lejos...

De imágenes y de palabras
como ladrillos
se hace en mí el deseo
raramente encajan y cierran
quedan al final rendijas muchas rendijas
para espiar el mundo
y por fuera
ya no existo
no consigo verte.

09.07.2006

Antologia poética (419)...

Improviso para azulejo...
Não preciso de muito
para ter sido feliz.

Ademar
09.07.2006


Antología poética (419)...

Improvisación para azulejo...

No necesito mucho
para haber sido feliz.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

09.07.2006

Antologia poética (418)...

Improviso lunar...

Sugeres-me a praia
em vez do alto-mar
não sei se a terra
começa ou acaba em ti
mas há ainda vestígios de lua
nas ondas que me trazes.

Ademar
09.07.2006


Antología poética (418)...

Improvisación lunar...

Me sugieres playa
en vez de alta mar
no sé si la tierra
empieza o acaba en ti
pero hay aún vestigios de luna
en las olas que me traes.

23.11.2006

Improviso à guisa de preâmbulo ou de epígrafe...

O meu palco tem paredes estreitas
não vai muito além de mim.

Ademar
23.11.2006


Improvisación a modo de preámbulo o de epígrafe...

Mi escenario tiene paredes estrechas
no va mucho más allá de mí.

domingo, 5 de setembro de 2010

10.07.2006

Antologia poética (417)...

Improviso para dizer a eternidade...

Traz-me num sorriso o Requiem de Brahms
"Denn alles Fleisch, es ist wie Gras"
não importa o que os teus lábios digam
ou cantem
cai simplesmente diante de mim
fulminada por um tiro no escuro
como numa sequência de Hitchcock
e abre-me a porta (ou a janela)
para uma segunda ou terceira vida.

Ademar
10.07.2006


Antología poética (417)...

Improvisación para expresar la eternidad...

Tráeme en una sonrisa el Réquiem de Brahms
"Denn alles Fleisch, es ist wie Gras"
no importa lo que tus labios digan
o canten
cae simplemente ante mí
fulminada por un tiro en la oscuridad
como en una secuencia de Hitchcock
y ábreme la puerta (o la ventana)
para una segunda o tercera vida.

11.07.2006

Antologia poética (416)...

Improviso para epígrafe...

Fala-me da eternidade
dir-te-ei como matarás.

Ademar
11.07.2006


Antología poética (416)...

Improvisación para epígrafe...

Háblame de la eternidad
te diré cómo matarás.

23.11.2006

Improviso para quatro cordas, um arco e duas mãos...

Um violino sobre a memória
de todos os sons que me habitam
seja o teu
mesmo um falso stradivarius
esse mesmo
que apenas uma vez
arranhaste para mim
um violino quase abandonado
esquecido da delicadeza das tuas mãos
não há cordas que preencham
nem arco
o discreto rumor da tua ausência.

Ademar
23.11.2006


Improvisación para cuatro cuerdas, un arco y dos manos...

Un violín sobre la memoria
de todos los sonidos que me habitan
sea el tuyo
incluso un falso stradivarius
ese mismo
que sólo una vez
arañaste para mí
un violín casi abandonado
olvidado de la delicadeza de tus manos
no hay cuerdas que llenen
ni arco
el discreto rumor de tu ausencia.

sábado, 4 de setembro de 2010

22.11.2006

Improviso sobre uma imagem...













Visitas-me quase na morte
esse tempo que teima em adiar
o inadiável
tento o feitiço da estátua
que ainda não abraça
acordo no centro dos teus olhos
e cego
há uma luz que me escapa das mãos
e já não agarro
subo e desço escadas
no museu que serei
explico-te
há uma ala de mim
que ainda não abri ao público
porque é lá
exactamente
que me esperas.

Ademar
22.11.2006


Improvisación sobre una imagen...
Me visitas casi en la muerte
ese tiempo que porfía en aplazar
lo inaplazable
intento el hechizo de la estatua
que todavía no abraza
me despierto en el centro de tus ojos
y me ciego
hay una luz que se me escapa de las manos
y ya no la agarro
subo y bajo escaleras
en el museo que seré
te explico
hay un ala de mí
que todavía no he abierto al público
porque es ahí
exactamente
donde me esperas.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

22.11.2006

Improviso quase surrealista...

Não sei se no chão ou na mesa
provas-me
serei o prato
serei o rato
ou
o reflexo talvez da escuridão
que te aproxima
iluminando-te
as algas as conchas as sombras
o mar todo depositado no teu corpo
que vem assim à praia
que vem assim a mim.

Ademar
22.11.2006


Improvisación casi surrealista...

No sé si en el suelo o en la mesa
me pruebas
seré el plato
seré el ratón
o
el reflejo tal vez de la oscuridad
que te aproxima
iluminándote
las algas las conchas las sombras
todo el mar depositado en tu cuerpo
que viene así a la playa
que viene así a mí.

21.11.2006

Improviso para dizer as estações do ano...

O inverno chegará contigo
talvez na fisionomia de uma máscara veneziana
ou embalando-nos num berço
tens nuvens no olhar e choves
não há primaveras que te dispensem
passarei por ti
passarás por mim.

Ademar
21.11.2006


Improvisación para recitar las estaciones del año...

El invierno llegará contigo
tal vez en la fisionomía de una máscara veneciana
o meciéndonos en una cuna
tienes nubes en la mirada y llueves
no hay primaveras que te dispensen
pasaré por ti
pasarás por mí.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

13.07.2006

Antologia poética (415)...

Improviso na berma da estrada...

De vez em quando vou ao futuro
e já não tenho vontade de voltar
fico por lá a interrogar ausências
distraído das saudades
do que não chegarei a viver.

Ademar
13.07.2006


Antología poética (415)...

Improvisación en el arcén de la carretera...

De vez en cuando voy al futuro
y ya no tengo ganas de volver
me quedo por allí a interrogar ausencias
distraído de la nostalgia
de lo que no llegaré a vivir.

21.11.2006

Improviso para simular um sonho...

Desci do cabelo e eras tu
tão a preto e branco como noutras telas
e distante
quase cadáver quase boneca
os lábios entreabertos
as órbitas vazias
e o corpo perfeito
inanimadamente perfeito
abre agora um pouco mais as pernas
deixa-me espreitar para além de ti.

Ademar
21.11.2006


Improvisación para simular un sueño...

Bajé del pelo y eras tú
tan en blanco y negro como en otros lienzos
y distante
casi cadáver casi muñeca
los labios entreabiertos
las órbitas vacías
y el cuerpo perfecto
inanimadamente perfecto
abre ahora un poco más las piernas
déjame mirar más allá de ti.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

13.07.2006

Antologia poética (414)...

Improviso de amor para búzios e dialecto galaico-minhoto...

Não sei em que galizas ou minhos
de uma infância que ainda estranho
entre búzios
treinou a voz trigueira que me canta
vai-te embora marinheiro
que eu não sou o teu amor
de todas as âncoras que regressam ao cais
só senti a falta da tua
quando dei comigo
afogando o alto-mar.

Ademar
13.07.2006


Antología poética (414)...

Improvisación de amor para caracolas y dialecto galaico-miñoto...

No sé en qué galicias o miños
de una infancia que aún añoro
entre caracolas
se entrenó la voz trigueña que me canta
vete de aquí marinero
que yo no soy tu amor
de todas las anclas que regresan al muelle
sólo eché de menos la tuya
cuando me sorprendí
ahogando la alta mar.

15.07.2006

Antologia poética (413)...

Improviso para dizer como corres...

O rio que te anuncia
tem correntes silenciosas
que te recusas a ouvir
mas que te arrastam
a margens desejadas
ainda que desenhadas a silêncio
no curso do teu infinito
por isso
não há represa ou açude
que eternamente possa conter
a tua força feroz de transbordamento
um dia sairás de ti
para finalmente te reencontrares.

Ademar
15.07.2006


Antología poética (413)...

Improvisación para decir cómo corres...

El río que te anuncia
tiene corrientes silenciosas
que te niegas a oír
pero que te arrastran
a orillas deseadas
aunque dibujadas a silencio
en el curso de tu infinito
por eso
no hay represa o acequia
que eternamente pueda contener
tu fuerza feroz de desbordamiento
un día saldrás de ti
para finalmente reencontrarte.